Contrato & Curiosidades escrita por EsmeraldeRomantica


Capítulo 6
Almoço de Família




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Acordo com o meu celular desligado. A bateria deve ter acabado a tempos, mas foi uma experiência um tanto romântica.

A última experiencia romântica que teremos já que pretendo terminar com ele.

Conecto o meu celular a um carregador portátil antes de começar a me arrumar e coloco dentro da minha bolsa. Mesmo o compromisso na casa de Jordan sendo o almoço, minha mãe e eu costumamos chegar cedo para ajudar e por isso vou direto me banhar para não ter que ouvir os gritos da minha mãe de como demoro.

A caminho da casa de minha madrinha, passamos no supermercado como de costume. Compro os ingredientes que vai no bolo que faremos de sobremesa e minha mãe aproveita para comprar uma garrafa de vinho, já que esqueceu de pegar em casa.

— Gosto quando se veste assim.

— A menina recatada que dará a esposa perfeita? – revido assim que desço do carro, já em frente à casa segurando as sacolas. Tenho uma boa relação com a minha mãe, mas o contrato de noivado se tornou um território nebuloso entre nós, principalmente conforme os anos passam.

— Acordou de mal humor por acaso? Apenas estou falando que quando se veste assim me lembra da época que era a minha garotinha e eu lhe arrumava como uma princesa – não respondo, esperando que abram o portão após tocar a campainha.

Minha mãe sempre gostou de me vestir com cores nada vibrantes, como uma menina recatada ou uma princesa usaria no seu dia a dia. Ela sempre pede que eu me vista dentro desse possível quando vamos ver minha madrinha, por achar que combina mais com o meu cabelo avermelhado. Já cansei de discutir a respeito e agora faço no automático.

Não considero feio, apenas gosto de tons mais quentes. Hoje, por exemplo, optei por uma saia rodada azul, em um tom mais sóbrio, com estampa de borboleta rosa e azul claro, enquanto a blusa, rosada, possui uma curta manga de renda e um laço na gola.

— Bom dia, minha querida – minha madrinha nos cumprimenta assim que abre o portão e me abraça primeiro – Minha amiga – abraça a minha mãe e ela aproveita para lhe entregar o vinho – vamos abrir agora mesmo.

— E o Nelson e o Jordan, onde estão? Espero não termos chegado muito cedo...

— Chegaram no horário certo e os homens da casa estão jogando uma partida de sinuca – minha madrinha sai de frente da entrada nos dando espaço para entrarmos – Aurora, você está linda como sempre e me permita lhe ajudar com as sacolas.

— Não precisa madrinha, não está pesado e posso levar até a cozinha.

— Por favor, me diga que hoje teremos o meu bolo preferido.

— Sim, vai ser de prestigio só porque sei que gosta – comento com um sorriso nos lábios. Minha madrinha é sempre muito gentil e doce comigo, não poderia ter pedido uma melhor.

— Ama mais você do que a mim, pedi de morango, mas ela insistiu nesse sabor.

— Aceita minha amiga, sou a madrinha favorita dela.

— Você é a minha única madrinha! – falo rindo enquanto andamos pelo jardim, a caminho da entrada. Sempre achei muito “clim” o conceito escolhido para casa, não é algo que eu escolheria, mas a entra é bonita: verde com pedras brancas.

A casa da família da minha madrinha é um pouco maior que a minha, mas nada de outro mundo. Não duvido que sejam mais bem sucedidos que minha família, apenas contamos com a herança deixada pelo meu pai e o trabalho da minha mãe. Mas meus padrinhos são médicos, foram inclusive no hospital que se conheceram. Acho fofos como se conheceram, meu padrinho já trabalhava no hospital a um tempo, no primeiro dia de minha madrinha, ela estava correndo com um prontuário e trombou nele, derrubando todos os papéis.

— Querida, como de costume sua mãe e eu ficaremos na cozinha de dentro e a cozinha da churrasqueira é toda sua para preparar o seu delicioso bolo. Caso precise de algo se sinta à vontade para procurar ou pode perguntar.

— Ok madrinha – não tem muito a dizer, sempre que viemos para refeições a fala é a mesma e provavelmente já sei onde fica tudo que preciso na cozinha da área do churrasco.

— Vou avisar para os garotos pararem de jogar sinuca e serem úteis, principalmente meu marido que prepara deliciosos drinks – nos separamos. Minha mãe vai em direção a porta da cozinha. Minha madrinha na direção da sala, onde no cômodo ao lado fica a sala de jogos. Eu corto o jardim, na direção da piscina.

Coloco os ingredientes que não usarei no momento na geladeira, os demais arrumo pela bancada e pego uns recipientes para as misturas. Começo a fazer a massa, misturando os secos e depois os líquidos para enfim conseguir juntá-los.

— Minha mãe me disse que vai fazer seu famoso bolo de prestigio. Se ficar pronto logo ela vai acabar comendo tudo antes da refeição principal – me assusto ao ouvir a voz do Jordan e quando me viro, este já está sentado em cima da bancada atrás de mim. Nem sequer o tinha visto se aproximar.

