Among Other Kingdoms - Terceira Temporada escrita por Break, Lady Lupin Valdez


Capítulo 23
Capítulo XXIII




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Estela observou Perseu, estava envergonhada por ter perdido a filha deles, ele também a olhava enquanto estava abraçando Evie, conseguia sentir algo irradiando dele e não era exatamente paixão, estava mais para raiva.

—Nunca mais suma assim – Estela falou olhando para a menina, Evie se segurou para não revirar os olhos.

—Obrigado por devolvê-los – Estevão havia as soltado e agora olhava para Perseu.

—É o certo – o rei de olhos azuis queria voar no pescoço do outro, o socar tanto que seria impossível reconhecer ele. – Estão entregues. Irei retornar.

—Não – a voz de Estela saiu mais desesperada do que ela gostaria – Fique, por favor.

—Rainha, não sei se eu deveria... – Perseu não queria ficar ali, ao mesmo tempo que queria, ele não sabia se conseguiria controlar sua raiva ao ver os maus tratos com Artemisa.

—Claro que sim – Estevão falou – É uma viagem longa, fique, descanse e depois retorne – Perseu olhou para a filha, que implorava com os olhos para ele ficar.

—Tem razão – se esforçou para sorrir – Posso ficar.

A descida do covil foi sob ordens de William, que lembrava o filho de que ele não poderia sair desse jeito, que se algo grave tivesse acontecido, a mãe dele o mataria, faria picadinho dele e isso não seria legal para ninguém. Sunny estava na frente da fortaleza, aguardava o marido ansiosa.

—Eles voltaram, mas meu filho não – A mulher falou quando viu o grupo se aproximar. Carlo também apareceu – Majestade, estamos de partida!

—E Jonan? – Estevão virou para o amigo.

—Acreditamos que ele pode estar em Melon. Iremos avisar se o encontrarmos – Carlo estava sério – Agradeço a estadia – Estevão assentiu, o casal embarcou e eles aguardaram a carruagem sumir pelos portões.

—Estou encrencada? – Evie perguntou para a mãe, que a agarrava pela mão.

—Não – Estela sorriu, não deixaria mais nada acontecer com a filha, sem mais brigas, sem castigos.

O grupo entrou no castelo, Perseu foi novamente sugado para aquele mundo luxuoso que Estevão havia construído. Ele olhou para as crianças, o mais velho estava de mãos dadas com outra, isso era bom, significava que ele não havia casado com sua gêmea, mas era péssimo, porque ele havia violado sua irmã e traído sua esposa, o garoto podia ter as características da mãe, porém o gênio, com certeza, era do pai. Duas crianças menores se aproximaram, um casal, eles correram para as pernas da mãe quando viram o rei de olhos azuis.

—Evan, Elia, esse é Perseu, rei de Saphiral – a menina olhava com a curiosidade de uma criança de dois anos, assim como o menino. O rei acenou sorrindo. As crianças se dissiparam na sequência, inclusive Orion e Evie, ela parecia chateada subindo as escadas.

—Estela, leve nosso convidado para um dos quartos de hóspedes – Estevão virou para ela – E peça para Eilon me encontrar na sala do grande conselho.

—Claro, querido – Perseu cerrou o punho, ele não pedia, ele dava ordens, não havia um por favor terminando a frase – Vamos, majestade – ela estava nervosa em ficar sozinha com Perseu depois de tanto tempo, há anos atrás iria adorar, iria implorar por esse momento, mas agora não sabia como iria se comportar, será que ele tinha casado? Tinha uma noiva ou algo assim? Eles subiram a escadaria em silêncio até chegarem em um corredor, ele olhou para o fim do corredor, as portas com as asas de dragão esculpidas chamaram sua atenção, ele estava no andar do quarto do rei e da rainha. Estela caminhou até a porta de Eilon, que abriu logo depois – Seu pai está chamando na sala do grande conselho.

