A Essência do Dever escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 42
Medida Extrema




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Voltar ao posto de oficial de ciências, mesmo numa nave klingon, e mesmo de forma improvisada e não oficial, trouxe a Spock a surpreendente sensação de conforto. O trabalho em si não era estranho para ela, e estar ocupada, a fazia se sentir útil outra vez.

Olhar para cada um ao seu redor, a equipe da ponte da Enterprise em seu posto original, a fez ter lembranças mais concretas de quem ela tinha sido um dia, e por um instante, tudo parecia muito correto. 

—Está tudo pronto da minha parte, Almirante - ela disse a Jim em seu tom profissional - eu só peço desculpas por não poder usar meu uniforme, eu o perdi em algum momento.

—Almirante? Spock, me chame de Jim - seu marido estranhou o termo - Jim!

—Estamos em uma situação profissional, prefiro usar o termo de nossos cargos - ela explicou com seriedade.

—Está bem - Jim acabou sorrindo, já que a frase soava muito como ela - está perdoada por seu uniforme.

Ele então tomou seu próprio lugar e ordenou a partida da nave.

O pensamento elaborado de Spock foi interrompido por um Dr. McCoy preocupado, tanto como amigo como médico. 

—Tem certeza que está bem, Spock? Quer dizer, você acabou de voltar dos mortos e ter sua alma devolvida - ele citou - fico feliz de não estar mais carregando seu katra, mas a passagem pela vida de volta com certeza foi uma experiência e tanto.

—Eu não poderia dizer nada quanto a isso, doutor - ela respondeu - você só poderia ter suas respostas se passasse pelo mesmo.

McCoy apenas fez uma careta, insatisfeito, mas disposto a se manter alerta sobre o estado de sua amiga caso ela se tornasse uma paciente outra vez.

Enquanto isso, Uhura tinha detectado a frequência de mensagens confusas, mas todas pedindo socorro, todas pertencendo à Federação. O que esclareceu melhor o que estava acontecendo foi captar a mensagem do próprio Presidente da Federação, explicando que uma sonda se aproximava da Terra, se alimentando de energia e se transformando em uma ameaça iminente. O som que ela produzia, ninguém podia detectar exatamente do que se tratava.

—Não conheço nenhuma espécie que se comunique assim - Uhura comentou sobre o som captado.

 -Acha que esse tipo de comunicação por som pode pertencer há alguma outra forma de vida na Terra? - Jim perguntou diretamente a Spock - e se foi uma espécie que viveu há muito tempo e que essa sonda contatou há muito tempo atrás?

—É possível - Spock concordou com ele.

—O Presidente mencionou distúrbios no oceano - Kirk citou, pensando mais a fundo - Uhura, mude a frequência para como soaria debaixo d'água.

Ela seguiu a instrução e todos prestaram atenção na variação que surgiu.

—Tenho uma ideia sobre isso - Spock observou em voz alta, realizando uma pesquisa rápida no computador  -Há um antigo animal da Terra, claramente extinto, no século 21, que se corresponde a essa frequência. São baleias, baleias jubarte para ser mais específica.

—Baleias... Bom, essa sonda está se movendo pra Terra, não sabemos sua intenção, pode ser uma ameaça - Kirk se prontificou, pensando nas possibilidades de defesa.

—Se essa frequência é uma língua única, de uma espécie alienígena que pode ter visitado a Terra há milhares de anos atrás, nós precisamos de um espécime que saiba se comunicar nessa língua, que entenda e quem saiba, evite o pior - Uhura comentou uma possível solução.

—Teria que ser as baleias - Spock apontou, procurando uma solução para o problema que estava se formando diante deles - mas elas foram extintas há milhares de anos, a ganância humana acabou as consumindo. Quer dizer que, se precisamos de baleias, teríamos que voltar no tempo.

—Então faça os cálculos - Kirk pediu à esposa, acreditando naquela possibilidade improvável.

—Isso seria possível? - McCoy expressou suas dúvidas - Jim, isso é uma loucura total, essa nave está no estado de banheira velha caindo aos pedaços, e se não voltarmos?

