Filha de Gelo e Fogo escrita por Dafne Guedes


Capítulo 31
Epílogo da Parte II




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Chuva encharcou o exército nortenho-fluvial pela maior parte de sua marcha em direção ao Dente Dourado; pelo qual eles agora podiam passar sem medo dos senhores de Lorde Tywin, pois a maioria deles fora convocada para Porto Real. Seu cavalo trotou por cima de lama lisa, escorregando as patas pela água que subia e descia as colinas do Oeste. Os montes desnudos de árvores do passado verão em nada ajudavam a subida.

                O céu cinzento do lado de fora fazia Cordyra pensar muito no que se passava dentro de sua própria cabeça. Estavam voltando a Winterfell, mas a que custo?

                Primeiro, ela sabia, Robb precisava reunir suas tropas novamente em Correrrio, onde conseguiria ajuda de seus senhores fluviais. Apenas depois eles fariam a subida por Fosso Cailin, que deixava Cordyra ansiosa, pois a fortaleza que marcava a entrada para as terras nortenhas jamais havia sido tomada, nem uma única vez, por terra.

                Além disso, e talvez a parte mais preocupante, na manhã seguinte àquela em que receberam as notícias de Bran e Rickon, Robb andou até Ryman Frey, e o disse que gostaria de renegociar a proposta dos dragões. O herdeiro das Gêmeas não levou a notícia alegremente, e recolheu seu exército inteiro para levar as notícias até o seu avô, Lorde Walder Frey, nas gêmeas. Avisou várias vezes que o insulto não seria tomado levianamente; os Frey lutaram por um dragão e nada menos que isso. Robb o disse severamente que os Frey lutaram pela independência da coroa, e o mandou para dar as notícias.

                Agora, o diminuto exército partia na direção do Dente Dourado. Consciente da enorme perda que era Ryman ter levado embora o exército dos Frey (e com ele o jovem Olyvar, que era escudeiro de Robb), sor Brynden Tully precisou reorganizar o exército durante a maior parte da manhã e, quando eles partiram, já era mais de meio-dia.

                Por outro lado, eles também haviam ganhado novos rostos no exército; os Westerling, a senhora Sybell numa égua alta e imponente, com um véu cobrindo a sua cabeça, prometera a lealdade de sua casa em troca de seu marido, Gawen. Em troca, Robb tomou o seu caçula, Rollam, como escudeiro, e Cordyra aceitou Jeyne entre suas senhoras, especialmente agora que Rosey estava em falta. A rainha pensou que a jovem nobre não parecia assim tão alegre que sua mãe estivesse indo com eles, para encontrar com o marido também em Correrrio.

                Conforme eles se aproximavam do Dente Dourado; e Cordyra não podia estar mais feliz em deixar as Terras do Oeste, onde sentia que apenas conhecera dor e luto, o exército nortenho foi tomando o terreno mais alto, e Cordyra, vendo estratégia nisso, foi à procura de Robb, que cavalgava na cabeça do exército.

                Ele falava em voz baixa com Lorde Brynden, suas cabeças juntas de forma que cinza e vermelho se misturavam em seus cabelos.

—Vossa Graça! –Cordyra chamou para se anunciar, e viu Robb e Brynden puxarem os cavalos para encará-la. Ela se deixou chegar mais próxima antes de perguntar em voz baixa. –O que há?

                Robb não sorria desde a semana anterior, quando receberam as notícias. A própria Cordyra não se sentia num humor para sorrisos, mas isso dificultava a leitura de suas expressões; Robb havia sido leve e risonho, e quando estava sério tinha de significar que enfrentavam problemas, mas agora ele estava sério quase todo o tempo.

—Robett Glover foi capturado em Valdocaso pelo exército de Daven Lannister. –Anunciou. –Lorde Galbard trouxe as notícias quando juntou seu exército ao nosso. –Ele olhou para o horizonte como se esperasse alguma coisa. –Estão mandando Robett com uma escolta, em troca de Martyn Lannister.

                O jovem Martyn não era tão entusiasmado quanto o irmão gêmeo, Willem, mas havia aguentado com resignação as marchas e a as brincadeiras do exército nortenho sobre seus primos, Cersei e Jaime. Cordyra não se aproximara dele, pois não queria despertar a ira de Robb, mas ele tampouco demonstrara interesse nos lobos ou dragões.

—Diga-me de novo sua ideia, sor Brynden. –Pediu Robb.

                Sor Brynden se empertigou. Ali estava um homem interessante, Cordyra pensou. Tanto tempo se recusando a jogar o Jogo dos Tronos; recusara-se a fazer um casamento vantajoso, poderia ter tomado uma cadeira em Porto Real no lugar de seu irmão, mas ao invés disso, escolhera servir no Ninho da Água à sua sobrinha. Mas ali estava ele; o conselheiro mais confiável de um rei, que era seu sobrinho.

