Alternate Eldarya escrita por Ahelin


Capítulo 1
Encontro


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!
Estou postando essa maravilha às 4 da manhã após um surto de escrevê-la a noite toda, então se você está lendo essa nota, ela inda não foi revisada! Isso significa que talvez os tempos verbais e a pessoa do texto precisem de pequenos ajustes, que eu só vou fazer depois de doze horas de sono.
Enfim... Aproveita!



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O portão, o bosque, a barreira, nenhum deles foi suficiente para deter seu avanço. Você não olhou para trás, e não olharia por um longo tempo. Não antes de encontrá-lo. Não antes de segurar aquele rosto entre suas mãos e…

E o quê? Pedir perdão? Beijá-lo? Você afastou os pensamentos, sabendo bem que não tinha direito a nenhuma das duas coisas. Mesmo assim, você se recusou a parar. Após sentir apenas um pequeno fragmento do que ele passou, você precisava vê-lo mais uma vez. 

Foram três dias de viagem. Você dormiu apenas nos momentos em que seu corpo ameaçou desmaiar de exaustão, em abrigos improvisados à beira da estrada. Eles poderiam – deveriam – ter tentado entrar em contato com ele no momento em que a encontraram fora do cristal. A desculpa de todos no QG era a mesma: ele não queria ser contatado. Cortara todos os laços restantes e não deixara nenhum rastro, nenhuma pista quanto a seu paradeiro.

Se isso era assim tão verdade, como seu coração sabia exatamente o caminho? Parte de você queria estar errada, queria que todos os sonhos e memórias combinadas de uma casa de campo entre as montanhas fossem apenas delírios, que os planos feitos em noites cristalizadas no passado não tivessem sido levados adiante por apenas um dos membros do casal desfeito. Seria doloroso demais vê-lo dividindo esta nova vida, idealizada em conjunto, ao lado de outra pessoa, ou pior; sozinho, depois de tanto tempo tentando convencê-lo de que você não iria abandoná-lo. 

Você olhou mais uma vez o mapa. Feito com a junção de lágrimas e lembranças, mostrava a região onde ele um dia jurou construir uma casa com as próprias mãos. Estava perto, talvez uma ou duas horas de caminhada, com uma grande possibilidade de chegada antes do pôr-do-sol. Por que, então, suas pernas se recusavam a dar o próximo passo?

Respirando fundo, você forçou seus pés a se moverem. Se não houvesse nada ali, você voltaria à segurança do QG e nunca mais deixaria suas responsabilidades com Eldarya. Mas, se houvesse… você descobriria o que fazer depois. 

Lentamente, o caminho se tornou menos íngreme. A densa cobertura de árvores se abriu um pouco, e a estrada pela qual você estava seguindo se ramificou em pequenas trilhas de terra batida. Ali, no horizonte tão próximo, havia uma vila. 

Pequenas casas se misturavam à vegetação, algumas delas construídas sobre árvores que pareciam ter o dobro da sua idade. Crianças corriam em grupos, os sons de suas risadas misturando-se ao suave barulho da correnteza de um rio próximo.

Foi mais difícil dar os cem passos finais que os milhares que lhe trouxeram desde o início de sua jornada. Você manteve seus olhos abertos, seu coração suspenso, na esperança de ver em uma das janelas a pessoa que procurava. 

Já dentro do vilarejo, você percebeu os olhares curiosos dos moradores. Um lugar tão pequeno não receberia viajantes com frequência. Virando esquinas e entrando em ruas a esmo, você passou pela mesma praça duas vezes, aprendeu o caminho do mercado e encontrou um lugar que se parecia muito com uma pousada. Sua ansiedade não deixou que perguntasse sobre ele a alguém, com medo de que a simples menção de seu nome fosse acordá-la da fantasia de que ainda conseguiria vê-lo um dia. 

A melodia de um mensageiro dos ventos foi o que a impulsionou a sair da rua principal em direção ao leito do rio. Poucos minutos depois, sob a luz alaranjada do fim da tarde, você encontrou uma cabana tão intimamente conectada à vegetação que parecia sempre ter sido parte da floresta. O quintal à frente dela estava tomado por plantações, algumas de vegetais que você conhecia, outras de mistérios a serem descobertos. 

