Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 42
Futuro - Pistas




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Severo entrou na ala hospitalar a passos largos, mal conseguindo acreditar que já se passava do meio da manhã de sábado, fazia muito tempo que ele não dormia por tanto tempo e tão bem, ele se sentia verdadeiramente descansado, certamente Noah não poderia dizer o mesmo, Severo sorriu com aquela comprovação, talvez o checar, não fosse mesmo uma má ideia, por puro divertimento é claro, mas não, ele não faria, não valia a pena perder mais do seu tempo com aquilo, afinal ele não se importava.

—Bom dia Severo - Pomfrey disse parecendo muito mais animada e disposta naquele novo dia também, a cama de Shara ele notou estava vazia e perfeitamente arrumada, e antes que ele pudesse questionar a razão daquilo Poppy se antecipou com as respostas – está lá nos fundos - ela apontou com a cabeça - arrumando minha dispensa de medicamentos - ele franziu a testa com aquela situação inesperada.

—Vejo que tenha se antecipado a mim e aplicado uma detenção à criança aqui - ele disse não familiarizado com esse tipo de comportamento.

—Longe de mim - ela disse sorrindo - mas confesso, aquilo estava mesmo uma bagunça, e ela me pediu algo para fazer, estava entediada - Pomfrey deu de ombros - de qualquer forma achei que não faria mal um pouco de ocupação - ela respondeu com a feição mais pesada.

—Que criança gostaria desse tipo de ocupação? - ele perguntou intrigado, de fato aquilo mais se parecia com uma detenção do que com qualquer tipo de entretenimento infantil.

—Dentre todos os alunos que já passaram por aqui, de fato ela tem sido a primeira, mas ela está se divertindo - Pomfrey informou - ela é mesmo diferente Severo - sim ele sabia disso, ele sabia muito bem disso - a propósito - ela disse mais baixo - o diretor esteve aqui ontem à noite, você deveria tê-lo informado, você disse que faria - ela disse soando um pouco mais brava com ele agora.

—Haviam coisas mais importantes para resolver antes disso e que não podiam ser adiadas - Severo disse de forma fria - mas estou ciente, digamos apenas que ele tenha me alertado sobre sua insatisfação com a falta de informações - ele mencionou, não querendo dar maiores detalhes.

—Peço desculpas se fui a responsável por isso - ela parecia mesmo arrependida - eu não pude evitar, eu não estava bem, e bem você o conhece - ela tentou justificar.

—Não me importo com o que ele pensa - ele disse e era verdadeiro ao mesmo tempo em que era libertador não viver nas sombras das expectativas do diretor, Severo caminhou até o final do grande salão, cruzando o escritório de Pomfrey, onde os remédios ficavam armazenados e em segurança e ela o acompanhou, ele notou a criança abaixada organizando as últimas prateleiras - um elfo poderia ser bastante útil aqui, você sabe - ele informou.

—Oras não pense que não posso fazer isso sozinha - ela disse irritada - apenas tenho estado bastante ocupada nesses últimos meses - ela suspirou cansada.

—E não pense que não sei que pediu um ajudante ao diretor - Severo disse a encarando.

—Mas é claro que aquele velho se daria ao trabalho de te contar sobre isso, mas não iria mover uma pena sequer para encontrar alguém adequado para mim - ela disse aborrecida, Shara não parecia ter notado a presença deles ali, até que Pomfrey se aproximou.

—Eu tive o cuidado de colocar os recipientes mais altos na parte de trás, acho que pode facilitar na hora de procurar algo às pressas - Shara disse tentando explicar o método de organização.

—Oh querida muito bem observado - ela disse de forma afetuosa.

—Talvez - ele disse chamando a atenção da criança que se virou instantaneamente em sua direção - seria adequado mencionar, que acionamos as medicações com magia ao invés de as procurarmos quando estamos com pressa - ele informou, sinalizando com a varinha, a lembrando de que eles eram bruxos, Shara ruborizou, erguendo uma sobrancelha e buscando a confirmação daquilo com Pomfrey que em contrapartida o encarou irritada.

—Na verdade, está errado professor - Pomfrey devolveu - medicações como essas são bastante voláteis você sabe, e não seria prudente acioná-las com magia - ela o encarou vitoriosa - achei que soubesse disso, já que é um mestre de poções tão renomado - ela o provocou, mas ela estava certa, completamente certa, Shara sorriu com aquilo.

—Menos 10 pontos para a Sonserina - Shara disse de forma divertida, garota petulante, normalmente aquele tipo de comentário vindo de um aluno atrevido o teria irritado profundamente e seria motivo suficiente para alguma advertência, mas vê-la tão relaxada e sorrindo depois daqueles últimos dias, era como um bálsamo, obviamente que ela não precisava saber disso, ele se manteve sério, já Pomfrey não, ela estava gargalhando.