—Leve alguns soldados de confiança, e não apareça na troca, Vossa Graça. –Aconselhou o Peixe Negro. –Não precisamos que os Lannister saibam que o nosso exército está defasado, e se não o verem, acreditarão que passou na frente com o outro pedaço.

                Não era má ideia; eles não precisavam que Daven Lannister soubesse de seus conflitos internos, não tão perto do território deles, pois eventualmente a notícia se espalharia de qualquer forma. Robb pareceu concordar.

—Pois bem, Sor Brynden. –Disse ele, sério mais uma vez. Cordyra conteve um suspiro. –Traga Robett de volta para nós, e se livre deste garoto, Martyn.

                Robb e Cordyra cavalgaram com alguns guardas para o lado Fluvial do Dente Dourado. Os dragões e os lobos com eles. No alto de uma colina tinham menos chance de ser vistos e eles subiram, e subira, tão alto que parecia que o céu cinza por cima deles os engoliria, mas continuaram a subida. Cordyra não sabia por quanto tempo eles acabariam por esperar até que Brynden mandasse alguém buscá-los, então desmontaram dos cavalos. Olyvar Forken e Hallis Mollen foram fazer uma fogueira, à qual imediatamente os dragões se juntaram, mas Robb andava pela colina como se estivesse em uma jaula; incansavelmete. Cordyra então se juntou a ele em suas passadas ansiosas.

                Queria dizer a ele que não se afastasse do grupo, que ficasse por perto; que a vida do rei valia mais que qualquer outra coisa. Ao ser aproximar dele, porém, Robb pegou sua mão, e Cordyra fingiu que estava de volta a Winterfell, no Bosque Sagrado, e que seus primos estavam seguros dentro das altas paredes do castelo, e eles eram jovens e sem preocupações. Se ela realmente se esforçasse, podia ouvir a voz de seu tio no pátio, checando com Jory como andava o treinamento da guarda.

                Quando Robb abriu a boca para falar, Cordyra pôs uma mão em seu peito. Via algo ao longe, um som como uma manada correndo enlouquecida, ficando cada vez mais alto. Lançou o seu olhar ao longe, mas haviam se distanciado muito dos guardas e dos lobos e dragões. Robb também ouviu, porque começou a se esticar, tentando ver abaixo da curva da colina.

                Ele estendeu uma mão para pegar a Irmã Negra em suas costas, e a puxou para frente deles quando mais de uma dúzia de lobos caiu sobre eles.

Ao seu lado, Robb praguejou uma vez, ferozmente. Não havia tempo de alcançar mais uma arma; puxou-a com força para perto de si, com o braço livre, e com a outra mão ergueu Irmã Negra alto sobre a cabeça. A luz da lâmina era ofuscante. Cordyra cerrou os dentes... E os lobos estavam sobre eles.

Era como uma onda quebrando... uma explosão repentina de barulho ensurdecedor, e uma corrente de ar quando os primeiros lobos do bando avançaram e saltaram — havia olhos ardentes e mandíbulas abertas. Robb apertou os dedos na lateral de Cordyra... E os lobos continuaram pelos lados deles, se abrindo no espaço em que estavam por uns bons 70 centímetros. Cordyra virou a cabeça, incrédula, enquanto dois lobos — um lustroso e malhado, o outro enorme e cinza como aço — atingiram o chão suavemente atrás deles, pausaram e continuaram correndo, sem sequer olhar para trás. Havia lobos por todo lado, e, no entanto, nenhum deles os tocou. Passaram correndo, uma inundação de sombras, os pelos refletindo o luar em lampejos de prata de modo que pareciam quase um rio solitário, movendo-se em forma de raio em direção a Robb e Cordyra — e depois se dividindo ao redor deles, como se fossem uma pedra. Os dois poderiam ter sido estátuas a julgar pela atenção dispensada pelos lobos enquanto passavam, de bocas abertas e olhos fixos na estrada à frente. Então desapareceram. Robb se virou para ver os últimos lobos passarem correndo para alcançar os companheiros. Fez-se silêncio novamente, apenas os ruídos muito fracos de uma vila ao longe. Robb soltou Cordyra, abaixando a Irmã Negra ao fazê-lo.

                Cordyra demorou a encontrara a própria voz. Havia uma estranha umidade entre suas pernas.

—Não somos os únicos lobos nas Terras Fluviais. –Robb comentou, a voz tensa como um arco retesado.

                Ela levou a mão ao vestido, sem prestar muita atenção às palavras do marido, e segurou o tecido, notando que estava tão molhado que a água fazia uma mancha escura na altura de seu baixo ventre. Cordyra levou alguns segundos para processar a informação.

—Robb. –Chamou com urgência, agarrando o tecido da roupa dele para chamar sua atenção. –Robb, o bebê está a caminho.


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