Você o sentiu antes mesmo de vê-lo, e respirou fundo para tomar a coragem necessária e levantar os olhos na direção certa. Ele estava ajoelhado na terra molhada, com calças marrons e uma camisa preta tão simples comparada à sua jaqueta bordada favorita que chegava a ser estranho, mangas compridas roladas até os cotovelos e as mãos enfiadas na terra. A seu lado, havia uma cesta cheia de mudas que você não conseguiu identificar, que ele pegava e plantava cuidadosamente. Seus cabelos azuis estavam presos em um rabo de cavalo no alto da cabeça, mas alguns fios escapavam para emoldurar seu rosto de forma tão perfeita que parecia ser intencional. Talvez fosse. Ele sempre foi um elfo vaidoso, apesar de negar isso até a exaustão. 

Por um segundo, você pôde jurar que os olhos esmeralda dele encontraram os seus, mas ele rapidamente voltou ao trabalho. Você deu dois passos lentos, sentindo cada batida agoniante do próprio coração, e então teve certeza que ele olhou diretamente para seu rosto… Antes de ignorá-la outra vez e depositar mais uma muda no solo, com mais violência que era necessário. 

Você tomou um momento para normalizar sua respiração e obrigar suas mãos a pararem de tremer. Era óbvio que ele ficaria zangado com a aparição súbita da ex namorada que o abandonou pelo fútil motivo de salvar o mundo. Ninguém esperaria nada menos que isso de Ezarel. 

— Você pode me dizer oi… – Você odiou quão insegura soou sua voz naquele momento. – Talvez me convidar para entrar. – Mais alguns passos tentativos te levaram até a borda do quintal, apenas alguns metros entre vocês. 

Ele fingiu não ouvir. Você checou mais uma vez, apavorada com a possibilidade de estar incomodando o elfo de cabelo azul errado, mas era definitivamente esse. Ele estava mais velho, mas seu rosto continuava o mesmo. Não havia um traço sequer de uma barba, ou de rugas, ele só parecia mais… maduro. Suas feições estavam mais duras. Era inquietante como ele havia mudado pouco em todos aqueles anos.

— Eu só quero conversar uma vez. – Você puxou de dentro da mochila um pequeno pote de mel, torcendo para conseguir suborná-lo de novo. – É uma oferta de paz. Por favor. 

Ele não ergueu a cabeça, continuando a jogar as pobres plantinhas no solo e bater terra sobre elas com os punhos cerrados. Com um suspiro, você fechou os olhos e considerou se sua viagem teria um final abrupto.

Talvez esse fosse o verdadeiro motivo de ninguém ter avisado Ezarel. Talvez ele não quisesse saber de nada relacionado a você, e todos os outros estivessem cientes disso. Seus olhos se encheram de lágrimas com a ideia, e você olhou para o céu para evitar que elas caíssem. Seu pior defeito sempre foi não saber admitir a derrota. Estava na hora de aprender.

Você depositou o pote no chão com cuidado e rearrumou a mochila sobre os ombros, preparando-se para a volta. Não cogitou nem por um momento ficar na cidade durante a noite, vendo como sua mera presença o incomodava. Roubando um último olhar, você recuou de costas pelo caminho que havia chegado.

Algo passou a seu lado rápido demais para ser registrado. Logo em seguida, mais um vulto, que desta vez tentou passar através de você e bateu com força em sua perna, quase fazendo com que você perdesse o equilíbrio. Em um instante, você percebeu que um dos grupos de crianças correndo agora tinha como destino a porta da frente da cabana. 

A menor delas e última do grupo, uma garotinha de pele marrom e cabelos vermelhos, correu diretamente para Ezarel e quase o derrubou com o impulso de seu abraço. A expressão fechada do elfo se dissolveu imediatamente quando eles se cumprimentaram, e você desistiu de tentar conter as lágrimas. A mesma paz que habitava o ambiente encontrou o lugar até seu coração. Ele estava em casa. Ele estava bem, e feliz. Todo o medo e ansiedade evaporaram de você, e só restava o contentamento de que o amor de sua vida tinha encontrado aquilo que procurava. Você não se sentiu mal sabendo que teria que voltar agora. 

Conforme você dava os primeiros passos para fora da vida dele, mais uma vez, a garotinha apontou para você.

— Quem é? – perguntou ela, os olhos grandes e inocentes te observando.

— Eu errei o caminho! – Você se apressou para criar uma história. Se Ezarel tinha filhos, ele era casado. Se ele era casado, não seria sensível colocá-lo nessa situação onde um antigo amor aparecia para destruir a família. – Desculpem! Estou indo agora. 

Mas algo te ancorou no lugar: aquele olhar penetrante, fixo em você, não vacilando nem por um segundo. Ele se levantou devagar, acariciando a cabeça da menina sem quebrar o contato visual. Não havia expressão alguma em seu rosto, sua boca formava uma linha reta e impassível.

