—Ah algo que precisamos discutir - seu pai havia dito na manhã seguinte, naquela cena agora tão clássica e usual, enquanto eles tomavam o seu café e ele lia o seu jornal despretensiosamente ali, embora Shara achasse mesmo que ele não estivesse de fato prestando alguma atenção naquilo, na capa havia uma foto de Alvo Dumbledore e um grande ponto de interrogação sobre ele, e do pouco que ela havia conseguido captar, aquilo era sobre rumores de onde e o que ele pudesse estar fazendo durante o seu afastamento de Hogwarts, já que aparentemente ele não havia mais sido visto por ninguém em lugar algum…

—Flint… - decidi começar, era obvio que ele desejaria discutir aquilo, já que eles não haviam mais se falado desde a noite passada, quando ele havia saído para resolver aquela complicada situação em que mais uma vez ela havia se colocado... e embora Shara não tivesse exigências sobre aquilo, mas ela esperava que ele tivesse feito, conforme eles haviam combinado.

—Flint ficará bem - ele não a deixou continuar - com exceção é claro de uma pequena perda de memória, já que aparentemente ele acordou no meio da madrugada e sem qualquer razão aparente, caiu da escada e bateu com a cabeça no chão – e Shara entendeu, sim que aquela era a história, ele havia mesmo feito… - contudo há algo que me preocupa e nesse caso não é Flint… - Shara suspirou… é claro que ele tocaria naquele assunto outra vez.

—Eu... mantenho minha palavra - ela soltou a xícara sobre a mesa, mas ele sequer olhava para ela - não procurarei Draco... digo Malfoy mais… essa é definitivamente minha palavra final.

—Acredito que teremos que trocar uma de suas duplas em sala de aula - ele informou, e aquilo a pegou de surpresa, e sem mencionar o fato de que ele havia simplesmente ignorado o seu comentário sobre Malfoy... talvez ela devesse apenas parar de tentar adivinhar suas considerações... 

—Trocar? Mas... por que? Quem? - ela não entendeu, ele baixou o jornal e seus olhos se encontraram com os dela… ele estava sério.

—Sim, trocar... foi exatamente o que disse - lá estava aquele semblante imparcial e rude de sempre, mas ela não poderia julga-lo, pelo menos não essa manhã, eles mal haviam dormido, ambos e ninguém poderia acordar bem humorado depois de uma noite ruim… embora ele... bem... enfim, melhor deixar para lá - a Srta. Weasley está sendo assistida por Pomfrey nesse momento na enfermaria e não posso mudar meus planos de aula todas as vezes em que ela se sentir indisposta… sendo que essa tem sido a segunda vez em duas semanas - Shara pensou sobre aquilo, a semana havia passado realmente rápido, e eles teriam poções essa manhã… Shara mal havia visto a amiga, então Gina estava doente?

—Ela... está bem? - Shara perguntou, verdadeiramente preocupada, além de se sentir mal por não ter ido procura-la nesses ultimos dias... 

—Ela foi encontrada desacordada ontem, depois do toque de recolher por uma monitora chefe de sua própria casa, durante uma ronda noturna, isso no banheiro feminino do segundo andar - ele estava lhe dando alguma informação, Shara tentou processar aquilo… sentido os olhos negros dele sobre si, sim ele a estava estudando, como se ela soubesse de algo a mais ali, mas acontece que dessa vez não... Shara realmente não sabia – algo que eu devesse ser informado... talvez alguma ligação com um tal diário com magia das trevas? - ele pergunto enfático, bem aquele era justamente o banheiro onde elas haviam se livrado dele naquele dia... por que Gina voltaria lá sozinha? Shara não fazia ideia...

—Não… eu acho que não… - Shara disse confusa, mas se não fosse pelo diário o que mais seria?… ela não sabia, talvez a magia negra sobre o diário, pudesse ser tão intensa e ter deixado alguma influência sobre a amiga.

—Acha que não… - ele repetiu com a voz arrastada, ela podia sentir pelo tom empregado ali, o quanto “achar” algo naquelas circunstâncias o incomodava...

