Among Other Kingdoms - Terceira Temporada escrita por Break, Lady Lupin Valdez


Capítulo 25
Capítulo XXV




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   Elisa correu até o covil, estava apavorada com a possibilidade de trair Eilon com Orion, sendo que ficavam exatamente iguais. Tyrax acariciou sua cavaleira quando ela se aproximou, a princesa sorriu com isso, Ronar também se aproximou, a cheirando, Elisa o acariciou e se sentou no chão do covil, o dragão vermelho saiu em passos pesados e então subiu para os céus, o animal azul encarou sua cavaleira. 

—Pode ir, Tyrax, não quero voar – ela esfregou o focinho do animal antes dele seguir o maior. Elisa encostou a cabeça na parede de pedra e observou os dragões menores, os únicos ali dentro, eles brincavam entre si, exceto Ruphi, que estava encolhida num canto; a princesa se levantou e caminhou até ela, se abaixou e levou a mão à cabeça do animal, a dragão a olhou e Elisa sorriu, entendia por que sua mãe vinha ao covil, os dragões não eram um perigo e eram compreensivos. 

—Longe de Ruphi! – Elisa virou, Eveline estava parada alguns metros atrás dela – Já roubou minha chance de governar, quer roubar meu dragão também? – o barulho dos sapatos de Evie soavam pelo lugar. 

—Eu não roubei sua chance de governar – Elisa levantou quando a irmã ficou perigosamente perto – Não é isso que rainhas fazem... 

—Verdade, eu esqueci, você será uma rainha como sua mãe – Evie riu. 

—Nossa mãe – Elisa corrigiu – E se eu for uma rainha tão boa quanto nossa mãe, ficarei feliz. 

—Ah sim, irá passar seus dias grávida – falou com nojo – Obedecendo o reizinho sem se importar com o que ele fala. 

—Evie, pare com isso – Elisa se afastou. 

—Não aguenta a verdade? – sorriu – Eilon fará você ter tantos filhos quanto mamãe. 

—E eu irei amar cada momento – a outra respondeu séria. 

—Daí você viverá seus dias pensando que queria ser uma rainha como eu! – a caçula olhou confusa – Eu serei rainha, irmãzinha, serei rainha de Saphiral. 

—Você jamais será rainha – o rosto de Evie ficou vermelho de raiva e Elisa observou o brilho sinistro nos olhos dela. 

—Eu vou ser sim! – Evie gritou antes de partir para cima da irmã, a derrubando no piso do covil, Elisa sentiu suas costas se chocarem com pedras pontiagudas que começaram a furar o tecido do vestido quando a irmã colocou seu peso sobre ela – Eu vou ser a melhor rainha do mundo – a mais velha agarrou a outra pelos cabelos e começou bater a cabeça de Elisa no chão, enquanto essa tentava se livrar das mãos de Evie, que mantinha os dedos emaranhados nos cabelos longos – Eu vou governar tudo e todos! – cada palavra era uma batida da cabeça da princesa contra as pedras, suas costas estavam sendo cortadas pelas pedrinhas que furaram o vestido – Eu vou ser única! A mais poderosa – Elisa não conseguia enxergar mais nada com foco suficiente, sua cabeça estava latejando, seus olhos não focavam em nada e suas mãos não conseguiam a livrar de Evie – Eu juro que vou matar cada filho seu para que nunca se aproximem do meu trono! – os cabelos brancos estavam sendo tingidos de vermelho – Seu sangue é fraco como o de sua mãe – os olhos da outra estavam fechando. 

—Eveline! – o grito a congelou, ela soltou os cabelos da princesa e virou, Ethan a encarava – O que você está fazendo? – ele entrou correndo – Você está ficando louca! – gritou para ela. 

—Cale a boca, pirralho – o empurrou com força, fazendo o menino se desequilibrar e cair, Ethan observou a irmã partir assobiando, Evie estava estranha, muito mais raivosa. 

