Rainbow 5 escrita por Lee George


Capítulo 10
Uma liderança questionada




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O sol mal havia pintado o céu de tons alaranjados quando Min Jae, gestor austero da Soul Music, adentrou a sala do alojamento. Sua figura esguia projetava uma sombra carregada pelos corredores, anunciando sua chegada antes mesmo de pronunciar uma palavra. O ar na sala pareceu ficar mais denso na presença dele, como se absorvesse a gravidade de sua expressão preocupada.

 As cortinas ainda estavam fechadas, ocultando a promessa do novo dia para as integrantes da Rainbow 5, que jaziam em seus leitos. Di, Lea, Jia, Sun e Song, cada uma alheia ao infortúnio que pairava sobre o horizonte, dormiam, sonhavam, esperavam.

 Min Jae, entretanto, não era portador de notícias auspiciosas. Seus olhos, normalmente frios e calculistas, carregavam um peso adicional, como se o fardo de suas responsabilidades pesasse sobre seus ombros com mais intensidade naquela manhã.

 À medida que o gestor movia-se pelos aposentos, a aura de tensão o acompanhava como uma sombra. Chegou primeiro ao quarto de Di, onde ela repousava inconsciente de qualquer perturbação. Seus cabelos tingidos de branco espalhavam-se sobre o travesseiro, uma cor contrastante com a serenidade de seu rosto.

 No quarto de Lea, porém, o cenário era distinto. A jovem de cabelos rosados não repousava serenamente; estava imersa em um sono agitado, talvez perturbada pelos tumultos de sonhos inquietantes. Ao lado dela, uma caixa de remédios vazia testemunhava a tentativa de acalmar tormentas interiores.

 O gestor passou por Jia e Song, ambas entregues a sonhos que, por enquanto, eram alheios à intranquilidade que se desenhava.

 Com a maestria de um regente preparando-se para a sinfonia do caos, Min Jae reuniu as integrantes na sala principal. O local, até então palco de risos e camaradagem, transformou-se em um cenário de apreensão.

 "Reúnam-se", comandou Min Jae, sua voz ressoando com autoridade. As garotas, agora sentindo o peso do olhar implacável do gestor, se alinharam como se preparassem para uma batalha iminente.

 "Lea ainda descansa, debilitada pelos acontecimentos recentes", anunciou ele, seus olhos vasculhando as expressões das presentes. "Houve desenvolvimentos preocupantes esta noite. A segurança de vocês está em risco, mais do que nunca e a Soul Music está atenta e agindo por vocês."

 Uma onda de desconforto perpassou o recinto. O que parecia ser apenas o início de uma jornada promissora na indústria do K-pop agora estava obscurecido por nuvens sombrias e imprevisíveis. O que aguardava as integrantes da Rainbow 5 ao amanhecer não era a luz brilhante da fama, mas sim as sombras densas de um destino incerto.

 A sala do alojamento transformou-se em um teatro de tensão, onde o gestor Min Jae, o maestro de desgraças iminentes, preparava-se para conduzir um concerto de revelações sombrias. As garotas da Rainbow 5 aguardavam com expressões ansiosas e inquietas, cada uma antecipando o tom funesto das notícias que ecoariam pelas paredes.

 "Na noite passada, ocorreu uma reunião de emergência com os acionistas da Soul Music", começou Min Jae, sua voz carregada de um tom grave que pairava no ar como uma neblina densa. "A segurança de vocês agora está sob escrutínio, e medidas drásticas estão sendo tomadas."

 A audiência reteve a respiração coletiva, esperando pelas revelações que delineariam o novo capítulo de suas vidas.

 "Decidimos formalmente acionar a polícia", prosseguiu Min Jae, e a palavra "polícia" pairou na sala como um eco sinistro. "Além disso, estamos em processo de contratação de um detetive profissional. Nossos esforços estão sendo intensificados para garantir a sua segurança."

 Di, Jia e Song trocaram olhares inquietos, suas mentes inebriadas por uma sensação de vulnerabilidade que a fama nunca deveria trazer consigo.

 "No entanto, isso não é tudo", continuou Min Jae, seus olhos examinando cada uma das garotas. "Os acionistas não ficaram satisfeitos com o resultado do show de estreia."

 Uma onda de surpresa e preocupação varreu a sala. As esperanças de uma ascensão triunfante na indústria do K-pop eram agora obscurecidas por nuvens de incerteza.

 "Portanto", anunciou Min Jae, sua voz mais pesada do que nunca, "mudanças substanciais devem ocorrer. A liderança da banda Rainbow 5 será transferida. Di, você não será mais a líder."

