Estrelas escrita por ColibriMoriarty


Capítulo 6
Capítulo 6




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O mundo girava e oscilava feito um giroscópio orate e, em seu eixo, estava Red.

Desnorteado, ele ergueu a mão trêmula e esfregou a lateral de seu rosto, sentindo sua mandíbula dolorida como se tivesse tomado um soco. Não apenas sua face, mas seu corpo inteiro se condoía a cada movimento. Parecia que havia entrado em uma briga e perdido feio.

Ele exalou profundamente, enquanto que descansava seu braço sobre seu peito. A blusa parecia áspera de encontro a seu torso na altura do ventre, cingindo-o, de uma forma quase desconfortável.

O esqueleto correu os dedos pelo tecido, porém a textura não era a de sua vestimenta, e constou - atarantado - que eram bandagens que envolviam seu abdômen da crista ilíaca até suas costelas vertebrocondrais. Uma diminuta mancha avermelhada demarcava seu ferimento sob as ataduras, contudo, o talho não estava mais lhe incomodando de forma cáustica, a dor havia se tornado um latejar suportável.

Ele, finalmente, sentou-se na maca e observou seus arredores. Encontrava-se no que aparentava ser a junção maluca de uma ala hospitalar com laboratório de pesquisas. Diversos aparatos tecnológicos - e de aparência complexa - estavam espalhados por cada metro quadrado que olhasse.

Onde havia se metido desta vez?

Não conseguia lembrar de como havia chegado até ali, apenas lapsos de memória de vozes acaloradas em meio a uma discussão. Todavia, uma dor de cabeça incessante começava a lhe drenar as forças, a única coisa que conseguia lembrar era do sentimento de urgência em escapar.

A grade de ventilação acima de seu leito fazia um barulho esquisito, e o ar frígido era expelido sobre o esqueleto seminu, que não tardou a tremer devido ao frio que fazia na sala. Não haviam lençóis na maca, apenas o estofado, que fedia a bolor. Foi nesse momento que Red deu-se pela falta de sua blusa e jaqueta.

O esqueleto jogou seus pés para fora do leito e tentou ficar de pé, porém foi acometido por uma tontura que escureceu sua visão, e ele buscou apoio no objeto mais próximo. Quando sua visibilidade se restabeleceu, apercebeu-se que estava escorado em uma cadeira que não havia notado antes e, pendurado em seu encosto, estava seu benquisto casaco. Infelizmente, não havia sinal de sua blusa.

Contente, cobriu seu tronco despido. Estava para puxar o zíper para cima quando ouviu um barulho crescente vindo do lado de fora da porta.

O som de alguém correndo.

Red assustou-se, procurando invocar uma arma de cálcio para se defender, contudo, seu estado de saúde deveria ser mais preocupante do que havia imaginado, pois nem seus poderes estavam disponíveis para uso no momento. Um xingamento escapou de seus dentes cerrados.

Buscou por uma rota de fuga, escaneando o ambiente, mas só havia a porta de metal naquela sala estranha, nem mesmo a porcaria de uma janela para pular fora. Não havia como correr, logo chegou a conclusão que restava, apenas, bater.

Seu olhar recaiu sobre um suporte de soro empoeirado no canto próximo a porta. Cambaleou naquela direção e apoiou-se no metal, sua respiração acelerada devido a adrenalina. O som dos passos parou, de súbito, bem a frente da porta de onde estava.

O esqueleto preparou-se para atacar, posicionando as mãos na parte superior e mais leve do suporte.

A porta se abriu e alguém adentrou.

Red levantou o objeto hospitalar - com um gemido abafado de esforço - e usou o impulso do corpo para girá-lo feito um taco de beisebol, e a parte inferior e pesada acertou o recém-chegado bem na cara.

O princípio da Inércia - 1ª Lei de Newton - diz que um objeto em repouso ou movimento retilíneo uniforme tende a permanecer nesse estado se a força resultante sobre ele é nula. Consequentemente, um suporte de soro sendo balançado como um taco por um esqueleto tende a continuar se deslocando devido seu volume, mesmo após acertar outro monstro na face, principalmente se o obstáculo não se demonstrar denso o suficiente para absorver toda a força empregada no ato para, então, conseguir fazê-lo estancar completamente.

