Fúria escrita por alegrrdrgs


Capítulo 19
Capítulo 18 - Marcos (2022)




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Loving her is like driving a new Maserati down a dead end street

Faster than the wind, passionate as sin, ending so suddenly

 

Marcos queria poder não trabalhar nunca mais. Queria poder ficar em casa com Penélope o dia inteiro, odiava lhe deixar sozinha e amava voltar para ela. Giovanna logo adivinhou o motivo do seu término com Lily, com um revirar de olhas que dizia "é óbvio!", mas não fez um grande alarde sobre isso. Ele ficava grato pela sua calmaria, porque ela compensava pelo nervosismo de Penélope, que parecia ter escalado nos dias que se seguiram.

Não conseguia imaginar como foi torturante para ela. Não queria imaginar, na verdade, pois isso fazia o seu sangue ferver. Se alguém fizesse com ele e Giovanna o que Louis tinha feito para ela e para sua filha... E mesmo que não fizesse, o simples fato de Penélope ter passado por aquilo era mais que o suficiente para que Marcos o odiasse.

De qualquer maneira, o fim do noivado (notícia que já tinha se espalhado pelo corredores do hospital como uma nova gripe) foi uma boa desculpa quando Marcos pediu alguns dias de folga, alegando que era para resolver pendências. A diretora do hospital gostava dele, e concordou porque achava que ele precisava de alguns dias para si para lidar com a emoções do cancelamento.

Era quinta-feira, e quando finalmente chegou em casa encontrou Penélope deitada na sua cama, com Giovanna ao seu lado. Elas assistiam a um vídeo no celular de Giovanna, distraídas e parecendo muito confortáveis debaixo dos lençóis. Ele parou na porta, sorrindo com a visão.

— Pai, eu tô com fome - foi a primeira coisa que Giovanna disse quando percebeu ele ali.

— É assim que você me recebe? - fez drama, se deitando ao seu lado. - É muito bom se sentir tão querido.

Penélope estava sorrindo para ele e parecia um pouco mais animada. Marcos olhou para ela e imaginou se ela estava pensando o mesmo que ele: "você pode ter isso. Eu, Giovanna, uma casa para chamar de nossa, uma vida juntos". Ele tinha oferecido de novo para que ela ficasse, e ela ainda não tinha lhe dado uma resposta. Uma filha não substituiria a outra, é claro, mas ele queria que Penélope soubesse que podia ter aquilo. Podia ter uma família normal, amorosa e suficiente, que não seria como as outras que ela teve. Pela maneira conflituosa que ela devolveu o olhar, Marcos achou que ela estava pensando, sim.

— Papai querido do meu coração... Eu vou desmaiar de fome e a sua queridinha disse que não vai fazer comida pra mim.

— O que você quer comer? - perguntou, rindo enquanto Penélope revirava os olhos.

— Na sua idade eu já fazia a minha própria comida, sabia? 

— Ah, mas não fazia mesmo - Marcos corrigiu, sorrindo quando Penélope arregalou os olhos para ele como o mandasse ficar quieto. Giovanna começou a falar, se vangloriando por lhe pegar mentindo.

— Tudo bem, tudo bem, pede alguma coisa. Eu também não quero cozinhar. 

Giovanna se levantou, descendo para pegar o cartão da pizzaria. Marcos aproveitou que estavam sozinhos para se aproximar de Penélope na cama, lhe dando um beijo rápido. Ela sorriu, retribuindo, mas ainda parecia conflituosa. 

— O que você tem? 

— Nada. - mas ela se revirou na cama, sem olhar para ele, então Marcos sabia que era mentira. - Como foi o seu dia? 

— Bom. Eu consegui alguns dias de folga. Pensei que a gente podia finalmente passar uns dias no interior, como Giovanna queria. O que você acha? 

Penélope sorriu, um sorriso tão bom que ele quase esqueceu da resposta evasiva dela. Quase. 

— Eu acho ótimo. 

Ele podia ouvir Giovanna falando no andar de baixo, abrindo e fechando os armários. Fazendo barulho, movimentando a casa, como sempre. Penélope ficou calada por um momento, e ele esperou.

— Marcos... Iasmim veio aqui hoje. 

— Iasmim? Sua amiga Iasmim? - estranhou, e ela assentiu. Marcos se lembrou da briga das duas, semanas atrás, e ficou imediatamente em alerta, se sentando na cama - O que ela queria? 

