À Luz da Lua, Bloodshed escrita por Obscuro


Capítulo 3
II | Alasca




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/809422/chapter/3

 

EDITH

A CORTINA BALANÇAVA LENTAMENTE COM A brisa que invadia o quarto pela fresta da janela. 

Encarei o lago iluminado apenas pela luz do céu da alvorada, por longos minutos, deleitando-me com o cheiro suave de terra e gelo que aliviava, consideravelmente, o cheiro de comida queimada, impregnado nas paredes da casa após uma nova tentativa de Hanna em cozinhar.

Passava das cinco da manhã, e eu ainda conseguia ouvir Cassius caminhando de um lado para o outro no escritório no andar de baixo. O barulho áspero de papéis deslizando uns sobre os outros e entre os dedos dele me causava arrepios, mas as informações contidas neles eram piores ainda. 

Mais um corpo fora encontrado, em uma cidade pequena da Califórnia. Flora Williams, 20 anos. Segundo as fontes de Cassius, a garota estava na cidade sozinha, havia viajado apenas para comparecer ao velório de seu avô paterno e encontrou um fim trágico logo após o funeral. 

Senti meu estômago revirar. 

Eles estavam ficando cada vez mais jovens e mais inocentes. Sangue imaculado e bucólico. Seguindo o padrão, a pergunta era óbvia: até que ponto eles podem ficar mais novos, antes de serem novos demais?

Suspirei exausta e voltei a encarar as páginas do livro antigo em minhas mãos — uma das primeiras versões de O Mercador de Veneza — que já estavam amareladas e começando a se desfazer provando sua idade. 

Estava prestes a voltar a ler quando os pensamentos de Cassius foram direcionados para mim com uma clareza límpida. 

Edith, pode vir até aqui?

Levantei-me em um pulo, deslocando-me até a porta de madeira maciça rapidamente. Ergui o punho e bati de leve, aguardando autorização para entrar.

Já disse que não precisa bater. Ainda não consigo compreender porque faz isso, pensou ele, ainda inconformado.

— Por educação, Cassius — respondi, adentrando no cômodo. 

Fechei a porta em minhas costas e uni as duas mãos diante o corpo, esperando novas instruções. Cassius ainda andava em círculos, passando os olhos mais uma vez por todas as linhas que descreviam clinicamente como, onde e em quais circunstâncias, o corpo da garota havia sido encontrado. 

— Em que posso ser útil? — inquiri, fazendo-o desviar os olhos em minha direção e encarei as íris quase negras.

Preciso que contacte Taylor. Isso tudo já passou dos limites aceitáveis.

— Nós vamos atrás deles? — questionei, enrugando as sobrancelhas. 

O homem à minha frente se limitou a balançar sutilmente a cabeça em uma afirmativa silenciosa, estendendo-me os documentos em suas mãos. Ergui a palma em sua direção, fazendo-o parar. 

— Já vi tudo que precisava ver — afirmei, sentindo meu estômago diminuir outra vez. 

Vi as memórias dos papéis na mente de Cassius assim que ele começou a remontar a cena inteira com sua suposição da sucessão de acontecimentos com a riqueza de detalhes conquistadas em algumas horas. 

Precisei trincar os dentes e parar de respirar assim que a carne macia do pescoço de Daniele foi perfurada pelas presas impassíveis de Gabriel, impedindo-a de gritar, e o sangue escorreu. Quente, viscoso, pulsante, doce e tentador. Minha garganta ardeu, minha boca se encheu de toxina e foi quase difícil pensar racionalmente. 

Desviei os olhos para o assoalho escuro e sussurrei, com a voz rouca. 

— Pare de pensar sobre isso, por favor.

Desculpe-me.

— Tudo bem. Você tem uma mente fertil — resmunguei, voltando a fitá-lo. Cassius soltou uma lufada, lentamente, direcionando seus pensamentos para uma música antiga de sua vila para impedir a mudança de pensamentos. — Vou procurar Hanna, ela deve conversar com Taylor com mais facilidade — afirmei, segura.

Confio em seu discernimento, Edith. Apenas me avise assim que encontrá-los.

