Após a caminhada solitária pelas ruas, Miguel chegou em casa e abriu a porta com uma expressão serena. Ele adentrou o ambiente familiar e calmo que sempre lhe proporcionava uma sensação de tranquilidade. Com gestos precisos e sem demonstrar muito entusiasmo, ele tirou os calçados, alinhando-os cuidadosamente no canto da entrada, como se cada ação fosse um ritual discreto que ele seguia meticulosamente.

Caminhando pelo corredor, ele olhava para os quadros e fotos nas paredes, mas suas feições permaneciam inexpressivas. Era como se a decoração familiar fosse apenas um cenário, algo que ele apreciava, mas que não o afetava emocionalmente.

Ao chegar à cozinha, Miguel preparou um lanche simples, seguindo sua rotina habitual. Sem pressa, ele saboreou cada pedaço de alimento, mas suas reflexões ainda o acompanhavam como sombras que o seguiam aonde quer que fosse.

Decidiu então pegar seu violão e foi para a sala de estar. A música sempre fora uma forma de expressão para ele, permitindo-lhe transmitir sentimentos sem precisar colocar em palavras o que se passava em sua mente. As cordas ressoavam com acordes suaves, e seus dedos habilidosos dançavam pelas cordas, produzindo uma melodia que ecoava pelas paredes silenciosas.

Enquanto tocava, uma ideia surgiu em sua mente. Ele começou a compor uma canção, deixando que a música fluísse espontaneamente, como se cada nota revelasse um pequeno segredo sobre ele. As palavras das letras surgiam naturalmente, como se a música fosse uma forma de revelar um pouco de sua alma indiferente.

Terminada a composição, Miguel guardou o violão e, com uma expressão enigmática, decidiu ir dormir. Enquanto se preparava para descansar, pensava na garota dos cabelos cacheados que encontrou na banca de revistas, mas a lembrança não parecia afetá-lo profundamente. Era como se ele apreciasse aquele momento, mas sem se deixar levar pelas emoções.

No dia seguinte, Miguel acordou com um semblante calmo e indiferente. Vestiu-se com roupas simples, combinando os elementos de forma quase mecânica. Enquanto se olhava no espelho, notava a mesma expressão serena de sempre.

Com a mochila nos ombros, ele saiu de casa para enfrentar mais um dia na escola. A vida continuava cheia de mistérios para ele, e apesar de sua indiferença aparente, havia algo fascinante na forma como ele lidava com as incertezas e desafios que a vida lhe apresentava.

Miguel entrou na sala de aula e, com sua típica indiferença, se dirigiu à sua mesa. Enquanto caminhava, notou que era observado por uma garota conhecida como a nerd da sala. Ela era quietinha, mas sempre prestativa em ajudar os colegas com dificuldades nas matérias. Seus olhares se cruzaram por um breve momento, como se quisessem trocar palavras não ditas, mas logo desviaram o olhar para frente.

Sentando-se em sua cadeira, Miguel lançou outro olhar casual à garota. Ele parecia não querer demonstrar interesse, mas havia algo na maneira como ela o observava que o intrigava. Era como se ela guardasse algo especial para dizer, mas por ora, preferiu manter o silêncio.

A atenção da sala logo se voltou para a frente quando a professora adentrou a sala. Ela possuía uma charmosa aparência, capaz de capturar o olhar de todos. O coração de Miguel batia de forma tranquila, mas ele sabia que aquela era a única alegria que encontrava em ir à escola - a oportunidade de deslumbrar-se com a beleza cativante da professora.

Enquanto as aulas começavam, Miguel tentava manter sua indiferença habitual, mas não conseguia evitar algumas espiadas furtivas em direção à professora. Seus pensamentos se perdiam em devaneios enquanto tentava imaginar o que ela poderia estar pensando ou sentindo naquele momento.

A garota, por sua vez, continuava a observar Miguel discretamente, como se quisesse encontrar a coragem para falar com ele, mas sempre recuando no último momento. Havia uma curiosidade genuína em seus olhos, e algo na personalidade indiferente de Miguel a atraía, despertando o desejo de conhecê-lo melhor.

Enquanto o dia letivo prosseguia, os olhares furtivos entre Miguel e a garota continuavam, criando uma atmosfera sutil de encanto e mistério na sala de aula. Cada um com seus segredos e pensamentos guardados, ambos compartilhavam um elo silencioso que somente o tempo revelaria.

O sino do intervalo ecoou pelos corredores da escola, anunciando uma pausa nas atividades. Miguel se dirigiu ao refeitório, o local movimentado onde os estudantes se reuniam para almoçar e socializar. Ele pegou seu lanche e sentou-se em uma das mesas vazias, mergulhando em seus próprios pensamentos enquanto mastigava o sanduíche.