— Conversar. Brigar... - suspirou, parecendo cansada. - Ela tá grávida. Ele nem quis esperar as semanas passarem, fez um exame de sexagem fetal e parece que finalmente vai ter um menino. Acho que ela só queria se gabar, achando que eu ainda me interesso por isso. Mas Giovanna estava em casa com uma amiga, e acho que isso deixou ela meio sentimental, fez ela se lembrar de nós duas. 

Marcos não gostava que ela ou o irmão soubessem onde lhe encontrar, mas no momento estava mais preocupado com o nervosismo de Penélope que com essa realização. Pelo menos Iago não tinha acompanhado a irmã, ou encontrado com Giovanna. Marcos tinha descoberto anos atrás sobre a mentira de Penélope e como ela repercutiu na vida de Mimi: o colégio interno que mais parecia uma prisão, as intervenções religiosas crueis, ao ostracismo social e a maneira como ela foi usada de exemplo dentro da igreja de seu pai... Isso tinha causado brigas entre ele quando ele descobriu. Mas naquele momento Marcos ficava mais preocupado que Iasmim quisesse dar o troco que com as repercussões que a mentira de Penélope tinham trazido para a vida da mulher.

— E o que aconteceu?

O olhar de Penélope estava cauteloso, preocupado. A voz de Giovanna no andar de baixo já não o acalmava.

— Ela disse que Iago está puto comigo. Que ele tem agido de um jeito meio... errático.  E que a gente devia ter cuidado. Talvez seja exagero dela, ou drama pra tentar me deixar preocupada.

— E funcionou. - Marcos concluiu, passando a mão no cabelo dela. A preocupação dos dois encheu o quarto - O que você acha que ele pode fazer?

— A essa altura, Marcos, eu já não faço ideia. - ela apoiou a cabeça no colo dele. A testa de Penélope estava quente, e sua voz transbordava culpa. Ele tocou sua bochecha e ela fechou os olhos. - Tudo que eu sei é que eu queria que os meus problemas parassem de me seguir até a sua casa.

— Vai ficar tudo bem. 

— Você sempre diz isso. 

Marcos sorriu para ela.

— É porque vai. Talvez não seja nada, você mesma disse. E se for, nós vamos pensar em alguma coisa. A gente pode ir amanhã pra casa de praia, ficar por lá até as coisas se acalmarem por aqui. A casa está no nome da Aline, ele não tem como saber que nós vamos para lá. Giovanna está de férias, ela vai gostar. 

Ela assentiu, não parecendo muito convencida, mas ficou visivelmente mais relaxada, segurando o seu rosto quando ele se inclinou para lhe beijar. 

— Vocês querem fazer o favor de parar com essa melação o tempo todo? - Giovanna resmungou, entrando no quarto.

— Eu vou te mandar pra Suíça - Penélope ameaçou ao se sentar, tentando disfarçar o embaraço e a preocupação. Giovanna deu de ombros enquanto sentava na cama sem tirar os olhos do celular, não parecendo temerosa. 

— Ótimo, pelo menos é na Europa. Que tipo de ameaça é essa? 

— E a pizza, filha? - Marcos tratou de mudar de assunto, tão envergonhado quanto Penélope.

 - Chegando. 

*

Penélope continuou agindo de maneira estranha e ansiosa no dia seguinte, mas pareceu relaxar um pouco quando chegaram na casa onde tinham passado tantos momentos bons no passado. Giovanna a provocou falando que se Penélope tivesse lhe apoiado dias atrás quando ela disse queria ficar ali a semana toda, Marcos teria dito que sim, mas Penélope mal reagiu. Dormiu na metade do caminho e so acordou quando Marcos estacionou.

— O que ela tem, hein? - Giovanna questionou assim que Penélope entrou na casa.

— Ela só tá cansada, Gigi. Não se preocupa. Quer vir comigo andar de canoa?

Mas Marcos estava preocupado. Preocupado que o comportamento de Penélope fosse o início de uma despedida, ou o indício de que ela estava escondendo alguma coisa. Ela não tinha mais falado sobre o marido, não revelava nada sobre os seus planos, e nem tinha mencionado Franco e sua aparição no acampamento de refugiados, por mais que ele perguntasse.

— Penélope, a gente vai pra praia! - Giovanna berrou da porta da casa. - Você vem?

— Eu encontro vocês lá.

