Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 113
Futuro - Somnium


Notas iniciais do capítulo

Um capitulo do contrário, iniciando com uma pitada de leveza e bom humor... e encerramos com um momento de tensão entre os personagens.
Ao som de: The Scientist - Codplay na versão cover de Gabriella
https://youtu.be/s5RQJDoSfxA



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/809277/chapter/113

Shara piscou os olhos algumas vezes, até que sua visão se ajustasse à luz intensa do ambiente... e não apenas isso, mas sua sensibilidade apurada reconheceu instantaneamente o lugar a onde estava, o toque nada macio da cama... a aspereza dos lençóis que a cobriam… assim como seu olfato identificou os distintos cheiros das diversas medicações misturadas... sim, inevitavelmente ela se encontrava mais uma vez naquele local onde parecia passar mais tempo do que a própria sala de aula, a ala hospitalar, algo que talvez nem a incomodasse mais tanto, e pensar que no início daquele ano letivo sua única meta ali era evitar e manter distância daquele lugar o máximo possível.

Ao fundo, algumas vozes ecoavam, mas não tão distantes assim, vozes familiares até... Shara se esforçou, tentando se concentrar naquilo que diziam, mas as palavras pareciam confusas e desconexas... Shara teve a impressão que uma das vozes cantarolava uma melodia qualquer… intrigada, ela abriu os olhos lentamente, se inclinando um pouco mais em sua cama, surpreendendo-se com a cena que se desenrolava à sua frente.

A apenas alguns metros de sua cama, encontrava-se Rony Weasley, ele estava uma completa bagunça, suas vestes estavam em um estado deplorável e ele não estava sozinho... não, ele estava acompanhando alguém, e imediatamente sua atenção se voltou para a maca pela qual ele velava, sim… ali jazia a irmã dele, a sua amiga Gina, deitada e inerte… Gina… o seu coração disparou ao reconhecê-la, mas antes que ela pudesse esboçar qualquer reação sobre aquilo, algo ainda mais estranho captou seu interesse, aquele sentado na maca mais afastada era o professor Lockhart, curiosamente ele também estava sujo até as orelhas, ele balançava as pernas no ar, tal qual uma criança pequena que ainda não podia alcançar o chão, e pasmem ele era o responsável por entoar aquela melodia completamente desarmônica enquanto olhava tudo ao seu redor com uma expressão de admiração exagerada, quase como se estivesse vendo aquele lugar pela primeira vez… nada ali fazia sentido para Shara, o que eles faziam... todos juntos? e por eles estavam naquele estado?

—O que está acontecendo aqui? - Shara perguntou, sua voz saiu um pouco rouca… numa tentativa de se sentar enquanto fazia algumas ligações mentais que lhe trouxessem alguma compressão sobre os fatos... foi quando as memórias daquilo que havia acontecido com ela antes de apagar daquela maneira no banheiro feminino do corredor no segundo andar fluíram como uma avalanche... a dor em sua cicatriz, o feitiço, a moeda, seu pai... aquelas memórias liberaram um sinal de alerta, a lembrando de que havia algo muito mais importante para administrar… afinal se Shara estava ali, era por que ela havia sido atacada por Gina, quer dizer não exatamente pela amiga… mas por aquele que a possuía… então Gina estava com o diário outra vez, mas como? E onde o diário estava agora?... e tinha também a câmara secreta, era real e sim Gina era a responsável por abri-la e sendo assim liberar a besta, o basilisco pelo castelo... Shara precisava alertar alguém, algo precisava ser feito nesse sentido... aquela era a urgência, ela havia prometido não reter mais nenhuma informação... – Gina – ela exclamou o nome da amiga, ao se ajeitar, mas não havia uma boa posição, não quando todo o seu corpo doía, mas aquele movimento fez com que Rony a nota-se e se virasse em sua direção – Rony... Gina... ela está bem? – Shara conseguiu perguntar, verdadeiramente preocupada com a ruiva… havia prioridades ela sabia… mas o fato deles estarem ali e naquelas circunstâncias, lhe dizia que aquilo tinha uma forte relação com as suas novas e urgentes prioridades, e um pouco de informação antes  de qualquer outra coisa, não seria de um todo ruim…

—Ei... vai devagar aí pestinha - Shara ouviu a voz de Antony… ela sequer havia notado, mas o próprio estava sentando do seu lado a velando também… ele se levantou, para ajudá-la a se sentar e isso foi bem vindo.