—Bem, a gente meio que se livrou dele lá... naquele banheiro… mas como eu disse depois daquele dia eu o vi... o diário, apenas uma única vez, e ele estava com Harry na sua mochila… eu realmente não sei mais nada sobre o diário… eu sinto muito senhor - Shara estava sendo sincera.

—Acontece que não está mais com Potter - ele cuspiu o sobrenome do garoto, abandonando o jornal de forma rude sobre a mesa - Minerva se certificou disso… o energúmeno teve a incrível capacidade de perde-lo – ele parecia verdadeiramente aborrecido.

—O que? – ela exclamou, isso não pelo fato de Harry tê-lo perdido, certo era ruim... mas... - o senhor... contou a professora Mgconagall sobre o diário? - ela perguntou um tanto quanto indignada… ele a avaliou atentamente antes de responder, ela engoliu em seco.

—Certamente não achou que dado a gravidade de toda essa situação, que eu me comportaria tal qual uma garotinha estupida, e manteria em sigilo algo que pudesse colocar em risco não só a vida de um aluno, mas de todos os outros, nesse castelo – ele empregou um pouco de ironia, ok, ela precisava admitir que ele estava certo... – não achou? – ela gesticulou negativamente com a cabeça, melhor mesmo não discordar. 

—Eu posso... bem, quem sabe perguntar a Gina... – Shara disse, tentando mudar o sentido de para onde as coisas pareciam querer ir, ele cruzou os braços – ela... bem, ela confia em mim o suficiente para me contar... caso haja algo a mais... e eu... eu não, não guardarei essa informação... eu realmente entendi a importância e a gravidade disso tudo senhor, eu prometo... – Shara disse um tanto quanto nervosa, Gina certamente se chatearia, mas essa era a forma de como Shara poderia inclusive ajuda-la. 

—Faça isso – ele ordenou, ele estava sério, ela assentiu percebendo que sua intervenção naquela situação era mesmo relevante... e se Gina estivesse com o diário outra vez? E se ela estivesse sendo possuída por ele novamente? Sim Shara descobriria, dessa vez ela não o desapontaria – agora – ele fez um a pausa – sobre o ocorrido durante a madrugada... – Shara baixou os olhos, ela sentia muito por colocá-lo naquela situação – não quero que saia de sua cama sem que haja alguma razão aparente e independente de onde estiver, deve manter a moeda consigo... e acredito não precisar mencionar o colar – Shara piscou algumas vezes... ela havia cometido algumas falhas, ela sabia.

—Eu não imaginei, que... teria problemas no salão comunal – ela sentiu seus olhos marejarem – eu não costumo sair da cama nesse horário, mas tive um pesadelo... – ela tinha dificuldades em dizer como se sentia com aquilo tudo e sonhar com um basilisco a caçando só refletia os medos que ela vinha carregando nos últimos dias – e se... quem sabe, pudesse apenas devolver minha magia? – Shara estava começando a sentir falta dela... no começo não havia sido tão ruim, mas agora... e com tudo que estava acontecendo a sua volta, ela preferia ter sua magia de volta, certamente lhe traria alguma confiança.

—Essa... ainda não é uma possibilidade válida – ele informou e ela entendeu que aquilo não estava em discussão no momento – sobre os pesadelos, estarei preparando algumas poções de sono sem sonho no decorrer desse final de semana e fará uso delas – ele ordenou, ela conhecia muito bem aquelas poções... era até estranho que ele não as tivesse prontas em suas dispensas.

—Bem... já que mencionou, sobre... bem o ocorrido dessa madrugada… será que eu posso… digo, fazer uma pergunta? – ela disse de forma completamente desajustada, se sentindo constrangida por faze-lo, mas sem qualquer outra alternativa de ter alguma informação sobre aquilo sem que ele lhe dissesse... ele por sua vez se reclinou ainda mais na cadeira... talvez aquele não fosse o momento para algo assim, talvez... – não é nada relevante sabe... tudo bem também... apenas deixar passar... talvez em outra oportunidade... – ela disse, tentando soar desinteressada, ele por sua vez… suspirou...

