16:34

Enfim consegui uma folga do meu trabalho. Parece que esse novo sistema de “ganhe folga com horas extras” realmente foi bem útil, o problema é que não sei como gastar essa 1 semaninha de descanso.

Meu trabalho é uma merda e minha vida não fica tão distante assim. Não sou daqueles tipos de pessoas que ficam se vitimizando, mas nem tudo está ao nosso alcance, nem todo mal pode ser evitado, até aqueles que afetam as pessoas que você mais ama no mundo.

Não é culpa sua

Você era só uma criança

Eram essas frases que todos diziam para mim no dia do incidente, mas a minha mente estava inundada demais com uma enchente de sentimentos ansiosos e destrutivos.

Estão vendo? É exatamente isso que acontece quando fico imersivo em meus pensamentos. Preciso me recuperar e focar no que vim fazer. Estou andando pelo centro da cidade do Rio de Janeiro, em busca de alguma fonte de entretenimento ou qualquer coisa que desperte meu interesse. Isso é quase uma maldição, você perde tanto tempo almejando férias que não consegue pensar em como aproveitá-la quando consegue uma, mas vou dar um jeito.

Entrando em uma das afluentes da grande rua principal, vou cada vez entrando em becos mais estreitos e vazios. Seu ambiente é úmido e frio, onde nem os raios solares conseguem adentrar com exatidão.

Sentindo um sentimento estranho, sou comovido a continuar seguindo em frente, sem nenhum destino em mente, até quase me perder perante tantas mini passagens. Após todo esse mistério, finalmente cheguei no fim dessas ruas, encontrando uma lojinha de penhores e algumas tranqueiras. Achei que seria interessante e então decidi entrar.

A loja fede bastante a mofo, e todos os cômodos são muito empoeirados. O ambiente é úmido, silencioso e um pouco escuro. É muito fácil se perder entre as tranqueiras e outros utensílios, são tantos que chega a ser difícil parar e olhar cada um. A madeira é velha e range a cada passo, onde algumas já estão totalmente quebradas, gerando um desafio para quem quer caminhar sem tropeçar.

Passando pelas prateleiras, avistei um velhinho sentado em uma cadeira, vendo um jogo de algum time que não reconheço. Vou até ele para tirar algumas informações.

— Boa tarde senhor, poderia me ajudar?

— Um minutinho garoto — Diz o velho após escutar atentamente a narração. — GOOOOOOOOOOL, VAMOS LÁ VASCÃO!!!

Esse senhor deve beirar os 60 anos. Sua calvície condena qualquer idade abaixo disso, e seu cabelo está começando a transitar do grisalho para o branco. Ele está vestindo um casaco florido e uma bermuda verde larga, com uma barba cerrada no rosto e uma garrafa de Itaipava do lado do pequeno monitor, onde o mesmo estava assistindo o jogo. Definitivamente é um clássico tiozão brasileiro.

— O que você quer comprar garoto? — Disse após dar um gole em sua cerveja

— Foi por isso que eu te chamei, tem alguma coisa para me apresentar?

— O que você gosta exatamente?

— Bom… Gosto de esportes no geral, academia, mulheres, jogos de videogame…

— Opa! - Disse em um tom travesso - Você disse jogos de videogame?

— Claro! Jogo vários desde criança.

— Tenho algo perfeito para você — Ele se dirige até os fundos da loja, e volta trazendo um console estranho. — Um cara esquisito passou e deixou esse console aqui, ele disse que possui todos os jogos poke… poke não sei o que instalado aqui dentro.

— Pokémon? Nossa, eu era muito fã disso.

— Isso é música para os meus ouvidos jovem! — Disse com um sorriso no rosto — Vai querer levar? Como são poucas pessoas que pagariam por isso aqui, vou te dar um bom desconto.

18:57

Cheguei em casa e não perdi tempo. Fiz bem rapidamente os meus deveres e parti para descobrir os mistérios desse novo console que comprei. Em suma, parece ser um playstation normal, apenas com um design um pouco diferente. Seus plugs combinavam perfeitamente com a TV, e a instalação foi extremamente fácil.

Liguei o videogame e entrei em seu menu logo de cara. Nada de instalações ou aplicativos, apenas um jogo, com uma capa preta e uma pokébola cinza em seu centro. O próprio se chamava apenas “pokémon”, o que era estranho, pois todos os outros jogos da franquia que eu zerei tinham um nome para caracterizar a região que se baseava.

Antes de entrar de cabeça nesse mundo, decidi dar uma última olhada no meu celular. 

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Eu preciso fugir dessa realidade de merda. Eu simplesmente não aguento mais toda essa dor infestada no meu peito.

“Você não é o culpado”

“Coitado dele”

" A pele está carbonizada"

Eu só queria ser um herói que salvasse a todos, porque eu fui tão fraco?

Eu… Só quero sair desse mundo.

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