Você apenas assistiu conforme ele guiava as crianças para dentro e fechava a porta. Então, de dentro da cesta de mudas, tirou uma pequena pá de jardinagem e com ela golpeou a própria coxa, produzindo um estalo alto como um tapa.

— Merda! – xingou, olhando para trás para confirmar que a porta estava mesmo fechada, e depois olhou de volta para você, deixando cair a pá. Algo estava diferente, mas de tão longe não era possível dizer o quê.

Em alguns passos, ele estava diretamente à sua frente, a mesma altura e o mesmo cheiro e o mesmo olhar que um dia lhe tiraram o fôlego. Você mal percebeu que havia prendido a respiração conforme ele pescou algo na bolsa que tinha pendurada à cintura, ergueu a mão em punho sobre a sua cabeça… e a abriu, despejando uma enorme quantidade de flocos grossos semitransparentes. Sal. 

— Ah. – As sobrancelhas dele se uniram, formando uma linha quase contínua, como se ele estivesse esperando algo diferente acontecer. Você não conseguiu responder, hipnotizada ao ver que ele levantava a mão e ensaiava tocar seu rosto.

Um, dois, três dedos ainda sujos de terra pousaram sobre sua bochecha. Ele os manteve ali, suave como um sussurro, por longos segundos antes de deixar que a mão caísse. 

— Ez? – Você piscou, tentando entender a expressão atribulada que ele tinha.

— É você – constatou o elfo, sua voz um fio. – É… você.

— Sou eu. – Você tentou abrir um sorriso, mas as lágrimas nunca pararam de cair. 

— Oi. – Ele abriu e fechou a boca várias vezes, balbuciando algumas coisas sem conseguir proferir uma frase coerente.

— Oi – você riu, secando algumas lágrimas na manga do casaco. 

— Você quer entrar. – Ele ainda parecia atordoado, seus braços caídos ao lado do corpo, sem reação.

— Foi uma pergunta?

— Não. – Em um movimento súbito, ele segurou seu braço, com mais força do que o necessário, e ficou parado ali por um momento. Você não reclamou; a pressão não era suficiente para machucar. Por fim, ele começou a andar, praticamente carregando você em direção à entrada da casa. Como se tivesse acabado de lembrar de uma coisa, ele soltou seu braço, correu até o ponto onde você deixou o pote de mel e o apanhou, voltando logo em seguida para abrir a porta.

Meia dúzia de crianças esperavam por vocês, apenas as mais velhas tendo a decência de fingir que não estavam espiando pela janela um segundo atrás. 

— Oi… – você começou, sem saber se deveria dizer alguma coisa, mas Ezarel foi mais rápido. 

— Vocês, façam o favor de buscar os outros. Já vai escurecer – comandou, com uma voz firme, porém sua expressão era doce. 

— Precisa ir todo mundo? – Um garoto de cabelos dourados que devia ter seus catorze anos ergueu uma sobrancelha, medindo você com o olhar. 

— Sim. – Ezarel estava calmo demais, em contraste ao próprio estado antes de passar pela porta. – Agora. Por favor – acrescentou, abrindo um sorriso amigável. 

O garoto tossiu algo que parecia uma risada e levou consigo as outras crianças, murmurando que Ezarel os tinha enfiado à força na cabana momentos antes. O elfo não respondeu, e assim que a porta fechou, ele desabou em uma cadeira, sinalizando com um gesto vago para que você fizesse o mesmo. O pote de mel foi abandonado à mesa.

Você tomou um lugar na cadeira mais próxima dele, quase que por reflexo, e não se moveu quando ele outra vez levou a mão ao seu rosto. Com as pontas dos dedos, ele traçou seu queixo e seu nariz, certamente deixando rastros de sujeira no caminho. Não parecia um toque carinhoso; ele cutucava suas bochechas, seu queixo, hipnotizado, como se ainda não acreditasse nos próprios olhos. 

— Ezarel. – Você segurou o pulso dele, finalmente capturando sua atenção e seu olhar. – Você pode me odiar o quanto quiser, voltar a me ignorar como fez lá fora, mas por apenas um minuto, você vai ouvir o que eu tenho a dizer, e é agora. – Você quebrou o contato visual, não conseguindo encará-lo ao mesmo tempo em que repetia o que tinha ensaiado a viagem toda. Seus olhos novamente se encheram de lágrimas, mas você não deixou que isso te atrapalhasse. – Me perdoa. Eu… – As palavras, tão organizadas em sua mente, começaram a se embaralhar. – Eu sinto muito. Eu vi você, no dia em que você foi embora, e eu ouvi o que você disse. Não consegui viver com a ideia de seguir em frente sem ver seu rosto mais uma vez depois de todo aquele sofrimento nos seus olhos. Eu te prometi uma coisa, e eu falhei. Só queria… Só queria saber se você estava vivo. Se estava bem, comendo alguma coisa além de porcarias. Se estava sozinho… Eu nunca quis que você ficasse sozinho. Fico feliz que não esteja. – Nada saiu como planejado, e em meio ao choro sua fala foi entrecortada, mas a mensagem principal foi dita. – Pronto. Eu entendo que você não está nem um pouco feliz por me ver. Eu também ficaria zangada se uma ex namorada que me abandonou aparecesse na porta da minha casa como se nada tivesse acontecid–