—Os galeões foram devolvidos ao seu verdadeiro dono como havia me pedido – ele esclareceu... como? Como ele fazia isso? como ele podia saber que essa seria a sua pergunta? Ela o encarrou surpresa... ela podia mesmo ser tão previsível assim? Isso era ainda mais constrangedor – não posso deixar de reconhecer que a ação de defende-la nessa madrugada além de completamente estupida é claro não deixou de ser também nobre, sendo assim tive clemencia... Malfoy passou ileso, apenas dessa vez... – Shara respirou aliviada, isso era o bastante... Draco não merecia, não quando ele havia sido o responsável por salva-la ali. 

—Obrigada senhor... - ela sussurrou, desviando o olhar.

—Malfoy leu o bilhete que deixou – ela voltou a encara-lo, então seu pai sabia... ele sabia sobre o bilhete... Draco certamente não havia sido muito discreto sobre aquilo... – obviamente haveria um bilhete, já que demorou além do necessário para buscar os galeões em seu quarto na noite anterior – ele entregou, sim... as vezes Shara simplesmente se esquecia do quão perspicaz e analítico ele podia ser, ele não deixava passar nada, e isso a assustadava.

—Certo... – ela não sabia como continuar aquilo... talvez ela não quisesse de fato discutir sobre o bilhete com ele, tudo ali era suficientemente desconfortável, e o bilhete era algo bastante pessoal.

—Pela forma como Malfoy recebeu os galeões, era mais do que evidente que com toda a sua estupidez ele os enfeitiçaria antes mesmo de se dar ao trabalho de abri-los e encontrar aquilo que escreveu – seu pai disse e então aquilo não era sobre Draco não ter sido discreto... então ele havia ficado chateado com ela antes mesmo de ler o que ela havia mandado – apenas o orientei para que o fizesse – Shara não sabia se deveria agradece-lo, ou se chatear por ele ter se envolvido... – não sei o que disse para ele... – seu pai fez uma pausa, para se servir de mais um pouco de café – mas devo admitir que irá funcionar – ela baixou os olhos...

—Então... deveria ficar feliz – ela se viu dizendo... – afinal, bem... era isso que o senhor queria, desde o início – Shara não estava mentindo e havia um pouco de dor em sua colocação, aquilo era algo que ela não podia evitar.

—De fato – Seu pai sequer se deu ao trabalho de negar – Malfoy ficou bastante abalado – ele informou, e a constatação de que Draco havia ficado arrasado, assim como ela ficou ao fazê-lo, atingiu Shara como uma onda de sentimentos conflitantes... por um lado, havia uma pontada de satisfação em confirmar mais uma vez que ele nutria algum sentimento por ela, mas por outro, a dor daquela escolha, era avassaladora... aquele bilhete estaria mudando tudo a partir dali, ela sabia... - Não vou mentir... – seu pai disse enquanto a analisava - que o fato de vê-lo sofrer nessas circunstâncias é suficientemente agradável para mim – Sim ela imaginou que seria, mas enquanto seu pai aparentava estar bem com toda aquela situação, Shara não... ela definitivamente não estava. Ela lutou para não deixar suas emoções transparecerem outra vez, mas uma lágrima solitária escapou de seus olhos, rolando pelo seu rosto... Malfoy a odiaria a partir daquele ponto, ele jamais entenderia, não depois de tudo que ele havia feito por ela, ele também era demasiadamente orgulhoso e por se-lo, ele acataria o seu pedido, ele não a procuraria mais… tornando aquela uma despedida consideravelmente difícil e dolorosa para ela... 

Seu pai continuava sério e seus olhos permaneceram fixos sobre ela, Shara podia senti-los… fazendo com que ela se perguntasse sobre se ele realmente entendia a profundidade daqueles sentimentos... ou se ele via tudo isso apenas como sendo mais um comportamento da garota estupida que ele achava que ela era... Sem uma palavra, ele se levantou da mesa e se aproximou dela, parando ao seu lado... 