—Bem... sim – Rony respondeu sua pergunta… olhando dela para a irmã e depois para Antony – Gina está apenas dormindo agora, Madame Pomfrey achou melhor... você sabe… e bem Gina estava mesmo bastante agitada, ela pediu para te dizer que sente muito - Rony deu um sorriso sem graça, voltando sua atenção para a irmã outra vez - a sua magia... ela estava em níveis muito a baixos do normal, pelo menos foi o que Pomfrey disse – ele explicou dando de ombros...

—Na verdade houve um desgaste de magia generalizado - Antony explicou em termos mais coerentes… -  já que as condições pelas quais ela vinha sendo submetida, no caso a magia negra... drenavam toda a sua energia – Shara absorveu aquela informação, isso explicava o seus sumiços, as doenças, o fato dela estar quase sempre desanimada e triste... espera, como ele sabia sobre isso? - a forma mais eficaz de repor… principalmente nessa idade é o repouso absoluto… - Antony finalizou deixando Shara mais aliviada... certo aquilo era sobre o estado de saúde da amiga, mas ainda não explicava nada sobre as razões que os levavam a estarem ali...

—O que aconteceu? – Shara perguntou sem rodeios… - quer dizer, por que Gina está aqui? E por que você está aqui? - Shara reformulou - e por que ele está aqui? - Shara completou olhando para o seu professor de defesa.

—Olá – o professor Lockhart cumprimentou ao perceber que ela o encarava, Shara o observou com alguma cautela – por acaso eu te conheço? – ele perguntou sorridente, sim havia algo de peculiar e anormal nele... Shara encarou Rony outra vez, como quem pedisse alguma ajuda com aquilo e ele retribuiu com um olhar de puro desespero...

—Esse daí… ficou completamente maluco - Rony disse rapidamente, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia e natural do mundo. O professor Lockhart, por sua vez, continuou cantarolando, parecendo não se importar com o comentário que Rony havia feito ao seu respeito... enquanto observava as coisas ao seu redor com um ar de completo deslumbramento...

—Um feitiço de memória mal executado – Antony explicou outra vez  ao se curvar em sua direção – eu particularmente, prefiro ele assim – Antony sussurrou para que apenas Shara ouvisse – tem sido bastante divertido desde então -  ele sorriu, Shara não tinha uma opinião sobre aquilo... bom talvez ela tivesse uma, talvez ela não preferisse ele em versão alguma, afinal suas vivências com aquele professor, haviam sido experiências demasiadamente desagradáveis para que ela pudesse desejar algo além de distância – Pomfrey acha que o quadro dele pode ser irreversível – ele disse e dessa vez estava sério.

—Como pode ver, é magia – ele alegou feliz – esse castelo e tudo mais... isso sim é loucura... - Shara o encarou incrédula, não que ela se importasse de fato com aquilo que aconteceria com ele... mas não deixava de ser chocante um bruxo com todo aquele suposto brilhantismo e prestígio, encerrar sua carreira assim daquela maneira.

—Isso está ficando cada vez mais estranho - ela murmurou confusa, principalmente por que ninguém havia respondido de fato a sua pergunta, enquanto tentava por si só assimilar tanta aleatoriedade, ela estava prestes a repetir a pergunta  quando viu o seu pai adentrar o recinto, ele vinha acompanhado por Madame Pomfrey, ambos caminhavam em silêncio e concordância, embora parecessem submersos cada qual em seus próprios mundos, as vestes negras dele… uma característica notória do temido e assustador mestre de poções eram sempre esvoaçantes, mas especialmente hoje, elas pareciam dançar atrás de si, acompanhando o ritmo acelerado de seus passos… e assim que sua presença foi notada, inevitavelmente todo o ambiente foi tomado por um silêncio constrangedor, Rony se encolheu ao lado da irmã como quem quisesse passar despercebido... o seu olhar embora bastante discreto, foi conduzido primeiramente em sua direção, revelando algo que Shara podia ler, preocupação… essa era uma das muitas maneiras que ele tinha de lhe dizer, sem fazer o uso de palavras o quanto ele se importava com ela e com toda aquela situação e isso bastava para que Shara se sentisse segura e acolhida mesmo sem ter as respostas que tanto procurava. Madame Pomfrey ao perceber que ela não estava mais inconsciente, se aproximou, se posicionando ao seu lado e iniciando uma avaliação, ao lhe lançar alguns feitiços diagnósticos.

—Como está se sentindo, querida? - ela perguntou, examinando-a atentamente...

—Estou um pouco confusa... – ela disse olhando de Lockhart para Gina e de Gina para o seu pai - mas acho que estou bem - respondeu, com honestidade. Enquanto isso, o professor Lockhart, ainda imerso em sua própria estranheza, saltou da maca onde estava e caminhou se posicionando bem à frente do seu pai, que não se moveu, pelo contrário manteve a pose, que podia ser considerada por muitos bastante intimidadora...

