Os órfãos de Nevinny escrita por brennogregorio


Capítulo 39
O centro de tudo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/809400/chapter/39

"Semana passada eu tive uma experiência que jamais pensei que teria em minha vida e por causa disso também aconteceu outra coisa que eu nunca tinha experimentado na vida que é a de ficar de castigo.

Acontece que eu acabei ficando um tempinho na delegacia com o pessoal da escola por conta de uma confusão da qual não era nem pra eu ter me envolvido. E o pior é que agora já tem muita gente sabendo.

Eu sabia que não era pra ter saído com as pessoas daquela escola. Era melhor eu ter ficado só. Mas quis simpatizar com eles e acabei entrando nessa.

Eu juro que tô tentando me entrosar, mas eu não consigo me entregar de verdade. Eu não gosto ter que fingir que tá tudo bem ou que estou curtindo tudo isso, mas acontece que eu não consigo me sentir parte daqui e nem confiar em ninguém de verdade. Somente em Lívia, é claro. Eu acho que ela não vai me deixar.

Não sei por quanto tempo ainda vou ter que fazer isso, mas tenho que continuar conversando e sorrindo pras pessoas, porque é útil. Na escola, a mesma coisa. Inclusive hoje começa mais uma semana. Não vejo a hora das férias chegarem."

Assim que termina de escrever em seu diário, de imediato pensa em guardá-lo, porém uma ideia de atitude vem em sua mente e você acaba deixando-o em cima da cama. Logo vai para a cozinha e procura por um isqueiro.

Ao encontrá-lo, volta para o quarto, rasga a última página escrita do diário escrita pondo fogo.
Você deixa a folha queimar no chão enquanto a observa até completar tudo restando só as cinzas, logo depois limpando-as para não dar pistas.

Após guardar o seu diário, de imediato segue para a cozinha para tomar café e nota que Lívia já está tomando banho para se arrumar para ir para o trabalho.

De repente, a porta do banheiro se abre e sua irmã sai de toalha.

— Que cheiro de queimado é esse? — ela pergunta.

— Não é nada — você diz, desligando a boca do fogão depressa.

— O que você queimou aí? Tem cheiro de... papel.

— Foi uma coisa que eu fiz, uma experiência. Mas já limpei tudo. Não deixei nada sujo — você fala fechando a lixeira.

— OK. Eu já vou terminar de me arrumar e logo a gente sai. Toma seu café e não demora — ela diz indo para o quarto.

— Certo.


⌚ 07:11 a.m.

Já na sala de aula, vai direto para sua carteira e arruma suas coisas. Logo em seguida sai e vai em direção ao banheiro. Lá, resolve lavar o rosto repetidas vezes e, quando termina, fica um tempo encarando seu reflexo no espelho.

De repente, imagens começam a vir em sua cabeça lhe fazendo pensar a respeito de suas últimas vivências. Em como sua vida tinha mudado, nas pessoas que tinha deixado pra trás e nas que conhecera há pouco tempo.

Também acaba pensando em seus pais, seus amigos de infância e os estudantes da escola atual. Em suas próprias conclusões, diz para si que não poderia deixar se levar em como as pessoas se comportam diante de você: gentis e amigáveis. Que isso é apenas uma máscara e a qualquer momento elas podem fazer coisas que não lhe agrade.

Seu cérebro repetidas vezes lhe alerta que você não deveria se apegar mais às pessoas como antes e que se isso acontecesse, teria menor riscos de se machucar.

E isso ficou em sua mente. Após passar por essa confusão em seus próprios pensamentos, acaba concordando que isso é o que realmente deve continuar fazendo. Mas no fundo mesmo não é o que quer. No fundo você gostaria de se render e dar um voto de confiança para essas pessoas, porém não quer e não pode arriscar passar por tudo outra vez.

Não muito tempo depois o sinal toca. Você, ainda ali, pega uns lenços de papel e seca rapidamente seu rosto. Nisso, logo sai do banheiro e vai diretamente para a sala.

Ao chegar lá, o professor Lewis tinha acabado de entrar. Então, sem deixar ele perceber, também entra indo para a sua carteira.

— Onde você 'tava? — Lavínia pergunta em baixo tom.

— No banheiro — você responde.

— Mas você 'tá bem, né?

— Por que não estaria?

— Não sei. Quando você entrou 'tava com uma cara séria demais.

— Eu tô bem. Não é nada.

— Tem certeza mesmo? Porque pelo o que vi você parecia...

— Não. Eu tô bem. Já disse — você diz com firmeza.

— OK. Se você 'tá dizendo...

Sendo assim, Lewis da início a sua aula já começando a falar sobre uma apresentação em grupo em breve, fazendo com que a maioria se anime.

— Por favor, tenham calma. Não fiquem tão exaltados assim — ele diz — Vocês irão fazer esse trabalho em equipes, em duplas, aliás, mas eu terei o poder de escolher as duplas.