—Shara – ele a chamou, e aquilo a obrigava a encara-lo... era humilhante, por que ele tinha que fazer isso? 

—Por favor, não... – ela disse levando as duas mãos sobre o rosto, se ele não podia entender... Então, ela esperava que ele pudesse ao menos respeitar, mas de forma surpreendente, ele a puxou pela mão e a envolveu em um abraço, sim aquele era um abraço reconfortante… e ele não parecia feliz ali, estando muito diferente do que ele mesmo havia acabado de declarar… ele parecia se importar com a sua dor, e por um breve momento, ela permitiu-se afundar em seus braços como já havia feito tantas outras vezes antes, encontrando consolo... ela não imaginava que ele pudesse...

—Sei como se sente – ele disse a deixando ainda mais surpresa, era verdadeiro ela podia sentir – fez a escolha certa, Shara - ele murmurou suavemente, sua voz carregada de uma estranha mistura de orgulho e autoridade - Não se permita duvidar disso – ele completou… e com um aceno silencioso, Shara assentiu, sentindo um leve alívio se infiltrar em seu coração... Ela sabia que, apesar daquela ser uma escolha difícil, era o melhor a se fazer ali, naquele momento tanto para ela... quanto para Draco, como também para todos os envolvidos... eles não estavam predestinados a caminhar juntos, agora ela podia ver isso com bastante clareza. 

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Antes de qualquer coisa Shara havia procurado Gina na enfermaria, mas a ruiva já não estava mais por lá… madame Pomfrey informou que a havia liberado um pouco antes do horário do almoço naquele dia, com recomendações explícitas de que ela fosse descansar… já havia passado algumas horas desde então e Shara ainda não havia tido nenhuma notícia sobre a amiga, deixando-a ainda mais preocupada, Beta sempre muito centrada havia ido procurá-la na comunal da Grifinória, seria óbvio que ela estivesse se recolhido, optado mesmo em descansar e passado o restante do seu dia por lá, mas Rony o irmão dela informou que Gina ainda não tinha voltado desde então… o que as deixou ainda mais aflitas, Beta sugeriu a biblioteca, local um tanto quanto improvável do seu ponto de vista, mas para não perderem mais tempo elas decidiram se dividir nas buscas, com a instrução de que deveriam voltar e se encontrar novamente no período de uma hora no grande salão principal, e no caso de não a encontrarem, elas procurariam um professor, sendo assim Shara saiu, ela  havia optado por procurar na parte externa do castelo... foi quando algo lhe ocorreu… seu pai havia dito que Gina havia sido encontrada desacordada no banheiro do segundo andar, por acaso ela não teria voltado para lá? Teria? Talvez alguma espécie de obsessão pelo diário a faria voltar até o lugar onde elas haviam se livrado dele pela primeira vez, ou a esperança de encontrá-lo lá, enfim nada daquilo fazia qualquer sentido… principalmente se Harry o havia perdido, mas ainda assim, averiguar o local não era uma ideia tão ruim… 

Shara caminhou apressadamente pelos corredores do segundo andar, ela só não estava correndo, para não chamar tanto a atenção sobre si, primeiro por que ela não deveria estar andando sozinha pelo castelo, era contra as regras agora e segundo por que se Gina estivesse mesmo por lá, ter companhia neste momento não seria bom, já que elas teriam que dar muitas explicações, explicações essas que elas não podiam.