—Por Merlin Severo - ela o olhou - apenas pense pelo lado bom, em alguns anos teremos uma substituta à altura para o seu cargo, o cargo de diretora da casa Sonserina já que descontar pontos é uma das premissas e isso não me parece ser um problema aqui - Pomfrey disse piscando para ela de forma descontraída, Severo observou a criança por um momento, ele nunca parou para pensar em como as coisas seriam no futuro, e não ele não estava pensando sobre profissões ou algo assim, ele não iria tão longe, mas em como as coisas seriam no próximo verão, ele não poderia deixá-la voltar para aquele lugar hostil, não nas mesmas condições que antes, embora ele soubesse que não poderia interferir, aqueles pensamentos devem tê-lo deixado mais sério e carregado do que ele estava quando chegou já que a criança parecia bastante preocupada agora.

—Me desculpe professor - ela disse completamente sem graça se levantando de onde estava - eu não deveria ter dito isso.

—Precisará melhorar – ele a encarou - pois Sonserinos, beneficiam Sonserinos e não o contrário - ele disse, voltando os olhos para a medi bruxa e passando por cima de qualquer comentário ácido que normalmente ele faria numa ocasião como aquela – de qualquer forma não me parece uma ideia tão ruim - ele sorriu com o canto da boca – afinal se eu tiver que resgata-la todas as vezes em que se envolver em problemas, nesse ritmo, certamente iremos precisar de um substituto antes mesmo da sua formatura – ela o olhou tentando entender se ele falava sério ali – pois tenho certeza de que não duro até lá - ele disse tentando soar mais leve, aparentemente surtindo o efeito desejado.

—Bem, se não é para isso que serve aquela moeda... - ela o olhou procurando confirmação naquilo - para que serve então? – e então ela sorriu novamente de forma mais singela, ela estava certa sobre isso também.

—Dizer que me arrependo, não deve contar? - ele a provocou – agora Epson, termine de organizar as suas coisas e me espere lá fora, preciso acertar alguns detalhes com Pomfrey já que você será liberada na sequência - ele orientou, afinal era isso que ele havia vindo fazer ali essa manhã, ela ganharia alta - Pomfrey o encarou desconfortável, ele sabia o que ela pensava sobre aquilo e Shara obedeceu prontamente, pedindo licença e os deixando a sós, ele lançou um feitiço de privacidade, para não correr o risco de tê-la bisbilhotando qualquer coisa que eles discutissem sobre ela ali.

—Tem certeza Severo? Eu ainda posso inventar alguma coisa e deixar ela sob a minha supervisão pelo menos por mais uma semana, foi tudo tão recente, faz apenas um dia, sinto que estou fazendo algo errado, simplesmente dispensando ela assim depois de tudo que aconteceu ontem - Poppy estava preocupada, e ele podia entender aquilo, mas não havia mais nenhuma razão para prendê-la por mais tempo naquele lugar, ela já havia se ausentado por tempo suficiente das aulas e de qualquer forma ele estaria monitorando, dessa vez bem de perto.

—Sim, eu estarei monitorando - ele informou - de perto - ele incluiu para tentar tranquilizá-la.

—Você precisa me prometer Severo de que estará atento a qualquer sinal e que você não vai lidar com isso sozinho, que vai me avisar – ela pediu – prometa!

—Se é isso que você precisa para se sentir em paz, tem minha palavra - ele disse gesticulando com as mãos – isso ajuda? - ele pediu segurando a vontade de revirar os olhos.

—Por hora sim, eu sei que ela estará bem assistida,  eu sei acredite, e bem agora tem esse negócio da moeda e isso foi muito, mas muito sensível da sua parte Severo - ela disse parecendo emotiva, coisa que ele detestava, então ele fingiu não notar - aliás não pense você que eu não tenha suspeitas de onde você esteve ontem à noite - ela o encarou mudando de assunto – no seu caso, acredito que faria o mesmo, apenas me diga que não os matou? - ela pediu, ele sorriu com ironia.

—Não os matei - ele disse conforme ela havia pedido, notando que ela parecia um pouco mais aliviada – ainda – ele completou apenas para vê-la lançar um olhar de repreensão.

Ambos ouviram um barulho e vozes altas vindo do grande salão da ala hospitalar, Pomfrey tomou a frente e Severo a seguiu, Shara estava sentada na poltrona do lado da cama onde ela havia ficado naqueles últimos dias, aparentemente esperando por ele ali, já no meio do corredor estava Filch o zelador, parado, esperando e resmungando algo, enquanto segurava um jovem rapaz pelo colarinho, rapaz que Severo reconheceu prontamente, Antony, mas o que diabos ele estaria fazendo ali dentro do castelo?