—Certo, estou indo – ele sorriu, Perseu percebeu que o menino não agradeceu a mãe pelo aviso. Estela virou, esperando que Perseu a seguisse, mas ele encarou o príncipe herdeiro – Vossa majestade – Eilon acenou educadamente.

—Eu sei o que você fez, garoto desgraçado – Perseu sussurrou para ele – E só não acabo com você porque isso deixaria sua mãe desolada. – Eilon arregalou os olhos, o sussurro chegava em seus ouvidos em alto e bom som, o fazendo tremer. O menino não teve respostas, apenas observou atônito Perseu seguir sua mãe.

—Pode ficar nesse – Estela abriu as portas de um dos quartos, era pouco mais afastado, mas no mesmo andar – Caso vossa majestade queira outro, pode falar – ela deixou Perseu entrar, pouco se importava com os quartos.

—Vai ficar nessa formalidade até quando? – ele falou a encarando, a mulher tremeu.

—Desculpe – Estela olhou para baixo, Perseu a puxou pelo pulso, com Eilon e Estevão ocupados, teriam tempo. Ele fechou a porta.

—Quem é Jonan? – ele perguntou sério.

—Noivo de Evie – ela sorriu fraco.

—Iam casar ela e não iam me chamar? – Estela olhou ao redor procurando algo para prender a atenção.

—Ele não era muito bom...era um tanto bêbado – o encarou procurando emoção nele.

—Essa informação era para me consolar ou me irritar? – arqueou a sobrancelha indignado.

—Perseu, depois que Eilon fugiu e casou com Elisa, era isso ou... – ela não sabia qual era a outra opção que Evie tinha.

—Você é patética – ele estava controlando a explosão de raiva, mas não conseguia controlar suas palavras. Estela o encarou – Ficou dando filhos e mais filhos para aquele desgraçado e esqueceu de cuidar da menina, da única que importava!

—Perseu, eu não... – ela queria dizer que não era algo sob seu poder, mas sua cabeça estava confusa.

—Cale a boca e me escute! – Estela se encolheu – Você deixou ela ser maltratada por aquele crápula; deixou ela ser excluída dessa ninhada de filhos; deixou ela ser agredida por aquele demônio e pior... – Perseu se aproximou tão abruptamente que a assustou – Deixou ela ser abusada pelo desgraçado do seu filho.

—O que? – ela juntou as sobrancelhas confusa, não conseguia acreditar que Eilon havia feito isso, Eilon não poderia ter feito algo tão inescrupuloso.

—Seu maldito filho abusou da minha filha! – Estela conseguia ver a raiva nos olhos dele – Eu queria assar aquele desgraçado vivo, mas só não o faço porque é seu! – ele se afastou – Como se tudo que Artemisa passou não foi suficiente.

—Estevão bateu nela porque ela disse que eu era... – Perseu a encarou – uma vaca premiada e reprodutora. – a mulher olhou para baixo.

—Ela falou a verdade – Estela não esperava por esse tratamento, não imaginava que seria assim o reencontro com Perseu – É isso que você sempre foi para Estevão: uma reprodutora!

—E para você? – os olhos dela encheram de lágrimas – Não foi isso que eu fui também? Gestei sua filha por longas e dolorosas sete luas depois de você dizer que não era sua. Eu quase morri para ela nascer! – Estela caminhou em direção a Perseu com passos pesados – Eu tive que olhar para ela dia após dia pensando que a tirei de seu lar verdadeiro, que a deixava longe do pai que a amava.

—Porque quis – ele respondeu – Eu te dei a opção de ficar.

—Mas só se mandasse Eilon com Estevão. Eu jamais poderia escolher entre um e outro – ela estava ficando nervosa, seu estômago doía, queria chorar, mas não tinha mais lágrimas.