O seu coração estava apertado e sua mente vagava em tantas direções possíveis sem que pudesse fazer qualquer conexão, embora algo dentro dela gritasse… sim aquilo era um mal presságio lhe alertando que seja o que fosse seria ruim, ela tinha disso… malditas premonições, elas nunca erravam. Ao chegar perto do banheiro feminino, Shara segurou a respiração, empurrando a porta com cautela e adentrando ao local, seu olhar percorrendo rapidamente cada canto e cabine… foi quando Shara congelou com aquilo que estava vendo diante de si…

—Gina?! - Shara chamou em voz baixa, esperando uma resposta... E um calafrio percorreu sua espinha, junto com a dor repentina que ela sentiu em sua cicatriz, quase que no mesmo instante em que aquela figura se virou… seus olhos, normalmente tão vivos e cheios de vida, agora estavam opacos, com um brilho sinistro que fez Shara recuar instintivamente… uns dois passos para trás - Gina, sou eu… Shara. Você está bem? - Shara perguntou, tentando manter a voz firme, apesar do medo que a consumia por dentro… havia algo de errado com a amiga... A figura de Gina avançou lentamente em sua direção, mas aquela… não era ela, o rosto de Gina estava distorcido por uma expressão sombria, seus olhos estavam escuros e uma risada fria escapou de seus lábios… 

—Sempre tão presunçosa não é mesmo - Gina disse ao acusá-la - não deveria ter vindo atrás de mim Shara… - ela parou - sabe você costuma cometer muitos erros… talvez esse seja o último deles - disse a voz de Gina, mas era diferente, carregada de malícia e de crueldade… e o horror tomou conta de Shara quando ela percebeu, sim ela entendeu, que Gina na verdade estava possuída por uma presença maligna, uma força que ela e tantos outros ali temiam mais do que qualquer outra coisa… Gina estava com o diário outra vez, ela o estava segurando em uma das mãos, e aquela figura à sua frente era na verdade ele… Tom Riddle… ou melhor o próprio Voldemort - é impressionante o estrago que um diário como esse pode fazer nas mãos de uma menininha tão tola - Gina… ou melhor aquilo que estava nela disse… toda aquela cena era surreal, e como Gina havia se afastado de sua posição original, Shara pode notar aquela abertura… uma das pias do banheiro havia simplesmente sumido… aquilo era um acesso, uma espécie de entrada… seus olhos se arregalaram, esses tempo todo… a câmara secreta, o banheiro do segundo andar era óbvio… foi ali que Murta havia morrido, agora fazia sentido.

—Não… não… Gina - Shara precisava acessá-la - Gina, você é forte… você pode lutar contra isso - Shara implorou, seus olhos estudavam cada passo dela, ou dele… ele estava na mente de sua amiga agora… não era Gina que estava ali… Shara recuou um pouco mais, a porta parecia tão distante… mas era tarde demais... com um movimento rápido e determinado, a ruiva ergueu sua varinha e lançou um feitiço em sua direção… A magia poderosa atingiu Shara em cheio, a fazendo voar para o outro lado do banheiro e cair de joelhos com um grito abafado de dor no chão… 

—Saia do meu caminho - Gina disse com autoridade… até sua voz era diferente, Shara teve a sensação de que ela estava se aproximando outra vez, mas o mundo ao seu redor começou a girar, as cores se misturando em uma espiral vertiginosa, com algum esforço, Shara tentou se erguer do chão frio de pedras, seus músculos latejando de dor… Ela piscou os olhos várias vezes, tentando afastar a névoa que nublou sua visão, enquanto lutava para manter a consciência.

—Gina, por favor, lute contra isso… essa não é você - Shara murmurou sua voz fraca e trêmula - Você é mais forte do que ele, eu sei que você é… não o deixe dominá-la… - Shara não sabia se aquelas palavras surtiram algum efeito… não, ela teve certeza apenas alguns segundos após, quando a presença que habitava o corpo da amiga apenas riu, uma risada fria e ameaçadora que fez o coração de Shara gelar ainda mais.