—O que significa isso? - Pomfrey perguntou irritada, ela detestava esse tipo de abordagem.

—Desculpem interrompe-los – Filch pediu - mas desde que interditamos o acesso ao lago Negro a algumas semanas atrás o diretor me pediu para monitorar a parte externa com mais atenção nos finais de semana, e então eu o encontrei, zanzando perto da entrada do castelo - Filch disse empurrando Antony para a frente com certa estupidez, Antony encarou o zelador irritado - ele tentou se esquivar é claro, mas não teve muito sucesso - Filch sorriu – pensei em usar o calabouço, mas como ele não é aluno da escola, infelizmente não tenho permissão para isso – ele parecia chateado ao dizer aquilo – de qualquer forma professor Snape, ele disse que o conhecia e eu gostaria de me certificar que essa informação procede? - o zelador disse entre os dentes, Severo encarou aquela maldita ave em sua versão humana, tentando entender o porquê ele estaria chamando a atenção para si daquela maneira.

—Eu faço - Severo disse aborrecido por ter que admitir aquilo, embora o fato de conhece-lo não significasse muita coisa, já que o seu desejo mais singelo naquele momento era dizer para o Filch continuar com os planos do calabouço, já que ele não se importaria, mas ele não fez, embora fosse evidente o quanto ele estava contrariado com o fato de ter sua presença ali naquele lugar daquela forma.

—Eu disse - Antony disse satisfeito, enquanto cruzava os braços encarando Filch com deboche - Olá Snape – Antony cumprimentou zombando – um prazer revê-lo, depois de TANTO tempo – ele disse enfatizando aquela palavra e com uma certa ironia e Severo teve vontade de azara-lo simplesmente pelo seu atrevimento, Antony sabia muito bem de que não deveria estar ali naquele local, maldito pássaro, Shara ele notou estava acompanhando tudo de onde estava, bastante curiosa, ele suspirou já que nada de bom poderia vir daquilo.

—Uma pena - Filch disse insatisfeito, enquanto se virava, saindo da ala hospitalar e deixando Antony lá, como se fosse sua responsabilidade.

—Sim uma pena - Snape concordou encarando o pássaro, enquanto notava Antony observar o lugar de forma curiosa, obviamente ele nunca havia entrado ali antes, ou em parte alguma do castelo, embora Severo já tenha visto ele espiar pela janela inúmeras outras vezes, inclusive naqueles últimos dias, Severo notou o exato instante em que ele parou seus olhos em cima da garota, na mesma fração de tempo em que ela também lhe direcionava o olhar, os olhos deles se encontraram ali, e os olhos dele estavam brilhando agora com aquela pequena interação, ele parecia emocionado em vê-la ali tão de perto, Severo sabia que ele se importava com ela, sim já que ele estava amarrado a criança, através de uma maldição milenar, mas não só isso ele se importava.

—Olá - ele disse levantando a mão e a cumprimentando com a voz um tanto quanto embargada, Severo implorou mentalmente para que ele não desabasse ali, já que agindo assim ele não parecia emocionalmente estável e capaz de se controlar, e isso seria um desastre completo.

—Olá - ela respondeu o encarando de uma forma diferente também, Antony parecia chocado agora.

—Você… você… me escuta? - Antony perguntou, arregalando os olhos com surpresa, Severo entendeu aquilo, como Antony havia sido enfeitiçado por Maeva, aquele feitiço o impedia de falar com a criança, isso enquanto ele estava sob as características fisiológicas de um pássaro, mas agora em sua versão humana, alguma coisa podia ter mudado em sua genética, ou algo assim e sendo aquela uma versão completamente desconhecida por Maeva, ele estava isento de qualquer tipo de encantamento lançado por ela, sim agora ele podia falar a criança livremente e Severo não sabia dizer se isso era de fato algo bom  - você realmente pode me ouvir? – ele parecia não estar acreditando naquilo e Severo notou Shara se levantar se aproximando dele, ela parecia confusa, não por menos já que não havia nenhuma discrição por parte dele com aquelas perguntas completamente sem sentido, quem não estranharia?