—Chame algum guarda – Elisa sussurrou quando abriu os olhos, sua cabeça latejava, tudo girava. Ethan a obedeceu e se levantou, correndo para o guarda mais próximo. 

—Ajuda! – gritou para o homem, que correu para dentro – Elisa está machucada – o guarda pegou com a menina no colo, o que sujou as mangas da camiseta de sangue, os deuses precisavam o ajudar e manter a princesa bem, caso contrário o próprio rei o mataria. – Papai! Mamãe! Tio Mandrik! Eilon! Alguém! – Ethan entrou berrando dentro do castelo – Vamos levar ela para o quarto – o guarda seguiu o menino escadaria acima, Elisa não sabia onde estava, não sabia o que estava acontecendo, tudo girava e doía. 

—O que aconteceu? – Eilon perguntou quando a porta do quarto foi aberta e ele viu a esposa nos braços de Theodor. 

—Deixo a princesa na cama? – o guarda perguntou. 

—Sim, sim – o príncipe estava confuso, ainda não haviam dito o que tinha acontecido e nem porque as costas do vestido estavam rasgadas ou porque os cabelos estavam sujos de sangue – Chame Linor, Ethan – o caçula saiu correndo – O que houve?! 

—Eu não sei, alteza, príncipe Ethan pediu ajuda e ela estava desmaiada no covil – Eilon se aproximou, tocando a cabeça da esposa, os dedos foram tingidos pelo líquido viscoso. 

—Eveline... – Elisa sussurrou, estava confusa, apenas enxergava um rosto com cabelos brancos sobre ela. 

—Alteza, o que aconteceu?! – Linor chegou na porta, Ethan logo atrás, o curandeiro trazia sua maleta na mão – Chame Danubia e Fairy, precisamos tirar o vestido – Ethan não precisou ir até elas, já que as criadas vinham em direção ao quarto. Elas entraram e o curandeiro ordenou que despissem a princesa, as costas do vestido estavam furadas, assim como a pele dela, mas o maior problema era na cabeça, havia vários cortes, alguns mais profundos que outros. – Preciso que sente, princesa – Elisa não conseguia formular o que precisava fazer, seus ouvidos zuniam, a voz parecia um eco. 

—Senta-se, querida – Eilon a levantou pelos ombros e apoiou a cabeça dela no ombro dele. 

—O que aconteceu? – Estela perguntou ao cruzar pela porta aberta, estava indo para seu quarto quando percebeu a porta aberta – O que aconteceu com Elisa? – olhou para todos na sala. 

—Foi Eveline, mamãe – Ethan falou aos sussurros para a mãe, sabia que se Eilon ouvisse, a briga seria astronômica – Ela estava batendo a cabeça de Elisa no chão do covil. 

—Ela está bem, Linor? – a rainha olhou para a filha, que estava com olhos entreabertos, parecia distante. 

—A cabeça está bastante machucada, mas acredito que ficará bem – Linor olhou para a rainha, que assentiu. 

—Já volto – falou saindo do quarto e caminhou apressadamente até o quarto de Eveline. Ao abrir a porta se deparou com a menina penteando seus cabelos com calma – O que você fez com Elisa? 

—Ela já foi chorar para a senhora? – virou rindo. 

—Sua irmã está ferida – Estela falou firme – Por que a machucou? O que ela te fez? 

—Ela disse que eu não serei rainha, mas eu serei, tenho certeza – Estela bufou, novamente Evie voltava para o assunto de coroa, uma que não estava no alcance dela 

—Evie, já conversamos sobre isso – a mãe disse exausta. 

—Sim e eu já disse mais de uma vez que não serei como você – falou com desdém – Eu vou ser poderosa, viverei para sempre e jamais irei parir um filho que seja. 

—Evie, você ainda é jovem, verá que quando se casar... 

—Eu não vou me casar! – gritou – Jamais me casarei, jamais terei filhos. Eu serei absoluta. 