— Todo esse tempo – interrompeu ele, sua expressão impassível mais uma vez. – E você ainda é a mesma matraca. – Ele se deixou escorregar ao chão, ficando de joelhos na sua frente, e agarrou-se em pedaços da sua calça com as duas mãos.

— Ez? – você chamou, preocupada e confusa, quando ele encostou a testa sobre seus joelhos e ficou ali.

— Só um minuto – pediu ele, ainda agarrado a você, deitado em seu colo, respirando fundo. – Só… Espera um minuto. Me deixa ficar aqui um pouco. 

— Tudo bem. 

Você esperou. Em alguns momentos, os ombros dele tremiam com a respiração, mas ele não fez nenhum som. 

— Quando você acordou? – perguntou o elfo, sem sair de onde estava. 

— Há alguns meses.

Silêncio. Mais algumas respirações profundas. 

— Como… Como foi?

Você começou a contar a história. Não era feliz, mas era sua. Contou sobre acordar sem saber quanto tempo tinha passado, sobre encontrar com Lance e imediatamente colocar uma adaga em seu pescoço, sobre Leiftan… E sobre acordar em um mundo onde a pessoa mais importante de sua vida não estava mais presente. Sobre a visão que tivera do sofrimento dele, o motivo de ter juntado suas coisas e fugido na mesma noite, seguindo pistas fantasmas e lembranças na esperança de encontrá-lo. 

Em algum momento, você estendeu a mão e começou a acariciar os cabelos dele. O aperto dele no tecido da sua roupa aumentava cada vez mais. 

Um curto silêncio seguiu sua fala.

— Você se mudou para o seu chalé nas montanhas – você observou, mudando levemente de assunto. – Aqui parece ser tranquilo. E você tem uma família. Isso me deixa mais feliz do que eu poderia imaginar. Eu quis vir porque não consegui suportar a ideia de você… quebrado daquele jeito. Mas você está bem. 

Ele ergueu a cabeça apenas o suficiente para que pudesse olhar em seus olhos. Ele tinha claramente chorado um pouco em algum ponto do seu discurso, mas agora a olhava como uma claridade impressionante. 

— Pergunta – pediu, baixo. – Eu sei que você quer saber, então pergunta. 

— Então você tem filhos?

Ele desviou o olhar, claramente incomodado com sua covardia, mas sorriu logo depois.

— Filhos, não – começou, voltando a te olhar. – Tenho dez pestes morando na minha casa. 

— Ezarel! – Você riu, pega de surpresa não pelo fato dele ter chamado aquelas crianças adoráveis de pestes, mas pela logística de ter dez filhos em alguns anos. Vários deles claramente eram adotados, e pensar em suas histórias fez com que seu coração ficasse quente outra vez. 

Ele suspirou.

— Pergunta – pediu, de novo.

— Você se casou?

Ele atirou as mãos para o céu em um gesto dramático, ainda ajoelhado ali.

— É claro que eu não me casei! – Ele cutucou seu joelho, tentando assumir sua clássica postura brincalhona, mas você viu diretamente através da fachada. As mãos dele ainda tremiam levemente, suas inspirações ainda eram erráticas, suas palavras se atropelavam. – É que nós… Bom… Você e eu…

— Ezarel. – Você escorregou da cadeira para o chão da mesma forma que ele tinha feito antes, e assim vocês estavam de joelhos, frente a frente. Tentando aparentar uma calma que não existia, você segurou as mãos dele nas suas. – Tudo bem. Eu não sou ingênua. Mesmo que para mim não tenha sido tanto tempo, para você foi… Uma vida. Uma parte enorme da sua vida, sem mim. – Você sorriu e limpou uma lágrima prestes a cair pela bochecha dele, enquanto ele a observava, imóvel. – Eu sei que, a este ponto, você seguiu em frente. Não vim aqui para pedir que você me aceite de volta, nem nada parecido.

Você não ousaria. Não tinha esse direito, depois de tê-lo deixado. 