—Sim... - ela disse quase que sussurrando – a sua voz, as vezes eu acho que posso ouvi-la na minha mente – ela parecia hipnotizada - nós nos conhecemos? – ela pediu e Severo estava em choque, ele não podia acreditar, como isso podia ser possível? ela era apenas um bebe naquela época, ela não tinha nem dois anos completos, como ela poderia ter lembranças tão vivas da voz de alguém daquela forma? Antony agora o encarava pedindo algum tipo de ajuda ali, maldito pássaro era evidente que ele também não havia previsto algo assim e Severo podia mata-lo, sim ele podia, já que ele mesmo tinha causado toda aquela situação deverás complicada e completamente desnecessária, Severo sabia que deveria tirá-lo dali o quanto antes, antes que aquilo pudesse agravar e não houvesse mais como reverter o estrago causado por ele.

—Srta. Epson - ele os interrompeu - peço que aguarde, volto em instantes, preciso resolver um problema - ele disse enquanto fuzilava Antony com o olhar e o puxava pelo braço corredor a fora.

—Espere - Shara pediu, com os olhos fixos nele – eu te conheço, não conheço? – ela insistiu.

—Querida - Pomfrey interferiu, colocando as mãos sobre os ombros da criança – vamos deixar que o professor Snape resolva essa questão primeiro, e depois vocês podem conversar - Poppy tentou ajuda-lo naquele ponto, até ela parecia entender a gravidade do que estava acontecendo ali, mas Shara a ignorou, obviamente.

—Quem é você? - ela perguntou se aproximando um pouco mais dele, Severo sentiu que as coisas estavam começando a fugir do seu controle, ele precisava agir rápido.

—Epson, se controle – ele a encarou - é evidente que esteja fazendo algum tipo de confusão aqui – Severo disse mais sério, tentando pará-la, ao mesmo tempo em que tentava arrastar Antony para fora da ala hospitalar de forma brusca, mas ela não estava convencida, de modo óbvio ela não se deixava persuadir tão facilmente, ela se desvencilhou de Pomfrey, ficando à frente dos dois e entre a porta – O que pensa que está fazendo Epson? Saia do caminho agora – ele ordenou bravo, notando que haviam algumas lagrimas descendo pelo rosto da criança, ela estava fazendo algum tipo de ligação mental ali, e definitivamente isso não era bom.

—Olhe para mim – Shara pediu com cautela, já que Antony parecia querer se esquivar de encara-la dessa vez – eu já vi esse olhar, eu sei que sim, apenas está diferente agora e a sua voz, eu a escuto... – ela parecia confusa, por Merlin como ela poderia ligar aqueles pontos, definitivamente ela não era uma criança normal.

—Escute – Antony disse - o professor Snape tem razão, nós não nos conhecemos, talvez você esteja mesmo me confundindo com outra pessoa – ele tentou, soando tão convincente e verdadeiro como uma nota de 3 galeões, Pomfrey parecia apreensiva e Shara fechou os olhos, enquanto outras lagrimas desciam.

—Ouça – ela disse – existe algo na minha cabeça, uma música, eu não sei... apenas ouça, por favor – ela pediu - se depois disso você me disser que nunca ouviu ela antes, e que não sabe o que ela significa eu juro, eu prometo que eu vou deixá-lo em paz – Shara disse olhando para ele, quase suplicando por aquilo.

—Canção? - Antony perguntou, ele estava nervoso, mas assentiu, sem muita opção, se fosse em outra ocasião Severo certamente estaria gritando com a criança agora e aplicando algum tipo de detenção para aquela falta de respeito com perda de pontos para a sua casa, mas a forma como ela havia dito aquilo, existia algo a mais ali, e quando ele achava que conhecia tudo, sempre havia algo a mais, ele não se moveu e ela o agradeceu com o olhar.

—Certo... eu apenas não sei de onde isso está vindo certo? definitivamente não posso explicar... - Shara disse ao perceber a abertura ali - como a maioria das coisas que acontecem comigo é claro - ela soava triste - por favor só ouça - ela pediu pela última vez, enquanto fechava os olhos novamente, tentando se concentrar em alguma coisa, talvez alguma lembrança especifica, Severo também não poderia entender aquilo, até que surpreendente ela começou a cantar.

Há um rio cheio de memória

Durma, minha querida, sã e salva

Pois neste rio tudo é encontrado

Tudo é encontrado

Quando tudo está perdido, tudo é encontrado

Nas suas águas, profundas e verdadeiras

Encontre as respostas e um caminho para você

Mergulhe profundamente em seu som

A melodia da canção era incrivelmente bonita, mas o que chamou mesmo sua atenção era a voz da garota, ela tinha comentado em uma certa ocasião que havia participado de alguma espécie de competição musical trouxa, onde ela havia ganho em primeiro lugar e que havia um troféu numa estante naquela sua escola trouxa, sim agora ele conseguia entender isso, já que ele nunca havia ouvido uma voz semelhante a aquela, não daquela forma, ela cantava como um anjo, ela continuou.