—Eveline, a solidão não é um caminho bom – murmurou. 

—Claro, desculpe, mamãe, o melhor caminho é ter vários filhos com um homem que não está nem aí para seu bem-estar – Estela encarou a filha incrédula – Bom é ser abusada várias e várias noites, não é, mamãe? 

—Evie, eu sinto muito pelo que Eilon fez – ela queria abraçar a filha, mas a menina a afastou. 

—Não sinta, isso só me ajudou a ter certeza de que mereço o melhor no futuro – a princesa contemplou a janela. – Eu não serei como você ou como Elisa, não vou me sujeitar a transar com homens odiosos, nem me casar para agradar alguém. A senhora fez isso porque é fraca. 

—Não fale assim com a sua mãe – a voz de Perseu fez a menina parar e um sorriso brotar no rosto dela. 

—Majestade, eu gostaria de... – Evie ia mentir que gostaria de levar ele para ver sua caridade, aquela que ela sempre se recusou participar. 

—Você gostaria de pedir desculpas para sua mãe – Estela olhou para Perseu, pensando de onde ele havia surgido. 

—Aham – deu de ombros – Mamãe é ótima desculpando – ela passou entre os dois, empurrando sua mãe para longe do rei. 

—Você tem razão, sou uma péssima mãe – Estela se encolheu, esfregando os braços. 

—Ela está passando uma fase difícil – Perseu levou as mãos até ela para a puxar num abraço, mas Estela se afastou – Venha cá. – A rainha o analisou, ele estava com uma feição triste, então o obedeceu; Perseu suspirou ao ter ela nos braços de novo, Estela se encaixava tão bem em seu abraço, seu perfume chegava tão doce em seu olfato. Ele sorriu. 

—Me desculpe – ela olhou nos olhos azuis do rei. Houve passos no corredor e eles se separaram. 

—O que houve? – Estevão perguntou se aproximando – Ouvi Ethan gritando. 

—Elisa está machucada – Estela anunciou – Vamos – pegou a mão dele e foram para o quarto de Eilon, Elisa estava com os cabelos separados em duas tranças, Linor ainda limpava um corte no meio da cabeça, mas ao menos ela estava acordada – Está bem? – Elisa assentiu com os olhos fixos. 

—O que aconteceu? – Estevão olhou ao redor. 

—Foi... – Ethan abriu a boca para começar falar. 

—Foi um acidente – Elisa o cortou, o caçula olhou sem acreditar, mas o que ele não entendia era que sua irmã só estava evitando mais uma confusão, tal como sua mãe fez várias e várias vezes – Eu escorreguei nas pedras soltas do covil – Virou para o pai, que observou o corte na lateral do rosto da menina, sua boneca de porcelana estava ferida e não era de maneira superficial – Eu quero ficar sozinha. 

—Não, alteza, não seria ideal – Linor falou terminando de limpar os machucados – Vossa alteza precisa ser observada, feriu-se na cabeça, é um local delicado. 

—Eu fico com ela – Estela disse dando um passo para frente – Tudo bem, filha? – Elisa assentiu. O curandeiro se afastou, Eilon foi puxado pelo pai para fora do quarto com Ethan no encalço, Estela se sentou ao lado da menina, que encostou a cabeça com delicadeza na montanha de travesseiros – Não foi um acidente, não foi? 

—Não – Elisa murmurou. 

—Ethan disse que foi Evie – ela tocou na testa da menina, que gemeu. 

—Ela me odeia – a caçula olhou para a mãe – Disse que matará meus filhos para que não cheguem ao trono dela, que será rainha...rainha de Saphiral – Estela gelou, de onde Eveline tirou a ideia de ser rainha de Saphiral? 

—Ela está confusa com as emoções – segurou a mão da menina – Tudo vai se resolver. 

—Mãe... – Elisa chamou após uns instantes de silêncio – A senhora já teve medo de dividir a cama com papai? 