Em conclusão, o taco improvisado atingiu seu alvo e continuou o movimento, Red poderia tê-lo puxado de volta, mas estava fraco demais devido sua lesão, e acabou sendo carregado no embalo. Suas pernas cederam e ele tropeçou, caindo pesadamente no chão.

O suporte de soro voou de suas mãos e atingiu algumas máquinas sobre um balcão, derrubando-as com estrondo.

Sobre o piso frio, o esqueleto arfou de dor segurando a lateral de seu corpo. O gesto fora demasiadamente brusco, e alguns pontos se romperam, com o sangue não tardando a manchar - ainda mais - as ataduras em seu tronco.

O ferimento queimava feito brasa, debilitante. Red encolheu-se em posição fetal reprimindo um gemido, quase se arrependendo de seu ato impensado quando ouviu um som insistente se fazer presente para si.

Ele ergueu os olhos e notou que a porta estava tentando fechar, porém havia um monstro caído bem em seu batente. A porta deslizava até bater contra suas costelas algumas vezes, o motor engasgando ao encontrar a obstrução, até voltar para dentro da parede, então repetia a ação de forma patética, possivelmente cômica, até.

Red ignorou a dor pungente, erguendo-se com dificuldade. O monstro caído no chão era um esqueleto. Seus braços e pernas estavam levemente abertos e esticados feito uma estrela do mar estranha; de seu peito para cima estava fora da sala, e da cintura para baixo, estava dentro.

O outro monstro era exatamente igual a si, desconsiderando poucas dissonâncias como tamanho, cores de vestimenta, e o nariz sangrento, muito provavelmente quebrado, pelo golpe.

O barulho vindo do mecanismo estava piorando sua dor de cabeça, além que as pancadas pareciam ser dolorosas. Com esforço, ele puxou o corpo para dentro da sala, e a porta finalmente se fechou com um barulhinho baixo.

Curioso, ele se inclinou para observar melhor aquela cópia barata em cores frias, notando que até mesmo as bermudas eram iguais, com exceção das faixas decorativas que haviam em ambas as pernas; suas sendo amarelas e as do outro fulaninho, brancas.

Também notou o volume em seu calção.

Mexeu no bolso dele e puxou de lá uma carteira com marcas pelo uso, a responsável pelo volume no tecido. Haviam alguns ouros dentro e uma foto de um esqueleto criança fazendo careta para o fotógrafo. A criança parecia muito com seu irmão, Papyrus.

Uma fisgada em seu abdômen fez com que se dobrasse com um ganido de dor, largando a carteira, que caiu fechada aos pés da contraparte, virada com a parte de trás para cima. Um papel colado no couro chamou a atenção de Red.

“Caso encontre perdida, favor devolver a:

C. Sans

Cidade de Snowdin, Underground, Mt. Ebott.”

— Sans?! – Surpreendeu-se. Sua mente clareou, quase como se tivesse acionado um interruptor. Agora o esqueleto de Underfell conseguia se amentar de seus encontros com o de Undertale, principalmente que haviam lutado recentemente. Havia estado com um osso afiado pronto para degolar seu oponente quando sentiu uma pancada forte na cabeça, foi então que acordara naquele estranho lugar, com seu corpo remendado e despido.

Tudo fazia sentido, agora.

Para seu desespero, Sans mexeu a cabeça - soltando um grunhido - o que fez com que recuasse. Todavia, ele não abriu os olhos, assim como esperava, ainda estava inconsciente, mas dava indícios que por pouco tempo.

Red fechou o zíper de seu casaco escuro, obstinado.

~X~

— Sans? Sans! – Uma voz feminina lhe chamava, balançando seu tronco com urgência. – Por favor, acorde!

Suas órbitas se abriram lentamente, e se fixaram na mancha amarela falante que flutuava acima de si. Seu crânio parecia ter sido recheado com chumaços de algodão, dando a sensação de que sua consciência era um fio de renda finíssimo, feito a teia de uma aranha, pronto para se romper ao mínimo toque.

Respondeu aos chamados com um resmungo incoerente, e ergueu a mão esquerda acima de sua cabeça, fazendo sombra sobre sua face, ante as luzes que feriam seus olhos.

