Olhos vermelhos. Cabelos negros,lisos e grandes.Pele altamente pálida.Lábios vermelhos.Presas incomodando escondidas.

Essa era eu, me olhando no espelho. Eu sabia que era atraente.Esse era meu instinto de sobrevivência.

Olhei para o relógio. Era 7:30 e eu estava atrasada para minha árdua tarefa diária: Ir pra escola.Rapidamente coloquei minhas lentes de contato pretas.Eu estava parecendo uma adolescente idiota de 18 anos?Sim, eu acho.

Você deve estar se perguntando por que uma vampira de 175 anos iria pra escola. A resposta é simples:Eu era meio que obrigada a conviver com humanos pra não levantar suspeitas.Também não queria ser um bicho da noite.Já que eu tinha a possibilidade de sair durante o dia graças ao poderoso anel que eu havia lutado com todas as minhas forças pra conseguir e também ao clima do meu doce estado Maine , onde eu havia nascido , eu achava que poderia me readaptar à vida de adolescente que eu havia perdido.Ok , também porque era mais fácil conseguir sangue parecendo uma pessoa normal.Mas , obviamente era muito difícil pra mim conviver com eles.Exigia muito controle e muita alimentação.

Por essas e outras razões, havia escolhido Portland, a maior cidade do estado pra viver.

Constantemente roubava o banco de sangue da cidade, pois não podia me alimentar muitas vezes ao dia. Obviamente o sangue do banco, não era nada comparado àquele líquido vermelho, fresco e quente oriundo de alguma pessoa que se debate em vão contra mim. Minhas vítimas eram mais homens que mulheres.

Saí correndo de casa, pegando uma garrafinha que continha sangue na geladeira. Não dava tempo de me alimentar de alguém agora. Isso poderia esperar pro jantar.

A única coisa que me incomodava era aquele lobo estúpido que insistia em me perseguir onde quer que eu fosse. Ele não gostava disso tanto quanto eu , mas era necessário.

Desde quando eu consegui o anel que me permitia não queimar a luz do Sol, esse otário me perseguia tentando pegá-lo de volta, uma vez que eu roubei-o de sua estimada tribo.

Eu não tinha muitos amigos. O mundo em que vivia era complexo demais pra isso.

Minha amiga mais próxima era Ângela. Ela vivia em Portland também, mas não tinha tanto controle como eu pra conviver com humanos. Eu transformei Ângela em vampira , pois ela era minha melhor amiga e eu não queria viver sozinha.Sim,eu sou excessivamente egoísta ,e eventualmente me arrependo por não ter dado escolha a Ângela.Mas o que eu poderia fazer agora?Nada.

Cheguei à escola e estacionei em minha vaga habitual. Aquele cachorro idiota estava parado no muro leste , há uns 15 metros de mim com um sorriso sarcástico no rosto.

Infelizmente nós tínhamos a maioria de aulas juntos.

A primeira aula de hoje era história. Estávamos estudando história local,mais precisamente , a Batalha de 1820 , entre Maine e a província de Quebec , no Canadá.Isso me lembrou como eu havia me transformado.

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Era 10 de Outubro de 1825. O frio do outono estava presente no ar , e as florestas que cobriam todo o nosso estado estavam sem vida.

Eu vivia na então capital Portland. Tinha 18 anos na época e era órfã.Meus pais morreram em um acidente e eu vivia em um orfanato e era muito bem tratada , apesar da tristeza que sempre consumiu meu coração pela falta de meus pais.A única pessoa que eu tinha e Todd Royans , meu namorado.Ele era um perfeito cavalheiro e nós iríamos nos casar em breve , com o fim da guerra.O único problema é que ele estava guerreando,e eu ficava completamente aflita sem saber de nada naquele orfanato.Um dia ,um mensageiro foi no orfanato procurando por mim.Pensei que era mais uma carta de Todd pra mim.Ele mandava cartas sempre que podia.

Mas não, a notícia era ruim. Todd estava gravemente ferido no posto de cadetes, aqui mesmo em Portland. Havia sido transferido da fronteira pra cá no dia anterior.

Resolvi ir até lá, fugindo, obviamente.