Giovanna franziu as sobrancelhas, desconfiada.

— Mas você vem de verdade ou isso é uma desculpa?

A risada de Penélope ecoou pela casa, vinda do quarto, e Marcos se sentiu mais leve. Especialmente quando ela colocou a cabeça para fora do quarto, o cabelo longo caindo ao redor.

— De verdade.

— Tá bom, então.

Enquanto seguiam a pé pela estradinha de terra, Giovanna resolveu lhe interrogar. Com um tom de quem estava apenas puxando assunto, como uma reporter procurando um furo. Marcos pensou, não pela primeira vez, que ela daria uma ótima jornalista. Mas, é claro, ele sempre achava que ela seria ótima em qualquer coisa.

— Então... Agora o senhor vai casar com a Penélope, ela vai ficar com a gente pra sempre... Como vai ser?

— Eu ainda não sei - confessou, sem querer dar muitos detalhes. - Se ela quiser ficar... Eu gostaria disso. E você?

Giovanna deu de ombros, como se não se importasse, mas Marcos captou um pequeno sorriso nos seus lábios.

— Pra mim tanto faz.

Penélope não demorou a segui-los, se sentando na areia enquanto eles nadavam. Não estavam muito longe na margem, e Penélope demorou um pouco a falar com eles, só os observando. Quando falou, no entanto, sua voz estava bem-humorada.

— Eu que ensinei seu pai a nadar, sabia?

— Quando vocês se conheceram vocês já não era tipo... velhos?

— Eu tinha a sua idade - Marcos se defendeu, indignado.

— Sim, mas velho pra não saber nadar, né, pai? - revirou os olhos e Penélope riu dele, concordando. 

Ela entrou na água depois que Giovanna a chamou, desafiando para uma corrida, reclamando que estava frio. Ela usava o maiô de mangas longas que Marcos tinha lhe dado, e ele se perguntou se algum dia ela deixaria de esconder suas cicatrizes. Quando estavam transando ela não parecia se importar, distraída com outras emoções, mas exceto nessas ocasiões sempre cobria os braços e o colo.

Mesmo com tudo que tinha revelado sobre o marido, Marcos sentia que ela ainda estava escondendo algumas coisas. Talvez porque não gostasse de falar sobre, ou talvez para não o preocupar, e ele não sabia qual opção era pior. Ela não tinha revelado com tinha conseguido sair da casa do marido e chegar até Marina, ou por qual motivo Franco estava lhe procurando agora, e especialmente a última coisa lhe preocupava. Seria uma aliança perigosa, como tinha estabelecido com Iago no passado? Uma vingança paralela ou, ainda, saudades? Ele não fazia ideia, e ela não revelava nada.

Tinha dito que ele não precisava se preocupar com Franco, como se isso fosse possível. Além de tudo, ele percebia o quanto ela estava preocupada com tudo. Mas, observando ela e Giovanna rirem enquanto nadavam de volta para perto dele, Marcos só conseguia sentir que queria que as coisas fossem sempre daquele jeito, apesar de tudo.

Giovanna foi se deitar na areia, mas Penélope ainda estava sorrindo quando passou os braços ao redor do seu pescoço, se apoiando para descansar. Isso fez Marcos pensar em Lily, e em como dias atrás estava naquela mesma praia com ela. Ele se sentia um homem terrível, o pior dos cafajestes, cancelando o casamento em um dia e viajando com a amante no outro. Mas se ele fosse sincero, nunca tinha conseguido esquecer Penélope, seu primeiro e mais intenso amor, independe de qualquer coisa. Existia algum futuro romântico para ele em que ela não estivesse envolvida? Ele achava que não. Mesmo que ela se fosse, a presença dela continuaria como uma tatuagem: imutável, eterna e o lembrando de tudo. Tinha sido assim durante seu primeiro casamento, e ele sabia que seria assim no segundo. 

— Você acha que... - ele se interrompeu, pensou melhor. - Você ainda quer ir embora?

Ela assentiu, olhando nos olhos dele, mas sem responder em voz alta. Como sempre, não parecia querer falar sobre aquilo.

— O que você precisa de mim? - ofereceu. - O que você quer que eu faça pra te ajudar?

— Eu quero que você fique fora disso - reagiu, ríspida, e Marcos sentiu o corpo dela ficar tenso - Eu quero que você não se envolva nessa história. Você precisa me prometer, porque eu quero ter a certeza que você e a Giovanna estão bem.