—Se fizermos os cálculos corretamente, vamos voltar, doutor - Scott argumentou.

—Então faça, é a única coisa que podemos fazer - Kirk ordenou com toda a voz de capitão que poderia usar - eu confio que você consiga, Spock.

O elogio a pegou de surpresa, mas dentro de suas próprias memórias, sabia que era mais que capaz para tais cálculos. Suas sobrancelhas se arquearam para o marido, de modo familiar. Jim considerou o velho gesto como um bom sinal, chegando a sorrir para ela rapidamente. Spock teve a leve sensação de vivenciar esse tipo de manifestação humana dele de maneira muito mais próxima. Voltando a se concentrar na tarefa vigente, ela se pôs a trabalhar.

Era um ato arriscado e ousado, porém acreditava que pelas habilidades de seus leais oficiais, conseguiriam chegar onde deveriam.

Depois dos cálculos, a ordem de fator de dobra foi dada. A nave sacolejou com todo esforço, fazendo todos tremerem. A calmaria de orbitar o planeta tomou conta do veiculo e de maneira maravilhada, a tripulação da Enterprise contemplou a Terra de séculos atrás.

—Encontrei a frequência de som correspondente - Uhura anunciou depois de uma varredura - está vindo de São Francisco.

—Dentro da cidade? Que estranho... De qualquer forma, traçar curso para essas coordenadas, execute, sr. Chekov - disse Jim, atento a tudo.

—Sim, senhor, almirante - o comandante obedeceu.

Pousaram na calada noturna de São Francisco, torcendo para que ninguém os visse, até acionarem a camuflagem.

—Descansem - o almirante anunciou para a tripulação - não conseguiremos fazer nada agora, mesmo.

—Excelente conselho, era bem o que eu iria recomendar - McCoy reiterou a ordem.

Obedecendo o almirante, mais como oficial do que qualquer outra coisa, Spock se sentou diante dos controles, numa posição de meditação.

Era muito tentador a Kirk não se sentar ao lado dela, puxar algum assunto, poder desfrutar de sua companhia como antes.

—Não deveria seguir seu próprio conselho, almirante? - ela indagou, abrindo os olhos lentamente.

—Eu sei, descansar faria bem a você também, mas sei que os vulcanos precisam de menos descanso do que nós - ele sorriu, reconhecendo um pouco da perspicácia típica da esposa.

—Por ora, meditar me parece suficiente - ela respondeu - ainda assim, há algo que queira falar comigo?

—Exatamente - ouvi-la propor uma conversa o fez sorrir novamente, era como um bom sinal de que as coisas estavam lentamente voltando ao que eram - eu... espero que não se importe de... que eu... peça sua ajuda em encontrar as baleias amanhã.

—De modo algum, na verdade, vejo dois bons motivos para isso - ela argumentou.

—Mesmo? Pode me contar do que se trata? - Jim ousou se aproximar mais um pouco, demonstrando ainda mais interesse.

—Meus estudos sobre o espécime e é claro, como meu marido, conhece-me melhor do que ninguém, seria um parceiro de missão formidável - ela explicou logicamente - eu tenho lembranças de missões bem sucedidas em que dividimos o trabalho.

—Com certeza - por um instante, era quase como ver a antiga Spock, se não fosse pelos robes brancos e o cabelo um tanto solto numa trança feita de forma desajeitada, a maneira convicta como ela se referia aos tempos que eles tinham passado juntos dava a Jim a esperança de que poderiam se reaproximar.

Tão certo disso, ele tentou tocar a mão dela repousada sobre o painel de controle. Em vez de retirá-la de uma vez, Spock deixou que os dedos de Kirk tocassem sua mão.

—Isso é familiar - ela comentou, o que o assustou um pouco e o fez recuar, não querendo abusar totalmente da boa sorte.

—Boa noite, srta. Spock - ele desejou, indo procurar um aposento onde poderia descansar.

—Boa noite, almirante - ela respondeu, mas já estava sozinha no aposento.

A mente dela trabalhava para focar suas memórias com as emoções sutis que começavam a despontar dentro de si.


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