Holmes e Watson: Casos Arquivados escrita por Max Lake


Capítulo 3
O Segundo Detetive


Notas iniciais do capítulo

Este conto é um pouco diferente do normal porque... Ah, vocês vão ver!

Agradeço a Shalashaska e a Sorima por terem comentado no capítulo anterior :D



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O dia estava calmo no apartamento da Baker Street 221B. Sherlock decidiu que enquanto recebia os casos ele fazia uma atividade que há muito tempo não fazia: Lepidopterologia. Ou o estudo das borboletas.

Assim como quando ele está estudando os acordes do violino, tive que explicar aos clientes em busca de consulta que Holmes estava ouvindo, mesmo que toda sua atenção parecesse estar nas borboletas mortas. Foi então que o inspetor Lestrade apareceu e não estava sozinho.

—Então aqui é o famoso apartamento 221B.

O homem ao lado de Lestrade era um sujeito esquisito. Ele estava apoiado por uma bengala, seu bigode bem aparado cobria a parte de cima da boca e era muito elegante, mas seu físico robusto e sua estatura baixa não me deixavam levá-lo a sério. Na verdade, ninguém o levaria a sério numa primeira olhada, suponho. Havia um sotaque em sua voz, aparentemente francês.

—Sherlock Holmes, doutor Watson. Este é...

—Este é o famoso detetive Hercule Poirot - disse Holmes, interrompendo a apresentação de Lestrade.

—Monsieur Holmes. Docter Watson. - Hercule Poirot tirou o chapéu por cordialidade, sorrindo sem se importar com a rudeza de Holmes e revelando um telhado sobre a cabeça.

Já ouvi sobre alguns casos resolvidos por Hercule Poirot. O caso de um envenenamento de porta fechada em Styles, o caso do campo de golfe na França, a prisão do assassino do ABC. Vê-lo pessoalmente me faz crer que aqueles casos foram, como Sherlock diria, um floreio literário.

—Estou passando um tempo em Londres, e como meu amigo, inspetor Japp, conhece o inspetor Lestrade, fui convidado pelo monsieur - Poirot se virou para Lestrade e voltou-se para Holmes - para conhecer o maior detetive consultor do mundo. Muito inteligente de sua parte excluir a concorrência, monsieur Holmes. Só há um detetive consultor no mundo, ne c’est pas?

Aquilo se pareceu como uma provocação ao ego de Sherlock, pois sua atenção se voltou para o convidado. Guardando o cachimbo no bolso, Sherlock analisou o sujeito de cima a baixo. No breve segundo que os olhares se cruzaram senti faíscas invisíveis se formando.

—Me diga, monsieur Poirot, como estava o café da manhã? Os ovos mexidos ingleses estavam satisfatórios para um belga exigente?

—Oui, monsieur. Aposto que os waffles preparados pelo doutor Watson também estavam formidáveis, apesar de levemente tostados nas bordas.

—Estavam sim. Assim como deve ter sido formidável a batata inglesa de seu almoço, monsieur Poirot.

—Com certeza! Entretanto, estava salgada demais. Diferente da carne assada de seu almoço, monsieur Holmes.

—De fato, o sal estava na medida.

Os dois pararam de falar sobre comida e trocaram olhares concentrados, acredito que à procura de um novo detalhe peculiar que apenas os grandes detetives poderiam perceber.

—Aparou o bigode recentemente, Poirot?

—Eu sempre aparo meu bigode, monsieur Holmes. E o senhor, tirou a barba após seu último caso?

—Tirei. Vejo que usa o relógio no bolso. Comprou há poucos dias, imagino.

—Imaginou certo, monsieur. Assim como estou imaginando certo que o relógio em seu pulso já viu dias melhores. É de seu irmão mais velho?

—É sim.

Nova pausa para uma nova análise minuciosa. Não consigo decifrar o que os dois detetives estão pensando - e Lestrade parece se divertir com a situação inteira.

—Vai viajar amanhã para Istambul, monsieur Poirot?

—Sim. Fui convidado pela polícia local para investigar um homicídio com roubo de joias. Não deve ser muito complexo.

—Claro, afinal convidaram você. - Sherlock o provocou com gosto. Eu vi um sorriso nervoso na boca de Poirot.

—Oui, monsieur Holmes. Eles pediram a opinião do melhor.

—Então, foi divertido, mas acho que está na hora de ir - interrompeu Lestrade.

—O tempo voa quando nos divertimos. Tenham uma boa tarde, monsieur Holmes. O senhor também, docter Watson.

Lestrade desceu na frente e Poirot o acompanhou. De repente nosso apartamento ganhou ar depois da diminuição de ego na sala de estar. Holmes se sentou na cadeira, pegou seu cachimbo e encostou os dedos.

—Sujeitinho inteligente e peculiar, não acha?

—Inteligente? Watson, me dói admitir isso, mas Hercule Poirot é um sujeito genial e que rivaliza com meu intelecto. Conversar pessoalmente com ele só me fez ter mais certeza disso.

“É fácil subestimá-lo, John, mas não se pode fazer isso. Claro que ele viu os restos de waffles na panela ali em cima da pia e notou leves queimaduras nas laterais. Ele também acertou sobre a carne porque tem um pouco de molho de carne na sua bochecha, John. Ele sabe que sou minucioso, portanto sabia que eu colocaria sal suficiente para deixá-lo na medida. Tive que tirar a barba às pressas, então ainda sobraram alguns pelinhos. E sinto o cheiro de loção pós-barba. Ele notou as iniciais de Mycroft gravadas no relógio e como é antigo, supôs que fosse de meu irmão porque deve ter lido alguma de nossas aventuras em que menciono Mycroft".

"Claro, as pistas sobre ele também estavam evidentes. É comum comer ovos no café da manhã, achei que um belga sofisticado iria comer ovos mexidos ao invés de ovos com a gema mole. Da mesma forma que ele iria querer batata inglesa no almoço. A corrente do relógio estava fora do bolso, portanto foi fácil deduzir isso também, e estava bem polida, ou seja, era nova. Quando chegou eu vi ele guardando um ticket de viagem e consegui ver “Ist”, pensei imediatamente em Istambul”.

“Sabe, Watson, foi uma visita particularmente divertida. Também me dói admitir o que vou te dizer agora. Hercule Poirot é o maior detetive do mundo”. Sherlock fez uma pausa propositalmente dramática antes de completar sua fala. “Depois de mim, obviamente”.

—É claro - concordei, sorrindo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! =D

Pus na cabeça que se Sherlock Holmes e Hercule Poirot se encontrassem, seria muito sem graça se eles desvendassem um crime juntos. E pus na cabeça que seria bem mais divertido se eles estivessem deduzindo o que cada um comeu no café.



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