Ele não queria prometer. Queria seguir ela até o fim do mundo, se fosse o caso, mas precisava pensar na sua filha. Giovanna não iria ao fim do mundo. Não conseguiria colocar ela em perigo como faria com si mesmo. Mas a resposta de Penélope de maneira alguma o tranquilizou.

— Você não me diz nada! - acusou chateado, não pela primeira vez. Estavam falando baixo, por mais que Giovanna não estivesse próxima aos dois - Como você acha que eu me sinto, não tendo ideia do que você planeja fazer, mas sabendo que deve ser perigoso?

Ela não respondeu, desviando o olhar, mas Marcos percebeu que seus olhos estavam marejados.

— Eu não quero que você vá embora - falou, torcendo para conseguir lhe convencer. - Se você vai, então pelo menos me deixa te ajudar.

Penélope o observou por um momento, e então disse devagar e com gentileza, como se ele fosse entender melhor, segurando o seu rosto:

— Você me ajudou. Me ajudou muito. Essas semanas com você foram uma vida diferente, algo que eu nunca pensei que fosse ter de novo. Pertencer a uma família normal, pela primeira vez, e logo com você... Eu sonhei tanto com isso.

— Você pode escolher ficar aqui - insistiu, mas os olhos azuis dela estavam resolutos, e ele sabia que tinha perdido - E reconstruir sua vida. Uma família nossa todos os dias, não só por algumas semanas. As coisas vão ser melhores dessa vez, eu prometo.

— Eu preciso voltar, Marcos.

— Não precisa, não.

— Preciso, sim.

Marcos grunhiu, exasperado.

— Por que? O que você acha que vai conseguir voltando para lá? O que a vingança vai fazer por você, além de te colocar em risco?

— Vai me fazer dormir em paz, Marcos! - devolveu, sussurrando as palavras entredentes enquanto se afastava dele. Os olhos azuis dela brilhavam de ódio - Vai me fazer parar de sonhar com o corpo da minha filha queimando, vai fazer Louis pagar pelo que fez comigo, com todas as pessoas que ele machucou. Vai fazer ele aprender que não pode me machucar e ficar por isso mesmo. Ele e todos os outros!

Marcos se aproximou dela, confuso com suas palavras.

— Queimando? O que você quer dizer com...

— Por que vocês tão brigando, hein? - Giovanna gritou da areia.

— Não estamos brigando! - falaram juntos, o que não convenceu a adolescente, que franziu a testa para eles e então balançou a cabeça com um suspiro, colocando os fones de ouvido.

Penélope parecia arrependida de ter revelado demais, se afastando mais dele na água, com uma sombra do passado em seu rosto.

— Você disse "queimando" - pressionou. - A morte da sua filha não tinha sido natural?

— Para! - ela bateu na água, irritada. - Eu não quero conversar sobre isso. Já chega, Marcos.

Marcos não queria falar mais. Queria pressioná-la, pois sentia que finalmente estava se aproximando da verdade. Mas Penélope estava irritada, inquieta, e ele não queria gastar os poucos momentos que ainda tinha com ela discutindo. Mas sabia que não esqueceria das suas palavras tão cedo.

Ele se aproximou novamente e dessa vez ela não se afastou, apesar de ainda olhar para ele com raiva. Marcos a abraçou, beijando sua têmpora, e percebeu que o corpo dela tremia. Olhou para Giovanna mas ela estava olhando para as árvores, de costas para eles.

— Desculpa. Desculpa, ok? Você não tem que falar sobre isso se não quiser. Eu só quero... - suspirou - Eu só quero te entender, te ajudar

— Eu não quero que você entenda - rosnou, com a voz baixa. - E eu não quero que você faça parte disso, Marcos. Você faz parte disso — indicou os arredores, e Marcos sabia que ela estava falando de mais do que apenas um lugar físico. - Eu não quero que você faça parte daquilo.

— Tudo bem, como você quiser - ergueu o rosto dela, ainda perturbado. - Mas eu não estou aqui só para os momentos bons. Eu quero que você confie em mim para tudo, Penélope, absolutamente qualquer coisa. O bom e o ruim, as risadas e as lágrimas.

— Eu sei, Marcos. Eu sei. Você é... a melhor pessoa que eu conheço. Eu só quero que você fique bem.