— Apague a luz, Papyrus. Mais cinco minutinhos... – Balbuciou, confusamente.

— Não, Sans, sem mais cinco minutinhos. – Insistiu Alphys, porém ela estalou os dedos e as luzes diminuíram de intensidade. – Você está bem? – O esqueleto levou a mão que havia estendido para sua face, tocando seu nariz dolorido. Sua visão estava entrando em foco, e viu seus dedos voltarem vermelhos.

— Estou sangrando. – Conseguiu dizer, sua mente ainda levemente atordoada.

— Vou pegar um lenço para você. – Comunicou a fêmea, erguendo-se, e desapareceu de seu campo de visão. Ele escutou quando Alphys saiu revirando as gavetas, até finalmente retornar com uma caixinha de lenços. Ela rompeu o lacre com as garras e puxou alguns, para então limpar o sangue de seu rosto, delicadamente. – O osso não está quebrado. – Diagnosticou.

Sans não respondeu, apenas virou, apoiando-se em seu braço esquerdo, tirando o rosto de perto da mão da cientista, que frisou os lábios, aborrecida com o gesto.

— O que aconteceu? – Indagou, deixando os lenços de lado.

— Não faço ideia. – Respondeu. Algo chamou sua atenção, e ele desviou o olhar para um monitor em curto no chão - distante um metro e meio - atrás de Alphys, então para o suporte de soro caído em outro canto. – Minto, sei sim. – Ele fez menção de levantar, e a doutora agarrou seu ombro direito em auxílio, fazendo com que Sans gritasse de dor e puxasse o braço bruscamente. – Cuidado!! – Vociferou, entredentes.

— Cuidado com o quê? – Questionou, atônita. Ela não havia puxado com força, apenas firmado as mãos por baixo de sua axila. Ele não respondeu. – Cuidado com o que, Sans? – Instigou, desconfiada.

— Com nada. – Desconversou, ficando de joelhos, segurando sua espalda. Ela bufou, impaciente, e puxou a gola de sua blusa junto do casaco, expondo a articulação, e desequilibrando o esqueleto, que caiu sentado.

— O que aconteceu com seu ombro?! Parece que foi atravessado por alguma coisa! – Gritou, exasperada.

— Não aconteceu nada, deixe-me em paz. – Retrucou Sans, colocando-se de pé e se afastando, temendo que a doutora decidisse inspecioná-lo novamente.

— Sans, você viu o estado que a articulação glenoumeral está?! Você tem sorte de não ter machucado dez centímetros acima, ou teria quebrado a clavícula! – Alphys investiu, tentando agarrá-lo, mas o esqueleto desviou, tropeçando para fora de seu alcance. – Volte aqui, eu preciso examinar melhor esse seu ombro!

— Eu estou bem, aliás, não temos tempo para isso! Precisamos ir atrás de Red antes que ele se meta em encrenca. – Retorquiu, afoito.

— Red? É esse o nome do seu amiguinho?! – Disse Alphys, então ela sacudiu a cabeça. – Não tente mudar de assunto! – Brigou, apontando um dedo para ele. – Você apareceu do nada com aquele esqueleto a beira da morte, não viro as costas nem por duas horas que ouço barulho de algo quebrando, e, quando venho ver o que está acontecendo, te encontro desacordado e leso no chão! – Disparou, enfurecida. – Eu quero uma explicação do que está acontecendo, meu laboratório está mais bagunçado que casa-da-mãe-joana! – Sans cruzou os braços com uma expressão hostil. – Agora, Sans! – Berrou, batendo o pé. O grito fez com que ele se encolhesse, o som alto ocasionando-lhe uma pontada na cabeça. O esqueleto se recompôs, lançando um olhar reprovador a ela, então inspirou profundamente, vencido.

— Papyrus encontrou alguns documentos durante sua ronda por Waterfall. – Falou, descruzando os braços e apoiando-se contra a parede. Sua linguagem corporal começava a evidenciar o quão exausto estava. – Eles estavam firmados por Gaster.

— Pelo seu pai? – Surpreendeu-se, Alphys. – Mas ele está morto.

— Ele não está morto! – Atalhou, rispidamente.