Chegando lá, fui até o quarto de Todd. Ele não estava lá. Aliás,ele não estava em lugar algum e ninguém tinha informações sobre ele. Quando eu já tinha desistido de procurá-lo, fui ao pátio frontal, completamente deserto, e lá eu encontrei seu corpo estendido no chão. Me agachei perto dele e percebi que ele não tinha pulsação.Desabei em lágrimas,e então uma criatura branca e completamente horrenda com a boca cheia de sangue , veio em minha direção.Tentei desesperadamente correr , mas a criatura me alcançou e disse em meu ouvido “Não se preocupe , não vai demorar muito, querida”, com um sotaque carregado de francês.Ele alcançou minha garganta e eu gritei desesperadamente.Depois disso , só me lembro de me levantar com frio e sede,muita sede.Resolvi voltar ao orfanato e...

-Srta Evans, gostaria de compartilhar seus pensamentos conosco?Aposto que são muito interessantes, não é mesmo?

-Seria um prazer, Sr. Martin. Eu estava pensando sobre a temática da guerra. Minha família é toda de Portland e vários parentes meus viveram aqui nesta época. Conheço algumas histórias muito interessantes, mas contando que o sino tocará em 5 minutos , creio que terei que contá-las em uma outra oportunidade.

Não era dessa vez que esse idiota conseguiria me pegar. Anos de experiência me deram uma habilidade excepcional no quesito cara de pau.

Depois dessa aula, o tempo correu rápido demais. A escola era um tédio e eu estava cursando o colegial pela 4ª vez na vida.Habitualmente,sentei-me com alguns “amigos” no almoço.Eles tagarelavam sem parar , e eu não prestava nem um pouco de atenção.Habitualmente, eu e aquele lobo nos encarávamos com raiva.

Seu trabalho era me seguir pra onde quer que eu fosse. Não fazia muito tempo desde que esse trabalho me azucrinava. Tudo começou quando há mais ou menos 5 anos,quando me uni a um grupo de vampiros do sul.Enquanto estava com eles,ficamos sabendo de um anel que possuía um feitiço de muito tempo atrás que dava o poder de andar na luz do Sol para o vampiro que o pegasse.Nós tínhamos esse objetivo quando invadimos a reserva dos lobos do sul.Foi uma disputa terrível.Perdi todos os meus amigos.Por fim , consegui descobrir onde o anel se encontrava.Peguei-o , mas tive que fazer um juramento sagrado de manter o segredo e de não me alimentar de humanos.Fazer tréguas com lobisomens ,os seres que nós mais odiamos,não é fácil.Então,Paul ,foi enviado pra me seguir e se certificar de que eu estava cumprindo o acordo.É difícil esconder a parte de me alimentar de humanos , mas eu conseguia fazer isso , nas proximidades da minha casa, pois Paul tinha que manter um limite de 100 metros de mim e da residência, que ficava perto de uma floresta.Se eu me alimentasse nesse limite , ele não poderia acabar comigo pois esse era o trato.

Então, minha atividade secundária era atrair pessoas para a floresta. Ele fez de tudo pra não vir , mas não teve outra opção.

As aulas do dia acabaram. Tudo passou muito rapidamente como sempre.Fui direto pra minha casa.Fiz os deveres.Sentei-me pra ver um pouco de TV, e no anoitecer , saí apressada pra me alimentar.Senti o cheiro de um humano , e foi fácil demais rendê-lo.

Minha vida era basicamente essa. Ir pra escola,odiar o lobo idiota,caçar,odiar o lobo idiota,roubar o banco de sangue,odiar o lobo idiota,e fazer deveres.Já citei odiar o lobo idiota?

Estava morrendo de tédio, então resolvi visitar Ang. Nós papeamos durante a noite toda.Uma das coisas que eu amava era não precisar dormir.

-E então, Valéria, como está sua convivência com o Lobo idiota?-perguntou-me em tom de brincadeira quando cheguei a sua casa.

-Aah , o de sempre Ang.Odiando ele.Ugh!Cada dia ele fede mais.

Nós duas rimos.

Era fácil manter uma amizade com Ângela.Ela sempre foi minha melhor amiga , e eu nunca esconderia nada dela.Ela nunca me culpou por tê-la transformado.Ela até achava divertido.

Então, eu fui embora, com o intuito de me preparar para o dia seguinte. Chegando a casa, me deparei com aquele lobo idiota vasculhando tudo e meio que rastreando minha casa.

-O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?-eu berrei com aquele idiota.

Ele teria que me ouvir.