 Di fitou o gestor com uma mistura de incredulidade e desafio, como se as palavras ainda não tivessem afundado completamente.

 "Sun", declarou Min Jae, seu olhar agora fixo na integrante que personificava a serenidade no caos iminente, "a liderança agora recai sobre você. A banda precisa de uma figura estável, alguém que possa enfrentar os desafios com calma e determinação."

 A ascensão de Sun ao papel de líder foi recebida com um silêncio pesado. As garotas absorveram a notícia, conscientes de que a dinâmica da banda havia mudado irrevogavelmente.

 "Preparem-se", concluiu Min Jae, suas palavras ressoando como um anúncio de um destino inescapável. "O mundo que vocês conheciam mudou. Apenas as mais fortes sobreviverão a essa tempestade."

 Di, que sempre carregou o fogo da determinação em seus olhos, agora era uma tempestade prestes a desabar sobre o silêncio tenso da sala. Seu olhar faiscava com uma mistura de raiva e incredulidade, desafiando o gestor autoritário que estava determinado a conduzir a narrativa de suas vidas.

 "Você não pode fazer isso", rosnou Di, sua voz cortante como lâminas. "Eu sou a líder da Rainbow 5. Sempre fui. Essa banda é minha vida,  ela é de todas nós!"

 Min Jae ergueu um olhar imperturbável, uma rocha resistente contra as ondas furiosas que emanavam de Di. "As decisões foram tomadas pelos acionistas. Eles têm o poder de moldar o destino da Soul Music e, por extensão, o destino de vocês."

 "Acionistas?" Di cuspiu a palavra como se fosse veneno. "Eles não sabem o que é estar no palco, enfrentar multidões, lutar por cada nota, por cada fã. E você os deixa ditar quem lidera?"

 "É um negócio, Di", respondeu Min Jae, sua expressão impassível. "E nos negócios, algumas decisões são difíceis, mas necessárias."

 "Não!" Di retrucou, sua voz subindo em um crescendo de desafio. "Eu recuso. Não vou aceitar isso."

 Jia, sempre a pacificadora da banda, tentou intervir. "Di, precisamos nos adaptar às mudanças. Sun será uma líder mais do que capaz, e vamos superar isso juntas."

 Di, no entanto, estava imersa em sua própria tempestade emocional, ignorando as palavras conciliatórias. "Eu construí essa banda do zero, enfrentei desafios que você nem pode imaginar. E agora estão me tirando isso?"

 Sun, agora a relutante líder designada, deu um passo à frente. "Di, eu entendo que isso é difícil para você. Mas precisamos nos unir como uma equipe. Nossa força está na coesão, na superação dos desafios juntas."

 "Time?" Di riu amargamente. "Meu 'time' era forte porque eu era a líder. Eu liderava com paixão, com fogo. E agora querem que eu me curve a isso?" Ela apontou para Min Jae. "Não!"

 As palavras de Di pairaram na sala como uma tempestade de inverno. O gelo de sua frustração contrastava com o calor de sua determinação. Jia, então, aproximou-se, colocando uma mão reconfortante no ombro de Di.

 "Di, nós entendemos. Mas agora precisamos seguir em frente. A banda ainda precisa de você, de todas nós. Vamos enfrentar isso juntas."

 Di encarou Jia por um momento, a tempestade em seus olhos diminuindo gradualmente. A banda, agora envolta em uma nova realidade, estava diante de um caminho incerto, mas a força de suas vozes, juntas, poderia ser a melodia que transcenderia a discordância.

 Di, respirando fundo, permitiu que as palavras de Jia penetrassem em sua resistência emocional. A tempestade interior começou a ceder, deixando para trás a névoa da raiva. Min Jae, reconhecendo a necessidade de deixar as garotas absorverem a notícia, se retirou da sala com uma despedida formal.

 "Uma coreógrafa será enviada aqui mais tarde para começar a trabalhar nas mudanças", ele informou antes de sair, fechando a porta atrás de si.

 O silêncio que se seguiu era tangível, pesado com a inquietação e a incerteza. Di, sentindo o peso de suas palavras anteriores, virou-se para Sun, sua expressão carregada de remorso.

 "Sun, eu... Eu não devia ter dito aquelas coisas. Não é culpa sua. Eu só..."

 Sun, agora a líder designada, a interrompeu com um sorriso tranquilizador. "Di, eu entendo. Estamos todas sob pressão. Vamos superar isso, como sempre fizemos."