—Eilon fez algo que você não gostou? – Estela olhou para a filha, era como olhar num espelho que mostrasse o passado, Elisa era a versão mais nova dela. 

—Não... – se encolheu, sua cabeça latejava – É que as vezes sinto que não é ele, queria saber se a senhora também já passou por isso. – Elisa não queria contar das pegadinhas de Orion, ou o que quer que fosse. 

—Já – acariciou o rosto da menina – Seu pai nem sempre foi o marido que é hoje e por muitas noites senti medo de me deitar com ele. 

—E o que a senhora fez para não sentir medo? – Estela não queria que a filha achasse que ela era fraca, mas não poderia mentir, respirou fundo. 

—Quando eu era pouco mais nova que você, meu pai dizia que um Balaur não pode ter medo, porque dragões não temem – Elisa sorriu fraca – Então, quando eu estava com medo, lembrava disso. 

—Elisa – a voz na porta chamou atenção, Eilon estava com uma bandeja de prata com um bule, duas xícaras e um pratinho com biscoitos, havia também um vaso com flores, era um singelo ramalhete de lavandas – Posso entrar? 

—Claro – a menina sorriu. 

—Vou deixar vocês – Estela deu um beijo na testa dela e na testa do filho. Elisa encarou o marido, que sorria, parecia preocupado. 

—Trouxe, se quiser comer – ele deixou a bandeja na mesa de cabeceira – Posso deitar-me com você? – Elisa assentiu, mesmo preocupada se era realmente Eilon, mas, repassando tudo que aconteceu, Orion não iria trazer uma bandeja para ela se alimentar...ou iria? O garoto deitou-se ao lado dela, acariciando sua testa – Eu amo você, desculpe se fiz algo que você não gostou – a menina sorriu, fechando os olhos conforme ficavam mais pesados, sua cabeça ainda doía, as coisas ainda giravam, estava bem tonta. Eilon trancou a porta antes de voltar para o leito e retornar para onde estava, a colocando em proteção dentro de um abraço. 

A carruagem que Biana chegou era belíssima, era rosa com detalhes dourados, por sorte o condado das flores era poucas horas ao sul de Drakoj, era um condado pequeno, era lá que produziam todas as flores e perfumes do reino, Estela havia ganhado algumas fragrâncias desde seu casamento, há dezesseis anos antes, raramente usava, acabava optando pelos óleos de Craavos. Biana era jovem, muito bela, inteligente, mas permanecia solteira porque seu pai estava preocupado em casar todos os filhos mais velhos antes de chegar sua vez; ela foi recepcionada por Mandrik, o conselheiro a achou bastante delicada usando o vestido em tons de rosa e dourado. 

—Mi lady, é um prazer recebê-la. Obrigado por vir tão logo – Biana sorriu com a educação do homem. 

—Me desculpo antecipadamente pela ausência de meu pai, mas ele mandou que eu mesma resolvesse dessa vez – Biana havia tido vários jantares com pretendentes, nem todos acabavam bem. 

Mandrik a guiou para dentro, a menina ficou deslumbrada com o luxo do castelo, não lembrava de muitos detalhes, já que fazia tempo desde o último baile que participou na fortaleza. Foi levada direto para um quarto, onde poderia se refrescar e se preparar para o jantar, um jantar exclusivo preparado pelo próprio rei para ela.  

Perseu estava em seu quarto, se vestia silenciosamente, Calasir estava em perigo com Artemisa ali, Estela estava em perigo com a filha por perto, se o lado mal fosse mais forte, tudo iria pelos ares. Ele respirou fundo e imaginou o quanto deve ter sido para Estela criar a menina sozinha, a garota não a respeitava, nem um pouquinho, a xingava, a tratava como...Estevão, Artemisa tratava a mãe como Estevão; o rei de olhos azuis lembrou de quando a viu grávida, quando Estela chegou em Saphiral, lembrava do quanto a barriga estava grande e do quanto ela parecia cansada, conseguia deduzir isso pelas enormes olheiras que ela ostentava, mas também lembrou do quanto ela foi forte, tanto nas sete luas de gestação quanto nos quatro dias de trabalho de parto, e agora Artemisa estava chamando ela de fraca, não parecia justo. 