— Ele foi absorvido por um orbe de determinação condensada, Sans. – Explanou. – Há 7 anos. – Salientou, caso ele ainda estivesse experienciando confusão mental.

— Oito anos mês que vem – Corrigiu Sans. – E eu sei, eu estava lá. – Retorquiu. Ele começou a ficar agitado, zanzando de um lado a outro, da mesma maneira que costumava fazer quando ficava muito excitado sobre uma pesquisa nova. – E-Eu acho que a máquina não o matou. Possuo a teoria de que ela tenha sobrecarregado o espaço-tempo quando explodiu, e acabou mandado ele para algum outro lugar. – A doutora ficou em silêncio, incerta. O nariz do esqueleto voltou a sangrar, e ele limpou com a manga de seu casaco, fungando. – Eu venho lendo todos os livros que consigo achar sobre a teoria das cordas, linhas do tempo alternativas, universos paralelos, paradoxos temporais... – Sans sacudiu a cabeça, revolta impregnando sua fala. – Nada disso faz sentido! Por que apenas eu e você, Alphys, sabemos quem WingDings Gaster foi?!

— Não sei, Sans. – Disse a doutora, finalmente quebrando sua mudez. – Eu, sinceramente, não faço ideia.

— Papyrus não reconheceu o nome do próprio pai naqueles papéis! É como se ele nunca tivesse existido! Fotos, documentos, memórias... Não há vestígios de sua vida em lugar nenhum. – Ele parecia triste, chegou até a diminuir o ritmo de sua caminhada ansiosa. – Nós dois somos os únicos que conhecem seu legado. – Após uma pausa breve, provavelmente esperando alguma reação adversa de sua audiência, ele retornou ao tópico. – Então, uma semana depois, fiquei sabendo por Dogami que haviam recebido denúncias de um esqueleto vagando por Waterfall e roubando comida. Eu vasculhei aquela úmida e maldita caverna por dias, mas... – Ele ficou subitamente em silêncio, parando no meio de um passo. O desânimo fazendo com que parecesse murchar feito uma flor no deserto, principalmente quando abraçou a si mesmo.

— Mas não era ele. – Completou Alphys. Ela se aproximou, Sans não pareceu querer fugir de seu alcance novamente. – Era esse outro esqueleto, esse... Red. – Recebeu um aceno - quase imperceptível - de cabeça, confirmando.

— Eu só quero meu pai de volta. – Confessou, suas órbitas, rasas de água, pesavam sobre o chão, sem forças para encarar a doutora.

Alphys sorriu tristemente, e apoiou sua mão sobre o ombro sadio do esqueleto, descobrindo que ele estava tremendo. Ela havia pedido para que ele parasse de esconder seus sentimentos mais cedo, mas vê-lo daquela forma tão vulnerável, fez com que ela ficasse amedrontada. Não sabia, até aquele momento, o quão profundo era o abismo em que ele se encontrava.

Eram sentimentos demais, preocupações demais... Até ela mesma se sentia sufocada.

Alphys puxou Sans para um abraço.

— Você deveria ter me contado. – Limitou-se a dizer, aprazível. – Eu poderia ter ajudado.

— Você estava sempre muito ocupada com seus projetos de robótica. – Respondeu, os braços pendendo ao lado do corpo sem retribuir o gesto. – Eu não queria te incomodar, Al.

Ele estava mentindo. Alphys sabia muito bem disso.

“É, algumas coisas nunca mudam.”, pensou a fêmea. Sans se afastou dela, e limpou o rosto com a manga do casaco. O momento havia passado, e ela observou - assombrada - as barreiras instransponíveis se reerguendo a seu redor, a medida que ele retomava o controle.

— Preciso ir atrás de Red. – Demandou, com seriedade, dirigindo-se para a saída.

— Você quer ajuda? – Indagou a doutora. Sua fala deteve o esqueleto a porta por alguns segundos, quase como se ele estivesse cogitando a possibilidade. Ele suspirou.

— Sim, eu quero.

“Ou talvez não.” ponderou Alphys, seguindo-o.

. . .