Sim, ela vai cantar para quem vai ouvir

E na música dela, toda a magia flui

Mas você pode enfrentar o que mais teme?

Você pode enfrentar o que o rio sabe?

Até que o rio finalmente cruzou

Você nunca vai sentir, o chão sólido

Você tem que se perder um pouco

No seu caminho para ser encontrado

Onde o vento norte encontra o mar

Há uma mãe cheia de memória

Venha, minha querida, de volta para casa

Onde tudo está perdido, então tudo é encontrado

Tudo é encontrado

Então ele se deu conta do conteúdo, da letra que aquela canção trazia, não era uma música qualquer, havia uma nítida relação com a lenda e com o passado dela, ela não tinha como simplesmente imaginar aquilo ou inventar algo assim, de onde aquilo havia surgido? De qualquer forma aquilo se parecia com alguma espécie de pista, na verdade sim aquilo era uma pista, Antony havia congelado, sim ele conhecia a música o que tornava tudo ainda mais intrigante e difícil, nem Severo conseguiu ler o que podia se passar agora, Antony parecia lutar com algo ali, Shara abriu os olhos, limpando as lágrimas com as mangas de suas vestes, como fez tantas outras vezes na sua presença, esperando que Antony dissesse alguma coisa agora, algo relacionado a música.

—Desculpe – Antony pediu, ele não estava agindo de forma natural ali, Severo nunca tinha visto ele ter qualquer reação parecida com aquela antes, alguma coisa havia acontecido e aquela reação o denunciava – eu nunca ouvi essa canção antes, e não sei do que se trata, honestamente eu sinto muito – ele disse por fim, sim ele estava mentindo, então ele saiu da ala hospitalar, Shara cumprindo com o prometido não interferiu mais, ela recuou derrotada.

—Me desculpe por isso professor - ela disse o olhando constrangida - eu não sei o que deu em mim – ela voltou até a cadeira se sentando e se encolhendo ali.

—Epson – Severo disse – fique pronta, volto em alguns instantes – ele saiu, enquanto tentava alcançar aquela ave estúpida, completamente estupida, Severo o alcançou alguns corredores a frente, o empurrando contra a parede com força.

—O que pensa que está fazendo sua ave estúpida? – Severo perguntou o encurralando ali, Antony parecia bastante comovido, mas Severo não iria se deixar impressionar com seja lá o que fosse que tivesse acontecido ali – onde estava com a maldita cabeça quando achou que poderia entrar no castelo assim?

—Bom, tudo isso poderia ter sido evitado se houvesse um pouco de consideração da sua parte em me trazer alguma notícia sobre ela – Antony disse chateado, devolvendo um olhar inquisidor.

—Não comece com cobranças pássaro inútil – Severo grunhiu – talvez seja interessante lembra-lo mais uma vez de que eu não devo nenhuma notícia, sobre nada do que acontece aqui para ninguém, quem dirá para você.

—Eu não sou um pássaro – ele disse bastante irritado – pare de me chamar assim e dá por favor para me soltar? – ele pediu, Severo o estava pressionando contra a parede, e então o soltou com força - Ela quase morreu, eu vi... no seu colo aquele dia na floresta – Antony lembrou – acha que eu não esperaria algo, apenas um recado, um bilhete teria servido Snape.

—Penso que tenha expectativas muito altas ao meu respeito Antony – Severo devolveu - e sem falar que com essa sua atitude completamente tola e inconsequente, você quase conseguiu estragar tudo que Maeva fez, e pelo que ela morreu, por um único momento, você se deu conta disso? – ele perguntou ainda mais irritado - pensando bem me parece bastante plausível agora, os motivos pelos quais ela tenha te enfeitiçado daquela maneira, já que sensatez não é bem o seu forte – ele cuspiu um pouco mais alto.

—Eu não esperava por isso – ele disse recuando a discussão – como eu poderia esperar algo assim? – ele disse perturbado.

—Mas é claro que não esperava, sabe para alguém com tantos anos nas costas como você, suas atitudes me lembram e se assemelham a de um garoto tolo de 15 anos de idade – ele acusou.

—Não que as suas sejam muito diferentes é claro– ele provocou, Severo o segurou pela gola da roupa, ameaçando empurra-lo contra a parede outra vez.

—Algum problema aqui senhores? – Minerva disse cruzando o corredor, lançando um olhar de reprovação contra ele e um curioso sobre o seu infeliz convidado – por acaso eu te conheço? – ela perguntou, Antony gesticulou negativamente com a cabeça, talvez com medo de falar algo, e que sua voz pudesse ser reconhecida por ela também, já que Minerva tinha uma relação próxima de amizade com Maeva no passado.