 Di assentiu, grata pela compreensão de Sun. Enquanto isso, Sing observava a cena com um olhar de superioridade, saboreando a sensação de vitória no ar, mas mantendo suas palavras para si mesma. A rivalidade entre Di e Sing estava longe de terminar, mas naquele momento, Sing preferia saborear a doçura da conquista silenciosa.

 Enquanto isso, no quarto de Lea, a tranquilidade do sono era perturbada por pesadelos sombrios. Ela se contorcia na cama, capturada por visões tumultuadas. Sombras dançavam ao redor dela, como se a escuridão estivesse ansiosa para reivindicar sua alma gentil. Lea, submersa em um pesadelo que parecia real demais, murmurava palavras incompreensíveis enquanto lutava contra as amarras oníricas.

 Ainda inconsciente do caos que se desdobrava ao seu redor, Lea era uma presa indefesa nas garras de seus próprios medos noturnos. Enquanto o sol continuava a subir no horizonte de Seul, o destino da banda Rainbow 5 parecia mais incerto do que nunca.

 No subsolo do alojamento, a coreógrafa, uma mulher esbelta com olhos afiados que capturavam cada movimento, reuniu as garotas para o ensaio. O ambiente carregava a tensão dos eventos da manhã, mas o profissionalismo da coreógrafa a impelia a focar no trabalho em mãos.

 "Meninas, sei que as coisas estão difíceis no momento, mas a arte é nossa válvula de escape. Vamos canalizar isso para a dança. Ainda estamos no início, e precisamos nos destacar. O público quer algo memorável", ela começou, olhando cada uma nos olhos.

 "O estilo sexy funcionou, e não podemos ignorar isso. Precisamos aprimorar essa parte. Di, Lea, vocês são as mais cruciais aqui. Di, quero que você canalize a sua energia para os movimentos. Lea, confie em Di e permita que ela a guie. Jia, Sun, continuem sendo a espinha dorsal desta dança. E Sing, mantenha esse charme, mas sem exageros. Vamos começar."

 O ensaio começou com um ritmo lento, cada movimento calculado para criar uma aura sedutora sem ser exagerada. Entretanto, Lea, ainda sonolenta e com a mente turva pelos efeitos dos remédios, lutava para acompanhar o ritmo. Di, por outro lado, frustrada pelas reviravoltas do dia, cometia erros frequentes, sua mente distraída não conseguia focar nas instruções que lhe eram passadas.

 Sing, notando a vulnerabilidade de suas colegas, começou a elaborar uma zombaria afiada. Antes que suas palavras pudessem infligir mais feridas emocionais, Sun interveio com uma firmeza que refletia sua nova posição na banda.

 "Sing, não é hora para isso. Somos uma equipe, e agora, mais do que nunca, precisamos permanecer unidas. Cada uma de nós traz algo único para esta banda. Se alguém estiver fraco, é nosso dever apoiar, não ridicularizar. Vamos continuar, juntas."

 O silêncio ressoou no subsolo, mas a mensagem de Sun reverberou, ecoando um compromisso renovado entre as garotas da banda Rainbow 5. Enquanto os passos continuavam a ser ensaiados, a promessa de uma apresentação marcante pairava no ar, desafiando as sombras que tentavam se instalar sobre a jornada da banda.

 O final da tarde trouxe consigo uma atmosfera carregada, os ecos dos ensaios ainda reverberando nas paredes do alojamento. O ambiente, antes pulsante com a energia da música e dos passos coordenados, agora estava impregnado com a tensão que pairava entre as garotas da Rainbow 5.

 Jia e Sing, apesar dos obstáculos, haviam se destacado nos ensaios, conquistando elogios calorosos da coreógrafa. A dança delas era uma sinfonia de movimentos coordenados, uma expressão viva do espírito da banda. Contudo, Di se encontrava em uma espiral descendente de frustração, seu usual brilho ofuscado pelas nuvens escuras que pairavam sobre sua mente.

 A coreógrafa, reconhecendo o esforço evidente de Jia e Sing, dirigiu-lhes palavras de incentivo e aprovação. Di, por outro lado, sentia-se como um fardo para as outras. Cada passo errado, cada momento de desatenção, parecia aumentar o peso de sua autocrítica. A sensação de estar aquém das expectativas, tanto da banda quanto de si mesma, era esmagadora.

 Ao final da tarde, enquanto as sombras alongavam-se pelos corredores do alojamento, Di, envolta em um silêncio pesado, escapou despercebida. A porta rangeria suavemente ao fechar-se atrás dela, deixando para trás uma sala vazia e uma sensação de vazio. A raiva que fervia dentro dela era como um fogo inextinguível, alimentado pelas adversidades do dia.