—Majestade – era a voz de Navi à porta – Estamos aguardando para o jantar – Perseu abriu e sorriu para seu antigo conselheiro – Visual novo? - o amigo sorriu se referindo as vestes que Perseu usava agora, os braços estavam amostra, era mais um guerreiro que um rei. 

—Gostou? – riu, Navi assentiu – Quem é o garoto com Leodak? – Perseu havia percebido o menino loiro algumas vezes, mas esqueceu de perguntar quem era. 

—Max, filho de Mandrik – o sorriso vacilou – tem a idade dos gêmeos. É um bom garoto. 

—Por um momento pensei que era um bastardo de Estevão – Perseu deu dois passos para fora e fechou a porta em suas costas. 

—Não, Estevão jamais mancharia sua ninhada perfeita com um bastardo – Navi caminhou até o quarto de Eilon com o velho amigo no encalço. Bateu três vezes suavemente, o príncipe abriu – Precisa descer. 

—Meu pai entenderá – Eilon olhou para a cama, onde Elisa ainda dormia, a menina não havia acordado. 

—Eilon, como príncipe herdeiro é seu dever participar de eventos como esse – o garoto revirou os olhos, foi até a penteadeira e pegou o aro de ouro que usava nessas ocasiões, suspirou antes de seguir o companheiro de Mandrik, que foi mais a frente acompanhando Perseu. – Você concordou com esse jantar? 

—Concordei, não aguentei os questionamentos daquele pirralho – olhou com raiva para Eilon. 

Aos poucos a mesa foi enchendo, o príncipe herdeiro estava sozinho, sua companheira não estava ao seu lado, onde era seu lugar por direito, Evie estava ocupando o lugar de Elisa naquela noite, mantinha um sorriso de soberba no rosto, usava a tiara de princesa herdeira, o que já não era, seu vestido era rosa com torções verdes, coisa que os irmãos acharam inusitado. William chegou com Orion, que olhou para a prima de maneira incrédula, ela parecia diferente. Ethan e Elora se sentaram silenciosamente em seus lugares pouco antes de Biana chegar, ela parecia envergonhada por estar ali, todos os olhos a cercavam, ela era o centro das atenções, pelo menos, foi até o rei e a rainha chegarem, Estela olhou para a menina pensando que Perseu não iria aprovar ela, talvez não fizesse o tipo dele, talvez ele preferisse outro estilo de mulher...o seu estilo. 

—Majestades – a menina sorriu - agradeço o convite. 

—Nós que agradecemos por vir - Estevão sorriu – Perseu, essa é a menina de quem comentei, Biana de Lulet, filha do conde das flores – a mulher sorriu. 

—Somos os maiores produtores de perfumes do país - disse mantendo um sorriso longo no rosto. 

—Isso parece incrível! - Perseu sorriu de forma cortês, Estela o encarou um pouco incomodada. 

No decorrer do jantar Biana foi estimulada a falar mais sobre seu condado, assunto que Perseu parecia interessado em ouvir; Estela escutava a menina e pensava que seu marido estava sendo um chato em querer casar Perseu com alguém, tudo bem se ele queria ser solteirão, não era um problema, era até melhor, mas Estevão parecia focado em fazer dar certo, ficou falando vários atributos dela e o quanto um casamento seria promissor. 

—Meu marido está elogiando tanto minha lady que estou quase preocupada em perder o posto de rainha – Estela disse em dado momento em que o incomodo foi maior que a boa educação. 

—Majestade... - Biana ficou vermelha de vergonha e encolheu-se na cadeira. 

—Você nunca fez o tipo ciumenta, cunhadinha – William riu olhando para Estela, ele estava entendo que a cunhada não estava com ciúmes de Estevão, mas sim de Perseu. 