— Avisarei. Mais alguma coisa?

Assisti Cassius voltar a andar, desconfortável, de um lado para o outro, antes de parar e encarar as prateleiras com livros, voltando a recitar sua musiquinha. Havia algo mais. Com as costas largas voltadas para mim, ele pigarreou, trocando o peso entre os pés, mesmo que não fosse necessário.

— Você pode procurar Callie novamente? — pediu, usando a voz gutural dessa vez; atitude que já havia caído no desuso dentro de casa. Encarei suas costas em silêncio, por alguns segundos, apenas para aumentar a tensão divertida. Ela não… Por quê? O que?  — Edith? — sussurrou, parecendo preocupado, por sobre o ombro. 

Consegui ver suas sobrancelhas unidas em uma careta de desconforto e quase ri.

— Não se preocupe, Cassius. Claro que irei procurá-la, não se preocupe — disse, por fim, notando os ombros largos relaxarem visivelmente. — Ela faz parte da família — zombei da palavra, soltando uma risadinha pelo nariz e Cassius suspirou.

Obrigado, Edith. Isso é tudo. Fico no aguardo.

— Cassius, se me permite perguntar — comecei com suavidade. Ele continuou tranquilo, sua mente também. — O que você vai fazer enquanto encontro eles?

Preciso resolver algumas questões com o clã que mora há alguns quilômetros, explicou, voltando para sua escrivaninha, reorganizando as pastas. Estabelecer todos os limites e reconhecimento. Assim que terminar tudo por aqui, encontro com vocês, onde quer que estejam.

Não havia dúvida alguma em sua mente acerca da minha capacidade, e da de Hanna, de encontrar todos nossos alvos. Ele parecia, como sempre, mais confiante em nós duas que em sua capacidade de manter uma conversa civilizada com outros de nossa espécie.

Ainda que ele não estivesse me encarando, balancei a cabeça, antes de girar sobre os calcanhares e abrir a porta outra vez, rumando para fora. O sol já havia surgido no céu azul, sem nuvens, do Alasca, e iluminava a casa intensamente, refletido na neve acumulada nos arredores. 

Nós nos estabelecemos próximo de Denali há alguns meses, logo depois que a nova rebelião começou. A casa que Cassius havia comprado há algumas décadas tinha, finalmente, nos abrigava, depois de servir de estadia para alguns amigos que buscavam descanso nas montanhas frias e silenciosas — um dos meus detalhes favoritos. Tudo que podíamos ouvir eram os sons da casa, com as alterações de temperatura, os sons da natureza e, em meu caso, pensamentos alheios, nada muito desafiador ou insólito.

Caminhei calmamente pelos corredores de pedra e vidro, tendo plena consciência de que Hanna estava na cidade. Ainda com a distância de alguns quilômetros, eu conseguia ouvir sua mente. Ela estava em um mercado pequeno e quente, com uma senhorinha vestida com um suéter puído verde, que sorria sempre que olhava para Hanna, encantada com a sua beleza magnífica.

Menta ou caramelo?, pensava a garota, encarando os sorvetes na geladeira aberta. Esse de chocolate parece tão gostoso.

Revirei os olhos diante de uma dúvida tão tosca quando sequer iríamos comer.

Havíamos mapeado comportamentos humanos, sabíamos que o chocolate sempre era o mais escolhido, portanto, chocolate era a resposta óbvia. Mas Hanna estava com pena da senhorinha; como de costume. Então ela continuava encarando os potes e as validades, passando mais tempo que o aceitável — para um humano — parada de pé diante o refrigerador depois de uma nevasca.

Estava prestes a mandar uma mensagem quando ela me viu e decidiu. Pegou um de cada e seguiu para o caixa. Balancei a cabeça, descrente, e voltei a organizar uma mala com algumas mudas de roupas, para poucos dias, apenas por costume. Coloquei dois livros por cima e fechei-a, antes de organizar todos os meus documentos necessários. 