Os alunos, então, sentem uma conjunta decepção e toda a empolgação se transforma em um completo desânimo, distorcendo todas as expectativas que haviam criado.

— É, sinto muito em decepcioná-los mas assim que funcionará. Assim vou poder evitar muitas patotinhas e também aproveitar para unir algumas pessoas. Provavelmente terá um outro professor que me ajudará nisso — Lewis completa.

O sinal toca mais uma vez indicando que a hora do intervalo chegou.

— Vejo vocês na próxima aula e estejam preparados para o nosso conteúdo que vai ser discutido — o professor avisa.

Ao saírem da sala, seus colegas e você se unem e partem para o refeitório em busca de uma mesa para se sentarem. No caminho, vocês percebem que alguns alunos lhes olham estranhamente como se julgassem por algum motivo. Não ligando para isso, continuam a caminhar até encontrarem uma mesa disponível.

— Ainda somos o assunto do momento? — Rebekah pergunta olhando para os lados.

— É claro. O pessoal não viu a gente depois do festival, então é normal — Cris fala.

— Do jeito que o pessoal é, ainda vai continuar assim por mais uns dias — Max diz.

— Eu não fiz nada, mas eu tô amando essa atenção — Lavínia declara, sorrindo.

— Mas acontece que essa atenção pra gente não é boa. Nós fomos parar na delegacia — você fala.

— Eu não me importo. Mesmo porque o único que tem que se importar aqui é o Tommy — ela acrescenta.

— Dá pra vocês pararem de falar como se eu não 'tivesse aqui — Tommy diz olhando para você e Lavinia.

— Sorry, querido, mas isso é um fato — Micaella comenta.

— Gente, por favor. Não vão discutir aqui também — Rebekah solicita.

— Desculpa, amiga — retrata-se Micaella.

— Então, gente. No final de semana a gente não falou muito sobre isso, mas eu quero saber se um dia a gente pode marcar de voltar no Super 8 pra nossa revanche nos jogos — Cris sugere.

— Você enlouqueceu? — pergunta Rebekah, assombrada.

— Ué, por que não? — Cris questiona.

— Esqueceu da bronca que meus pais me deram na delegacia dizendo que não era pra eu andar com "pessoas desse tipo" e não sei mais o quê? Em casa ele me falou mais coisas também, mas eu não vou falar pra vocês não ficarem incomodados com o que ela disse — Micaella responde.

— O que foi que ela disse? — você pergunta com curiosidade.

— Os pais do Heitor reclamaram porque ele não falou nada pra eles antes, assim como S/N não avisou pra irmã. Agora eu entendi o porquê dele estar tão nervoso, coitado — Lavínia diz, sorrindo.

— É, e graças a minha mancada a Lívia me deixou de castigo por uns dias. Então, nem pensar em voltar nesse lugar — você fala torcendo os lábios.

— Castigo? Essa palavra ainda existe? Isso é tão infantil — Max debocha dando um sorrisinho.

— Eu também não falei nada pros meus. Tô proibido de ir lá — Tommy comenta.

— Vacilões — Cris diz, sorrindo.

— Ei! — você exclama.

— Bom, mas graças à Allison e ao senhor Carlos a gente não saiu de lá numa situação pior, né? — Rebekah declara.

— É verdade. E eu te agradeço mais uma vez, Allison. Se não fosse vocês, provavelmente meu tio estaria em apuros e com a lanchonete fechada — pronuncia Micaella.

— Ah, que isso. Não foi nada — Allison fala.

— Quem se deu bem nessa história toda foi o Felipe que ia aparecer por lá e nem foi — Lavínia diz.

— Ele se livrou de levar uma bronca — Cris comenta.

— É. Mas aí eu fiquei pensando: seria melhor ele ter ido com a gente e passar pelo o que a gente passou do que ter tido a companhia da Cynthia aquela noite toda — Micaella fala, rindo.

— Será que ele 'tá bem? Não vi nem Heitor nem Felipe hoje — Max pergunta.

— Tá. Eles vieram hoje, sim — Allison responde — Devem estar por aí.

— Sabem de uma coisa, eu ainda queria saber quem foi a pessoa que fez aquela denúncia. Na verdade eu queria muito saber — Tommy diz dando um gole no refrigerante dele.

— Pra quê, amor? Esquece isso. Já passou — fala Rebekah.

— Não, não passou. Mas eu quero muito saber quem foi o idiota — ele diz.

— Por que você tem certeza de que foi um cara? — Cris pergunta.

Ele nada responde.

— Quem fez não importa. Pode ter sido um cara ou uma garota. Enfim, qualquer pessoa que 'tava lá na hora pode ter visto o que você fez e ter denunciado — Micaella declara.

— É — você concorda.

— Não foi uma garota — Tommy afirma.

— Então quem foi? — pergunta Cris.

— Isso não importa. Mas depois eu resolvo isso — ele declara.