— Estamos procurando por ele há muito, Sans. – Disse a doutora, esbaforida. Estava tendo dificuldade em acompanhar o ritmo ansioso da caminhada do esqueleto. – Se esse Red é parecido com você, ele já deve estar longe, provavelmente se teleportou. – Ele sacudiu a cabeça em negativa.

— Ele está seriamente ferido, não vai poder usar sua magia por um bom tempo. – Respondeu, verificando uma sala de manutenção. Apesar da bagunça, estava vazia. – Ele não vai conseguir sair, muito menos se defender, por isso que é crucial achá-lo antes que os amalgamados o façam.

— Isso seria mais fácil se você usasse a sua. – Ela parou, apoiando as mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego. – E os amalgamados não vão machucá-lo, eles são bonzinhos.

— Eu não posso. – Retrucou, interrompendo seu avanço. – Você tem câmeras pelo subsolo inteiro, por que não usamos uma delas? – Questionou, voltando-se para a fêmea.

— Não há câmeras aqui embaixo.

— Na minha época, tinha.

 Na sua época éramos nós três cuidando do laboratório. Eu não dou conta sozinha, a maior parte do equipamento está estragada pela falta de manutenção. – Alphys se endireitou, ajeitando seu jaleco.

— É por isso que você nunca limpou a ala do acidente?

— Como você sabe disso? Você não vem aqui para baixo desde que se recuperou da explosão.

— Acho que ouvi alguma coisa. – Falou, saindo correndo, fingindo que não havia lhe escutado.

— Sans! – Reclamou Alphys, indo atrás.

O esqueleto avançou pelo corredor em alta velocidade, com seus tênis guinchando de encontro ao piso. Os chamados da doutora foram ficando abafados a medida que ganhava distância, principalmente após fazer algumas curvas.

Então, subitamente, um amalgamado surgiu em seu caminho. Sans trombou com a ave deformada e foi ao chão com um grunhido alto.

Ele se ergueu usando os cotovelos, e sentiu algo pegajoso sob si. O amalgamado, não muito contente em estar sendo usado de colchão, começou a guinchar irritado, abanando as asas e chutando, fazendo com que o esqueleto rolasse para o lado para sair da frente das garras afiadas do bicho.

A ave se pôs de pé, estufou as penas gosmentas com petulância, e foi embora, sumindo pelo corredor feito um avestruz desengonçado, mas não sem antes soltar algo semelhante a um rosnado para Sans.

— Volte e repita isso! – Instigou, colocando-se de joelhos e sacudindo o punho.

— Sans! – Exclamou Alphys, finalmente alcançando-o. Ela cambaleou até ele, e desabou, sentando-se. – É expressamente proibido correr nos corredores! – Brigou, sem fôlego. O esqueleto revirou os olhos, levantando-se.

— Por que você não coloca esses bichos em uma jaula?!

— Você gostaria que eu te prendesse em uma jaula? – Retorquiu a doutora, recuperando-se do exercício. Sans bufou em resposta. – Foi o que pensei. Não pode prendê-los em um cubículo só porque não gosta deles.

— Gostar deles? Esses bichos que me odeiam!

— Oh, eu não consigo imaginar o porquê! – Respondeu, irônica.

— Levante-se. – Disse, autoritário, oferecendo sua mão boa para ajudá-la. – É crucial localizarmos Red. Ele está ferido e é altamente instável.

— Parece você. – Troçou, levantando-se.

— Engraçadinha.

— Não, Sans. Eu estou falando sério! Esse monstro é muito semelhante a você, chega a ser assustador.

— Somos esqueletos, Alphys! Obviamente que seríamos parecidos. – Resmungou, voltando a procurar por sua contraparte.

— Não me venha com esse papo, você também está pensando nisso, não é?! – Instigou, seguindo-o. – Ora, um esqueleto com personalidade, aparência, e poderes iguais aos seus aparece do nada em Waterfall... Isso deve significar alguma coisa!

— Teorias da conspiração? Sério mesmo, Al? Eu esperava mais de você. – Ironizou com um sorriso debochado.

— Você acha que ele é uma pista nessa sua busca por Gaster? – Disparou, a frase mais soando como uma afirmação do que uma indagação.

Sans congelou bem no meio de um passo.