— Fascinante – Lockhart exclamou - eu só queria dizer que adorei suas roupas e a maneira como suas vestes se movimentam enquanto você anda, é de fato um bom caimento além de ser bastante elegante também, já o seu cabelo... – ele se aproximou um pouco mais para cheirá-lo, sim contando ninguém acreditaria mas o seu inconveniente professor de defesa das artes das trevas estava nesse exato momento cheirando o cabelo do seu pai, o temível professor de poções, isso na frente de outras pessoas sem sequer se importar em fazê-lo, de fato Rony estava certo e não restavam dúvidas sobre o fato dele ter ficado mesmo maluco... – será que poderia me passar a indicação do seu shampoo? – ele parecia verdadeiramente interessado – sabe, sua aparência, no geral ela me lembra bastante a de um vampiro, e isso é incrível sabia? É claro que vampiros não existem - ele riu de si mesmo - mas gosto dessa sua versão meio gótica… - disse mostrando os dentes num sorriso ainda mais exagerado - será que podemos ser amigos? – Lockhart perguntou animado, estendendo a mão para ele, fazendo com que Shara piscasse algumas vezes, completamente perplexa enquanto esperava nada menos que um imperdoável sendo lançado ali mesmo, mas surpreendentemente seu pai manteve a compostura, ao permanecer sério e rígido, olhando para Lockhart com uma mistura de desdém e incredulidade... era inevitável não achar aquilo engraçado, Rony mesmo não conseguiu conter o riso, e ela não podia julgá-lo sobre isso, já Antony parecia fazer um esforço muito grande para não soltar nenhuma de suas piadinhas baratas ali e um segundo apenas, bastou para que seu pai se virasse e num giro completo pairasse em cima do ruivo, lhe dando um forte e nada sutil tabefe na cabeça, uma forma explícita de dizer que reprovava aquele comportamento.

—Aiii – Rony esboçou se contraindo, o grifinório não tinha mesmo muita sorte, Shara pensou... sim, afinal ele era um Grifinório e aquele era Severo Snape, pensando bem Rony deveria estar agradecendo pelo fato de nenhum ponto ter sido descontado de sua casa... ainda.

—Acha isso engraçado não é mesmo Sr. Weasley? – ele disse com sua voz arrastada – talvez queira me emprestar sua varinha, sabe... estou bastante curioso para descobrir o resultado que um simples feitiço explosivo é capaz de fazer com um garoto tão tolo e irritante como você, já que um feitiço de memória como podemos ver… já sabemos... – ele lançou um olhar de desprezo para Lockhart o que fez Rony arregalar os olhos assustado enquanto gesticulava negativamente com a cabeça – imaginei que não – ele afirmou com bastante ironia, já o professor Lockhart pareceu não entender o tom sério daquela conversa e apenas continuou a sorrir, como se estivesse em seu próprio mundo de maravilhas... Shara observou a cena com uma mistura de desconcerto e inevitável diversão, ciente de que rir daquilo podia ser tão ou até mais ruim do que ter que encarar um basilisco de verdade no meio do corredor da escola.

—E então... ninguém vai contar a ele a verdade sobre os vampiros? - Antony desconversou, não se importando com o olhar mortal que seu pai estava lançando em sua direção - Shara? - ele sugeriu - Não? Que pena… - Antony fingiu desapontamento enquanto voltava a se sentar, cruzando as pernas… mas a verdade é que a relação sobre vampiros versus o seu histórico com eles, também não era lá nada bom, já que o pouco contato que ela teve com um foi naquela noite na floresta proibida, e convenhamos que o fato dele desejar beber o seu sangue parecia ser no seu caso o menor de seus problemas.

—É… melhor não… – Shara disse sem graça... vendo Lockhart se virar em sua direção.

—Ainda não fomos devidamente apresentados mocinha, mas você… sim você, se parece muito com alguém que conheço - Lockhart disse, aparentemente não se importando em saber a verdade sobre os vampiros, aquilo tudo seria cômico se não fosse triste  - mas é claro… - ele exclamou como quem acabará de ter uma brilhante ideia - na verdade é alguém que acabei de conhecer - ele se virou para o seu pai outra vez o analisando - você é filha do cara gótico – Lockhart afirmou, fazendo Shara enrijecer instantaneamente com o desconforto de ouvi-lo expor seu segredo daquela maneira, como se fosse algo qualquer… – sabe o seu cabelo – ele apontou – que engraçado é exatamente do mesmo tom... isso não é um fenômeno tão comum eu imagino, além da pele... são mesmo muito parecidos… as feições e tudo mais…