—Não é uma preocupação plausível, meu amor - Estevão pegou a mão dela e levou aos lábios, depositando um beijo próximo do anel de casamento – Seu lugar nesse palácio é intocável - sorriu para a esposa. 

—Um dia pretendo ter um homem que me trate como a vossa graça trata nossa rainha – Biana sorriu um tanto sonhadora, todos os adultos na mesa sorriram sem jeito antes de retornar para a refeição; Perseu olhou para Estela e penou que nunca trataria sua esposa do jeito que aquela crápula tratava a mulher, ele ainda lembrava das súplicas dela da época que dividiram o teto, lembrava da dificuldade que era fazê-la falar e de como Estevão era explosivo, lembrava da tarde que ele descobriu que Auterpe estava grávida, foi um dos momentos que mais temeu pela segurança dela. 

—Me diga, Biana, acha que seria uma boa rainha? - Evie olhou para a mulher que achava que iria ascender ao trono de Saphiral como rainha e esposa de Perseu. 

—Farei meu melhor – a outra sorriu – E vossa alteza será uma boa rainha? - Evie se aprumou, arrumando-se de forma a parecer mais apresentável. 

—Serei a melhor – afirmou sorrindo. 

—Será rainha dos bobos, só se for – Ethan riu baixinho, mas o suficiente para Eveline o olhar com ódio. 

—Olhe quem falando – ela riu – Eu serei rainha e você será um mísero conde – desdenhou. 

—Pelo menos minhas propriedades existem e as suas que não passam de delírio? - o caçula não se deixou abalar pela arrogância da irmã. 

—Você cale a boca ou eu irei calá-la! - Eveline ameaçou levantar-se enquanto apontava o dedo para o garoto. 

—Pelos deuses, chega disso, Eveline! - Estevão falou firme. 

—Vou me retirar. Com licença! - ela jogou o guardanapo, que estava em seu colo, longe. 

Enquanto o clima ficava ainda estranho na mesa de jantar, a outra subiu a escadaria silenciosamente, estava irritada, mas sabia de algo que a deixaria feliz. Eveline caminhou até o quarto de seu tio e abriu a porta facilmente, óbvio que não haveria mulheres lá dentro, não com Orion no castelo, mas outra coisa estava lá, algo bem mais útil; ela se abaixou e puxou uma caixa de baixo da cama, era pequena e de madeira, havia uma simples tranca no meio da tampa e estava escrito “Perigo”, ela sabia para que seu tio usava aquilo, ele já havia deixado escapar. Dentro da caixa havia uma garrafinha com um líquido roxo, William havia comentado que aquilo era soro de purplesalvea, uma flor roxa que crescia muito longe dali, era conhecida por dar alucinações, tonturas, enjoos e grande sensibilidade a elementos naturais, como sol e água, se bem aplicada criava pequenos hematomas doloridos e no outro dia a vítima não conseguiria ficar em frente a uma janela; ela nunca havia usado aquilo, mas parecia uma boa oportunidade. 

Mexeu mais a fundo na caixa e encontrou uma pequena agulha, pensou que não poderia ser muito difícil manusear aquilo. Andou tranquilamente até o quarto de Eilon e abriu a porta com cautela, Elisa dormia na cama e estava sozinha. Ela se aproximou, ajoelhou-se ao lado da irmã, mergulhou a agulha no líquido roxo e a trouxe para superfície, agora vinha a parte mais complicada: injetar sem acordar a outra. Evie tremeu pensando no escândalo que qualquer faria se descobrisse. Elisa não acordou na primeira agulhada e nem nas outras vinte, as pancadas na cabeça fizeram ela se manter apagada. 