— Já disse pra deixar isso pra lá. Se você conhece a pessoa, deixa isso pra lá. Você vai evitar mais uma confusão e de ser expulso da escola. É isso o que você quer? — Rebekah pergunta.

Tommy mais uma vez nada responde e em seguida olha ao redor como se procurasse por alguém. Rebekah e Micaella tentam acompanhar sua visão, mas logo desistem por não fazerem ideia para onde exatamente ele mira. Com isso, continuam a comer e conversar até que chegasse a hora do sinal tocar e enfrentarem as duas aulas restantes que ainda viriam depois.


⌚ Algumas horas depois...

Durante um tempo você fica observando na janela de seu quarto a movimentação da cidade com a ajuda de um binóculo. Após assim ficar um tempo, o desânimo começa a lhe atingir lhe causando certo cansaço e uma sensação de tristeza e com isso você sai de perto da janela.

Ao passo que guarda o binóculo na caixa de madeira em cima da cama, ouve um som de televisão vindo da sala. Sendo assim, larga o que está fazendo e decide ir para lá.


Na sala...

Lívia está deitada no sofá assistindo televisão. Da entrada do seu quarto você a observa ao longe enquanto dá leves passos. Sem demora, ela percebe a sua presença e lhe olha por alguns segundos.

— O que foi, S/N? Quer alguma coisa? — ela pergunta.

— Não, nada. É que... — você inicia.

— O quê?

— Deixa pra lá — diz dando meia-volta.

— Não, espera. Como deixa pra lá? Começou, agora termina — ela fala desligando a TV.

— Tá.

Ao dizer isso, senta-se no sofá meio sem jeito mas não diz nada, apenas fica olhando para sua irmã que te observava atenta.

— Então. Diz.

— Eu 'tava alguns minutos atrás pensando sobre algumas coisas e de repente veio uma questão na minha cabeça.

— Ih, se for de escola eu não garanto que vou poder ajudar muito porque...

— Não, não é isso — você diz, interrompendo-a.

— O que é? Diz logo. Não me deixa nervosa — ela fala virando-se para você.

— Quando eu cheguei aqui, como você me enxergava?

— Como assim?

— De que modo você me via?

— Bom... você era uma pessoa na qual estava passando por alguns problemas, magoada por causa do que fizeram em torno de você e que precisava de um tempo para pôr tudo em ordem — ela declara.

— Você me achava difícil de lidar por conta disso ou me achava, sei lá, sem importância?

— Difícil, sim. Mas eu entendia o que estava acontecendo então as suas ações não me surpreendiam. Agora sem importância? Mas por que você 'tá me perguntando isso?

— Porque eu estive pensando sobre o momento que cheguei nesse apartamento e sobre todos os outros que sucederam isso. Pensei no quanto deve ter sido difícil você me aguentar em todas as vezes que eu te respondia de um modo rude, mas a única coisa que você estava fazendo era tentando me ajudar — você declara.

— Mas você não precisa pensar sobre isso. Eu fiz o que tinha que fazer e, apesar de muitas vezes eu ficar um pouco impaciente conforme você agia, eu não desisti de você. Eu não pude fazer isso. Seria desumano. Eu sou sua irmã, não sou? — ela diz pondo a mão em seu braço.

— É — você fala dando um sorrisinho.

— Eu quis te ajudar e estou te ajudando ainda porque quero. Eu sei o que é se sentir assim.

— Então... você não me abandonaria, não é?

Nesse momento você olha dentro dos olhos de Lívia aguardando por sua resposta. Ela também te olha fixamente e começa a franzir a testa como se não esperasse por essa pergunta. Então, sem demorar ela move os lábios preparando a sua fala e, sem tardar, ela diz:

— É claro que não, S/N! Eu nunca te abandonaria, eu hein? O que deu em você essa noite? — ela pergunta, sorrindo.

— Nada. Eu só queria falar sobre isso

— Tem certeza? Você tá com umas perguntas muito estranhas. Por acaso tá assistindo filme de drama, romance ou o quê?

— Não é nada disso. Eu só queria perguntar mesmo — você fala — Então, a resposta é não mesmo?

— Não. É claro que não te abandonaria. Por que eu faria isso?

Você fica uns dois segundos sem falar nada, mas logo pensa em uma resposta para a pergunta de Lívia, na qual diz:

— É. Não teria por que mesmo — você diz levantando-se do sofá.

— Pra onde você vai?

— Pro quarto. Vou tentar dormir.

— OK. Vai sim, daqui a pouco eu também tô indo.

— Boa noite.

— Boa noite, S/N.

E, sem mais diálogos, você vai se distanciando de sua irmã indo em direção de volta para o seu quarto. Ao chegar na porta, dá uma olhada para trás e a observa assistindo a TV por alguns segundos mas sem deixar que ela perceba. Logo mais dá um sorriso rápido no canto da boca e ligeiramente entra no quarto fechando a porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os órfãos de Nevinny" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.