As Crônicas de Aethel (Vol.III): O Enigma de Atlas escrita por Aldemir94


Capítulo 2
Entrada Triunfal




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/809796/chapter/2

No dia seguinte à promessa de Aethel, a cidade inteira estava em polvorosa, enquanto lindas bandeiras azuis, brancas e amarelas (as cores da bandeira imperial) enfeitavam as casas e prédios públicos.

 Apesar de os setenta dias de luto ainda perdurarem por mais algumas semanas, Aethel havia autorizado o desfile de triunfo, em comemoração a grande vitória sobre Franco-Armânia e a República de URSI; Mabel Pines havia conseguido trazer um pouco de vida para o país entristecido.

A multidão se aglomerava na grande praça imperial, diante dos assentos dourados dos senadores, os camarotes montados para os nobres e as casas próximas com suas janelas abertas; todos  animados com o desfile (tradição herdada de antigos viajantes latinos que, muito tempo atrás, foram parar nas terras ghalaryanas).

Para começar a cerimônia, Ambrósius fez uma oração breve naquela grande praça aberta, em agradecimento pela paz recém alcançada, a nova ordem de cavaleiros de Aethel e também pelos sorrisos que, aos poucos, voltavam àquela terra.

Após encerrar o serviço religioso, o patriarca caminhou pela multidão até os degraus da catedral, onde sentou-se com alegria (embora um confortável assento de veludo vermelho tivesse sido posto para ele).

A seguir, um grupo de crianças se reuniu no centro da praça, trajadas com uniformes do exército ghalaryano, das mais diferentes patentes: elmos e peitorais de bronze, camisas azuis e brancas, quepes negros, sandalhas e tudo o mais que fosse necessário para montar um batalhão completo e mandá-lo em direção ao combate…

Mas as crianças não iriam lutar; aquele era um dia de alegria e confraternização.

Os meninos estavam reunidos para apresentarem uma peça feita às pressas, para contar a história de como os ghalaryanos haviam derrotado o exército invencível de Juba III – rei dos franco-armânianos.

Do lado esquerdo, aglomerou-se um batalhão de vinte meninos com os uniformes do império, e do lado direito, um grupo de trinta garotos surgiu, vestidos com turbantes brancos, escudos redondos e peitorais de ferro, representando as tropas de Juba.

Sem demora, o combate das crianças começou, mas os golpes de espadas feitas de papel e madeira sem fio, não poderiam fazer mais do que alegrar os meninos.

Um viajante talvez ficasse confuso com a batalha, porém, uma garotinha loira de dez anos narrava os acontecimentos, com uma voz cheia de animação:

— Nossos soldados estavam perdendo a batalha – dizia ela – Mas nossos irmãos, Felipe e Atreu, se recusaram a entregar nosso grande império nas mãos dos bárbaros invasores!

Enquanto a menina contava os fatos, um menino vestido com uma túnica azul, coroa cônica de papel e barba de algodão tingido de carvão, surgiu no meio da praça e levantou sua espada de madeira contra dois meninos menores, que interpretavam Felipe (o general) e Atreu (o atual 2° cônsul).

— Atirem flechas neles! – gritou o menino para seus amigos.

Nesse ponto, dez flechas com pontas feitas de algodão e palha foram atiradas e, para encerrar a cena, o intérprete de Felipe fingiu um ferimento no ombro.

A história seguiu por mais alguns minutos, tendo como ponto alto o aparecimento de um garotinho franzino fantasiado de Mael – rei de todos os dragões –, segurando uma tocha que, com as sopradas do rapaz, simulava as chamas do poderoso draconídeo.

A multidão sorria, enquanto o menino balançou as asas de tecido armado com varetas, a semelhança das do próprio Ícaro, movia o capacete no formato da cabeça de Mael, corria em meio aos amigos, fazendo sua cauda de espuma e musselina dançar por entre os soldadinhos e – da forma como apenas os grandes artistas conseguem –, dava pequenos saltos por cima dos coleguinhas, gerando um efeito que imitava com maestria o vôo do poderoso rei dos dragões.

A melhor parte foi quando um rapazinho de meros sete anos surgiu, vestido de “Aethel”, com uma espada de prata sem fio, que imitava a Excalibur do grande Arthur, dos ingleses.

Ao contrário do verdadeiro Aethel, os cabelos do menininho não eram castanhos, mas da cor do trigo recém-colhido, no entanto, o semblante cheio de vida, os olhos brilhantes e o sorriso juvenil poderiam confundir até o 2° cônsul, que diria “este é, com certeza, o senhor Aethel; nosso santo imperador”, enquanto a multidão se curvaria e saudaria o garoto.