—Ele já estava de saída – Severo interveio o encarando, sabendo que eles não deveriam ter começado aquilo, não no corredor.

—Caso resolvam continuar essa conversa, sugiro que usem um lugar mais reservado, longe dos olhares curiosos dos alunos – ela disse mais para ele obviamente – já que devemos liderar pelo exemplo e um comportamento assim não é algo que permitimos aqui – ela concluiu virando as costas para eles e saindo.

—Eu tinha me esquecido de como ela era mandona – Antony disse, enquanto Severo o fuzilava com o olhar, caminhando alguns metros a sua frente e abrindo a porta de uma sala de aula vazia e gesticulando sem paciência para que ele entrasse logo de uma vez.

—O que você quer vindo até mim dessa forma? – Severo perguntou ainda irritado indo direto ao ponto.

—Bom teoricamente eu não fui até você, eu fui pego, você ouviu o que ele disse, aquele maluco, então encontra-lo não era exatamente algo que eu tenha planejado – Antony disse cruzando os braços, Severo o encarou, rindo com ironia.

—É claro, estou sem tempo AVE, então não perca seu tempo, tentando me convencer com suas mentiras, afinal qualquer um foge daquele mosca morta do Filch, você planejou isso Antony, vamos diga de uma vez por todas – Severo disse irritado.

—Sem tempo, mas hoje é sábado? Sua folga não? – Antony o provocou, parecendo querer ganhar tempo, o que o deixava ainda mais bravo.

—Estou sem tempo para VOCÊ – ele não estava para brincadeiras.

—Ok – ele disse por fim – vim atrás de notícias – ele disse – como eu disse você não me trouxe nada...

—Eu não vou repetir outra vez Antony – ele o interrompeu bufando – não tente mentir para mim, ou se acha pequeno demais para não ser notado na janela, você a estava monitorando praticamente todos os dias, agora diga, falo sério quando digo que seu tempo está acabando AVE – ele disse o provocando, Antony se recompôs sem graça.

—Certo, você foi até aquele lugar onde Shara morava ontem à noite, não foi? – Antony perguntou – eu vi você sair às pressas do castelo e depois voltar com aquelas roupas de comensal – Severo o encarou por um momento antes de responder, será que ele era realmente tão previsível assim?

—Não é da sua conta – Severo disse de forma rude – última tentativa ou você está fora.

—Ok, ok, ok... – Antony o olhou – preciso de um lugar para dormir – Aquilo pegou Severo de surpresa, aquele pássaro havia entrado no castelo, o procurado daquela maneira, quase causado uma tragédia, para isso?

—Por que? Por acaso estão faltando arvores confortáveis naquela floresta? – Severo pediu com sarcasmo, o encarando enquanto virava as costas para sair, ele não iria perder seu tempo com algo tão estupido.

—Espere, é sério, tá ok? – Antony o chamou – eu estou ficando com dor nas costas, já que não quero ficar no corpo, digo sendo um pássaro o tempo todo, e sem falar que a estação está mudando e está começando a esfriar lá fora, Maeva e as outras guardiãs cuidavam de mim nesse sentido – ele o olhou – eu posso pegar um resfriado ou coisa assim – ele disse mais baixo.

—Você veio até mim para me dizer isso? – Severo cuspiu irritado – entrou na ala hospitalar sabendo que a Shara estaria lá, se arriscou, para isso? – Severo não podia acreditar.

—Bom, você era o único que eu conhecia, e sem falar que Shara deveria ser responsável por isso, eu sei, eu sei... não tem como, ela não sabe e não deve saber – ele tagarelava demais para o seu gosto e Severo sentiu uma dor de cabeça se aproximando – mas você é o pai dela, e enfim teoricamente isso o torna responsável – Antony engoliu seco - por mim, no caso, por cuidar de mim – ele concluiu forçando um sorriso amarelo, Severo gargalhou alto, fazia tempo que ninguém falava algo tão engraçado assim, Antony continuava ali sem se mover o encarando e esperando por algo da parte dele, não ele não podia estar mesmo falando sério ali, estava? Severo ficou sério, sim ele estava.

—Definitivamente não – ele disse irritado – agora fora – ele sinalizou com os olhos para que ele saísse da sala.

—Você...  o que? como você pode? Você é horrível, sabia. – Antony disse o acusando.

—Sim, é o que costumam dizer, FORA! – Severo aumentou a voz, enquanto segurava a porta agora semiaberta, esperando que ele saísse, ele o encarou se movendo.