— Duvido muito que fique pronto antes – me viro novamente para a minha bancada de preparo, batendo os ovos na mão - achei que estava jogando sinuca.

— Minha mãe acabou com o jogo pegando as bolas e as guardando. Meu pai foi fazer uns drinks e eu resolvi vim aqui – coloco os demais ingredientes líquidos no recipiente – prefiro você de verde, a cor fica ótima em você. Mas está linda de qualquer forma.

— Obrigada – me resumo a falar e misturo os dois preparos.

— Posso ajudar em algo? Vai demorar para pôr a mesa e estou sem nada para fazer.

— Pode untar a forma para mim.

— Ótimo – mesmo não olhando sei que ele desceu da bancada e foi até a mesa onde deixei a forma – como faço?

— Pode ser com óleo e trigo.

— A Clair me ligou hoje para falar de você – Jordan comenta após um tempo em silêncio, apenas realizando a tarefa que lhe passei.

— E o que ela disse?

— Que você é uma garota incrível e que fui tolo em ter mantido certa distância. Também falou que quer repetir o programa para lhe conhecer mais. Você a impressionou, dificilmente ela gosta de alguém tão rápido.

— Ela foi bem simpática.

— Pronto e agora?

— Não tem muito o que fazer. Pode lavar o pouco de louça.

— Só porque quero ajudar a minha namorada – Jordan coloca a forma em cima da bancada e vai em direção a pia, onde deixei pouca louça suja e logo coloco a outra tigela, após colocar a massa na forma e levar ao forno pré-aquecido.

— Só esperar assar para fazer o restante – falo me encostando na bancada.

— Como consegue fazer sem receita?

— Prática. Normalmente preciso apenas na primeira vez e na próxima já ajusto o que acho necessário.

— Tem muito talento para doce. Já pensou em levar isso para vida?

— Se refere a confeitaria?

— Sim. Talento você tem e sei que se dedicaria, talvez pudesse abrir um negócio ou algo assim – Jordan diz se virando para mim. Ele já terminou de lavar a louça e enxuga a mão com um pano.

—  Minha mãe jamais concordaria com isso – não comento que nunca pensei na possibilidade e como ele foi a primeira pessoa a me dar uma ideia. Além da minha mãe, todos falam que acharei algo, mas não me dão sugestões.

— Deve fazer o que deseja e não o que a sua mãe deseja.

— Sério que está falando nisso? Nossas mães decidiram nossas vidas...

— Eu sei, mas temos uma escolha...

— Temos mesmo? Minha mãe fez o contrato, nunca o li, mas sei que a quebra...

— É uma multa milionária – ele termina a fala para mim, prevendo o que iria dizer.

— Não existem brechas.

— Nunca existe com a minha madrinha, por isso quero fazer dar certo.

— É a única solução que temos.

— Acha que seremos infelizes? Porque não existe o sentimento... – não respondo imediatamente e Jordan se aproxima, após colocar o pano de prato de lado – realmente não quero ser infeliz.

— Torço para que não e se formos, daremos um jeito juntos para mudar a situação. Também não desejo passar o resto da minha vida sendo infeliz.

— Tenho medo de que eu tenha percebido isso tarde e que durante esse tempo, nos afastamos de vez no lugar de se aproximarmos – por pouco concordo. O tempo distante me fez conhecer Theo e isso pode acabar resultando em nossa infelicidade.

— Ainda temos tempo e de qualquer modo, podemos nos conhecer melhor depois.

— Mal nos conhecemos...

— Você já sabe a minha cor favorita e isso diz muito sobre mim.

— Mas não é o suficiente – ele se encosta na bancada, ao meu lado.

— E se conhecermos algo do outro todos os dias? Contamos uma curiosidade como essa da cor – não sei de onde surgiu essa ideia, mas quando percebo já estou pronunciando e olho para ele, que também me observa.

— Todos os dias uma curiosidade para nos conhecermos.

— É um processo lento, mas ao menos saberemos mais do outro.

— Cada dia um escolhe algo. Eu começo, estação preferida e por quê?

— Inverno. Gosto do calor, mas não com frequência e prefiro mais o frio. Para mim se parece uma estação mais pacifica e você?

— Verão, gosto muito de ir para a praia e acabo associando a férias. Nunca pensei em uma estação como pacifica.

— Para mim no verão todos parecem ficar mais de mal humor por conta do calor, mas o frio é aconchegante e é mais harmônico.

— Gostei dessa linha de pensamento.

— Desculpe atrapalhar os pombinhos – nos viramos ao mesmo tempo ao ouvir a voz do meu padrinho, segurando duas taças – Aurora você como está bonita hoje. Ainda não tive a oportunidade de cumprimentar minha adorável afilhada.

— Bom dia padrinho.

— Pelo que vejo estão se virando bem por aqui. Como vocês são jovens, apenas um licor de chocolate que é mais fraco – meu padrinho entrega uma taça para cada um de nós – não quero atrapalhar, boa sorte com o bolo!