 O exterior oferecia um refúgio momentâneo, os últimos raios de sol tingindo o céu de tons quentes. Di caminhava sem rumo pelos arredores do alojamento, uma alma em busca de solução para a tormenta que a consumia. A rua deserta testemunhava sua fuga silenciosa, enquanto as luzes da cidade começavam a ganhar vida, lançando uma luz incerta sobre o caminho que ela escolhera trilhar.

 O crepúsculo mergulhava as ruas próximas ao alojamento em uma penumbra sombria. Di caminhava sem rumo, perdida em pensamentos tumultuados, suas emoções como tempestades internas. A brisa noturna varria seus cabelos, mas não conseguia dissipar a nuvem que pairava sobre sua mente.

 A rua, normalmente ruidosa, estava silenciosa, como se a cidade, em respeito à jornada solitária de Di, houvesse decidido congelar seus murmúrios. Em meio à quietude, Di aproveitou a oportunidade para deixar sua raiva fluir. Um grito rasgou o ar, emergindo do fundo de sua alma, ecoando entre os prédios silenciosos.

 Na escuridão crescente, uma figura masculina permanecia meticulosamente escondida, entre os recantos sombrios da rua. Seu olhar, aguçado como uma lâmina, deslizava sobre Di com uma precisão quase predatória. Cada detalhe do gesto dela, cada som emitido em sua explosão de desabafo, era submetido ao escrutínio minucioso do observador.

 Ele era como uma sombra móvel, deslizando pelas vielas e becos, sempre mantendo uma distância calculada. Seu conhecimento das artimanhas urbanas permitia que se movimentasse sem ser detectado, enquanto o interesse em Di fluía em sua expressão intensa e concentrada. Os detalhes de seu rosto permaneciam mergulhados na escuridão, uma silhueta enigmática que desafiava a revelação. Seus olhos, no entanto, pareciam radiar uma curiosidade sinistra, um fascínio insaciável pelos tormentos e tormentas que envolviam a jovem vocalista.

 O propósito desse observador permanecia envolto em mistério, um enigma adicional nas sombras já densas da noite. Cada passo de Di, cada manifestação de sua raiva, era analisado por olhos que não revelavam nada além de um fascínio oculto. A atmosfera ao redor dessa figura tornava-se carregada, uma sensação de expectativa iminente que se mesclava com a escuridão que o envolvia.

 A cidade, apesar de sua aparente calmaria, transformou-se em um palco onde as emoções de Di se desdobravam. Enquanto a última luz do dia se desvanecia, deixando para trás tons de azul profundo e preto, a jovem continuava sua jornada, alheia à presença oculta que a seguia, e a incerteza do que a noite ainda guardava.

 O parque mergulhava na escuridão do crepúsculo, suas árvores projetando sombras longas como dedos esqueléticos. Di, agora no mesmo lugar onde ela e Lea haviam explorado seus poderes em um momento mais leve, sentia a atmosfera carregada de uma energia muito diferente. À medida que a luz do dia desvanecia, sua raiva, mais uma vez, eclodia em um grito primal que se misturava ao murmúrio do vento nas folhas das árvores.

 Di pensou que estava sozinha naquele cenário crepuscular, mas as árvores silenciosas e as sombras dançantes não eram as únicas testemunhas silenciosas de sua angústia. Ao se aproximar de um banco solitário, a jovem estilhaçou a serenidade da noite com uma série de socos impiedosos. Seus punhos, envoltos na escuridão que a envolvia, se chocavam contra o banco com uma intensidade movida por uma dor visceral.

 Cada soco parecia um desafio desesperado, uma expressão física da tempestade emocional que rugia dentro dela. A dor física começou a se misturar com a emocional, mas Di persistiu, sua respiração ofegante e irregular ecoando na quietude do parque. Foi somente quando notou as manchas escuras tingindo o banco que ela parou, observando o sangue que agora marcava seu punho. A visão da própria vulnerabilidade, pintada em vermelho escuro, trouxe um instante de sobriedade.

 Di permaneceu ajoelhada, suas mãos feridas repousando no banco. O silêncio do parque tornou-se mais denso, como se a natureza em si estivesse contendo a respiração diante do turbilhão de emoções que emanava da jovem vocalista. A noite escondeu suas lágrimas, mas a dor crua e a fúria contida estavam estampadas em cada linha de seu rosto, moldando-a como uma escultura trágica esculpida na penumbra do parque.


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