—Shara, bem de alguma forma que eu não posso explicar, ela consegue acessar as memórias de Medusa – Antony disse, enquanto caminhava até a porta, mudando o rumo daquilo que eles tinham começado ali.

—O que disse? – Severo perguntou intrigado com aquela informação e fechando a porta outra vez, porém com bastante força agora, demonstração insatisfação, Antony sorriu satisfeito, maldito pássaro, ele pensou, agora ele o estava manipulando era evidente.

—A música – Antony disse – você ouviu não ouviu?

—Direto ao ponto – Severo pediu sem rodeios.

—Pois bem, acontece que aquela música, ela não é simplesmente uma cantiga de ninar ou algo assim, embora pela melodia e letra é o que possa parecer – Antony informou – aquela música, ela era cantada por Medusa para a sua filha, quase todas as noites, era... irritante confesso, assim como aquela criança, eu havia me esquecido completamente disso, já que faz muito, mas muito tempo você sabe, aquela melodia e a canção ela se perdeu no tempo, e bem Shara, ela não teria simplesmente como saber disso, isso seria loucura e isso me assusta – ele disse parecendo triste ao se lembrar de algo distante, Severo meditou naquilo por um momento.

—Como isso pode ser possível? – ele perguntou quase como para si mesmo – elas possuem o mesmo sangue e isso traria algum tipo de conexão, mas elas estão separadas por séculos de distância, nenhuma magia negra por mais forte que seja, alcançaria e cobriria algo assim.

—Talvez algum tipo de conexão mental? – Antony tentou – eu nunca presenciei nada assim em todos esses anos em que eu as acompanho a linhagem da família, Shara é diferente em muitos sentidos e cada vez mais eu tenho a certeza de que ela é mesmo predestinada a quebrar a maldição – ele disse confiante – Snape, existe mais alguma coisa estranha, algo nesse sentido que você tenha notado nela? – ele perguntou, sim haviam as visões, então aquelas visões na verdade eram fragmentos de lembranças ou memórias da própria Medusa? Aquilo era loucura, mas o que não era loucura ultimamente, era até mesmo difícil dizer.

—Tem algo – Severo disse admitindo – visões – Antony o encarou curioso, esperando que ele evoluísse aquilo - ela tem visões, esporadicamente, mas ela faz, duas até onde tive conhecimento, não sabemos o que as destrava, mas de alguma maneira algo as destrava – ele parou para pensar sobre aquilo, ele já havia feito isso outras vezes, era difícil de mensurar, mas ele tinha uma suspeita – na primeira vez, Shara deduziu por conta própria que a visão havia ocorrido devido ao fato dela ter encostado em um determinado elemento, a agua no caso, o que faria bastante sentido até, dado as circunstâncias e a sua história, em virtude disso tivemos o acidente no lago e como consequência descobrimos a existência da Hidra – Severo disse se lembrando de como aquilo havia acontecido - já a segunda visão, aconteceu no salão principal, após o diretor ter comunicado sobre a proibição do lago negro e o motivo, e aquilo fez com que descartássemos a hipótese de haver alguma relação com qualquer elemento ou objeto, minha suspeita na época é de que determinada experiência ou sensação experimentada por ela no presente, e que de alguma forma tenha relação com algo do passado, tem potencial de destrava-las, isso parece fazer algum sentido, como foi com a música hoje, onde a sua voz foi sensorialmente, responsável por isso.

—Interessante Snape - Antony disse caminhando pela sala – muito interessante, isso faz todo sentido mesmo, sabe suas suspeitas, tem a ver com as emoções... com sentimentos.

—Isso explica a causa, mas não como e nem o porquê – Severo disse insatisfeito – como ela poderia acessar algo relacionado ao passado de alguém tão distante? – Severo passou as mãos pelo cabelo – existe uma conexão e eu vou descobrir – ele disse por fim.

—Bom talvez ela seja simplesmente predestinada a isso – Antony disse dando de ombros.

—Por mais que você insista e queira acreditar nisso – Severo o encarou – ainda penso existir um ponto, algo que estamos deixando passar aqui – Severo se moveu pela sala - sobre a canção – Severo pontuou – você disse que era uma canção que Medusa costumava cantar para a sua filha, Crisa isso? E você tem alguma ideia de onde essa canção tenha surgido, de onde ela tenha tirado essa letra? – ele perguntou tentando conseguir um pouco mais de informação e lucidez sobre aquilo, quem sabe isso ajudaria.