— Então eu acho bom que você esteja aqui para terminar comigo – disse ele, sério. – Porque eu posso ser um galinha, mas não sou infiel, e isso está me matando há anos. 

— Ezarel! – Você riu com a piada, olhando para as mãos dele entre as suas, mas após um longo silêncio decidiu olhá-lo nos olhos. Ele ainda estava sério. – O que você quer dizer com isso?

— Nós nunca… – Ele olhou em volta, perdido.

— Ez – você incentivou, baixo.

— Você e eu nunca acabamos de verdade. Eu conseguia sentir você dentro daquele cristal. – A cada palavra, seu coração despencava de um abismo. – Você nunca… morreu. Eu não podia… Eu sentia que… – Ele suspirou. – Mesmo que eu tenha parado de acreditar que você acordaria há um longo tempo, isso não me impedia de sonhar. Eu nunca ignorei você lá fora. É só que, depois de tanto tempo, eu me cansei de interagir com meus delírios diurnos de você voltando para mim.

— E o sal? – Você não conseguiu responder a uma confissão tão direta.

— Se não era uma alucinação, nem um sonho, era provável que fosse um demônio ou qualquer faerie mexendo com a minha cabeça. Mais provável que você estar realmente aqui, viva, aqui. – Conforme falava, ele começou de novo a cutucar seu corpo, apertando seus braços, sua barriga, seu cabelo… – Você está tão linda quanto estava na última vez em que nos vimos – murmurou, como se fosse tão fácil dizer aquilo que ele nem precisava pensar. 

— Ezarel. – Você gostaria de ser mais eloquente, mas nada mais saía de sua boca a não ser o nome dele. 

— Então, a não ser que esteja aqui para realizar doze tarefas impossíveis e reconquistar meu coração, tenha a decência de terminar nosso relacionamento formalmente antes de sair. E não bata a porta, por favor. – Ele abriu exatamente o mesmo sorriso que usava para zombar dela no passado. Antes do amor, antes até da amizade; o sorriso de quando ele a achava uma criatura insuportável.

— Seu palhaço. – Você o empurrou pelo ombro, meio rindo, meio chorando, sem conseguir distinguir o que era real. – Não tem graça! Não faz muito tempo que eu acordei com a notícia de que você tinha ido embora pra sempre. As suas feridas podem ter fechado, mas por mais que eu esteja aqui bancando a adulta, as minhas estão bem abertas. Então, por favor

Ezarel tomou seu rosto entre as mãos, os calos e a pele grossa fazendo cócegas na sua pele. As mãos dele pareciam ser a maior evidência da passagem do tempo e de uma vida completamente diferente. 

— Eu sei que vou acordar a qualquer momento – sussurrou ele. – É um milagre eu não ter acordado ainda. É o sonho mais longo que já tive com você. Por favor, me deixa dizer tudo que eu gostaria de dizer caso isso um dia pudesse ser real.

— Ez. – Você estava de volta a conseguir dizer apenas o nome dele, perdida na intensidade daquele olhar. 

— Se você não manifestar nenhuma reclamação, eu vou te beijar agora. 

Você não teve coragem de encontrá-lo no meio do caminho, com medo de estar se aproveitando da vulnerabilidade dele para seu próprio bem. Quando os lábios dele estavam a meros centímetros dos seus, você expirou.

— Ez, talvez seja uma boa hora para avisar que não é um sonho – você alertou, com o cuidado de não se afastar nem se aproximar.

— É exatamente o que você sempre diz nos meus sonhos.

Ele eliminou a distância, e por um instante você se permitiu apenas fechar os olhos. Os lábios dele estavam rachados, como sempre, e a sensação de beijá-lo depois de meses de anseio era quase esmagadora. No fim, você cedeu, e segurou o tecido da camisa dele com força, sem intenção de deixá-lo outra vez. 

— Por curiosidade – você sussurrou, tão perto que seus narizes ainda se tocavam. – Quais seriam as doze tarefas impossíveis que você mencionou mais cedo?




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Notas finais do capítulo

E aí? Preciso de opiniões, eu tava tão desesperada por esse encontro que talvez tenha transparecido no texto ahuahuahua o que a abelha filmes não quis fazer, eu faço de bom grado.
Prometo que nos próximos capítulos eu trabalho melhor esse luto que ele viveu pelo relacionamento deles, deixa o menino se divertir por enquanto.
Inspiração foi uma thread das linguagens do amor do Ezarel no twitter, outra sobre momentos com ele (essa me destruiu) e obviamente o AD AL do Lys, que foi totalmente METAS DE RELACIONAMENTO.
Já tô divagando demais, o que talvez queira dizer que é hora de dormir. Boa noite!



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