—Deveria, seu filho é um... – Respirou pesadamente – Me faltam palavras para expressar meu ódio por ele. – Ele voltou a olhar para ela. – Isso é culpa sua! Isso tudo é culpa sua! Se não fosse tão fraca, tão miserável, tão ridícula, teria defendido minha filha, teria impedido todas as injustiças que ela sofreu, todos os traumas que passou! – ele queria gritar com ela, mas isso chamaria muita atenção.

—Traumas? Injustiças? – Estela deu um sorriso desacreditado entre as lágrimas – Você acha que eu não tentei impedir tudo que aconteceu com ela? Se eu não a protegesse, tudo teria ficado bem ruim para ela depois daquele verão. – Perseu aliviou o rosto ao notar o quanto a mulher chorava – Você acha mesmo que Estevão não era um bom pai para ela antes daquela tarde? – ela arqueou a sobrancelha – Estevão cuidava dela como cuidava dos outros, mesmo que ela preferisse William, até que Evie me fez perder o bebê.

—Vocês já tinham filhos demais – disse entredentes – Você deveria ter feito melhor, deveria ter a defendido melhor!

—Para você é fácil falar! – ela o respondeu no mesmo tom, parecia irritada, mas estava magoada - Está vendo ela pela primeira vez em catorze anos! Eu quem estive aqui para ela!

—Não esteve o suficiente – rosnou baixinho.

—Minha palavra nunca basta para você – ela sorriu, seu rosto estava vermelho – Eu posso ficar aqui por horas gritando tudo que fiz por ela e você não vai acreditar, porque não acredita em mim.

—Estela, não é isso – respirou fundo – É que eu passei tanto tempo longe dela e agora, quando a encontro, descubro que ela sofreu a pior coisa que uma pessoa pode sofrer, que é ser violada.

—E você acha que eu não sei o quanto é ruim? Acha mesmo que eu nunca passei por isso? – as lágrimas estavam esgotando – Eu não sabia que isso havia acontecido... – limpou o rosto – Eu não queria que acontecesse.

—Você quer coisas demais e faz coisas de menos. Deveria ter sido a rainha forte que disse para você ser...

—E queria que eu fizesse o que? Queria que eu olhasse para Estevão e dissesse para não se meter quando o assunto fosse sobre a menina porque eu iria tratar com o pai dela, meu amante? – Perseu baixou a cabeça ao pensar nisso – Sabe o que aconteceria se Estevão descobrisse?! Sabe o que eu e ela passaríamos? Você iria receber os pedaços de sua filha que seria picada na minha frente! E meus outros filhos, como ficariam? Estevão me trancaria no sótão e daí sim eu seria apenas uma reprodutora.

—Eu iria destruir todo o reino que ele tanto ama – os punhos dele estavam cerrados.

—Isso não iria remendar Artemisa – eles se encararam, os olhos fixos um no outro – Só pare de dizer o que eu deveria ter feito, eu sei que não fui a melhor mãe do mundo, mas eu tentei, pelos céus, como tentei!

—Não tentou o suficiente! – ele deu um passo para frente.

—Nada que eu fizer será o suficiente para você, Perseu – ela deixou um sorriso doído escapar – Julga tanto Estevão e não percebe o quanto é parecido – Estela se afastou e abriu a porta, olhando para ele antes de sair – Se vossa majestade precisar de algo, é só falar – falou antes de fechar a porta e seguir para seu quarto.

Perseu se deixou cair na cama e chorou, havia feito a única coisa que Auterpe pediu para ele não fazer, estragou tudo. Não deveria ter falado daquela maneira, sabia que não, mas não havia outro jeito, estava furioso pelo que sua filha passou, Artemisa não merecia isso, ela merecia um lugar que a acolhesse. Estela entrou em seu quarto, trancou a porta e escorregou até o chão, onde abraçou os joelhos e colocou para fora toda sua mágoa, ela reconhecia seus defeitos como mãe, não só com Evie, mas com todos os outros, ela fazia o possível para ser presente para os sete filhos, porém Evie sempre a repelia, dizendo que não estava interessada, Estela queria voltar no tempo, voltar para quando Franny apresentou as rosalhas, se soubesse que tudo isso aconteceria porque um capitão queria a agradar, jamais teria pedido.

