Os órfãos de Nevinny escrita por brennogregorio


Capítulo 45
Cruzando a fronteira




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⌚ 06:29 p.m.


Você está em casa no chuveiro tomando banho enquanto espera Lívia voltar da taróloga para onde havia ido no fim da tarde. Ela já havia mandado uma mensagem dizendo que passaria no mercado e traria algumas coisas que estão faltando.

Ainda não havia falado sobre a ida à casa de Allison, então estava pensando se ela iria permitir sua saída ou não, o que lhe deixa com uma certa preocupação, pois já tinha combinado com Allison e só está esperando por sua mensagem com o endereço para poder chegar até lá.

Além do mais essa seria uma boa oportunidade de conhecer o tão famoso e comentado bairro Miríade, bairro esse que nunca visitara antes por ser um pouco distante dos demais. Será que finalmente seria hoje a oportunidade de que isso pudesse acontecer?



⌚️ Alguns minutos depois…


Após terminar seu banho, começa a se secar na toalha e, de repente, ouve o barulho da porta principal sendo aberta. Lívia está em casa. Ela começa a chamar por seu nome repetidas vezes e, pelo tom de sua voz, parece estar bem contente.

— Eu tô aqui! — você grita do banheiro.

— Sai logo daí que quero falar uma coisa pra você. Anda!

— Já vai.

Em segundos você abre a porta e sai do cômodo já vestidx.

— Tô escutando.

— Ai, S/N, você não vai acreditar no que a taróloga me falou hoje. Sabe o que ela me disse? Que finalmente eu vou encontrar alguém que vai me trazer muita felicidade e me fazer mudar de vida — Lívia diz com um enorme e radiante sorriso enquanto põe as sacolas de compras em cima da mesa.

— Sério? Que bom, não é? — você comenta fingindo um sorriso — Mas essa frase é um pouco clichê, não acha?

— Mas essa é diferente, S/N. E olha, tem mais coisas ainda que eu preciso te dizer. Você sabia que...

— Ah, me desculpa te interromper, Lívia, mas tem como você me contar tudo uma outra hora?

— Uma outra hora? Por quê? — ela pergunta pondo as mãos na cintura.

— Preciso te pedir uma coisa e eu queria muito que você me autorizasse. Queria não, eu preciso que você autorize.

— Vai sair, não é? Por isso o banho a essa hora. Você nunca toma banho essa hora — ela diz torcendo os lábios.

— É. E eu preciso muito ir. Mas não é nada pra se preocupar. Eu prometo que não vou demorar.

— OK. E pra onde você vai?

— Vou me encontrar com Allison. Nós marcamos pra agora à noite. Você ainda lembra delx, não é?

— Hum, Allison, né? Claro que eu lembro. Um amor de pessoa.

— É elx, exatamente. Eu não tinha falado nada antes porque tive que esperar mais tempo pra poder ter certeza.

— Você não tem jeito, S/N — ela diz com um sorriso malicioso no rosto.

— Como assim? — você pergunta, desentedidx.

— Ah, você não decide o que quer.

— Do que você...

— Não finge que não sabe do que eu tô falando — sua irmã fala enquanto mexe em uma das sacolas — Uma hora você está com Cris e outra hora diz que vai sair com Allison. Você deveria se decidir logo antes que...

Sem nem deixar a sua irmã terminar a fala, você acaba se afastando lentamente até atravessar e bater a porta da sala deixando-a falando sozinha.

Essa conversa de Cris e Allison mais uma vez está sendo a pauta no apartamento, então, sem paciência para ter que escutar tudo outra vez teve que tomar essa atitude. Mais tarde, com certeza teria que ouvir as reclamações de Lívia por conta de como agiu.

Mas isso ficaria para uma outra ocasião.



⌚️ 06:52 p.m.


Seguindo para a estação de metrô, decide mandar uma mensagem para Allison avisando já estar a caminho. Nem espera tanto tempo por uma resposta quando subitamente recebe um "Okay. Te espero aqui" no telefone.

A confirmação já está garantida, agora só o que resta a fazer é torcer pra que nada aconteça durante o caminho e dar em Allison aquele temido e detestado "bolo".