Sem perceber, algo chamou sua atenção. Uma silhueta alta e esguia se destacava parada em pé na sua frente. A garota da silhueta parecia hesitante, como se estivesse pensando se deveria ou não interromper o momento de reflexão de Miguel.

Com uma expressão indiferente, Miguel levantou os olhos e encontrou os dela. Era a garota da sala, aquela mesma que o observava durante as aulas. Ela pediu licença para sentar-se à sua mesa, e o olhar dela era curioso, como se buscasse encontrar uma conexão naquele momento inesperado.

Por alguns instantes, Miguel hesitou, ponderando sobre o que fazer. A presença da garota naquela mesa vazia trazia uma mistura de surpresa e curiosidade. Com um gesto quase imperceptível, ele assentiu, dando permissão para ela se juntar a ele.

A garota sentou-se em frente a Miguel, e por um breve momento, houve um silêncio desconfortável enquanto ela preparava seu lanche saudável com cuidado. A cada movimento, ele podia sentir a tensão entre eles, como se ambos estivessem buscando palavras que poderiam iniciar a conversa.

Finalmente, após uma mordida no lanche, ela ergueu o olhar e começou a falar. Suas palavras fluíam com suavidade e timidez, mas sua voz era doce e cativante. Ela contou sobre seus interesses em leitura, ciências e como gostava de ajudar os outros nas matérias em que se destacava. A garota era tão apaixonada pelas palavras que utilizava para descrever suas atividades que Miguel sentia-se gradualmente envolvido pela sua energia contagiante.

Aos poucos, o silêncio foi dando lugar a uma conversa leve e descontraída. Miguel, ainda com sua personalidade indiferente, parecia relaxar na presença dela. Ele também compartilhou um pouco sobre seus próprios gostos e interesses, de forma reservada, mas genuína.

Conforme o tempo passava, a mesa antes vazia ganhou vida com a troca de histórias e experiências. A garota, cujo nome era Isabela, revelou-se ser uma pessoa com uma mente curiosa e uma bondade genuína em seu coração.

Enquanto terminavam seus lanches no refeitório, Miguel não conseguia evitar a curiosidade que o consumia sobre o motivo de Isabela sempre o observar durante as aulas. Reunindo coragem, ele resolveu abordar o assunto.

Miguel: - Isabela, posso te fazer uma pergunta?

Isabela, que estava preparando seu lanche saudável, ergueu os olhos para ele com um leve sorriso.

Isabela: - Claro, Miguel! Fique à vontade.

Miguel: - É que... eu percebi que você sempre me olha durante as aulas. Existe algum motivo especial para isso?

Isabela pareceu surpresa com a pergunta, e por um momento, ela pareceu ponderar suas palavras.

Isabela: - Bem... é que eu te acho interessante. Você tem um jeito de ser que me intriga, e eu gosto de observar as pessoas para tentar entendê-las melhor.

Miguel: - Sério? Eu sou só um cara normal, sabe? Não há nada de especial em mim.

Isabela: - Não concordo. Acho que você tem uma maneira única de ver o mundo e, mesmo sendo reservado, parece que há muito mais por trás de sua personalidade do que você deixa transparecer.

Miguel: - Eu... eu nunca pensei que alguém me veria assim.

Isabela: - Bem, talvez eu esteja errada, mas é como me sinto quando te observo. Desculpe se isso soa estranho.

Miguel: - Não, não é estranho. Na verdade, é bom saber que alguém presta atenção em mim, mesmo que seja apenas por curiosidade.

O sinal tocou, interrompendo a conversa no momento em que Miguel estava prestes a fazer uma nova pergunta. Isabela, envergonhada, se levantou apressadamente.

Isabela: - Eu... eu preciso ir para a sala de aula. Até mais tarde, Miguel.

Miguel: - Até mais, Isabela.

Observando-a se afastar, Miguel ficou pensativo por uns instantes. Ele decidiu não pressionar Isabela a compartilhar mais do que ela se sentia confortável, mas a curiosidade sobre aquela garota intrigante só crescia em seu coração.

De volta à sala de aula, Miguel fazia algumas anotações das matérias que a professora explicava, mas dessa vez ele percebeu que Isabela não ousava olhar para ele como antes. Ela estava focada em suas próprias atividades, e ele respeitou seu espaço.

Ao final da aula, Miguel sentiu que ainda havia muito a descobrir sobre Isabela. Ele sabia que aquele encontro no refeitório havia despertado algo especial em ambos, e ele estava ansioso para desvendar os enigmas por trás dos olhares curiosos de Isabela.