— É isso, não é? – Continuou a doutora, aproximando-se dele. – Não tem como ele ter atravessado a barreira, nossos estudos comprovaram que nenhum monstro conseguiria entrar ou sair por ela; Além que Red seria preso por invadir o palácio. Sem contar que Waterfall é muito distante da barreira, mesmo que ele pegasse carona com o gondoleiro encapuzado...

— O nome dele é Sans. – Cortou o esqueleto.

— Como? O gondoleiro se chama "Sans"?

— O nome real do Red é Sans! – Repetiu, voltando-se para ela. – No momento em que eu o vi em Waterfall, eu soube que ele deveria ter alguma coisa a ver com o desaparecimento de meu pai. Não pode ser apenas uma coincidência sua aparição e a daqueles documentos. Ele com certeza não é daqui, e não estou me referindo ao subsolo.

— Você acha que ele é você de uma linha do tempo alternativa? – Deduziu a fêmea.

— Bingo! – Gritou, animado.

— Mas isso não é possível... Digo, em prática não é possível. Seu teleporte só funciona em locais que você já conheça, ele precisaria de um acelerador de partículas imenso para criar um buraco de minhoca grande o suficiente para atravessar. – Divagou a doutora, levando a mão ao queixo para pensar. – Mesmo que tudo isso funcionasse, ele ainda seria morto pela força resultante ao rasgar a malha espaço-temporal!

— Eu sei! Isso não é incrível? – Respondeu Sans, excitado. – Se ele sobreviveu, então minha teoria está correta! Meu pai está apenas perdido em algum lugar do espaço-tempo, esperando para que eu o encontre!! Agora você compreende o porquê de precisarmos achá-lo antes que seja tarde?

— Achar quem? – Alguém questionou. Ambos se voltaram para o final do corredor, onde um esqueleto surgia de uma esquina, acompanhado de perto por um amalgamado.

— Red! – Exclamou Sans, invocando um blaster por instinto. – Afaste-se do amalgamado! Ele é perigoso!

— Esse carinha aqui? Não foi ele que me atacou com blasters no momento em que nos vimos! – Retrucou, cruzando os braços, lançando um olhar feio para a arma.

— Você o atacou com blasters?! – Surpreendeu-se Alphys.

— E não foi só uma vez. – Ajuntou o esqueleto de casaco escuro.

— Isso não é importante. – Desconversou o outro, irritado. – Estou falando sério, Red. Esses bichos não gostam de nós.

— Fale por você. – Ele estendeu a mão e acariciou o que seria o queixo do canino, que bateu a perna traseira, feliz, em resposta ao carinho.

— Está bem, Branca de Neve, agora venha para cá, precisamos conversar.

— Conversar? Agora você quer conversar? Depois de me sequestrar e fazer experimentos em meu corpo enquanto que eu estava inconsciente?!

— Não foi nada disso que aconteceu! – Disse Alphys, desconsertada. – Sans te trouxe aqui porque você estava machucado! Seu ferimento negligenciado estava a ponto de matá-lo!

— Como se vocês se importassem!

— Chega! – Gritou Sans, fazendo um gesto com sua mão como se fosse agarrar uma bola, para então cerrá-la. Red enrijeceu sua postura, com sua alma surgindo a frente de suas costelas, brilhando com uma coloração azulada. – Já mandei se afastar do amalgamado! – Ele ergueu o braço lentamente, e os pés do outro esqueleto deixaram de tocar o chão.

— Me larga! – Esperneou o esqueleto de casaco preto, tentando escapar da mão invisível que restringia seu corpo. O canino rosnou, prostrando-se com seu peito quase tocando o piso.

— M-M-Melhor fazer o que ele pede. – Sugeriu Alphys, assustada com a atitude feroz do amalgamado. Sans a ignorou, encolhendo o braço para perto de si, com um grunhido de esforço. Sua contraparte voou em sua direção com rapidez.

O canino avançou, latindo, para cima de Sans. Que ergueu sua mão livre, dando sinal ao blaster para atirar.

— Não! – Berrou a fêmea, empurrando o esqueleto de azul, que perdeu a concentração. Red caiu no chão e o blaster errou o alvo. O canino passou por cima dos dois após um salto, e derrapou pelo corredor com suas unhas arranhando o piso. Ele se virou, rosnando. A gosma negra pingando por sua face e formando uma poça abaixo de si.