Brandindo a espada de prata, o menino desafiava uma garota vestida de verde e coberta de plaquinhas de bronze; esta interpretava Nealie, rainha das feiticeiras.

Após choques ferozes das armas sem fio das duas crianças, diante dos olhos de seus amigos, a garotinha fingiu cair no chão; mas “Aethel” foi piedoso e ajudou-a a levantar.

Curvando-se em sinal de agradecimento, a garotinha dizia se arrepender de seus erros, enquanto o amigo discursava para a multidão, dizendo “Eu a perdoo. Que agora haja paz!”, três vezes seguidas.

A multidão aplaudiu com alegria, enquanto as crianças se enfileiraram e curvaram as cabeças, em agradecimento.

Após se retirarem da praça e seguirem para um grupo de arquibancadas montadas especialmente para elas, as crianças foram presenteadas com pequenos cestos de doces e livros de bolso, cuidadosamente envoltos com tecidos azuis e macios, decorados com estrelas pintadas com ouro e pó de fada.

Após uma pausa, foram ouvidos os sinos da catedral, anunciando o início do desfile, para alegria de todos os presentes.

Posicionando-se próximos a Via Magna (uma das principais ruas da grande cidade), a imensa multidão assistiu, com animação, o aproximar dos desfilantes.

Tudo começou com um grupo de doze religiosos vestidos com túnicas brancas, caminhando descalços e segurando pequenos potes de incenso perfumado (potinhos de bronze que eram, cuidadosamente, sustentados por correntes finas presas a varas de prata).

Os homens cantavam hinos solenes e alegres, enquanto a multidão os saudava, como se fossem irmãos preciosos.

A seguir, duas fileiras de hoplitas segurando os estandartes do império – bandeirolas com faixas azuis, brancas e amarelas, com um leão ao centro – surgiram, caminhando orgulhosamente com suas sandálias de couro fino, saiotes, peitorais prateados e decorados com desenhos de leões, luas e anjos. Eles não usavam elmos, de modo que o público pôde ver os rostos orgulhosos e sorridentes daqueles heróis do império.

Por trás deles, seguiu um grupo de quatro tocadores de cornetas, que produziam um som animado e cheio de vida.

Enquanto a multidão gritava de entusiasmo, três bigas decoradas com ouro e coroas de flores seguiram os músicos, cada uma puxada por dois cavalos brancos com asas que, embora não estivessem alçando voo, ajudavam a tornar o momento ainda mais belo; as bigas traziam consigo Marcos Aurelianos (Mestre de Justiça), Lúcio Atreu (2° cônsul do império) e Felipe, o general (representante das seis forças ghalaryanas).

Os três homens saudaram a multidão com alegria, enquanto fitas coloridas e flores eram jogadas em direção a eles, logo cobrindo seus uniformes azuis.

Em dado momento, nem as dragonas podiam ser vistas; haviam sido cobertas por pétalas rosas e vermelhas, jogadas pelo povo.

Prosseguindo com o festejo, um grupo de soldados com uniformes brancos surgiu, empunhando suas baionetas e cantando alegremente. Suas botas negras batiam no chão com firmeza, gerando um som que muito se assemelhava a redes de pescador sendo batidas na praia.

Seguindo por trás deles, uma carruagem de madeira e ferro surgiu, puxada por garanhões de pelagem branca e negra: esse veículo estava carregado com o ouro dos franco-armânianos.

Eram moedas de ouro, ídolos pagãos, cetros e anéis, decorados com rubis e esmeraldas, dentre outros tesouros.

O ouro reluzia com a luz solar, enquanto outras carruagens com ainda mais riquezas surgiram por trás da primeira.

Ao lado delas, dançavam mulheres de branco, enquanto homens descalços e com mantos de penas azuis e vermelhas tocavam tambores, com uma alegria que não se encontra nem em dias de carnaval.

Esses homens tinham cabelos presos por fitas azuis e, de forma modesta, usavam “togas finas” (mais humildes que o modelo usado pelos senadores),  seguindo a moda dos padeiros da cidade; as vestes eram simples camisas que chegavam até os joelhos e presas por laços dourados – para ser honesto, “toga” era mais um nome popular que oficial, mas como o costume caiu no gosto da nação, até o imperador usava a palavra para descrever a moda popular.

Seja como for, basta dizer que aquelas carruagens traziam os tesouros de Juba III, toda sorte de maravilhas dos templos de Franco-Armânia, mantos e tecidos finos, etc.

Após apresentar os espólios de guerra a multidão, quatro carruagens abertas e adornadas com placas de ouro, fitas azuis e guirlandas de flores apareceram, trazendo os chamados “amigos do império”: Roland II, Blair Willows, Trixie Carter (que sorria como nunca), Tucker Foley, Samantha Manson, Rosa, Jazz Fenton (que ocupava um cargo especial no senado – uma honra digna de reis) e Arthur Spudinski (que comia um “taco” mexicano).