Encarei a foto tirada recentemente em meu passaporte, mesmo que nada, além das roupas, tivesse mudado há muito tempo. Os cabelos longos castanhos-claros permaneciam os mesmos, os mesmos olhos cor de mel esverdeado, nariz pequeno e redondinho, o rosto levemente quadrado e queixo levemente pontudo, lábios cheios em formato de coração sutil e bochechas magras sem cor.

Ainda que facilmente confundida com uma humana comum, não era impossível notar as diferenças quando analisada com a perspectiva correta e cautela. Por fim, olhei as letrinhas de forma com a mais nova configuração do meu nome.

— Edith Gray — murmurei, saboreando a sonoridade das sílabas em minha língua. A mentira vinha fácil, nem mesmo eu duvidaria da certeza em minha voz de que aquele era meu nome. — Meu nome é Edith Gray.

Fechei minhas malas e desci para a sala de estar outra vez, sentando-me na poltrona macia, de veludo cor creme, com um novo livro em mãos. A labareda sutil da lareira crepitava em um murmúrio que me acalmava enquanto esperava pelo regresso de Hanna. 

Já não ouvia mais barulho algum vindo do escritório de Cassius, apenas seus pensamentos que se perdiam em memórias que ele adorava revisitar — os olhos verdes mais belos que já tinha visto e a pele mais macia que a seda mais pura que ele já havia tocado. 

Ainda que me sentisse um intrusa em sua cabeça, era impossível não apreciar poder ter plena consciência de como era a sensação de amar incondicionalmente, ainda que o sentimento não fosse meu. Sorri sozinha e voltei a ler, tentando garantir o máximo de privacidade possível para as memórias de Cassius. 

Eu estava finalizando a leitura de Otelo quando Hanna chegou com diversas sacolas nas mãos e seguiu direto para a cozinha, cantarolando, fingindo não me notar ali. 

A garota era a mais intrinsecamente humana de nosso clã, tentando manter costumes e atitudes que apenas humanos teriam, como um calmante e treinamento para sua mente incansável.

Abandonei o livro sobre a mesa de centro e segui pelo caminho que ela havia feito, para encontrá-la guardando todos os suprimentos desnecessários.

— Foi uma boa caçada? — questionei, zombeteira, aproveitando-me da segunda intenção das palavras como uma piada.

— Ah, oi, Eddie — murmurou alegre, virando-se rapidamente para me mostrar um sorriso amplo e caloroso. — Você bem que podia me ajudar a guardar tudo isso, né?

— Eu passo, obrigada — retruquei, recostando-me na bancada para assistí-la. Mantive-me calada por um tempo, deixando-a relaxar em seu habitat seguro. — Precisamos conversar — iniciei, quando ela passou a organizar milimetricamente os alimentos da geladeira.

— Odeio quando você fala isso, já te disse isso? — perguntou com uma careta.

— Sim, mas não muda nada — afirmei, cruzando os braços. — Temos um novo destino — contei, fazendo-a fechar a geladeira e virar para me encarar com um brilho de curiosidade nos olhos castanhos. — Cassius quer que encontremos Taylor novamente.

Finalmente. Pensei que nunca fossemos parar Gabriel, pensou amargurada.

— Antes tarde do que nunca. Quando saímos? — questionou, colocando o último pote de sorvete no freezer.

— Depois de caçar — decretei me afastando da bancada. — Está pronta?

Sim. Ouvi alguns ursos ao noroeste quando estava voltando, podemos começar por lá.

— Claro, você na frente.

Sorri, assistindo-a abrir a porta da cozinha e correr para a neve em direção a floresta. Permiti que Hanna ganhasse distância antes de seguir seu rastro sem fazer barulho algum. Estávamos longe o suficiente dos humanos para não nos preocuparmos com qualquer restrição, mas ainda assim mantemos a descrição usual.

Por aqui!, Hanna me conduziu sem perceber. Desculpe, força do hábito.

— Foco, Hanna — repreendi, em um tom alto suficiente para que ela me ouvisse, enquanto cortamos a floresta a dentro, desviando de árvores.