— Alphys, não me atrapalhe! – Mandou Sans, ríspido, empurrando-a para o lado, justo no momento em que o amalgamado atacava novamente.

O esqueleto ergueu a mão, capturando a alma do bicho com sua magia, porém o canino era grande e forte demais para si, o que exigiu ainda mais dele. Sans ergueu a outra mão com um grunhido, quase como se estivesse tentando empurrar uma parede. O amalgamado, rosnando, tentava avançar em sua direção.

O blaster subitamente se desfez, quase ao mesmo tempo em que Sans soltou um ganido de dor, caindo de joelhos, levando suas mãos ao peito. O canino avançou em alta velocidade, visto que não estava mais sendo inibido pela magia, pronto para atacá-lo.

— Q-Quieto!!! – Gritou Alphys, interpondo-se entre eles. Ela mexeu no bolso interno de seu jaleco e puxou algo de lá, estendendo para o canino, que freou bruscamente, parando a poucos centímetros de si. – Cachorrinho m-malvado! Para sua caminha! Agora!! – Brigou. O bicho farejou os salgadinhos com desconfiança, mas logo abanou o rabo, pegando o saco com o buraco negro de seu rosto, e saiu trotando, animado.

Enquanto isso, Red havia se levantado com dificuldade, e erguera a mão, copiando os gestos da contraparte. A alma de Sans surgiu, piscando em vermelho, e ele foi arrastado na direção do outro esqueleto.

— Descobriu um truque novo? – Provocou o esqueleto em um gemido de dor. – Sua magia devia estar offline.

— Arrombei uma máquina de vendas alguns corredores atr-- O QUE ACONTECEU COM A SUA ALMA?!! – Gritou, assustando-se ao constar que o coração esbranquiçado que representava seu ser estava incompleto. Pelo menos 30% haviam desaparecido, deixando uma forma que vagamente lembrava um coração. Com o susto, o esqueleto acabou soltando o outro, que caiu de joelhos a poucos metros dele.

— Uma chapa fumegante metálica de 57 milímetros de espessura atravessou ela. – Ele foi interrompido por um acesso de tosse. – O de sempre, sabe? – Disse com um sorriso de escárnio.

— COMO VOCÊ NÃO ESTÁ MORTO?!

— Acredite, é o que eu penso todo dia quando acordo. – Retrucou, arquejando.

— Sans! – Alphys havia se voltado para eles, e correra para socorrer o esqueleto de Undertale. – Você esqueceu de tomar sua pílula essa semana, não é?! – Repreendeu, procurando desesperadamente em seu jaleco por alguma coisa, enquanto se ajoelhava ao lado dele.

— É claro que... – Ele ficou em silêncio ao perceber que ela estava certa. O esqueleto se encolheu quando outra pontada lhe percorreu o corpo. A dor fazendo com que tivesse ânsia de vomito.

Alphys puxou um frasco pequeno de um bolso aleatório, abriu-o, e derrubou uma pílula rubra em sua palma, para logo em seguida fazer com que Sans a engolisse a força.

Ele engasgou, porém os espasmos cessaram de pronto. Ela segurou seu tronco quando ele desfaleceu, usando seu próprio corpo como apoio.

— O que era aquilo?! VOCÊ O MATOU!!? – Acusou Red, recuando um passo, pronto para usar seus poderes.

— Não seja sonso. – Retorquiu Sans, abrindo um de seus olhos, arfante. – Você não vai se livrar de mim tão fácil. – Ele se calou, fazendo uma careta dolorida, quando a doutora o levantou, ficando ambos de pé.

— Quem me dera. – Murmurou Alphys, passando o braço sadio dele sobre seus ombros, dando sustentação ao esqueleto trêmulo. – Era uma pílula que continha 0,65mg de determinação. – Red recuou mais um passo - percebendo que ainda estava fraco demais para invocar quaisquer armas - não muito convencido, e a fêmea lhe lançou um olhar ríspido, que dizia para que não tentasse nenhuma gracinha. – Agora que vocês decidiram acalmar seus ânimos, diga-me, Red... – Ela abriu um sorriso terno. – Você gosta de macarrão instantâneo?


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