Jaziam os quatro em um dia de skincare natural no quarto de Pavitr. Na verdade, os seis: Gabriela e Mayday tinham se juntado aos adolescentes e seus rostos estavam pintados por máscara facial. Miguel ajudou as duas mais novas a se limparem para comer mais um pouquinho, enquanto instruía o resto a fazer o mesmo. Descendo as escadas com Mayday no colo e de mãos dadas com Gabi, ouviu um grito de Gwen somado a risadas.

“Eu tô amarela!”

Pavitr soava arrependido, mas sua explicação arrancou risos de Miles, de Hobie e pelo menos um sorriso discreto de Miguel também.

“Gwen, esqueci que você era branca. Cúrcuma ia te pintar mesmo.”

“E não tem nada que minore isso?”

“…Tempo.”

Felizmente, ela sustentou a piada e não esquivou-se de tirar fotos junto com a grávida e demais convidados. Seu rosto estava amarelo, mas a expressão não era feia. Naquele instante, Jessica abria o presente de Miguel: um móbile com notas musicais, claves de sol, guitarras e aranhas de pelúcia. Gabi exclamou:

“Eu que coloquei as aranhas!”

Jessica emudeceu, com lágrimas nos olhos. Mas a surpresa prosseguiu. Miguel pegou o violão que trouxera para a festa e dedilhou uma melodia. Jess a reconhecia: era a mesma que ele estava compondo há nove anos para a própria filha. Entendeu o significado do gesto. Nem tudo poderia ser retomado, porém nada impedia Miguel de criar coisas novas — relações, sonhos. 

Ou então, não passava de um pico de sensibilidade de grávida.

“Calma, Jessica,” tia Maya afagou seu ombro, “Tome mais chai.”

 Miguel não tinha tudo resolvido, mas acertou no presente.