A estrada até aqui escrita por MaryDuda2000


Capítulo 5
Crescer é risco em vermelho


Notas iniciais do capítulo

Oi, leitores! Como vão?
Torço que estejam muito bem.

Os títulos desse capítulo e do anterior fazem referência a um livro em edição vira vira: "Viver é feito à mão/ Viver é risco em vermelho", da Nilma Lacerda. Não foi uma obra que gostei quando li na escola (tinha 13 anos e achei meio chato), mas o nome é interessante que ficou na memória. Achei que encaixava bem aqui.

Boa leitura!



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A vida imita a arte ou a arte imita a vida?

Em ocasiões felizes, parece tudo bonito. Contudo, nem sempre são.

Não sei dizer quem começou essa brincadeira de mau gosto, mas nunca suportei Shakespeare justamente por isso. O que há de tão interessante em tragédias? Ou melhor, o que há de bom? Nada. Absolutamente nada. É apenas uma estratégia barata para criar a jornada do herói, sempre querendo encontrar um vilão para tornar o protagonista ainda mais impressionante.

Entretanto, senti-me como um personagem shakespeariano naquele dia.

Não havia nenhum sinal para que eu suspeitasse do prelúdio. Nem mesmo a tempestade que caíra ao entardecer, afinal não passava de uma chuva torrencial.

Estacionei numa parada abastecer. Tentei contatar minha mãe, mas o celular estava sem sinal. Apenas jantei e esperei que a intensidade da chuva diminuísse.

Acordei com alguém batendo na janela do carro. Era o frentista, avisando que eu podia partir ou arrumando desculpa para me expulsar, quem sabe.

De toda forma, não pretendia passar a noite ali. Faltava pouco para chegar à casa e tudo que eu mais queria era comida caseira e cama quente. Estava acostumado a ficar acordado até tarde estudando, então, mantendo a velocidade, chegaria antes do amanhecer.

Tomei cuidado com a pista escorregadia e, estranhamente, naquele pedaço, havia pouca iluminação. Uma consequência das estradas periféricas. Parte acabavam não tendo manutenção constante por não comportarem tantos transeuntes.

Quilômetros afrente, porém, havia uma movimentação. Ou melhor, paralisação.

A ambulância e os carros fofoqueiros parados em vez de desviarem anunciavam que algum motorista desavisado deve ter saído da estrada durante a tempestade.  Sinceramente, nunca entendi essa fixação de fazer plateia para esse tipo de tragédia. Apenas atrapalha o trânsito e o trabalho da equipe de emergência.

Desci para pedir que o dono de um dos carros liberasse a passagem e, inevitavelmente, observei o cenário.

Apesar da chuva, ainda dava para ver a grande marca de freada no asfalto. Adiante, um carro de modelo clássico estava com a frente toda amassada pelo choque com a árvore. Perda total.

Havia dois socorristas avaliando as vítimas. Um deles gritou. Outro aproximou-se para ajudar a retirar a pessoa no banco do carona.

Qualquer pensamento desapareceu de minha mente quando meus olhos identificaram quem estava na maca, ensanguentado e desacordado.

Tentei correr em sua direção, mas outro socorrista me segurou com a ajuda de dois motoristas fofoqueiros.

A única coisa que eu conseguia gritar era o nome do meu irmão.

O acidente foi noticiado nos jornais.

As manchetes frias me irritavam, sempre acompanhadas de uma foto do acidente e outra de Naruto, o motorista do carro e o rapaz com quem Sasuke pegou carona. Ele tinha acabado de completar 20 anos, mesma idade do meu irmão.

De acordo com a autópsia, a morte foi instantânea. Havia duas possíveis causas, nenhuma reversível. Naruto teria tido o peito afundado no choque contra o volante ou o cinto de segurança quebrara seu pescoço antes disso.

Por estarmos há poucos quilômetros de casa, consegui contatar um antigo colega de trabalho do meu pai e implorei para que não vazassem sobre Sasuke. Não suportaria urubus sensacionalistas cobrindo sua internação e especulando sua morte.

Não. Aquilo era demais.

Sasuke usava cinto de segurança. Por sorte, não quebrou o pescoço no impacto, contudo sofreu inúmeras fraturas pelos estilhaços, perdeu muito sangue e bateu com a cabeça no painel do carro. Traumatismo craniano, que levou a um grande edema cerebral e ao coma. Entre exames, os médicos diziam que não podiam mensurar os prejuízos até que o inchaço diminuísse. A possibilidade de realizarem outra cirurgia não havia sido descartada.

Não seria necessário. Eu tinha fé.

Sasuke era forte. Superaria às expectativas de todos e viveria muito.

Só que... Viver é perder. E nessa aposta, fui derrotado mais uma vez.

Na noite do nono dia em coma, recebemos a notícia da morte cerebral. Uma breve lamentação e um anúncio do que fariam no dia seguinte.

Eu segurava minha mãe e ouvia seu choro quando, pela manhã do décimo dia, desligaram os aparelhos.

Toquei o peito de Sasuke. Senti seus batimentos cardíacos pararem até qualquer sinal de vida abandonar seu corpo.

Sem todos aqueles aparelhos, ele parecia apenas dormir. Doía saber que, desse sono, Sasuke jamais acordaria.


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Notas finais do capítulo

Dor e sofrimento definem o capítulo. E mais: revelei o plot que passou despercebido por TODOS os leitores em "A estrada até você".

Alguém lembra do desfecho da drabble?

"Sua mãe surtaria, mas aceitaria, felice e grata.
Após tanta felga...
Esperavam seu retorno há três anos."

Esperavam. Itachi e a mãe esperavam Sasuke retornar à casa há três anos, mas isso nunca aconteceu porque ele morreu em decorrência do acidente, assim como Naruto. Tudo o que acompanhamos, até o momento que Itachi surgiu na drabble, eram memórias deles, repetição devido ao looping que os prendia no mundo dos vivos.

Eu confesso que queria muito que tivessem percebido que Sasuke também estava morto lá na drabble, contudo o máximo que teorizaram foi que os dois irmãos também estavam presos no looping. De toda forma, a sementinha foi jogada e começa a brotar aqui.

Agora sim começamos a parte de explicações quanto ao plot final de "A estrada até você". Pensei que alguém fosse suspeitar, apesar da liberdade artística, mas sequer foi mencionado e, nesse quesito, tentei ser o mais fidedigna à realidade. Ninguém questionou Naruto e Sasuke recobrarem rápido a consciência após o acidente. Eles bateram numa árvore.

Sabiam que é mais fácil sobreviver a um acidente batendo contra o poste que uma árvore? Postes são ocos por dentro. Concreto e vergalhões. Árvores são robustas e fortes. O impacto de uma batida contra árvore pode matar a pessoa de inúmeras maneiras diferentes, desde o cinto de segurança quebrando o pescoço a ser arremessado para fora do carro, o mais comum quando o motorista está sem cinto, o que não era o caso aqui. Enfim, mencionar que eles bateram contra uma árvore foi um grande sinal que passou despercebido. Se quiserem mais detalhes, basta pesquisar no Google. A situação dos veículos já dizem muita coisa.

Até!



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