Orion estava em seu quarto, onde seu pai dobrava cuidadosamente suas roupas, William repetia o quanto aquilo havia sido errado e o quanto tinha ficado preocupado, mas o menino não o ouvia, seus ouvidos prestavam atenção na briga há portas de distância, óbvio que nenhuma pessoa normal ouviria, mas ele sim. O garoto estava surpreso, atônito com a descoberta, então a mulher para qual seu tio Perseu construiu um jardim e com a qual teve a filha era Estela? Ele não conseguia acreditar, como seu tio havia caído nas graças daquela mulher? Ela era tão sem graça e ainda por cima era casada!

—É tia Estela... – Ele murmurou.

—O que? – William virou – O que tem Estela?

—Foi por ela que tio Perseu se apaixonou – William congelou e ficou pálido – Ele é o pai de...

—Não fale isso em voz alta – o pai correu ao encontro do garoto, cobrindo sua boca com a mão – Escute, Orion – William sentou, a feição estava séria – Precisa me prometer que não irá contar para ninguém, pelo amor de todos os deuses, me prometa que não irá abrir essa boca para falar disso com mais ninguém! – Segurou as mãos do filho, Orion via o desespero nos olhos do pai – Prometa por sua mãe.

—Eu prometo – A força aplicada nas mãos de Orion diminuiu – Mas por que ninguém conta a verdade para ela?

—Porque se Estevão soubesse, mataria ela e sua tia nunca mais veria a luz do dia – William bagunçou seus cabelos. – Eu entendo que gosta de Evie, eu também gosto dela, bastante inclusive, mas precisamos ser racionais, isso é segredo e ninguém pode saber.

—Eu entendo, papai, mas não concordo – Orion cruzou os braços – Evie é Artemisa, ela será uma rainha.

—Sim, quando for o momento ideal, ela irá saber – sorriu .

—Eilon abusou dela – a feição de William mudou de alívio para raiva.

—Por que não fico surpreso? – levantou furioso – Aquele lá só não é mais parecido com pai porque tem os cabelos da mãe! – William queria socar a cara de Eilon, esfolar seu corpo inteiro, cortar fora suas bolas e fundir a coroa de príncipe herdeiro em sua cabeça – Ele é um filho da puta.

—Era isso que tia Estela era? – Orion olhou confuso para o pai.

—Não, isso é uma expressão – William encarou o céu pela janela, Eilon era um desgraçado.

Evie estava em seu quarto completamente chateada, havia jogado a mochila em um canto do quarto, ela não queria ter voltado, queria ter ficado em Saphiral, lá era o lugar perfeito para ela, sabia que sim, ela se sentia em casa, em Calasir se sentia deslocada. Respirou fundo, ia falar com seu pai, iria o confrontar, aquela era a hora. Ela desceu a escadaria assobiando, tinha ouvido sua mãe falar com Eilon que ele deveria ir para a sala do grande conselho, ela também iria para lá.

—Oi, papai – Estevão, Eilon e Mandrik viraram para ver quem entrava, Eveline sorria.

—Diga, Eveline – Estevão falou – Já pediu desculpas para sua mãe?

—Não – ela tamborinou os dedos na mesa longa de madeira polida, Eilon olhava com desgosto para a irmã. – Ela que precisa me pedir desculpas.

—Como é cínica – o gêmeo a encarou – O que veio incomodar?

—Eu vim reivindicar meu direito – ela sentou na cadeira ao lado de Mandrik.

—Direito? – o conselheiro a olhou.

