Um tempo depois, o casal estava reunido novamente com toda a tripulação, ouvindo as instruções do capitão que agora tinha assumido a nave. Spock ficou ao seu lado, observando suas palavras e a maneira como parecia sério, certo do que deveria fazer. Secretamente, ela concordou que o comando sempre lhe cairia bem, o que a deu uma leve sensação de nostalgia, mas o que enfrentavam no momento a trouxe de volta ao presente

Estando no comando, James sabia que precisava de mais alguém de confiança para completar a tripulação, e foi assim que convocou McCoy de volta para a missão.

—Você não podia me deixar em paz, não é mesmo? – resmungou o médico, no seu jeito típico, mas de certa forma, reconfortante.

—É bom ter você de volta, Magro – sorriu Jim ao cumprimenta-lo.

—Claro, e Spock, vejo que continua a mesma fria e lógica de sempre – ele observou a sra. Kirk, em sua posição séria e imóvel.

—E o senhor, doutor, irritantemente pertinente, como sempre – ela acrescentou.

—Senti falta disso, apenas um pouco – brincou o capitão, tentando desfazer um pouco a tensão entre as duas partes.

Sem mais discussões, eles retornaram aos seus postos, Jim acabou restaurando a esposa ao cargo de oficial de ciências, devido à sua maior experiência no espaço com uma infinidade de criaturas inusitadas.

A criatura inusitada da vez estava justamente trazendo prejuízos à Enterprise, o que fez com que Spock se juntasse à Scotty para ajudar no conserto dos motores. Foi quando um arrepio passou pela vulcana, a mesma sensação que ela teve ao embarcar, mas agora, um tanto mais profunda, como se ficasse um pouco mais claro o que a sensação queria dizer, porém ainda muito confusa, apenas uma coisa estava perceptível, a consciência da criatura queria lhe dar respostas.

Ela compreendeu de imediato que era melhor compartilhar a informação com Jim.

—Capitão, posso lhe falar em particular? – ela solicitou em meio às análises e acompanhamento da criatura.

—Certamente, srta. Spock – ele confirmou e foram até os seus aposentos – o que foi?

—Eu senti algo que não julguei muito relevante, até o presente momento – ela iniciou o assunto – meu lado humano captou uma tentativa de comunicação da criatura, ela quer nos mostrar algo, mas não sou capaz de compreender exatamente o que é.

—Desde quando sentiu isso? – ele se aproximou dela, preocupado.

—Desde que voltamos para cá, no entanto, senti uma outra vez – ela explicou – seja lá o que for, sinto que sou a única que pode entendê-la.

—E há uma maneira de você se comunicar de volta? Quero dizer, você começar uma conversa? – Ele questionou, mas temendo a resposta positiva.

—Acredito que seja possível, sim – ela assentiu – se for necessário, eu farei, capitão, pelo bem de todos, pelo bem da Terra.

—Eu sei que não negaria isso, dedicada como sempre foi – ele respondeu – mas como seu marido é difícil aceitar isso.

—Nossa vida sempre foi arriscada, servindo a Frota Estelar, agora que estamos de volta, não seria diferente – ela apontou, mas mesmo sutilmente, notou um certo pesar na voz dela.

O risco de morrer e deixá-lo viúvo a preocupava também. Antes que Jim pudesse tomar uma decisão concreta sobre o que fazer, algo não muito bem definido surgiu na sala de transporte. 

A tenente Ilya tinha acabado de ser aparentemente morta pela criatura, mas ali estava ela de pé novamente, sua aparência era a mesma, porém ao falar, mostrava que era algo diferente. Se definia como uma sonda, tentando compreender o que era as formas de vida baseadas em carbono, a bordo da Enterprise.

Enquanto o Comandante Decker se ocupou em tentar compreender quem era aquela sonda com a forma de Ilya e o que queria, Spock tinha tomado sua decisão de chegar até a criatura e, depois de uma leitura mental, finalmente se comunicar com ela e neutralizar qualquer ameaça que surgisse à Terra.

—Diário de bordo da primeira oficial da Enterprise - ela recitou para o registro - estou me engajando numa missão de risco, disposta a compreender a natureza do desconhecido que enfrentamos no momento, espero que o capitão compreenda minha decisão e que... me perdoe.

Ela prosseguiu, sendo puxada para o que parecia ser o centro da estrutura, observando o que mais tinha ao seu redor. Máquinas se formavam, registros de viagens anteriores. Spock estendeu uma mão coberta pelo traje espacial, tentando se aproximar e tocar a estrutura, mas ao fazer isso, foi completamente jogada com força para o lado oposto, rodopiando várias vezes até se sentir sendo desmembrada e perdendo os sentidos. 

Jim tinha vindo a seu resgate, enquanto se movia, seu coração se apertava no peito, não tendo ideia do que poderia ter acontecido à esposa, com medo da possibilidade de se tornar viúvo de fato. Ele a segurou em seus braços, também se prendendo à esperança de que ela poderia estar bem.

McCoy e Chapel estavam a postos para atendê-la, e como sempre, o capitão não deixou o lado da esposa em momento algum.

—Spock... - ele murmurou ao ver que ela tinha acordado, aos poucos voltando a ser o que normalmente era.

—Jim... - ela respondeu, sentindo suas forças voltarem lentamente - eu não pude fazer o elo mental, não havia emoções, havia extensões e mais extensões de informação e registro, a criatura é puramente máquina, apenas dados, esse... sentimento puro e simples...

O marido segurou sua mão e ela não se opôs, se agarrando a ele buscando conforto. 

—Entendo - ele sorriu, compreendendo tudo, lidavam com algo que não podia compreender o que era ser humano.

—Eu compreendo há muito tempo, mas V'Ger, seria incapaz de compreender - concluiu Spock e Jim apenas assentiu.

Nesse momento, só havia algo a se fazer, ir direto até a fonte da sonda e encará-la de frente. Spock, Kirk e McCoy se uniram em mais uma missão em suas vidas, dispostos a salvar a Terra da máquina que não podia os compreender.

A aparência da criatura era no mínimo fascinante e totalmente intrigante, o que Spock tinha falado sobre a aparência do planeta era bem mais impressionante de perto. Pela curiosidade e vontade de solucionar o mistério, a equipe de descida se aproximou do que a sonda, usando o corpo de Ilya, identificou como V-Ger. 

Entendendo do que se tratava, Decker se pôs na condição do Criador. Não havia muito que Kirk, Spock e McCoy pudessem fazer, apenas aceitar que seu colega oficial estava no cumprimento do seu dever e, seguindo a escolha que tinha feito, ficaria com o que tinha sobrado de sua amada para sempre. Com o sentimento de fascinação pelo que tinha acontecido, a Enterprise zarpou de volta às suas missões.