—Você é tão fraca, Shara… Não poderá me deter - disse a voz, ecoando ao redor do banheiro como um sussurro arrepiante… era estranho ouvir seu primeiro nome dito por ele… com tanta intimidade… A cicatriz em seu ombro queimava com uma intensidade insuportável na presença do mal… Shara apertou os dentes, lutando contra as lágrimas que ameaçavam escapar de seus olhos. A dor só aumentava, como se estivesse sendo queimada por um fogo invisível… 

Sem poder usar sua magia para se defender… Shara sentiu-se completamente impotente diante daquela situação... Nada do que ela dissesse, traria Gina de volta, e ela não poderia impedi-lo de prosseguir aquilo que havia começado a fazer ali essa noite… mas ainda que quisesse Shara sabia que não podia simplesmente abandoná-la ali, não enquanto houvesse uma chance de resgatar a amiga…

—Por favor… - Shara implorou, tentando pensar em algo, mas ele era a própria personificação do mal… ele a mataria se achasse necessário e antes mesmo que ela pudesse dizer qualquer outra coisa ali, ela sentiu seu corpo ceder, a sua cicatriz mais uma vez iria vencê-la, então como um último recurso, Shara se lembrou e agarrou a moeda que estava no bolso de suas vestes, a apertando com bastante força… ela sussurrou o nome do seu pai, o convocando de maneira desesperada, quando tudo à sua volta escureceu.

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Severo sentiu um arrepio percorrer sua espinha quando recebeu a convocação urgente de sua filha… sem hesitar, ele abandonou seus afazeres, não se importando em deixar a turma aos cuidados de um de seus monitores, por sorte aquela era uma turma mais avançada, em preparação para os NIEMs, e então ele correu em direção ao banheiro do segundo andar, pela localização e ao acionar seu anel e identificar o medo que ela estava sentindo, Severo sabia muito bem do que se tratava aquilo e aquela ação desesperada de quem apenas o convocava em situações extremas, provavam o perigo eminente.

Ao entrar no banheiro, varinha em punhos e prestes a atacar seja quem fosse o seu olhar aguçado rapidamente varreu todo o local em busca de qualquer sinal de perigo… a primeira análise, não havia mais nada ali que chamasse sua atenção, tudo parecia ocupar o seu devido lugar, e seu coração apertou ao ver Shara, sua filha deitada no chão, ela estava inconsciente e ferida… com passos rápidos e precisos, ele se aproximou dela e ajoelhou-se ao seu lado.

—Shara - ele sussurrou próximo ao seu ouvido, sua voz carregada de preocupação e de afeto, ao analisá-la mais de perto, ela que havia lhe devolvido os sentidos, não parecia possuir algum... ele gentilmente acariciou o rosto dela, verificando suas condições com uma mistura de alívio por ela estar viva e angústia por vê-la naquele estado, embora tivesse cogitado a possibilidade de encontrá-la petrificada, mas por bem esse não era o caso ali, antes de levá-la, Severo observou o ambiente com sua postura analítica, tentando decifrar o que poderia ter acontecido ali…  Não havia sinais de mais ninguém no banheiro, exceto sua filha, contudo o ar estava impregnado com uma sensação de mal-estar, como se a própria escuridão tivesse deixado sua marca no local… ele conhecia bem aquela sensação, os rastros de magia escura. Era evidente que aquilo tinha alguma relação com o diário desaparecido e de alguma forma também com a amiga de sua filha, Ginevra Weasley.

Severo Snape apertou os lábios em uma linha fina, seu olhar penetrante analisando cada detalhe em busca de pistas… Ele sabia que algo terrível estava por vir, algo que talvez Shara tenha tentado impedir, e embora ele tivesse formulado algo em sua mente, aquela ainda era uma ameaça desconhecida... 

Ao analisar sua criança mais uma vez, e vê-la naquele estado, aquilo o fez se lembrar do dia em que ele teve que resgatá-la pela primeira vez em circunstâncias muito parecidas no Beco Diagonal, ela havia desmaiado… naquela época de dor… e aquela lembrança lhe trouxe um fato, ele abriu com cuidado os últimos botões da camiseta escolar que ela usava, apenas para ter certeza, sim sua cicatriz estava inflamada e o tecido branco por baixo de sua capa estava completamente encharcados com o sangue… ela havia desfalecido de dor… mas quem ali poderia desejar o seu sangue a ponto de machucá-la assim? sim… era mais do que claro agora, ao associar a magia negra presente com Voldemort… agora ele tinha certeza… e com um suspiro pesado, Severo levantou Shara com cuidado do chão, a mantendo estável em seus braços, ela era relativamente leve, embora estivesse em melhor estado de saúde do que quando havia iniciado seus estudos ali, e mais uma vez ele prometeu a si mesmo que faria de tudo para protegê-la e para descobrir a verdade, toda ela… por trás daquele incidente sombrio, não havia muito tempo, então ele saiu... 