—Eu estou ciente que sou sua primogênita, logo, é meu direito ser princesa de Drakoj e, consequentemente, herdeira do trono – Estevão a encarou irritado – Quero que anuncie publicamente minha sucessão ao trono.

—Você não vai ser minha herdeira – o rei falou firme.

—Mas sou sua primogênita! – ela levantou da cadeira indignada.

—Mulheres não herdam a coroa, irmãzinha – Eilon sorriu – Deveria ter prestado atenção no que tem no meio das pernas.

—Você é um nojento! – ela saltou por cima da mesa, agarrando o pescoço dele com força, Eilon segurava os pulsos dela, mas não conseguia a fazer soltar – Você deveria morrer!

—Eveline – Estevão a puxou pelos cabelos, fazendo ela largar o pescoço do outro – Você pode gritar aos quatro ventos que saiu primeiro da sua mãe, mas seguirá sendo uma mulher e mulheres não herdam coroa – a largou – Você ter nascido primeiro foi o único erro de Estela.

—Eu me pergunto porque mamãe segue casada com alguém tão ruim quanto o senhor – ela encarou o homem.

—Porque sua mãe não é ninguém sem mim – Estevão sorriu – A coroa que ela usa é porque casou comigo. O castelo onde mora é pelo mesmo motivo – ele se abaixou na altura da garota, que ainda estava sentada no chão, enquanto o garoto já estava de pé – Se não fosse eu, sua mãe teria sido vendida como uma prostituta ou como uma procriadora.

—Como se não fosse dessa forma que o senhor trata ela – Mandrik estava abismado com a audácia da garota – Eu vi mamãe engravidar várias vezes, eu vi o quanto ela passava mal todos os dias, o quanto ela chorava pelas dores, mas quando o senhor chegava, ela sorria e fingia que estava bem.

—Você está mentindo, sua mãe teve gestações tranquilas depois de você – Estevão se afastou, observando a menina ficar de pé.

—Pergunte a ela – o rosto de Eveline estava desafiador – Ela sabe quem nasceu primeiro? – Mandrik olhou para Estevão, que negou – Ela saberá. – a princesa saiu da sala indignada, como assim não importava quem nasceu primeiro? Ela nasceu primeiro! Era seu direito governar!

—Fico feliz que voltou para casa, Evie – A voz de Elisa a fez parar e virar, encarando a irmã com ódio, por que ela tinha que ser feliz? Por que ela tinha sorte? – Mamãe ficou preocupada.

—Claro – deu de ombros e teve um estalo – Será que mamãe está no quarto? – Evie não esperou a resposta verbal, apenas o aceno foi o suficiente para a garota correr escadaria a cima em direção ao quarto da mãe, batendo na porta diversas vezes, Estela abriu num susto – Pode conversar? – Estela sorriu dando espaço para a garota passar.

—Quer me contar por que fugiu? – ela queria ouvir da boca de Evie o que tinha acontecido.

—Não – a menina sentou – Quero contar uma descoberta – Estela olhou para a filha curiosa – A senhora sabe quem de nós nasceu primeiro?

—Pelo que me disseram, foi Eilon – Estela nunca havia questionado.

—Pois descobri que fui eu – ela agarrou as mãos da mãe- Preciso que papai me coloque no lugar certo, o lugar de herdeira do trono.

—Evie, você sabe que não funciona assim – Estela acariciou o rosto da garota – Homens herdam o trono.

—Eu quero ser a primeira rainha de Calasir! – bateu o pé.

—Meu amor, por favor, não é assim – Estela suspirou, achou que sua filha iria vir conversar, explicar o motivo da fuga, contar o que a machucava, não vir pedir absurdos – A única forma de governar seria se tivesse um filho pequeno e ficasse viúva, daí seria rainha regente até o garoto atingir a maioridade.

—E se só houvesse filhas? – Estela não sabia responder a pergunta, não sabia o que acontecia nesses casos.