—Sim – Antony disse chateado – era uma carta, inicialmente, a carta ela estava com o colar, o colar, o mesmo que Shara e as outras guardiãs usaram, o colar de proteção, o presente que Poseidon deixou para a sua filha Crisa e Medusa transformou aquelas palavras em uma canção, lastimável eu sei – Antony cruzou os braços chateado, era evidente o quanto ele não gostava de Poseidon e nem daquela criança que era fruto daquele relacionamento, Severo não podia julgar aquilo, já que o destino havia se encarregado de fazê-lo sofrer de maneira muito semelhante.

—É uma pista – Severo disse pegando Antony de surpresa – Era evidente que Poseidon queria que a maldição fosse quebrada desde os primórdios dela, ele deixou a carta com o colar, existe uma relação entre os dois, talvez ele tenha achado que a sua própria filha seria capaz de desvendar aquilo e quebrar a maldição, o que obviamente não aconteceu.

—Oque? Não... não, aquela criança, você tinha que a conhecer, ela era terrível Snape, terrível... – Antony disse na defensiva – ela era tão parecida com ele – Severo não iria insistir naquilo, nada mudaria afinal, mas sim aquilo era uma pista e ele suspirou, afinal era como um quebra cabeça, e as peças pareciam querer se encaixar de alguma forma.

—Shara estava preocupada com a lenda da primeira vez, sendo surpreendida com a notícia de que um bruxo desconhecido parecia estar atrás de informações sobre ela, e então sua primeira visão foi de uma mulher fazendo um ritual, possivelmente Medusa, talvez ela tenha entendido e tentado algo nesse sentido, já da segunda vez Shara estava constrangida com o comunicado do diretor no grande salão já que aquilo fazia menção a ela e a relacionava ao acidente e com a hidra, e então ela a viu, a hidra fugindo, ela estava em uma floresta, com medo, entrando e sendo engolida pela água do rio, e agora embora isso não seja exatamente uma visão, houve uma associação da sua voz a letra daquela canção, a carta, qual a relação disso tudo? – Severo perguntou cansado – tenho certeza de que existe alguma.

—E eu posso ajuda-lo a descobrir, lembrando que possuo informações de épocas distintas e que talvez possam ser uteis – Severo sabia que sim, a ave, o humano, que seja, infelizmente era sua melhor opção – e bem digamos apenas que tenho interesse nisso tudo, é claro – ele sorriu triste, ele era jovem de aparência, mas Severo não pode deixar de notar, o quão cansado ele estava soando ali, Severo sabia o que ele queria.

—Vou ver o que consigo fazer – Severo disse o encarando, Antony o olhou intrigado – sobre encontrar um lugar para ficar no castelo – ele não podia acreditar que estava mesmo fazendo aquilo pela AVE tagarela e insuportável de Maeva, ela certamente estava caçoando da sua cara agora, onde quer que ela estivesse – mas não posso garantir – ele reforçou – já que não depende de mim.

—Obrigada Snape – Antony disse – eu aprecio isso, honestamente.

—Agora – Snape disse abrindo a porta outra vez e de forma definitiva – fora – ele ordenou - e dessa vez, espere que eu entre em contato, tenho certeza de que você pode entender isso agora – ele disse bravo - ou do contrário terei que concordar com o calabouço – Antony sorriu, saindo sem hesitar e desaparecendo corredor a fora, Severo suspirou ele precisava voltar a ala hospitalar e encarar as perguntas que certamente viriam dali maldito pássaro, maldita Maeva.

—Poppy – Severo chamou assim que cruzou a porta da ala hospitalar, novamente naquela manhã – quais seriam os requisitos para atender a vaga de ajudante que você procura? – ela o encarou curiosa, Shara levantou a cabeça de onde estava, ela parecia estar lendo algo para se ocupar – digamos que tenho um candidato para você – ele disse.

—Se o diretor concordar com isso, diga ao rapaz para começar na segunda-feira – Severo assentiu.


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Notas finais do capítulo

Olá, a todos que acompanham até aqui, esse é um capitulo mais leve, mas ainda assim ele carrega uma certa carga emocional.
O que foi essa canção? Shara cantando me emociona, e ela fazendo a associação... e explico, a musica ela existe, é uma versão de uma canção cantada por Elza no filme Frozen II - deixo o link:
https://www.youtube.com/watch?v=CyDh3_b1j9c&t=121s
Ouvi a musica enquanto escrevia o capitulo e consigo ouvir Shara a cantando (na versão português) a letra se encaixa com a história, tão perfeitamente como uma luva.
Letra em português: https://www.letras.mus.br/frozen/all-is-found/traducao.html

Esse capitulo tem uma pitada de humor também, Shara descontando pontos do Snape e Antony dizendo que Snape era teoricamente responsável por cuidar dele, bom... eu ri desculpe senhor Severo Snape.
E agora teremos Antony, quem sabe, morando no castelo... :)



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