Após deitar Shara cuidadosamente sobre a cama vazia da enfermaria, ter explicado as circunstâncias pelas quais a encontrou a deixando aos cuidados de um Madame Pomfrey bastante agitada, Severo ficou e ouviu atentamente enquanto ela relatava sua preocupação com toda aquela situação...  E ela está certa, ele franziu o cenho ao saber que a matrona havia encontrado lapsos recentes de memória faltantes na menina Weasley, o que provava apenas que sua mente havia mesmo sofrido alguma violação, Poppy confirmou também que Shara estivera na enfermaria mais cedo naquele mesmo dia, justamente a procura da amiga, algo que ele sabia que ela faria... afinal Shara demonstra muito apreço pelas amizades, ele mesmo havia dado algum incentivo nesse sentido, pelo simples interesse de saber algo novo sobre a localização daquele diário... e dessa forma os pontos começaram a se conectar, confirmando mais uma vez suas suspeitas sobre aquilo tudo, um quadro sombrio parecia prestes a se desenrolar... Shara havia sido atacada por sua própria amiga, mas algo havia corrompido aquela criança a transformando-a em uma ameaça para sua filha, sim ela estava possuída pelo espírito ou lembrança de Voldemort e agora ela estava vagando pelo castelo naquele estado...

Sem hesitar, Severo se levantou, saindo às pressas do local e ciente de que Shara estaria segura e muito bem assistida lá, Ele precisava antes de mais nada encontrar e avisar McGonagall sobre o ocorrido, aquela situação merecia uma atenção mais do que especial... ele podia sentir o clima de todo o lugar mudar, algo sombrio estava prestes a acontecer em Hogwarts... e agora ele podia entender perfeitamente as verdadeiras intenções de Lucius Malfoy em tirar Alvo Dumbledore do castelo, Lucius que havia implantado o diário de forma intencional nas mãos de uma criança inocente, sem se importar com o que poderia acontecer com ela... Lucius estava tramando desde o inicio daquele ano letivo, numa tentativa de trazer seu antigo mestre de volta a vida, sim por que aquela era uma tentativa evidente disso e Lucius faria ainda mais por ele… Sim Lucius entregaria aquilo que seu mestre mais desejava e queria, o dom da imortalidade e então Lucius se tornaria o seu braço direito, ou algo a mais, já que Lucius não fazia nada sem que houvessem segundas e boas intenções envolvidas ali… 

Enquanto atravessava os corredores do castelo, sua mente trabalhava freneticamente, tentando traçar um plano para lidar com a ameaça que pairava sobre Shara e sobre todos ali... Severo sabia que o tempo estava se esgotando e que ele teria que agir com rapidez e cautela... Severo encontrou Minerva no corredor seguinte, seu rosto estava grave e tenso refletindo igual urgência e antes mesmo que ele pudesse compartilhar suas próprias preocupações sobre Shara, o diário e a prole Weasley mais nova, Minerva se atravessou, aflita.

—Severo, eu estava te procurando - ela começou, sua voz carregada de apreensão - O herdeiro de Sonserina nos deixou mais uma mensagem e o pior, ele levou consigo uma de nossas alunas - As palavras dela atingiram Severo como um soco no estômago. Ele se esforçou para controlar sua reação enquanto perguntava com uma voz firme, a resposta que ele já sabia.

—Quem... quem foi a aluna levada por ele? – sua voz saiu ainda mais séria do que o habitual. Minerva olhou para ele com uma expressão vazia...