Após comprar seu ticket você pede informações para o bilheteiro de como chegar no bairro Miríade. De um modo bem atencioso ele explica que esse é de fato o bairro mais longe de todos e que, dependendo de para onde esteja indo, o caminho poderia ser um pouco complicado, pois nenhuma linha passa por lá, apenas por perto. Dessa forma, a estação respectiva recebe outro nome. Ela chama-se Bazinanci.

— O que exatamente você vai fazer em Miríade uma hora dessa? Você é muito jovem. Não deveria ir pra um lugar tão longe assim a essa hora e ainda mais sem companhia — o bilheteiro diz.


— É, eu sei. Mas eu vou fazer uma rápida visita. Tem alguém lá me esperando — você fala.

— Tudo bem, mas toma cuidado. Você deve saber que esse lugar não tem boa fama. Tenha uma boa viagem e boa noite.

— Obrigadx. Boa noite.

Assim, logo depois que fala com o tal cara, você agradece e segue para a ala de embarque para esperar pelo transporte cujo já está para chegar.



⌚ Algum tempo depois...


Já se passara aproximadamente doze minutos e quatro paradas. A voz robótica que sai dos alto-falantes do veículo começa a anunciar que a última parada será a próxima. A maioria das pessoas haviam descido na estação anterior no bairro Falaccia restando no interior do metrô você e mais umas quatro pessoas no mesmo vagão rumo ao mesmo destino.

De repente, a voz androide novamente faz um novo anúncio percorrendo por todos os corredores:

— "PRÓXIMA ESTAÇÃO: BAZINANCI. TEMPO ESTIMADO DE VIAGEM: SETE MINUTOS."

— Sete minutos? — você pergunta consigo, baxinho.

Em seguida, pega o celular em seu bolso e decide mandar uma mensagem para Allison.

Você: Oi, eu já estou chegando na estação Bazinanci
Você: Em cinco minutos provavelmente

Allison: Tudo bem
Allison: Por um momento comecei a pensar que não viria mais

Você: É claro que eu iria
Você: Não ia fazer essa desfeita

Allison: Eu já estou indo para a estação te receber
Allison: Estou indo com o Akino

Você: Quem é Akino?

Allison: É um amigo de meu pai
Allison: Ele vai nos levar até o bairro de carro

Você: Entendi
Você: Tudo bem então

Allison: Até daqui a pouco


Após o breve momento que falou com Allison, você olha pelas janelas do metrô e percebe que não há mais visão alguma do lado de fora. As luzes roxas da cidade já não existem mais e, no lugar delas há apenas um cenário sombrio de completa escuridão e sem sinal de vida.

Por um momento começa a achar que o maquinista talvez tenha errado de trilho e ido por outro caminho, que algum engano esteja acontecendo, mas logo tem suas ideias mudadas quando vê os passageiros se aproximando das portas, enquanto ouve alguém dizer:

— "FIM DE LINHA. BEM-VINDOS À ESTAÇÃO BAZINANCI. OBRIGADA POR USAREM NOSSOS SERVIÇOS. TENHAM UMA BOA NOITE."

Então, automaticamente as portas se abrem e as pessoas começam a sair. Você acaba sendo a última pessoa a deixar o vagão pela pequena incerteza que ainda possui. Assim que o faz, vai para a plataforma e logo o que sente muda ao ver Allison acompanhadx de um homem.

— Oi, S/N — Allison diz, sorridente.

— Oi — você diz olhando ao redor.

— Tudo bem?

— É, tá. É só que...

— Aqui é diferente, não é? — pergunta o tal homem.

— Bastante — você responde.

— S/N, esse é o Akino. O amigo do meu pai que te falei — Allison diz apresentando o indivíduo no qual é bem alto por sinal.

— Olá, tudo bem? — Akino diz lhe erguendo a mão direita.

— Tudo e o senhor? — você pergunta, cumprimentando-o.

— Tudo bem.

— Akino veio da África. Ele é um refugiado e veio buscar por uma oportunidade no nosso país e acabou vindo parar na nossa cidade — Allison declara.

— Sério? De qual país? – você pergunta ao homem.

— Burkina Faso. A vida estava difícil, a fome no país aumentava enquanto as guerras cresciam por todo o continente, então essa foi a solução — ele explica.

— Eu entendo. Os nossos livros de história e os noticiários muitas vezes só mostram parte do que realmente acontece nessas situações. Só vivendo mesmo pra saber como é — você declara.