—Oras não diga besteiras homem – Madame Pomfrey interveio, ao ralhar com ele, algo que Shara entendeu ser a forma que ela encontrou de fazê-lo calar - agora, volte imediatamente para a sua maca eu ainda não lhe dei permissão para sair – ela ordenou… o vendo recuar... Shara não estava esperando por aquilo, era intrigante pensar que Lockhart em sua completa insanidade e no seu estado de completa loucura havia percebido e trazido a tona aquilo que mais ninguém parecia poder ver, a verdade sobre eles… seu pai obviamente manteve-se imparcial, mas Shara não sabia dizer o quão boa ela podia ser com improvisos, não podendo deixar de notar o olhar curioso e desconfiado que Rony lançou em sua direção... Lockhart estava prestes a dizer mais alguma coisa quando eles foram interrompidos com o barulho de passos apressados que vinham do lado de fora do corredor... Shara nunca havia visto a ala hospitalar tão movimentada assim antes, não como estava hoje… mas agradeceu seja lá quem fosse pela intromissão.

—Harry – Rony exclamou assim que o viu, Shara se virou para a porta assustada com a imagem de um Harry não apenas sujo como estavam também todos os demais, mas havia sangue... suas vestes estavam rasgadas na altura do braço... e ele parecia exausto…

—Por Merlin - Madame Pomfrey bufou ao vê-lo, Shara sabia o quanto ela detestava tanta movimentação ou talvez fosse pelo estado que o menino se encontrava, enfim...

—Ron... Gina – ele olhou em direção aos seus amigos grifinórios e sorriu... e na sequência se virou para ela – Shara – ele disse chamando sua atenção - o que faz aqui? – ele perguntou com alguma surpresa para ela… talvez com uma pitada de preocupação.

—O que acha que as pessoas fazem na enfermaria Potter? – seu pai respondeu antes mesmo que ela pudesse dizer qualquer coisa, e ele havia sido bastante rude, a fama sobre Severo Snape detestar grifinórios já havia se provado verdadeira em diversas outras ocasiões, sim... mas Harry era de longe o mais afetado por suas desavenças, o que fazia Shara acreditar que era mesmo algo muito pessoal, algo sobre o passado dele, talvez alguma relação com o que Elza havia dito naquele dia, sobre o seu pai ter amado a mãe de Harry no passado e a perdido... – te darei apenas uma dica – ele sorriu com malícia para o garoto de óculos a sua frente – já que nem todos nesse castelo possuem o privilégio de salvar o mundo bruxo, tantas vezes como o famoso Harry Potter – Shara afastou aqueles pensamentos e encarou um Harry completamente desconcertado... Era evidente que algo havia acontecido com ele, e que todos ali estavam de alguma forma envolvidos, mas aquela situação era claramente sobre ele, sobre algo que Harry havia feito essa noite, e que havia incomodado o seu pai, será que Harry havia se arriscado outra vez? Os salvado novamente? Se sim… como?

—Se não fosse por Harry certamente estaríamos todos mortos – Rony interveio em defesa do amigo, recebendo um novo e não menos dolorido tabefe... e dessa vez não havia graça alguma ali.

—Quem é Harry Potter? – Lockhart perguntou, sendo ignorado por todos.

—Sabe Sr. Weasley... – seu pai parecia estar se preparando para começar uma nova rodada de humilhação quando...

—Ronald tem razão Severo – o diretor Dumbledore disse passando pela porta da enfermaria ao lado da professora de transfiguração, espera... aquilo já era demais, aquele era mesmo o diretor… Alvo Dumbledore? Mas... ele não havia sido afastado de suas funções pelo ministério? ainda hoje ela havia visto a matéria de capa no profeta diário com possíveis especulações ao seu respeito... havia sido hoje? Correto? Ou quanto tempo será que ela havia dormido? Era no mínimo curioso, e a sensação que Shara tinha era de ter despertado em uma realidade totalmente alternativa – Harry foi muito corajoso essa noite, salvando não apenas os seus amigos, mas se arriscando por aquilo que acredita... Provando ser um verdadeiro Grifinório...

—De forma imprudente... – seu pai tentou interromper...

—Apenas um jovem de coração incrivelmente bondoso e disposto seria capaz de tal feito - Dumbledore continuou... ao piscar para Harry, que retribuiu com um sorriso genuíno. Foi quando o diretor voltou sua atenção para ela - Acredito que deve estar se perguntando o que aconteceu esta noite - ele disse para ela, e Shara assentiu. Ele sempre parecia saber o que as pessoas pensavam, ou isso era apenas com ela?  - Sabe, criança, no primeiro dia de aula, quando a vi pela primeira vez neste castelo, ou melhor, quando os vi... - Ele olhou dela para Rony e Harry - Juntos... Naquele momento, eu soube que vocês estariam predestinados a viver grandes aventuras aqui... e isso apenas prova o quanto eu estava certo.