—Eu não sei dizer – deu de ombros – Mas você sempre terá seu lugar na realeza – sorriu acariciando o rosto da menina.

—Eu não quero só um lugar – afastou a mão da mãe – Eu quero ser rainha, mamãe, uma rainha de...

—De verdade, eu sei – Estela olhou para o chão – Por que acha que não sou uma rainha de verdade? – Era um ponto que ela estava com medo de tocar, estava com medo da resposta.

—Porque a senhora passou sua vida engravidando e parindo, obedecendo ao papai e usando vestidos – Estela riu.

—Quando atacaram a fortaleza Drakoj, foi eu que acabei com os invasores – ela acariciou os cabelos da filha – Quando invadiram Verena, declarando que lá seria um novo país, eu fui além do mar e reuni soldados para combater os invasores, então atacamos – Evie olhou incrédula – E quando Creditã, eu liderei o ataque à Abadia junto com seu pai.

—Sério? – ela assentiu – E por que escolheu ter filhos?

—Porque um dos deveres da rainha é garantir herdeiros – a mãe sorria docemente – Quando Eilon for rei, será dever de Elisa garantir a sucessão.

—E por que eu não posso ser a rainha? – ela encarou a mãe.

—Porque o direito é do homem mais velho – sorriu fraco.

—Eu não aceito isso – Evie levantou abruptamente – Eu vou ser rainha, eu vou governar meu próprio reino!

—Querida, por favor – Estela tentou segurar a mão dela, mas a menina se desvencilhou.

—Eu vou sentar no trono como única soberana e vou destruir qualquer ameaça ao meu poder – por algum motivo Estela ficou arrepiada. A menina foi em direção à porta, pousando a mão na maçaneta e virando para a mãe – Ah, eu não arrependo de ter feito aquilo, nunca gostei de tantos irmãos – Evie deu de ombros, um brilho diferente brincava em seus olhos e era assustador.

Quando o jantar foi servido, duas pessoas não gostariam de estar dividindo a mesa. Estela evitava olhar para Perseu, que a olhava enraivecido vez ou outra, estava bravo por dois motivos: por ela não ter protegido tão bem a filha deles e por ela o comparar com Estevão, ele jamais seria Estevão!

Evie estava sentada, mantinha uma feição orgulhosa no rosto, um tanto soberba, comia e conversava com Orion, que tentava ver algo entre seu tio e sua tia.

—E então, rei Perseu, já tem filhos? – Estevão sorriu.

—Não – Perseu disse num suspiro, queria dizer que sim, que tinha, que estava sentada naquela mesa.

—Vossa majestade não é casado? – Eilon olhou curioso para Perseu.

—Não, em meu país casamos por amor, ainda não encontrei a mulher que amo – ele segurou para não responder Eilon rispidamente.

Eles tentaram levar o jantar para um clima agradável e conseguiram por boa parte, aquele estranho brilho tomar conta dos olhos de Eveline, parecia uma sede de vingança, parecia raiva, Perseu achava compreensível. Quando as luzes se apagaram, o castelo foi tomado pelo breu, Perseu havia esquecido o quanto a fortaleza era assustadora no escuro; ele observava a lua, a maneira que ela iluminava tudo, a brisa bagunçou seus cabelos, ele os alinhou e olhou para a varanda onde há anos atrás observava Estela, ela não estava lá agora.

Estevão deitou na cama sorrindo, abraçou a esposa e beijou os cabelos dela com delicadeza.

—Feliz pela volta de Eveline? – perguntou voltando sua atenção para o teto.

—Sim – ela suspirou – Por que não me contou que ela nasceu primeiro? – ele bufou apertando a glabela.

—Porque isso é irrelevante. Que diferença faria ela nascer primeiro? – encarou a esposa irritado – Eveline não seria rainha por isso, aliás, ela precisa tirar da cabeça essa ideia. – alisou os cabelos dela com os dedos – Ela me falou que você mentia para mim enquanto estava grávida – Estela engoliu em seco – Disse que fingia estar bem quando eu chegava.