Ela não respondeu de volta então decidi recorrer a sua mente novamente, sendo capaz de assistir o momento em que tudo passou a ser vermelho vivo e, em questão de milésimos de segundos, nada, além de sua presa, existia. Ainda assim, notei que uma parte de seu cérebro precisava se esforçar, constantemente, para ignorar o alerta emitido por seus novos instintos, ainda fora de total controle, de que minha presença era uma ameaça.

Sempre havia algo único e interessante em acompanhar a mente instintiva de um caçador, principalmente um do topo da cadeia alimentar. 

Depois de alguns anos, quando consegui adquirir controle sobre minha própria sede, passei a assistir Cassius em suas caçadas e isso acabou se estendendo para todos os outros que entraram em nossas vidas, quase como um hobbie peculiar. Em poucos anos aprendi cada singularidade de suas mentes, a essência que sempre permanecia, apesar das mudanças sutis garantidas pela maturidade.

Assisti a postura espelhada, com a de sua vítima, e impecável de Hanna antes de seu corpo ser lançado contra o urso pardo que tentava atacá-la. A morena soltou um rosnado feroz antes de cravar as presas em sua vítima. Despertei de meu ponto de espectadora e voltei a correr quando senti o cheiro do sangue do onívoro encontrar o ar, então eu passei a ver em vermelho vivo e quase nada, além de minha presa, parecia existir.

Meus pés flutuavam contra a camada recente de neve, sem deixar rastros para trás, enquanto minha besta interior me guiava cegamente em direção a fonte pulsante de calor e vida. Agachei-me quando o notei, perto de uma pequena fonte de água no meio de todo o gelo. 

O cheiro quente e doce, trazido pelo vento, fez minha garganta queimar sutilmente, enquanto meus ouvidos captavam cada batida de seu coração errante. O alce permaneceu petrificado, como se conseguisse sentir a presença de um predador. Sorri, sádica, sentindo o calor abrasador se espalhando pelo meu corpo, garantido pela pura certeza que eu não seria refreada independente da tentativa de sobrevivência do animal. 

Sorvi uma última lufada densa do ar contaminado por seu cheiro antes de me lançar em sua direção. Em menos de um segundo sua vida frágil se encontrava entre minhas mãos, debatendo-se em uma tentativa inútil de liberdade. Sem precisar pensar, meus dedos acharam seu caminho, quebrando os ossos frágeis de seu pescoço, paralisando-o antes que minhas presas perfurassem sua carne. 

O sangue quente inundou minha boca carregando consigo um prazer indescritível, como uma descarga elétrica percorrendo cada mísera molécula de meu corpo pétreo, enchendo-o de nova vida.

Estava terminando de sorver os últimos sinais de sangue quando senti Hanna se aproximando. Sua mente parecia mais clara e ela se assegurou de manter uma distância segura enquanto me assistia, temendo não resistir ao instinto de duelar por alimento.

— Não entendo como você consegue continuar impecável — afirmou, assim que larguei o corpo sem vida.

— Anos de prática. Um dia você consegue — garanti, segura, até me virar em sua direção. Foi impossível não gargalhar ao encontrar suas roupas destruídas e cheias de terra, neve e gravetos. — Ou talvez você tenha nascido para ser desastrada, Hanna — zombei, entre gargalhadas, recebendo um olhar furioso da garota. Só depois de alguns segundos fui capaz de parar de rir e meneei a cabeça. — Vamos, precisamos aproveitar enquanto o alimento é farto.




Hanna caminhava ao meu lado, mantendo o mesmo ritmo dos meus passos; devagar demais para nós, rápido demais para humanos preguiçosos.

Os odores eram quase enlouquecedores: café, croissant, chás, açúcar e sangue deliciosamente quente que emanava dos corpos que transitavam no aeroporto. 

Tudo parecia envolver meu corpo, com um bombardeio de sensações, dando vida à chama em minha garganta e o vazio oco em meu estômago que ainda existia, mesmo depois de caçar. Nada que eu já não conhecesse bem há tempo suficiente para conseguir controlar melhor que Hanna; que não parecia tão longe de colapsar.

São pessoas. Eles têm famílias. Edith está comigo. Tudo vai ficar bem.