—Alvo não acho que esse seja o momento... – Seu pai tentou outra vez, mas novamente sem nenhum sucesso.

—Só um instante Severo – o diretor levantou a mão não permitindo que ele continuasse – Ahhh eu tive o incrível privilegio de conviver com sua mãe por algum tempo – Shara o encarou, o diretor nunca havia dito nada sobre a sua mãe dessa forma, principalmente não na frente de outras pessoas, e ele parecia indiferente à plateia que os observava – Sim... há coragem em se arriscar pelos amigos, como Harry acaba de fazer... mas há também muita coragem em silenciar para protegê-los... Sua mãe foi uma bruxa muito poderosa e que guardava muitos segredos, ela costumava silenciar para proteger aqueles que amava  – Shara ficou perplexa com aquela colocação, ela não tinha pensado na sua mãe daquela forma, sempre se achando completamente diferente dela, em tantos aspectos e sentidos, bem talvez… elas não fossem assim tão diferentes como Shara pensava ser – eu confesso que não fui capaz de compreendê-la naquela época, falha a minha é claro... já que hoje eu percebo que ela dentre os demais, foi capaz de fazer o maior sacrifício de todos, silenciar – Shara absorveu aquilo, era forte ao mesmo tempo que carregava tanto significado - sim silenciar é para poucos e foi assim que ela a salvou criança, e salvou aqueles a quem ela amava – Shara sentiu seus olhos marejarem, e ouviu Antony fungar ao seu lado... mas aquele não era o momento para isso... por que o diretor estava dizendo aquelas coisas? Ou por que ele estava sendo tão sentimental? – sei que ainda guarda muitas perguntas, e que não consegue se ver como verdadeiramente é... – Aquilo havia sido tão verdadeiro e ao mesmo tempo tão profundo – mas saiba que se parece muito com sua mãe – ele afirmou, e interiormente algo nela queimou, junto com um sentimento de saudades, saudades daquilo que havia sido tirado dela, a professora Minerva enxugou uma lágrima, mas Shara não queria chorar, não na frente de todos ali e agradeceu pelo diretor ter notado isso e se voltado para o seu pai outra vez – Ia dizer alguma coisa Severo? – o diretor perguntou despretensiosamente... mas Shara notou o quão desconfortável seu pai havia ficado depois daquilo, algo que talvez apenas ela fosse capaz de perceber... para os demais, ele era apenas o mesmo professor Snape de sempre, com sua expressão séria e imparcial.

—Não – ele disse de forma curta e objetiva... Shara notou também a troca de olhares entre eles. Ela podia sentir o peso da sala sobre seus ombros, e muita coisa sendo dita sem que palavras fossem usadas ali, uma expectativa quase palpável pairava no ar. Então, o diretor simplesmente assentiu, como se tivesse chegado a alguma conclusão interna sozinho.

—Bem, como posso ver... todos aqui passam bem - e por um momento ele parecia estudar Gina com um zelo especial ao observá-la dormir - parece que isso é tudo por agora - Ele dirigiu-se a Madame Pomfrey com um sorriso gentil – Poppy está em suas mãos – ele falava sobre os cuidados de Gina – agora deixarei com que nossos jovens heróis descansem, antes que eu seja expulso outra vez... Acredito que todos aqui merecem um momento de paz depois das façanhas notórias dessa noite – ele havia dito, façanhas essas que Shara ainda não fazia ideia de qual seriam.

—Bem... bem... eu posso apenas perguntar algo? – Lockhart disse levantando a mão e quebrando o clima que havia se instaurado o que não foi necessariamente ruim, o diretor se virou para ele curioso – por acaso o senhor também conhecia a minha mãe? – ele perguntou enquanto Dumbledore o analisava, Rony havia erguido uma das sobrancelhas, e dessa vez Antony soltou um pequeno riso que estava prendendo.

—Não que eu me recorde meu jovem – o diretor respondeu.

—Ah que pena – Lockhart se virou para a professora Minerva – A senhora por acaso não é minha mãe, não é?  - E Shara não pode deixar de sorrir, Harry havia feito o mesmo, principalmente ao ver a expressão de desagrado que havia se formado no rosto da bruxa mais velha, é talvez Antony estivesse mesmo certo, talvez aquela fosse a melhor versão do professor Lockhart afinal, embora a professora Minerva não parecesse concordar em nada com o seu secreto ponto de vista e sem sequer responder à pergunta dele, ela se virou apenas para encarar Harry e Rony.

