Jim pensou que aquele seria apenas mais um dia de descanso e tentar colocar a cabeça no lugar depois de tudo que tinha acontecido envolvendo Genesis e Spock, mas seus planos, por mais monótonos que fossem, constituídos de conversas e aconselhamentos com seus sogros, foi ocupado pela companhia repentina da pessoa com quem mais desejava conversar no momento, sua amada esposa.

Spock interrompeu sua leitura, o observando colocar os óculos na escrivaninha mais próxima. Ela se lembrou imediatamente de quando ele ganhou o objeto, o desprezando e se sentindo velho, como um típico humano. A lembrança quase a fez sorrir, mas ela se lembrou que era vulcana. Ao menos, considerou como um pequeno avanço se lembrar do momento.

—Espero não estar interrompendo nada importante - ela declarou, depositando os braços atrás do corpo formalmente, como costumava fazer sempre.

Por mais que fosse um gesto muito típico de Spock, seu marido não achava que ele combinava com a maneira que ela estava agora, usando robes vulcanos verde claro, o cabelo comprido arrumado em uma trança. No rosto dela, estava uma curiosidade, uma busca em juntar as peças que ter seu katra separado de seu corpo trouxeram, ainda assim, um resquício da primeira oficial da Enterprise e da sra. Kirk. Ao menos, foi isso que a esperança de James o fez pensar ao vê-la. Ela parecia serena como uma vulcana, era uma parte familiar dela que ele conhecia bem e estava feliz de reconhecer.

—Não, de maneira nenhuma - ele fez questão de se levantar e ir até ela - se me permite, eu até gostaria de dizer algo sobre sua visita.

—Diga - ela estava ávida para ouvir mais dele.

—Eu queria muito falar com você, mas queria fazer isso só se você quisesse - ele confessou.

—Escolha intrigante - ela comentou em voz alta, outro sinal da velha Spock que ele conhecia.

—Por que? - Jim deu um pequeno sorriso ao perguntar.

—Porque demonstra respeito por minhas decisões, respeito pelos meus pensamentos, isso com certeza é uma qualidade a se admirar - ela concluiu seu pensamento.

—Isso foi um elogio, com certeza, então, obrigado - ele sorriu outra vez, sentindo o coração bater mais forte, mas tentando se conter - o que queria falar comigo?

—Eu... queria compreender alguns fatos sobre... nossa união... - ela foi direta, mas ainda assim, parecia incerta, até envergonhada, se vulcanos expressassem vergonha.

—Certo, pode me perguntar o que quiser - Jim estava disposto a ir até o fim do assunto, mesmo sentindo que seria uma conversa delicada a partir de então.

—Eu lembrei de várias coisas, momentos que passamos juntos - Spock começou - quando nos conhecemos, visitas a planetas, entidades, uma outra vez que estive à beira da morte, uma viagem no tempo, essa ocasião em especial me fez perceber meus... sentimentos por você, foi por isso que nos casamos, eu lembro da noite que passamos aqui, as noites na Terra e o nascimento de cada um dos nossos filhos. James, eu acredito que comecei a compreender novamente o motivo de amá-lo e ter me tornado sua esposa.

—Tudo bem, eu entendo - ele ousou tocar de leve perto do ombro dela, o que a fez recuar um pouco para trás.

—A questão é que... - ela olhou para baixo, incerta novamente - eu sou vulcana, eu reprimo minhas emoções, não sei se seria capaz de demonstrar o amor que eu sinto, ainda mais agora, como eu estou agora, eu sinto que você esperaria isso de mim, sendo humano.

—O que eu espero de você é apenas que fique bem - ele declarou de todo coração, comovido, sem conter suas próprias lágrimas - saber que você ainda me ama ainda é um grande alívio pra mim, e se eu tiver que esperar pra ter o que tivemos antes, eu espero, porque eu amo você também, Spock.

—Tudo que fez por mim, arriscando sua própria carreira na Frota, demonstra bem seu amor por mim - ela comentou, sabendo do peso de suas palavras.

—Pois é, tem razão - ele chorou mais um pouco, abertamente.

Ele se aproximou outra vez, tentando um abraço, mas Spock estendeu uma mão, um claro sinal de negação ao seu gesto de carinho.

—É sobre isso que estou falando, espero não estar o decepcionando - ela disse sem emoção, mas Jim podia perceber que lamentava sua atitude, só não podia ir contra seus próprios princípios.

Dividida, como a vulcana que ele tinha conhecido antes.

—Está bem, eu posso esperar, não se preocupe, tudo a seu tempo - Jim decidiu, pelo bem da esposa.

—Agradeço imensamente por compreender - ela fez questão de dizer.

—É pra isso que os maridos servem, Spock, humanos ou não - ele comentou, usando um pouco do seu bom humor.

—Espero recompensá-lo por seus devidos esforços - ela prometeu.

—No devido tempo - ele sorriu, de forma um tanto tristonha.

—No devido tempo - ela concordou, contente com o pequeno avanço que ela e o marido fizeram naquele dia.

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Quando a Ave de Rapina estava pronta para partir, Jim confirmou a lealdade de seus oficiais restantes, enquanto viu a esposa ao longe, numa aparição certamente etérea aos seus olhos, acima de um dos montes de Vulcano. Ele engoliu em seco com a visão de Spock, esperando mais uma vez, com uma paciência vacilantes às vezes, que as coisas voltassem a ser as mesmas entre eles.

A própria Spock tentava compreender a si mesma. Após vários testes em Vulcano, sua memória e inteligência estavam intactas, mas ainda assim, havia uma incógnita pairando no ar, como ela estava se sentindo.

—Não compreendo... - ela murmurou, o que foi ouvido por sua mãe, que tinha chegado de chegar ao aposento.

—O que não compreende, Spock? - Amanda perguntou, preocupada.

—Como o computador pode me indagar sobre sentimentos? - ela esclareceu.

—Você é metade humana, ele sente isso em você, faz sentido uma pergunta assim ser feita - Amanda explicou.

—Ainda assim, eu escolhi ser vulcana, reprimir minhas emoções, essa decisão por si só deveria ser suficiente... para me sentir completa - Spock contrapôs.

—Você julga que sentimentos não são necessários? Seu marido e amigos a salvaram pelo que sentem sobre você, seria inválido o que fizeram? - sua mãe continuou questionando, a fazendo refletir sobre o assunto.

—Acredito que não - no mínimo, o que Amanda tinha atestado tinha deixado sua filha intrigada.

Ela desejou silenciosamente que Spock encontrasse o valor de seus sentimentos outra vez.

O contato entre Spock e Kirk ainda estava incerto, mas isso seria colocado à prova quando a Federação os convocou para prestar contas do roubo da Enterprise. Spock podia não estar diretamente envolvida em toda empreitada, mesmo sendo o motivo principal dela, mas mesmo assim se prontificou para acompanhar o grupo para esclarecer tudo que tinha acontecido da maneira mais favorável possível. Talvez estar de volta ao trabalho a trouxesse de volta de vez à vida e aos relacionamentos que estava acostumada antes.

Ela e Jim se despediram de David, com a promessa de que Saavik acompanharia sua recuperação de perto. Os pais confiaram nela e assim, sem muita escolha, partiram de volta à Terra na Ave de Rapina Klingon.