Compreendia o que Hanna estava sentindo, havia sentido a mesma coisa nos meus primeiros anos em sociedade e, depois de passar alguns meses na segurança do isolamento, não tornava as coisas mais fáceis; nem mesmo para mim.

Continuei caminhando em direção ao portão de embarque, arrastando a mala ao meu lado, ouvindo o mantra mental de Hanna, usufruindo disso para abafar as outras vozes que se dividiam entre pensamentos tristes, raivosos e enfadados.

— Prenda a respiração, vai ser mais fácil — instruí antes de me aproximar da jovem no atendimento de solo.

Daphne, li em seu crachá. Ela não devia ter mais de 22 anos. Seus cabelos, cor de ébano, estavam presos em um coque apertado na base de sua nuca. Sua pele negra brilhava com pouca maquiagem. Os olhos castanhos mantinham-se tranquilos, até nos aproximarmos. Reconheci o brilho vítreo assim que ela me olhou. Seus lábios se abriram sobre os dentes em um sorriso amplo e ensaiado. 

Ela é muito bonita… Será que é antiético pedir seu número aqui?, ela pensou, aguardando contato. Entreguei-lhe os meus documentos e retribuí o sorriso, aguardando, pacientemente, que ela voltasse a reagir na velocidade normal, deixando de lado o deslumbre ilusório. 

Edith Gray. Edith. Soa tão velho, mas parece perfeito. Edith, repetiu. O nome ecoava em sua mente, como se estivesse testando a sonoridade.

Senti-me levemente ofendida pelo velho, mas não era uma mentira. Recuperei meus documentos e aguardei enquanto Hanna retorcia o rosto enquanto tentava sorrir de volta para Daphne.

Céus, ela também é linda, mas... será que está com dor?

Precisei pressionar os lábios juntos para não rir, mas ainda recebi um olhar furioso de Hanna.

Isso não é engraçado, Edith!

— Tenham um bom voo — desejou, doce, sorrindo para mim outra vez.

Acenei de longe, sorrindo e segui Hanna que andava mais à frente. 

O pior ocorreu quando entramos no avião. Hanna arregalou os olhos castanhos em minha direção assim que viu a quantidade de corpos. O avião não estava cheio, mas os pulsares e os odores eram enlouquecedores, principalmente quando aprisionados no pássaro de metal.

Edith, pensou, chamando-me, em desespero.

— Vai ficar tudo bem — afirmei, organizando nossas malas no compartimento sobre os assentos. — Pense em outra coisa, tente se concentrar em Taylor — sugeri. — Tente descobrir por onde devemos começar.

Nós podíamos ter corrido até Ontário. Podíamos ter nadado até lá, Edith!

— Você precisa relaxar, Hanna. Vai dar tudo certo — afirmei, cobrindo sua mão com a minha. Seus olhos encararam o contato e eu vi seu rosto se transformar, retorcido em uma expressão quase animalesca. As sobrancelhas curvadas sobre os olhos, os lábios lutando para expor as presas e rosnar para mim. Conseguia ouvir o ruído se formando em seu peito, em sua garganta. Soltei-a rapidamente. Não queríamos uma vampira em estado de fúria em um avião. — Medite — instruí, endireitando-me quando começamos a decolar.

Como se meditar fosse anular todo esse cheiro, pensou, enraivecida. É fácil, tão fácil que chega a perder a graça. Acidente de avião. Apenas duas sobreviventes, um milagre incompreensível, nenhum arranhão.

— Vai ser mais difícil de domar toda a sensação se você deixar sua mente vagar nas possibilidades — pontuei e abri O Príncipe, que retirei da minha mala antes de sentar. — Confie em mim, eu já fiz a mesma coisa.

Droga, praguejou uma última vez, antes de recostar na poltrona, deitando a cabeça em meu ombro, embrenhando o nariz em meu cabelo em uma tentativa desesperada de camuflar todo o cheiro de sangue. Me chame quando estivermos pousando, pediu, antes de deixar sua mente vagar para possíveis cenários de sua conversa com Taylor — os pontos estavam ao nosso favor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "À Luz da Lua, Bloodshed" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.