Marcos riu sem achar graça, e Penélope se inclinou em direção ao seu toque quando ele segurou o seu rosto. Os olhos dela refletiam o movimento da água, e sua expressão era sincera.

— Mas você vai ficar bem? Eu não sei como você consegue ser tão cabeça dura pra não entender que eu não fico bem se você também não está.

Penélope lhe deu um beijo e então o abraçou. Um abraço de corpo inteiro, apertado, que não o tranquilizou porque se parecia demais com uma despedida.

— Quando tudo isso acabar, eu vou voltar para você. E aí você vai poder me dizer que vai ficar tudo bem, e eu vou acreditar. Mas não me pede pra esquecer, não me pede pra deixar pra lá. Isso eu não vou fazer, Marcos. 

Marcos não ficou satisfeito com a resposta, mas abraçou ela de volta, porque sabia que era a melhor que ele iria receber. 

Ele não quis insistir no assunto nos dias seguintes, porque Penélope parecia melhor e ele não queria que ela ficasse agitada de novo. Mas, principalmente, porque ele sabia que era uma causa perdida. Em parte ele entendia o sentimento dela: se alguém machucasse Giovanna, não havia nada no mundo que ele não faria. O que ele queria era que ela ficasse bem e longe de problemas, mesmo sabendo que isso ela não faria.

Então nos dias seguintes ele fez o possível para que ela ficasse feliz e confortável. Acordavam tarde e passavam o dia entre a água e a areia. Giovanna tirou fotos bonitas, reclamou da comida e venceu Penélope novamente em uma corrida. Penélope não teve pesadelos, apesar de as vezes acordar no meio da noite e demorar a voltar a dormir. De maneira geral ela parecia feliz, carinhosa e bem-disposta, e eles não voltaram a discutir.

Na última noite, quando já tinha colocado as bolsas no carro e arrumado a casa para que saíssem cedo no dia seguinte, Giovanna e Penélope estavam deitadas no sofá, já com roupa de dormir. Giovanna estava cochilando, cansada, e Penélope mal estava acordada, apenas esperando Marcos para que fossem se deitar.

— Filha, vai dormir aqui? - sussurrou, empurrando o ombro dela com delicadeza. 

— Hmm.. Eu não tô dormindo - resmungou, escondendo o rosto na almofada. Marcos esperou, mas ela parecia ter dormido novamente, então ele a cobriu com um lençol. - E você, vai dormir aqui também?

Penélope sorriu, aceitando a mão dele para se levantar, espreguiçando o corpo com preguiça. O rosto dela estava vermelho devido ao sol, e estava ainda mais bonita.

— Alguma vez você já me viu recusar a sua companhia pra dormir? 

Marcos tinha acabado de desligar a luz da sala quando ouviu um carro se aproximar. A casa ficava em um lugar afastado, e era pouco provável que alguém chegasse ali se ela não fosse o destino desejado. Penélope apertou sua mão, subitamente alerta. O farol do carro lançou luzes pela cortina, e Marcos se virou para lhe acalmar mas ela parecia estranhamente calma. Havia algum nervosismo no seu rosto, mas nada comparado à crise que Penélope tinha tido no shopping, ou quando Giovanna chegava em casa fazendo barulho e sem avisar. 

Ele sabia exatamente o que aquilo significava.

— Fica comigo - ela pediu, como tinha feito naquela manhã em que foram até a casa do seu pai. 

— É claro. 

Giovanna ainda dormia profundamente, e ele ficou grato por isso. 

O carro estacionou, e eles podiam ouvir vozes do lado de fora. Marcos sabia que falavam francês, mas não entendia uma palavra do que diziam. Ele e Penélope parados exatamente no mesmo lugar, e Marcos queria poder voltar o tempo para adiar a sua partida. Finalmente, quando ouviram batidas na porta, Penélope respirou fundo. Ela ainda estava segurando a sua mão quando caminhou até a porta, mas mesmo que tivesse lhe soltado Marcos teria lhe seguido mesmo assim. 

Marcos abriu a porta após ela olhar rapidamente pela janela e lhe acenar positivamente, e atrás de dois homens enormes vestidos de preto dos pés a cabeça estava o mesmo homem que tinham visto na ligação de Marina, o que tinha lhe procurado no acampamento.  Marcos odiava o sorriso dele, porque significava que ela iria embora. 

— Penelope, mon coeur, je t'ai trouvé. 


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