Seguindo as carruagens, duas bigas tão adornadas quanto os demais veículos surgiram, cada uma trazendo um condutor e seu passageiro; Jake Long estava na primeira, e Danny Fenton na segunda.

Os dois amigos usavam uniformes azuis muito bonitos, com dragonas e alamares feitos de ouro, medalhões com relevos de dragões e, para coroar suas figuras nobres, duas medalhas com a inscrição “LEALDADE * CORAGEM * FÉ”.

Era a primeira vez que um sino-americano como Jack pisava em Ghalary, então sua honra em desfilar naquele triunfo era, de muitas formas, inigualável. Seus cabelos negros e curtos, com reflexos verdes (talvez efeito do gel) brilhavam, enquanto seus olhos castanhos tentavam segurar as lágrimas que, apesar do esforço, já molhavam sua pele clara.

Danny Fenton, por outro lado, não fazia mais do que sorrir, como as crianças faziam em época de Natal; seus cabelos negros e curtos, ao contrário dos de Jake, não usavam gel, de modo que balançavam com a força do vento Leste. Seus olhos azuis reluziam, como um par de safiras   e sua pele clara avermelhava, com a felicidade mais plena (recém adquirida com aquele evento espetacular).

Após os amigos do império fazerem sua aparição e saírem, um grupo de dez crianças enfileiradas (cinco meninos de um lado, e cinco meninas do outro) trazendo cestos cheios com pétalas de rosa surgiram. Elas estavam vestidas de branco e cantando uma antiga canção folclórica.

Conforme desfilavam, jogavam as pétalas pelo caminho, em preparação para a tão esperada fase final do espetáculo: a entrada triunfal do santo imperador.

Um grupo de oficiais fardados de branco e carregando seus quepes no braço caminharam, sendo seguidos por músicos e alguns adolescentes que, com esforço, levavam nas mãos mais alguns estandartes.

A seguir, Merlin, Gael e Nealie caminharam pela Via Magna, jogando estrelas douradas que explodiam, como fogos de artifícios, liberando pó dourado de fada e um agradável perfume de jasmim e alfazema.

Após os feiticeiros passarem, um grupo de bruxinhas surgiu, carregando varinhas de ouro e prata e fazendo feitiços divertidos, que faziam chover doces para a multidão; era muito bom ver as garotas com seus chapéus pontudos, vestidos roxos e risos alegres, especialmente após a perseguição contra sua classe, promovida por Salazar; felizmente, passado é passado, então não havia qualquer mágoa das bruxas em relação ao império.

Após as feiticeiras se retirarem, uma biga dourada com relevos de leões, anjos e árvores nobres surgiu, decorada com mais guirlandas de flores coloridas e perfumadas. O veículo era puxado por dois garanhões brancos, com rédeas douradas, sendo guiado por Aethel, o imperador, enquanto um missionário de branco segurava por cima da cabeça do monarca uma coroa de louros, banhada em ouro.

O rapaz dizia nos ouvidos do jovem rei, “Lembra-te que és mortal. Louve o Nome do Senhor”.

A multidão jogava rosas e folhas de alecrim, enquanto Aethel os saudava com a mão esquerda.

O imperador estava deslumbrante em seu uniforme branco, decorado com alamares e dragonas de ouro, uma faixa azul e branca que partia do ombro direito e seguia até a parte esquerda da cintura (básico para os imperadores de Ghalary), botas negras e uma magnífica capa púrpura, decorada com pequenos leões feitos com fios de ouro – o item mais precioso da indumentária, já que o roxo era a marca suprema de sua posição como 1° cônsul e imperador.

Para encerrar o desfile, uma pequena carruagem aberta seguiu a biga imperial, guiada por um pajem, onde estavam Dipper e Mabel.

Dipper, assim como Danny e Jack, também usava um uniforme azul, enquanto acenava para o povo, mais entusiasmado que de costume.

Mabel, por outro lado, rejubilar-se em seu vestido brancos de princesa, sorria com entusiasmo e mandava beijos para a multidão, a semelhança de uma estrela de cinema:

— Eu amo vocês, meu povo! – gritava a garota – Poder para as fadas! Liberdade para os amantes do açúcar!.

Após o fim do desfile, a praça recebeu as ninfas do bosque, damas da primavera e verão, sátiros tocadores de flautas e elfos de luz, que tocavam violinos feitos de madeira antiga.

Diante daquela música magistral, os rapazes da multidão começaram a chamar a donzelas que, com sorrisos marotos, aceitavam os convites; dessa forma, todos começavam a dançar.