Quando o jantar terminou, o clima estava mais agradável, o comportamento de todos foi impecável, não havia o que reclamar, o que deixou Estevão muitíssimo feliz; eles foram para a sala de chá num grupo muito menor, já que as crianças resolveram dormir e Max e Eilon pediram para se recolherem aos aposentos, momento esse que Orion também foi enviado para o quarto. Biana se sentou em uma poltrona e observou ao redor, admirando o rei e a rainha, pensando no quanto eram um casal bonito, Perseu também os analisava, mas ele prestava atenção em como Estevão segurava a mão de Estela de forma possessiva e não de forma carinhosa.  

Orion chegou em seu quarto e sentiu-se entediado, mas ao mesmo tempo não queria falar com Evie, ela estava o assustando, e olha que ele era filho de Ruphira, era difícil assustar ele. Pensou em se divertir, pulou para dentro do espelho e foi até o retângulo que mostrava o quarto de Eilon, o garoto estava desabotoando a camiseta em frente ao espelho, o que foi um momento oportuno para ele, que agarrou o pescoço do outro e puxou para dentro. Elisa estava entre sono, bem grogue, balbuciava algumas coisas inaudíveis, Orion se aproximou. 

—Eilon – ela disse tentando sorrir, seus olhos estavam turvos e tudo que enxergava era o cabelo branco do marido. - Estou com frio – o menino percebeu que a garota tremia e suava, encostou a mão nela e constatou que ela estava quase na temperatura das chamas dos dragões. 

—O que você tem? - ele perguntou, ninguém havia dito que Elisa estava doente, e se fosse algo contagioso? 

—Eveline – foi tudo que ela sussurrou antes de fechar os olhos. 

Orion encarou a prima desfalecida e pensou o quanto Eveline estava o assustando, era em níveis nunca antes vistos, tudo bem que Elisa era chata, manhosa e doce, mas não era uma ameaça, não era como se ela decidisse que Evie não fosse ser rainha por seu simples capricho. Ele coçou o queixo, talvez Eilon aprendesse a nunca mais tentar algo contra Evelina. Ele voltou para o espelho, Eilon caiu em seu leito, ao lado da esposa, abriu os olhos assustado, mas relaxou ao ver o corpo da menina, que tremia. 

—Você pretende ter filhos com Perseu? - Eveline perguntou assim que Biana chegou ao quarto, a mulher olhou confusa para a menina. 

—Alteza, acabei de conhecer o rei Perseu – a lady sorriu tentando chegar na entrada dos aposentos, que estavam devidamente bloqueada por Evie. - Mas caso resulte em casamento, acho que é de se esperar que eu geste seus filhos. 

—Não ouse – rosnou. 

—Desculpe? - Biana olhou confusa para a princesa – Alteza, tenho certeza de que seus pais planejaram ter filhos assim que se casaram. 

—Claro que sim – O sorriso de soberba retornou para o rosto dela - Mamãe é a vaca reprodutora do rei – a visitante ficou desconfortável com a comparativa, mas resolveu ficar quieta - Só lembra, rei Perseu não é o Estevão e ele não precisa de mais filhos – a última parte foi dita entredentes, Eveline saiu pisando duro, deixando Biana assustada e perdida, será que a princesa estava com ciúmes por que seu pai não havia ofertado ela em casamento? Não, Eveline não fazia o tipo de que sentia o amor e Perseu não fazia o tipo de rei que se casaria com uma menina com idade para ser sua filha. Aquilo tudo era mais estranho. 

Eveline ouviu os gritos de Eilon no corredor depois que tudo ficou no mais absoluto silêncio, depois que todos os empregados haviam se recolhido e tudo que permanecia levemente acordado era Brian, um dos guardas do andar. O Príncipe herdeiro acordou com a esposa se debatendo no leito, Elisa espumava pela boca e um pouco de sangue saia por seu nariz, além disso, seu corpo inteiro chacoalhava violentamente, ele correu buscar ajuda, acordando seus pais, Mandrik e Linor, enquanto a irmã gargalhava em seu leito, o desespero do violentador era engraçado, assim como a ideia de ele perder a única coisa com a qual realmente se importava era hilária. 


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