—Eu não queria ficar incomodando você como fiz na primeira gravidez – beijou o ombro dele – Eu não queria te irritar com reclamações incessantes de dores.

—Eles são meus filhos também, não seria incômodo – virou passando a mão na cintura dela e a trazendo para mais perto – Eu amo você – beijou o rosto dela – E amo a família que construímos – Estevão falava como se a construção da família tivesse sido harmoniosa e não abaixo de brigas, lembrava de cada vez que o marido gritou porque ela não estava grávida, lembrava da estadia em Interlok, quando ele nem a olhava quando estava nos dias de sangue, Estevão havia sido cruel muitas vezes.

 A manhã seguinte também foi aparentemente tranquila, Estevão convidou Perseu para um passeio pela cidade, gostaria de mostrar o que havia reformado durante todos esses anos, Perseu, como um bom aliado, aceitou. Eles saíram logo depois do desjejum, Eilon iria os acompanhar, então Elisa precisava se entretiver sozinha, o que parecia difícil, estava sempre com o marido, era seu papel.

Ela foi para seu quarto, passou os dedos no lóbulo da orelha esquerda e lembrou-se dos brincos que sua mãe havia emprestado para ela, havia mostrado para Eilon antes de consumar o casamento, mas não havia usado e também não havia visto as joias. Um leve desespero a abateu foi quando começou revirar a mesinha de cabeceira, olhando dentro das gavetas, por baixo da cama e embaixo do travesseiro, não estava em nenhum lugar. Uma risada chamou sua atenção, a fez levantar e virar, Orion ria baixinho na antessala.

—O que houve, primo? – Elisa perguntou arqueando a sobrancelha.

—Vim devolver algo – se aproximou dela e estendeu a mão, Elisa abriu e os dois brincos caíram na palma da menina – Eu peguei aquele dia.

—Que dia? – Elisa tentava lembrar se Orion entrou no quarto depois que ela trouxe as joias para os aposentos.

—Fico ofendido que me achou igual seu marido – um sorriso debochado brincou em seus lábios – Fodo muito melhor que Eilon, tenho certeza.

—Você o que? – a princesa se encolheu confusa.

—Fui eu quem tirou sua virgindade – alisou o rosto dela pensando no quanto a menina era enjoativa.

—Orion...não – ela corou – Foi Eilon, como tem que ser.

—Sim e não – ele balançou os indicadores para os lados – Era eu no corpo de Eilon. Tenho muitos truques – sorriu largamente – Talvez eu volte, priminha, talvez essa noite seja eu, ou talvez na próxima. Bem, você nunca saberá – Elisa estava com os olhos arregalados, não conseguia acreditar nisso.

—Não, é impossível – Elisa se afastou.

—Bom, era o que você queria – ela se lembrou dessa frase, Eilon havia dito quando ela pediu para parar e disse que não era aquilo que desejava, será que Orion tinha razão? Havia sido ele?

—Orion, você não faria isso - levou as mãos ao peito.

—Eu faço o que for preciso para vingar Evie – sussurrou no ouvido dela – Se você contar para alguém, seu marido irá ser descascado vivo e da pele farei uma camiseta para você – beijou a bochecha dela e se afastou – Ah – parou quando chegou à porta – Esses brincos são mágicos. Não use se não quiser engravidar. – Ela observou ele sair e a porta ser fechada.

Enquanto Elisa tremia em pânico, Eilon tentava ser o melhor príncipe herdeiro perto de Perseu, mesmo odiando andar a cavalo, Eveline tramava seu plano de conquista, porque ela seria rainha de algum lugar, ou seu pai a tornava herdeira ou ela iria fazer o possível para Perseu a reconhecer como filha. Ela governaria algo a qualquer custo.

 

 

 


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