Mabel assistia os casais rindo e dançando, as ninfas rodopiando, os sátiros batendo so cascos no chão, as damas da primavera jogando flores perfumadas para a multidão, as crianças rindo com seus doces e guloseimas…

Ah! Como aquele mundo era diferente dos outros! Havia tanta vida, beleza, alegria para contagiar a todos!

A gêmea encostou em uma coluna de mármore e riu, quando viu uma ninfa arrastar Dipper para a dança e ter (como não podia deixar de ser) seus delicados pés pisados pelo gêmeo,  constrangido.

“Será que Dipper teria pisado nos pés da Pacífica?”, perguntou-se Mabel, enquanto lembrava-se de seus dias em Gravity Falls.

Danny valsava com Sam, Jake estava quase beijando Rosa, Trixie e Spud dançavam uma mistura de hip-hop e dança popular e a música das flautas ficava cada vez mais animada, conforme os violinos partiam para sons mais celtas e folclóricos.

— Gostaria de dançar? – Alguém perguntou a Mabel.

— Quero sim – respondeu a garota, quando percebeu que o convite partiu de Aethel.

Quando perceberam o aproximar do imperador, a multidão abriu uma grande roda, deixando espaço para que os dois caminhassem até o centro e começassem a dançar.

Em honra ao jovem rei, os elfos começaram a tocar uma música folclórica (provavelmente de origem bretã) que era tão alegre, quanto nostálgica. Era difícil explicar, mas a melodia trazia a quem a ouvisse saudades de algum lugar antigo e especial; mas não era um sentimento triste; Era algo tão cheio de felicidade! Tão puro! Que os corações de toda a cidade voltaram aos dias de infância, quando as coisas pareciam mais fácil.

Aethel e Mabel dançavam muito bem, com rodopios, mãos que se tocavam, iam ao alto e depois de separaram, conforme eram abaixadas, passos rápidos e sorrisos tímidos.

A multidão aplaudia, acompanhando as batidas dos cascos de um velho sátiro, e Aethel colocou o braço direito em torno da cintura de Mabel, já no ato final do espetáculo; naquele momento, era como se o mundo inteiro tivesse parado.

O imperador admirou os olhos castanhos e brilhantes da garota, seu sorriso cheio de vida, narizinho e bochechas rosadas.

Mabel colocou a mão esquerda ao redor do pescoço de Aethel, sentindo um pouco do óleo perfumado que, por tradição, os antigos monarcas do império usavam; mas não havia nada mais além disso, o que fez a garota admirar o rosto sereno de seu par.

— Não ficou cicatriz – o rapaz respondeu.

— Eu sei – disse a garota – Não precisa mais daquela faixa no pescoço… jogou fora?

Aethel aproximou o rosto e negou:

— Não. Eu guardei. Ela ficou vermelha com o… – nesse momento, o rosto do rapaz se aproximou do de Mabel, ainda mais – Eu sou grato, por ter tido compaixão.

Os dois jovens tinham muito o que conversar, porém, um grupo de senadores chamou a todos para se afastarem, pois teria início uma queima de fogos (a primeira do dia, já que a maior havia sido guardada para o anoitecer).

Enquanto todos caminhavam, três senadores pediram a atenção de Aethel que, segurando a mão direita de Mabel, respondeu:

— Mais tarde, meus irmãos. Estamos em festa.

— Nós entendemos, majestade. – respondeu o mais velho dos três – Pedimos então que leia essa carta ainda hoje, assim que vosso tempo permitir. É de suma importância, pois o tema estará em discussão na próxima sessão do senado.

Aethel assentiu com a cabeça e seguiu com Mabel até o rio Clito, onde pôde assistir a queima de fogos com a garota.

Enquanto lindos animais, sátiros e dragões se formavam com as explosões, Mabel colocou o braço direito em torno do pescoço de Aethel e disse o quanto estava achando aquele dia incrível.

O imperador sorriu e aproveitou a pequena pausa para ler a carta do senado, já pensando se os políticos estavam querendo que ele pagasse por todo aquele fausto sozinho:

— Só quando os porcos voarem – sussurrou o imperador, que não conseguiu deixar de rir com aquela ideia.

Após abrir o papel e ler o conteúdo, seu semblante alegre se desfez:

— Depois do que fiz… como puderam? – perguntou o jovem rei.

O rapaz abraçou Mabel com força, como se temesse o afastar da garota; seu peito começou a soluçar, os olhos encheram-se de lágrimas e o coração foi preenchido pela aflição…

Aethel começou a chorar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Crônicas de Aethel (Vol.III): O Enigma de Atlas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.