— Isso é verdade. Não foi nada fácil. Nisso acabei perdendo amigos, pessoas da minha família e etc.

— Sinto muito por isso. Mas agora você tem onde recomeçar. Eu cheguei há pouco tempo aqui também e até que tô gostando. Talvez com o senhor não seja diferente.

— É, acho que sim — Akino diz dando um sorriso.

— Er, me desculpem interromper a conversa, mas será que podemos nos apressar um pouco? Ainda temos uma estrada pela frente — Allison avisa.

— Elx tem razão — Akino diz — Quanto mais cedo chegarmos, melhor.

— Então vamos logo.



No carro...


— Então, por que a prefeitura da cidade não fez com que a linha de metrô chegasse até o bairro de Miríade em vez de ir ao até o Bazinanci? Ficaria mais fácil tanto pra vocês que moram aqui quanto para os visitantes que nem eu — você pergunta, curiosx.

— Eles não quiseram devido às ordens — Allison responde.

— Ordens? Dos fundadores, não é?

— Pelo visto você ainda lembra da história que eu te contei, não é? Mas sim, é isso.

— Mas isso é burrice. Eles tinham que deixar a linha chegar até a cidade. Isso facilitaria a vida de vocês — você profere um pouco renitente.

— Eu também acho. Mas quem somos nós, moradores, pra ir contra as autoridades? Além do mais tem pessoas do bairro que concordam com isso. A maioria prefere que fique do jeito que `tá — Akino comenta.

— Estranho isso. Eles gostam mesmo de ficar afastados e isolados, né? — você pergunta.

— Digamos que sim. Eles são bem sérios — Allison responde.

— Mas não se preocupe. O nosso povo se dá bem. Você pode achá-los estranhos, mas esse é apenas o estilo de viver que eles adotaram há tempos: de viver entre eles, no mundo deles. No nosso mundo, aliás. Eu acabei fazendo parte disso também — Akino diz, risonho — Aqui se tornou meu lar, minha casa. Eu não vejo razões das pessoas menosprezarem Miríade. Talvez seja só porque elas não conhecem.

— É verdade — Allison concorda.

Enquanto Allison e Akino conversam a respeito do bairro sobre o bairro, você olha pela janela do carro para tentar ver por onde seguem, mas é absolutamente impossível saber. Não há pistas nem vestígios de vida existente por ali ainda. Tudo o que se vê são as altas árvores e a escuridão que ainda persiste.



⌚ Alguns minutos depois...


Após um certo tempo, o carro começa a andar um pouco devagar. Finalmente o sinal de vida que anseiava aparecera. Vozes de pessoas, gritos e ovações agora estão por todos os lugares de um modo alto e intenso. Altas casas e alguns prédios com aspectos de antigos são vistos explicitamente ao passo que se aproximam cada vez mais. Tudo isso acompanhado de luzes douradas fixadas nos postes e também dentro de todas as casas projetadas de um modo simples e harmonioso.

Ao passo disso, Akino aproxima o veículo até uma barreira onde tem uma cancela que impede o cruzamento. Como uma espécie de pedágio. Bem em frente há um homem robusto parado como se estivesse ali apenas para monitorar a cancela e também a movimentação ao redor.

Ao parar bem em frente à porteira, ele calmamente se aproxima e olha atentamente para o interior do veículo, mas é em você que ele mais presta atenção. Assim sendo, ele logo pergunta para Akino que está na direção:

— Quem é a pessoa com vocês?

— É amigx dos Padalecki. Pode liberar a entrada — Akino responde.

— Tem certeza?

— Tenho. Pare de ser desconfiado, Dante.

— OK, se você diz, eu confio — ele diz.

Então, Dante se afasta e libera a entrada. Uma luz verde indica a permissão e a cancela começa a subir lentamente. O carro vai acelerando até que cruzam a fronteira enfim adentrando o bairro.



Do outro lado da fronteira...


Passando pelas ruas e pequenas vilas, você vai observando a movimentação da localidade. Gente de toda a idade perambulando alegres, as crianças brincando no parquinho, pessoas caminhando na praça com os seus animais e fazendo exercícios e mais alguns grupos de adolescentes conversando na praça. Tudo perfeitamente normal. Não há nada de diferente em relação aos outros; não há nada de estranho ou coisa assim. À vista disso, aquele pensamento que as pessoas têm sobre esse lugar não sai da sua cabeça, pois não faz nenhum sentido. Miríade é um bairro normal assim como qualquer outro.