—Vocês dois... não há necessidade alguma de passarem a noite fora... vamos – ela estava séria – e não pensem que deixei de notar que ambos descumpriram minhas ordens expressas e claras... sobre estarem em seus dormitórios essa noite – ela lançou um olhar breve e curto na direção de seu pai… que assentiu.

—Mas professora... – Rony argumentou – e Gina... ela...

—Gina ficará bem, por hora ela deve descansar, de qualquer forma seus pais já foram comunicados e estão a caminho, portanto sem mais delongas Sr. Weasley – ela se virou para a porta, sinalizando com a cabeça para que eles se movessem até lá, Harry acenou para ela antes de ir e Rony mesmo que a contragosto seguiu o amigo, já o diretor Dumbledore foi o último a sair, depois de cumprimentar todos de forma silenciosa, e assim que o lugar estava relativamente mais vazio, Shara encarou o seu pai, que permanecia imóvel exatamente no mesmo lugar, ele parecia perdido em seus próprios pensamentos.

—Eu não sei... o que aconteceu depois que desmaiei, e nem as circunstâncias de como vim parar aqui, mas imagino... e sei que devo a minha vida... ao senhor essa noite, mais uma vez – Shara disse para ele um pouco constrangida – eu sabia que viria... obrigada por isso – ele a estudou por um breve momento.

—Certamente não descansará até que me mate do coração com aquilo que o diretor insiste em chamar de aventuras - murmurou ele, seu tom carregado de reprovação – Me diga quantas vezes mais... você se colocará em perigo dessa maneira? – ele perguntou parecendo desapontado, nada que ela já não estivesse acostumada, ela suspirou.

—Eu não esperava encontrar Gina com o diário de Tom Riddle, e muito menos que ela estivesse sei lá possuída por ele... e sem mencionar que não havia como sair ou correr de lá, e a minha cicatriz bem… – Shara levou a mão até o ombro – isso estava muito ruim e sem mencionar que Gina, que ela havia aberto a câmara secreta, e eu vi… bem na minha frente no banheiro feminino, e ela... quer dizer, aquilo que estava nela me atacou ao perceber que eu poderia ser um problema, então fiz o que pude, ou melhor... eu fiz aquilo que me pediu para fazer – ela justificou, mas sem muita esperança de que ele a ouvisse ou a entendesse... já que normalmente ele não fazia – eu o convoquei pai...

—EU SABIA – Lockhart gritou de sua maca – eu sabia, então ela é a sua filha... – ele bateu palmas animado por ter confirmado suas suspeitas, Shara havia até mesmo se esquecido da presença dele ali e não se importando com o fato de que Pomfrey e Antony estivessem ouvindo já que eles conheciam o segredo - O que seria isso, esse negócio chamado câmara secreta? - ele perguntou pensativo... – eu posso ir lá, eu gostaria disso na verdade... Sabe aventuras... Eu podia até escrever um livro...

—”Somnium” – seu pai o silenciou ao lançar sobre ele o feitiço isso sem sequer olhar em sua direção, fazendo com que Lockhart caísse para trás da cama, em algo parecido com um sono profundo, Shara nunca tinha ouvido aquele feitiço antes e isso lhe dizia que aquele não era um feitiço comum… o que exatamente ele fazia? As pessoas dormirem? Pelo menos era o que parecia.

—Severo Snape – Pomfrey o chamou, mas não de qualquer maneira… ela parecia bastante horrorizada por sinal, e não só isso, Shara notou que ela havia perdido um pouco de sua cor – como ousa lançar esse feitiço... ainda mais aqui... e ainda mais na frente da menina, na frente da sua filha – ela disse, e dito daquela maneira fez com que Shara questionasse o efeito daquilo, certamente não era apenas para dormir, aquilo não parecia ser nada bom... Não era exatamente um imperdoável como ela havia cogitado de início, mas não era bom...

