PLANETA TESPYN

TEMPO PRESENTE

A visão do céu noturno ali era como a de um tapete de estrelas. Era um brilho intenso sobre sua cabeça. De onde estava, no entanto, o que se via era um deserto pedregoso, com um frio de gelar os ossos. As vestimentas que usava preservavam o seu corpo da maior parte desse frio. A fogueira crepitando à sua frente também era muito útil, tanto a ela como para a figura adormecida do outro lado das chamas. Shin Hati se permitiu um olhar cuidadoso para o que parecia um pequeno pacote, enrolado em grossas cobertas, apenas o topo da cabeça sendo mostrado. Ela não estava com sono, ao contrário. Seu esforço voltou-se novamente para o desejo de se reconectar com a Força, mais uma tentativa desesperada de contatar o seu antigo Mestre. Mais uma vez em que ela provavelmente irá se frustrar. Dessa vez, no entanto, havia uma urgência maior, um perigo que não temia para si apenas, mas para o pequeno pacote que tinha sob seus cuidados a pouco menos de 1 ano.

Ela ansiava pela chance de encontrar de novo o seu antigo Mestre, desesperada que estava por seus conselhos, sua orientação. Havia uma razão para isso, pois mesmo depois de todo esse tempo, ainda permanecia nela um sentimento de abandono. Pior ainda era o sentimento que frequentemente a assaltava, sobre a responsabilidade que, mesmo depois de tantos meses, ainda temia não ser capaz de tomar para si. Shin buscou afastar tais pensamentos; eram delas por certo, embora bem mais amplificados do que deveriam. Ela sabia bem de onde isso vinha. A antiga Padawan de Baylan Skoll fechou seus olhos e se concentrou mais ainda, usando ao máximo tudo o que aprendera sobre como se tornar Uma com a Força. Sua disposição era de virar a noite se necessário. Ela não podia falhar, sua condição atual não lhe permitia isso. Já tinha perdido a noção de quanto tempo estava naquela posição, até sentir algo, uma conexão. Se permitiu sorrir consigo mesma, pois finalmente atingira o seu objetivo, ao menos era o que imaginava, até sentir seu coração dar um salto, ao ouvir uma voz familiar.

— Shin? – não era a voz de seu antigo Mestre, mas de alguém que costuma povoar seus sonhos, nas noites em que se permitia um sono mais longo. Ela abriu os olhos para se deparar com o rosto correspondente à voz.

— Sabine – o sorriso em seu rosto denunciava a surpresa mais do que bem-vinda.

PLANETA LOTHAL

TEMPO PRESENTE

Havia momentos em que Sabine Wren ainda tinha dificuldade em entender o rumo que sua vida tomou. Ela estava em seu quarto, na torre que agora dividia com Ezra Bridges. Seu treinamento Jedi segue cada vez mais intenso, sob o comando firme de Ahsoka Tano. Ela melhorou bastante suas habilidades de luta, sua capacidade de perceber o ambiente, antecipar os golpes, além de aperfeiçoar bastante a sua capacidade de usar um sabre de luz. Melhor ainda foi aperfeiçoar a combinação de habilidades Jedi e mandalorianas. Um tanto frustrante mesmo era a sua ainda baixa capacidade de se conectar com a Força. Isso não a impediu de continuar tentando todos esses meses. Era uma tenacidade que impressionava até mesmo Huyang.

A jovem mandaloriana sabia que precisava aperfeiçoar a sua capacidade de se unir à Força. Era a melhor forma de manter afastada a influência maligna que sentia dentro dela, sussurrando, tentando ganhar sua mente. As sessões de meditação com Ahsoka foram muito importantes para manter essa influência bem enterrada dentro dela. No entanto, ela não ignorava que seu esforço em se conectar cada vez mais com a Força tinha uma outra razão mais forte. Sabine não tinha certeza se seus motivos mais profundos para manter essa tenacidade foi percebido por sua Mestra Jedi e por Ezra, que eram os mais próximos a ela, junto com Hera. A jovem Padawan espera realmente ser poupada desse embaraço, deles perceberem a sua tola esperança de entrar em contato com uma antiga Padawan, também uma antiga inimiga, mais voltada do que ela gostaria para o lado obscuro da Força.