Nesse tempo, o automóvel começa a andar devagar ao passo que se aproxima de uma casa simples. Sendo assim, ele acaba estacionando em frente à ela e em seguida Akino e Allison saem do carro.

— Chegamos — diz Allison.

— Então, é aqui que você mora — você fala observando a residência.

— Sim. Ela é simples, mas garanto que é bem aconchegante.

— Isso é o que mais importa — você concorda.

— Então crianças, agora que já trouxe vocês até aqui, eu vou me despedir. Tenho um jantar marcado com a minha filha. Ela já deve estar me esperando — Akino fala.

— Ah, já `tava me esquecendo. Te agradeço muito por fazer esse favor pra mim, seu Akino — Allison diz.

— Não tem de quê. Qualquer coisa que precisar estarei a disposição para ajudar tanto você quanto seu pai.

— Ótimo. Agora vá jantar. Tenha uma boa noite.

— Boa noite. E boa noite para você também simpaticx S/N.

— Boa noite. Muito obrigadx pela ajuda — você o agradece.

Então, Akino sai e vai caminhando até dobrar em um beco não tão distante da casa de Allison.

— Simpático ele. E já sabe falar muito bem o nosso idioma, né? — você diz.

— É. Akino mora aqui no bairro há pouco tempo mas sabe falar bem a nossa língua — Allison declara — Ele é uma ótima pessoa. Merece tudo de bom que o mundo tem a oferecer. Além de ser o nosso braço direito, também é praticamente um irmão pro meu pai e um segundo pai pra mim.

— Tanto assim? Vocês gostam mesmo dele.

— Sim, bastante.

No momento em que falam, um grupo de pessoas se aproxima passando bem próximo a vocês. Alguns deles seguram algo de um tamanho mediano e presumivelmente pesado, porém não dá pra saber o que é por estar coberto por um grande lençol azul. Então, eles seguem para a frente de um sobrado e põem o misterioso objeto dentro de uma caminhonete que já os espera, pois, assim que eles põem a incógnita coisa na caçamba, o veículo sai em disparada.

Logo em seguida, um sino começa a badalar em volume bem elevado não tão distante de onde estão e, estranhamente, todas as luzes presentes ali põem-se a piscar rapidamente enfraquecidas como se estivessem prestes a queimar.

Foi um total de três badaladas seguidas.

Após o evento, tudo volta ao normal. Porém o mais estranho é que ninguém ali parece ter se importado com o que acabara de acontecer. Ninguém parou suas atividades para tentar entender o ocorrido, como se isso fosse algo comum de acontecer, podendo-se dizer até rotineiro.

— Eu posso perguntar o que foi isso? — você pergunta, confusx.

— Ah, isso deve ser algo que devem estar levando pra preparação de um festejo que vai ter por esses dias — Allison relata.

— Sei — você fala não acreditando muito.

— Bom, já estamos em frente da minha casa. Você não vai querer entrar?Também posso te oferecer alguma coisa.

— Nada mais justo. Você já foi onde eu moro, agora é a minha vez de conhecer o seu lar.

— Então se é assim, vamos entrando. Eu já arrumei a casa porque meu pai é do estilo bagunceiro e deixa várias coisas espalhadas quando ele trabalha em casa. E pelo o que eu vi onde você mora é tudo organizado, então concluí que não ia querer ver coisas assim.

— Eu não ligo muito pra isso. Mas que bom que teve essa preocupação.

— Haha, já ganhei pontos por isso — Allison diz, sorridente.

— Digamos que sim — você diz.

— Então, vamos entrar?

— Na hora. Podemos?

— Com certeza.

E assim vão aproximando-se da porta de entrada. Allison introduz a chave na fechadura e em segundos destranca a porta entrando primeiro. Posteriormente, quando você já ia pôr o primeiro pé para adentrar a residência, subitamente fogos de artifício começam a explodir pelos ares. Então, rapidamente olha para trás devido ao susto, mas em segundos eles param. Sendo assim, não perde tempo e logo fecha a porta.


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