—Eu mesmo o criei Poppy... Não tente me lembrar ou questionar os meus próprios feitiços e muito menos as minhas motivações ao lança-lo, afinal se alguém aqui nesse castelo o merece, acredite esse alguém é ele  – ele disse com bastante convicção e sem qualquer ressentimento de ter feito – e sem mencionar que Lockhart dará muito menos trabalho enquanto estiver dormindo… mesmo que sejam nessas circunstâncias… - a palavra circunstâncias soava como se de fato aquilo fosse muito ruim…

—Desfaça... – ela ordenou num tom sério – desfaça isso agora mesmo... Severo – ela disse com ainda mais autoridade... Foi quando ele levantou a varinha e proferiu o contrafeitiço…

—”Cordam” - e um jato de luz roxa emanou da ponta da sua varinha e envolveu Lockhart por completo, dissipando o efeito do suposto feitiço do sono... e assim que os olhos do professor se abriram, era como se ele não encontrasse alívio algum ali... em vez disso, seu rosto contorceu-se em agonia, lágrimas brotaram de seus olhos e ele começou a soluçar... Shara se pôs de joelhos sobre a cama, assustada com aquela reação inesperada… o que aquilo podia significar? Ela nunca havia visto nenhum feitiço assim… ele estava sofrendo era evidente, talvez estivesse sentindo dor? Ela olhou para o seu pai buscando alguma resposta e não encontrou nada além de uma expressão vaga e vazia, ele não parecia se importar... seu pai havia criado aquele feitiço, ele havia feito aquilo... aquilo fazia as pessoas sofrer?...

—PARE – Lockhart começou a gritar cada vez mais alto... - PARE por favor… se afaste de mim… – com quem ele estava falando? Não havia ninguém perto dele… aquilo era terrível de assistir - não… não encoste em mim... não... NÃO por favor – ele se encolheu contra a cama... e então Shara entendeu, sim ela entendeu que seja lá o que fosse o feitiço, ele parecia trazer à memória coisas desagradáveis, traumas ou  algo assim - PARE - ele gritou em completa agonia, e com a voz entrecortada pela dor emocional do momento que evidentemente ele estava revisitando ali... foi assim que Shara viu o seu professor de defesa quebrar, enquanto ele relatava situações de sua infância, revelando um passado marcado por abuso e violência... Madame Pomfrey tentou administrar um soro tranquilizante... Mas ele se comportava como uma criança em pânico e em crise, assim como eram as suas próprias crises… e pela primeira vez Shara sentiu algo por ele, um sentimento sim... empatia… simplesmente por saber e entender aquilo que ele sentia – NÃO TOQUE em mim – Shara fechou os olhos, aquilo era mesmo intragável, era como reviver o seu próprio passado, suas próprias dores… e com os olhos fechados, Shara viu aquele que era o seu quarto no lar, as paredes sujas e desgastadas, sua cama revirada, ela estava se escondendo debaixo das cobertas, alguém havia aberto a porta… era tarde da noite, ele estava bêbado… o cheiro de bebida barata invadiu o lugar… sua magia explodir… ela quase o matou.

—“Noah” - Shara sussurrou, enquanto Lockhart continuava gritando e implorando por misericórdia, Shara elevou as próprias mãos aos ouvidos, tentando bloquear o som angustiante dos relatos dele que podiam ser tão similares aos seus, enquanto lágrimas escorriam silenciosamente pelo seu rosto... quando alguém a segurou contra si, tentando confortá-la...

—__

Severo estava frustrado com a maneira como Dumbledore havia enaltecido o maldito piralho Potter sendo que o moleque além de ter infringido uma porção de regras da escola, poderia facilmente ter se ferido ou até mesmo morrido lá em baixo, em condições completamente desfavoráveis... mais uma vez aquilo não se tratava de um ato de heroísmo, mas sim de ações imprudentes de uma criança mimada e cheia de si, e como se não bastasse apenas isso, o velho havia ido longe demais ao divagar sobre Maeva de forma tão aberta... seu sangue ferveu, mas ciente de que precisava se controlar, Severo decidiu deixar passar... mas então havia Lockhart e toda a sua estupidez, passando completamente dos limites toleráveis... e sem pensar duas vezes Severo o azarou... Somnium um feitiço que havia sido criado por ele no passado, em seu último ano em Hogwarts, com o intuito de trazer dor e angustia num looping sem fim, enquanto sua vitima “dormia”, não era bom, ele admitia... mas Lockhart assim como tantos outros,  ele merecia.

Para Severo, ver o professor de defesa quebrar era uma espécie de vitória, um lembrete do poder que ele detinha sobre aqueles que o machucaram um dia, ou ousaram machucaram a sua garotinha... aquela não era a primeira vez que ele havia lançado o feitiço e tão pouco seria a última. No entanto, algo dentro dele se agitou quando Madame Pomfrey repreendeu sua ação com tamanha indignação... Ela já havia visto o efeito do feitiço antes, a anos atrás, ela se lembrava... contudo honestamente ele não estava preparado para o impacto emocional que seu feitiço causaria, não apenas ao alvo, mas também à sua própria filha...