Essa era mais uma das muitas noites em que mantinha a sua obstinação. Sabine tenta mais uma vez se conectar com a Força. Seus pensamentos estão totalmente voltados para Shin. Suas lembranças evocando seu perfume, os olhos intensos, os lábios que a atraíam sempre que os via, até mesmo os seus modos rudes, de loba selvagem, tudo isso para estabelecer contato. A última notícia de fato sobre Shin já tem mais de 1 ano. Não que ela tema o pior ter acontecido. Algo nela lhe dá a certeza de que sua loba selvagem ainda está por aí. Sabine sabe que ela está viva, sente isso em seu âmago. É uma certeza que tem como se a própria Força a ela lhe garantisse.

Sua capacidade de concentração evoluiu muito nos últimos meses. As constantes sessões de meditação com Ahsoka, com Ezra e Jace se juntando a elas às vezes, se mostrando muito úteis. Sabine já estava nessa posição a mais de 2 horas. Em outros tempos esse tipo de concentração jamais seria possível para ela. No entanto, essa era uma noite em que estava especialmente obstinada em fazer contato. Uma obstinação que se mostrou feliz ao abrir os olhos, se ver num deserto desconhecido, diante de uma fogueira intensa. Ela chega mesmo a sentir o ar frio do lugar envolvendo o seu corpo. Tudo isso é deixado de lado, diante da visão à sua frente. Visão essa que traz um grande sorriso ao rosto da mandaloriana.

— Shin? – é com uma voz emocionada que ela diz esse nome.

— Sabine – ambas as mulheres sorriem uma para a outra – você conseguiu fazer contato comigo.

— Meses de tentativas frustradas tinham que servir para alguma coisa, não é?

— Não esperava ver você – a resposta de Shin causa uma ligeira decepção no rosto da outra mulher – eu estava mesmo tentando entrar em contato com Baylan, mas talvez tenha sido melhor assim. Ele provavelmente me aconselharia a procurar você e sua… Mestra – a voz dela meio que falha em dizer a última palavra.

— O que está havendo, Shin?

— Ahsoka e Hera foram bem claras quando me deixaram ir, que eu deveria informar qualquer coisa que descobrisse sobre o planos de Thrawn – o olhar entre as duas mulheres ficou ainda mais intenso.

— O que você descobriu que nós ainda não sabemos?

— Ele irá se encontrar com os demais remanescentes do império – disse Shin – parece que estão muito perto de fecharem um acordo.

— Isso é algo que também sabemos, Shin – a voz de Sabine trai uma certa decepção.

— Vocês por acaso sabem onde e quando será essa reunião? – Shin abre um sorriso presunçoso, ao notar a surpresa no rosto de Sabine – pela sua cara eu diria que não.

— Onde será esse encontro? – o sorriso presunçoso de Shin aumentou ao notar a ansiedade na voz de Sabine.

— Antes de passar essa informação eu tenho uma questão que preciso tratar com você e sua Mestra, muito provavelmente envolverá a Hera também – o olhar desconfiado de Sabine não passou despercebido por Shin.

— Que questão?

— Eu preciso de um refúgio, não para mim, mas para uma outra pessoa.

— Uma namorada? – o tom de voz de Sabine faz surgir um sorriso ainda mais presunçoso do que o anterior em Shin. Esta se levanta e caminha até o outro lado da fogueira, permitindo a Sabine a visão de um pequeno pacote, enrolado em grossos cobertores – é uma criança embaixo desses cobertores? Quantos anos ela tem?

— Ela fez 11 anos recentemente – Sabine notou algo no tom de voz de Shin, algo que nunca tinha ouvido antes, um tom de voz suave, evocando proteção, algo ligeiramente... maternal?

— Por que ela precisa de um refúgio? – Sabine pergunta.

— As Irmãs da Noite – o tom de voz de Shin ganha aquele tom de fúria que Sabine bem conhece – elas querem tirá-la de mim. As desgraçadas estão tentando reconstruir a sua irmandade – Sabine nota de novo o tom de voz de Shin mudar, além de perceber o olhar dela para a criança. A própria Sabine, olhando um pouco mais, também notou algo, no pouco da figura adormecida que podia ser vista sob os cobertores.

— Isso no cabelo dela é… é uma trança... – Sabine notou o sorriso no rosto de Shin, mas desta vez não havia presunção nele.

— O nome dela é Ath’Zarah Het, ela é minha Padawan.