— Obrigado pai.

Nelson se afasta, voltando para dentro, provavelmente para a companhia das mulheres. Tomo um gole da bebida, realmente o álcool presente na bebida é fraco. Giro a taça em minha mão, brincando com o liquido dentro.

— Agora então já sei três coisas sobre você.

— Três?

— Sim. Sua cor favorita é azul, estação é inverno e o seu milk-shake favorito é de cereja.

— Presta atenção aos detalhes – bebo mais um gole da bebida olhando para a piscina.

— Sempre, mas são apenas três coisas, não é pouco para um relacionamento?

— Diria que me conhece melhor hoje, do que ontem? – pergunto colocando a taça na bancada, me desencostando da mesma e olhando diretamente para Jordan que faz o mesmo.

— Agora são quatro coisas, você é bem misteriosa Aurora.

— Não gosta de mistério? Achei que frequentasse um clube do livro, já deve ter lido o gênero.

— Gosto muito de tal gênero e se quer começar nossa relação com um pouco de mistério, não vejo problema algum – Jordan se vira pra mim e coloca sua mão sobre a minha, apoiada na bancada – Vamos sair essa semana?

— Não sei. Quero começar a me preparar para as provas do fim do semestre e também pesquisar sobre opções de faculdades, mas se eu tiver um tempo...

— Sabe eu faço faculdade e posso lhe ajudar nisso, talvez devesse ver os cursos que o meu campus tem a oferecer. Posso ver algum orientador disponível para conversar com você...

— Acha que consegue alguém para falar comigo?

— Sim. Todos me adoram por lá e sei que farão de tudo para ter uma aluna como você.

— Se refere a estudar no mesmo lugar que você?

— Não seria o melhor? Vamos nos casar e desse modo podemos morar em um apartamento perto do campus, até nós dois terminarmos os estudos e depois decidimos para onde vamos – tira a minha mão debaixo da dele e pego a taça, virando o conteúdo, enquanto penso no que responder. Jordan parece ficar tempo demais pensando no futuro, no nosso futuro.

— Acredito que seja uma opção.

— Por que sempre que falo sobre o casamento você fica nervosa?

— Não fico nervosa, apenas não pensei tanto no assunto como você claramente pensou.

— Fica incomodada por eu já ter pensando?

— Não, é só que me parece cedo demais...

— Cedo? Daqui quatro meses você fará aniversario e em nove iremos nos casar.

— Eu sei, é que apenas não pensei como tudo está perto. Me parece mais distante e você tem razão, devemos começar a pensar e a sua faculdade é ótima pelo que sei. Darei uma olhada nos cursos oferecidos e adoraria conversar com alguém de lá.

— Ótimo, essa semana verei quem pode falar com você e vou conseguir as informações sobre os cursos disponíveis para o próximo ano.

O bolo não demora para assar e quando desligo o forno, com a ajuda do meu assistente, fazemos a calda, o recheio e a cobertura. Montar tudo é a parte mais fácil e todo o processo foi bem mais rápido com ajuda, por isso logo estamos diante a um bolo de prestigio e não mais a apenas uma bancada com ingredientes.

— Minha mãe quer que almocemos na mesa do jardim. Lhe ajudei, agora me ajuda a arrumar a mesa?

— Me parece justo – fecho a geladeira, após colocar o bolo dentro para gelar.

Entramos na cozinha, onde o almoço está quase pronto e nos apressamos para pegar a pilha de louça, os talheres, copos e guardanapos. Uma vez no jardim, na mesa perto da piscina, Jordan e eu colocamos tudo em seu devido lugar, logo após arrumarmos tudo, minha mãe e padrinhos, aparecem com a comida.

— Vocês dois não fazem ideia de como me alegra os verem juntos e bem – minha madrinha comenta, após pegar o segundo pedaço de bolo, apenas sorrio, sem saber o que dizer.

— Na última semana saíram duas vezes. Aquece o coração ver um jovem casal juntos. Lembro que as primeiras semanas após conhecer o Paulo, foram incríveis, aquela sensação de paixão e de conhecer o outro, tudo é uma novidade – minha mãe diz com um tom amável. Ela não é de falar muito sobre o meu pai desde que morreu, mas sei que o amou muito e sente falta.

— Vocês duas deveriam maneirar. Eles formam um belo casal, mas se continuarem assim vão acabar os deixando sem graça.

— A essa altura já estamos acostumados, pai.

— Mas agora é diferente, vocês dois estão passando um tempo junto, além das reuniões de família e adoraria saber a razão.

— Madrinha, apenas estamos tentando fazer dar certo, como já deveríamos ter feito antes – Jordan coloca a mão em minha perna e aperta sutilmente. Não preciso olhar para saber que está sorrindo, ele gostou da resposta que dei.

— Ficamos felizes em ouvir isso, querida – minha mãe comenta, antes de beber mais do vinho branco em sua taça.


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