Até que fossem convocados novamente, os Kirk se acomodaram em um pequeno apartamento localizado estrategicamente próximo à Academia. Era um lugar modesto, porém escolhido a dedo por Jim e Spock, pensando no bem estar de Amanda, mas também imaginando que em breve o lugar poderia ser desocupado, caso eles voltassem às estrelas.

Dando uma olhada geral no local, tudo parecia em ordem. Até Amanda observar o local todo com um olhar estranho, ainda mais estranho que os dos seus pais. Spock tinha uma dedução do porque isso estava acontecendo, mas Jim fez questão de perguntar para entender o que se passava na mente da filha.

—Qual o problema, princesa? – ele se abaixou na altura dela, a achando ainda mais parecida com sua mãe quando a olhou de perto.

—Barulho, aqui não faz barulho, outros, cadê os outros? – ela questionou, sentindo falta de todo o resto da tripulação.

—Bom, é que nós não estamos mais numa nave estelar, aqui é nossa casa agora... – Jim explicou com paciência e ternura.

—Casa aqui... – Amanda refletiu – diferente...

—Eu sei, bem diferente, mas nós estamos juntos aqui, vai dar tudo certo – ele beijou a bochecha da filha cheia de alegria e otimismo.

Nos dias seguintes, tanto Spock como Jim foram convocados para uma cerimônia solene. Pensavam ser apenas uma homenagem à valente e famosa tripulação da Enterprise, mas a festividade reservava algumas surpresas para eles.

O Almirante April se encontrava no centro do evento como porta-voz e, para a alegria dos Kirk, sua velha tripulação sênior estava bem ali por perto.

—Como está sendo voltar? Ainda mais com a pequena? – McCoy perguntou ao casal.

—Demasiadamente saudosista – Spock opinou.

—Ora, Spock, não era isso que eu esperava ouvir... – o médico reclamou em sua velha forma – o que bulhufas isso significa?

—Que a readaptação é complicada devido ao nosso longo tempo em serviço no espaço – reformulou a comandante.

—Saudade, simplesmente tenho saudade – Jim deu de ombros – eu confesso, sou um viciado em ser capitão, mas ter um tempo em família ser tantas responsabilidades é ótimo. A Amanda adorou visitar a Baía um dia desses.

—Foi revigorante e esclarecedor, me atualizar sobre a cultura humana – Spock comentou.

—Imagino – disse Leonard, pensando sobre como ela podia reagir a tudo de forma curiosa e esnobe ao mesmo tempo.

A conversa então foi interrompida pelo anúncio do início do evento. Chekov, Sulu, Scott e Uhura se acomodaram ao lado dos três para ouvir o que o Almirante April tinha a dizer.

—Por seus esforços dotados de honra e bravura, por seu trabalho excepcional no comando da Nave da Frota Estelar Enterprise, nomeio nesse momento, o então Capitão James T. Kirk como Almirante.

A honraria deixou Jim surpreso, mas não menos honrado. Era realmente motivo de orgulho receber uma nomeação assim, no entanto, ele sabia que não era o único responsável por isso, não chegaria a essa posição se não fosse por sua tripulação, ou até mesmo seus métodos controversos como capitão.

Spock assentiu ao seu lado, com um brilho discreto no olhar que certamente significava orgulho do marido. James então sorriu para ela de volta e se levantou para ser condecorado como almirante. April chegou a apertar sua mão depois de colocar a insígnia da patente em seu uniforme.

—Há mais um oficial que será condecorado hoje, por sua bravura, lealdade e constante conhecimento e sensatez, nomeio nesse momento a Comandante Spock como Capitã.

James começou as palmas que se seguiram, chegando a ser o único a notar as sobrancelhas dela se franzindo levemente. Era um resquício de surpresa, mas que logo depois se tornou uma expressão de certeza. Ele quase podia ouvi-la dizendo "me parece uma escolha lógica da Frota Estelar", mas mais no fundo do coração de sua esposa, ele sabia que ela estava emotiva ao relacionar seus frutos do serviço prestado com a jovem insegura que foi antes. 

Com muita nobreza e responsabilidade, Spock tomou seu lugar de honra, indo à frente e sendo condecorada com a insígnia de capitã. Por um breve momento, viu em sua mente a imagem de estar sentada na cadeira do capitão, numa posição altamente prestigiosa. Era um sinal de que estava no caminho certo e que realmente tinha encontrado seu lugar na Frota Estelar, o que a fazia ponderar pensamentos parecidos com o do marido.

Era claro como James Kirk se sentia em casa e à vontade na Enterprise e deixar a nave foi doloroso para eles, porém mais compreensivo para Spock. Agora, seu novo posto a manteria numa nave por outros cinco anos, o que a fazia se dar conta de que sim, embora em menor nível que Jim, sentia-se no seu lugar devido em uma nave estelar.

Era muito que ponderar logo depois de ser promovida, mas esses pensamentos voltariam a rondar sua mente em breve.

Antes de serem convocados para assumir seus novos cargos, uma surpresa tomou conta da família Kirk, a chegada de um segundo filho. Não havia mais nervosismos ou receios em Spock quando ela decidiu contar ao marido o que estava havendo.

—Nós teremos um segundo filho em breve - ela disse diretamente a Jim, sem a presença de Amanda, pretendo que os dois juntos contassem a ela - e esse fato me fez ponderar sobre algumas questões.

—Bom, ter outro filho me deixa muito feliz, antes de qualquer coisa - ele fez questão de dizer, esboçando um grande sorriso enquanto segurava as mãos dela.

—Eu aprecio sua alegria - ela comentou antes de prosseguir - eu decidi ficar aqui e não assumir meu posto, afinal, seu trabalho também seria na Terra, eu não gostaria de separar a família, muito menos submeter nosso segundo filho à uma vida no espaço, por mais que nós dois passamos por isso antes.

—E Amanda, morar numa nave espacial pode ser uma aventura e tanto, mas um tanto radical pra Mandy - Jim respondeu, compreendendo - ela sentiu a diferença de um lugar para o outro. Mas tem certeza de que é isso que você quer, meu amor?

—Eu voltarei a servir a Frota, Jim, mas não é isso que eu sinto que é requerido de mim no momento, há um propósito maior com a minha família e é isso que cumprirei agora - Spock disse com firmeza.

—Está bem, eu estarei aqui por todo processo outra vez - ele assegurou.

—Sei disso e agradeço - ela assentiu, segurando as mãos dele dessa vez.

Fosse onde estivessem, sempre teriam um ao outro.