E vê-la agora, de joelhos sobre a cama, seus olhos marejados de lágrimas, revivendo seus próprios pesadelos, estando tão frágil e vulnerável, era um golpe inesperado em seu orgulho... A expressão de dor em seu rosto cortou mais fundo do que qualquer palavra afiada que ela ou qualquer um pudesse proferir... e enquanto Lockhart continuava a soluçar e a reviver seus fantasmas, Severo sentiu-se paralisado pela culpa. Nunca imaginara que o passado do professor pudesse ter sido tão sombrio. E agora, ao testemunhar o impacto que aquilo causou sobre Shara, o fez perceber o quão insensível ele tinha sido.

Com passos decididos, Snape se aproximou dela, ignorando qualquer resquício de frieza em sua postura, se ajoelhando ao lado de Shara na cama, e a segurando com firmeza, enquanto a trazia para o seu corpo, o seu coração, normalmente envolto em camadas de gelo, agora parecia derreter diante da vulnerabilidade de sua filha... ela não merecia... E ele havia feito aquilo.

—Shara... Eu... não sabia... não sabia que isso... que tudo isso... - Suas palavras eram hesitantes, incomuns para alguém como ele, sempre acostumado a manter uma fachada de indiferença - Eu sei que minhas palavras podem não significar muito agora, mas eu sinto muito... eu não quis causar essa dor a você – ele continuou sua voz falhando ligeiramente - eu... eu amo você, Shara... eu faria qualquer coisa para protegê-la, mesmo que minhas próprias ações às vezes pareçam contradizer isso, eu sinto muito... eu sou péssimo nisso, nessa função de ser pai – ele nunca havia feito isso antes, nunca havia pedido desculpas em voz alta para alguém, principalmente na frente de outras pessoas, nunca havia exposto suas fraquezas daquela maneira... Ele nunca foi bom em expressar sentimentos, em demonstra-los..., mas naquele momento, diante da fragilidade de sua filha, ele só podia sentir o desejo ardente de protegê-la, de consolá-la, mesmo que isso significasse se expor, ele não se importou... foi quando ele sentiu a mão de Antony em seus ombros, para o lembrar de que não estava sendo julgado e nem sozinho, Antony já havia sido pai um dia... ele estava sendo suporte naquele momento, enquanto sua criança soluçava em seus braços. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Fechamos assim (95%) do cânon original, faltando apenas uma única cena... Será que adivinham qual é? Acho que essa sai no próximo capitulo, mas entregando assim minha versão alternativa de a Câmara Secreta, e a vida também bastante secreta do nosso amado Severo Snape hahaha

E pra fechar a fic, faltando ainda algumas entregas do próprio enredo da história como o tão esperado ritual que está sendo lindamente escrito... e em constante revisão... não preciso dizer que sou grata a todos que fizeram essa história crescer tanto, obrigado mais uma vez. (Vou postar também um epílogo cfme me foi pedido)

E aqui temos uma cena de muito bom humor (quase um pós crédito sobre o que aconteceu depois que eles saíram da câmara secreta que convenhamos a história original não conta (apenas que Lockhart ficou louco e sim ele ficou mesmo hahaha) mas minha criatividade contou aqui e ok, esse Lockhart é até tolerável... Ele chamando o Snape de gótico e elogiando as roupas hahaha

As falas de Dumbledore foram muito bem pensadas aqui, já que temos uma Shara sendo muito Snape em quase toda a narrativa... mas um lembrete de que ela também tem muito da mãe. Saudades "maldita Maeva" haha lembram? (Parece tão distante pra mim)

E pra fechar o capitulo temos um Severo Snape frio e insensível... Sim, admito que esse final foi mal, ele sendo mal (tipicamente o personagem sendo o personagem) lançando um dos seus próprios e cruéis feitiços (eu alucinei nesse feitiço confesso, achei ele aleatoriamente ao procurar curiosidades sobre o Snape na internet e não sei dizer se é real ou não, mas casou muito bem na história e se notarem é o mesmo feitiço que Shara replica no futuro ao lançar ele na mãe de Diaz no epílogo sobre a batalha de Hogwarts) enfim... mas vemos um Snape que teve que se desmontar aqui... em uma cena emocionante que foi planejada para ser assim, já que vemos ele aprendendo a ser melhor no decorrer de toda a história, sem virar de agua pro vinho da noite pro dia, e a passos de tartaruga ele vem aprendendo a se importar com a filha... e a demonstrar isso, pedindo desculpas primeiro em pensamento, depois num bilhete... e agora de forma declarada, descontruindo tudo aquilo que ele é... pra fechar o capitulo com "fiz merda mas limpei" hahaha

Mas foi forte!

Esta entregue... Espero que tenham gostado.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Destinos Improváveis" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.