—Gina Weasley - respondeu ela, e a confirmação o atingiu como uma onda de choque… enquanto ele tentava processar a gravidade de toda aquela situação... não havia mais como adiar o confronto com o mal que estava prestes a assolar a escola... mas ele era racional, e não emocional, era isso que fazia dele um comensal tão eficaz, principalmente diante de algo que exigisse uma ação imediata, definitivamente não havia mais tempo a se perder...

—Precisamos agir imediatamente – Ele disse se movendo... Minerva o acompanhou, não sabendo ou sequer entendendo muito bem o que ele estava tentando dizer com “agir”

—O que sugere que façamos, Severo? - ela perguntou, sua voz vacilou, mas ela estava se esforçando para acompanhar o seu ritmo acelerado… Severo ponderou por um momento, sua mente trabalhando rapidamente para formular um plano de ação plausível e eficaz. 

—Antes de mais nada, devemos garantir a segurança dos alunos dessa escola - ele, respondeu era óbvio até  - Mande um sinal para que todos os alunos retornem imediatamente às suas salas comunais e quanto aos professores, os reúna no local onde a última mensagem foi encontrada - ele orientou, Minerva assentiu, reconhecendo a sensatez na sugestão dele. Ela ergueu a varinha e conjurou um feitiço para enviar uma mensagem urgente e que pudesse ser ouvida por todos os alunos…

—”Atenção… todos os alunos voltem imediatamente aos dormitórios de suas casas comunais. Todos os professores me encontrem no corredor do segundo andar imediatamente” - ela instruiu, o fazendo parar para coçar as temporas.

—Teria sido mais prudente - ele disse com a voz arrastada - se não tivesse mencionado o local de encontro dos professores, na mesma mensagem compartilhada aos alunos - enfim ao caos, ele pensou…

—Oras Severo, não é possível que tenha tão má fé assim de nossos alunos - ela devolveu irritada - afinal quem é o aluno que se atreveria a desobedecer tais recomendações? - ela perguntou, cruzando os braços… aquele certamente não era o momento para discutir aquilo, mas sim ele tinha alguns bons nomes em mente, sendo o de Shara, um deles… embora nesse caso, não fosse possível apenas pelo fato de que a mesma se encontrava desacordada na enfermaria nesse exato momento, e pensar nisso o obrigou a consultar o anel, apenas para ter certeza e comprovando de que ela estava exatamente como ele a havia deixado ali, Severo apenas sorriu com malícia, deixando que Minerva avançasse a sua frente e o guiasse em direção ao local - Bem… vamos - ela, disse, agora bastante determinada - Não podemos permitir que o herdeiro de Sonserina continue a semear o caos em nossa escola assim, certamente haverá algo que poderemos fazer para impedi-lo - ela disse… e aquilo lhe rendeu uma ideia… 

—Minerva me permita sugerir algo - ele disse, afinal se havia apenas algo de bom em tudo aquilo, eles não deveriam descartar… ela o analisou com certa curiosidade - como pode ver, temos o homem certo para essa missão… - sim aquilo havia sido dito com um leve tom de ironia - Gilderoy é claro… tenho certeza que essa será uma oportunidade excepcional para ele brilhar… apenas dê a ele a carta branca de que precisa - sim aquela era uma excelente oportunidade para desmascará-lo, Minerva segurou o seu braço… ela parecia confusa.

—Não acha mesmo… que ele seja o bruxo do qual precisamos nesse momento… - mas então ela entendeu, colocando a mão sobre o peito… - por Merlin Severo, como pode ser assim tão mal - ela ponderou brava.

—Bem, não deveria ser nenhuma surpresa, já que isso é o que dizem ao meu respeito - ele disse a acompanhando, já que ela havia voltado a se mover, com um pouco mais de pressa agora…

—Farei isso, sim… - ela disse séria - apenas porque assim o tiraremos do nosso caminho ... - mas Severo podia jurar que ela estava sorrindo.