Filha de Gelo e Fogo escrita por Dafne Guedes


Capítulo 20
Planos de Guerra


Notas iniciais do capítulo

Por enquanto ainda estamos em Correrrio com Catelyn, então sabem mais ou menos o que acontece. Primeiro capítulo da Parte II, espero que gostem!
A música do capítulo é Hollowed Kings, de Ursine Vulpine e Annaca.



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"Where hollowed kings
All turn to dust upon their thrones
And the fallen speak
Their quiet prayers for your return"

 

Os dois sentavam-se em cadeirões no salão de Correrrio, à espera. Quando os guardas trouxeram o cativo, Robb pediu sua espada. Olyvar Frey a ofereceu pelo punho, e Robb desembainhou-a e a pousou, nua, nos joelhos, uma clara ameaça para que todos vissem. O castelão de Winterfell o teria avisado que tirasse o aço da bainha apenas se pretendesse usá-lo, mas sor Rodrik estava longe, e não havia ninguém mais para dizê-lo.

A espada era apenas temporária, com seu aço valiriano na cor negra, e o rubi vermelho encrustado no cabo. Cordyra a oferecera a Robb, com a condição de que ele a usasse em seu nome, e o jovem marido a aceitara. Tinha um gume mais afiado do que sua antiga espada forjada por Mikken, o ferreiro de Winterfell, embora fosse mais leve, feita para as mãos de uma mulher. Robb não se importou; muitos outros bons homens haviam usado a espada. Maus também.

— Vossa Graça, aqui está o homem que requisitou –Anunciou Sor Robin Ryger, capitão da guarda doméstica dos Tully.

— Ajoelhe-se perante o rei, Lannister! –Gritou Theon Greyjoy. Sor Robin forçou o prisioneiro a cair de joelhos.

Este Sor Cleos Frey era filho da Senhora Genna, irmã de Lorde Tywin Lannister, mas não possuía nada da afamada beleza dos Lannister, nem o cabelo claro e os olhos verdes. Em vez disso, herdara as viscosas madeixas castanhas, o queixo recuado e o rosto estreito do pai, Sor Emmon Frey, o segundo filho do velho Lorde Walder. Seus olhos eram claros e úmidos, e pareciam não ser capazes de parar de piscar, mas talvez fosse só por causa da luz. As celas sob Correrrio eram escuras e úmidas… E, naqueles dias, cheias de gente.

— Erga-se, Sor Cleos –Disse Robb, com a voz de senhor. Cordyra se perguntou se ele iria forjar uma nova voz para ser rei. A guerra tinha feito dele um homem antes da hora. A luz da manhã cintilava levemente no gume do aço que tinha sobre os joelhos.

Mas não era a espada que deixava Sor Cleos Frey ansioso; era o animal. Robb o tinha chamado Vento Cinzento. Um lobo gigante, tão grande como um cão da raça elkhound, esguio e escuro como fumaça, com olhos que eram como ouro derretido. Quando a fera avançou e farejou o cavaleiro cativo, todos os homens presentes na sala conseguiram sentir o cheiro do medo. Sor Cleos tinha sido capturado durante a batalha do Bosque dos Murmúrios, onde Vento Cinzento rasgou a garganta de meia dúzia de homens. O cavaleiro levantou-se com dificuldade, afastando-se com tanta rapidez, que alguns dos que assistiam riram alto.

 – Obrigado, senhor.

— Vossa Graça. –Ladrou Lorde Umber, o Grande-Jon, sempre o mais sonoro dos vassalos nortenhos de Robb… e também o mais leal e feroz, ou pelo menos era o que insistia em dizer. Tinha sido o primeiro a proclamar Robb Rei do Norte, e não tolerava nenhuma afronta à honra do seu novo soberano.

— Vossa Graça – corrigiu-se rapidamente Sor Cleos. – Perdão.

— Tirei-o da sua cela para levar uma mensagem minha à sua prima Cersei Lannister, em Porto Real. Viajará sob uma bandeira de paz, com trinta dos meus melhores homens para acompanhá-lo.

Sor Cleos ficou visivelmente aliviado.

— Nesse caso, será com grande alegria que levarei a mensagem de Vossa Graça à rainha.

 – Compreenda – disse Robb – que não estou lhe oferecendo a liberdade. Seu avô, Lorde Walder, garantiu-me seu apoio e o da Casa Frey. Muitos dos seus primos e tios os acompanharam no Bosque dos Murmúrios, mas o senhor escolheu lutar sob o estandarte do leão. Isso faz de você um Lannister, não um Frey. Quero a sua garantia, pela sua honra como cavaleiro, que depois de entregar minha mensagem retornará com a resposta da rainha e voltará ao cativeiro.

Sor Cleos respondeu de imediato:

— Juro.

— Todos os homens presentes neste salão o ouviram – preveniu o irmão da tia Catelyn, Sor Edmure Tully, que falava por Correrrio e pelos senhores do Tridente no lugar do pai moribundo. – Se não retornar, todo o reino saberá que perjurou.

— Farei o que jurei fazer – Sor Cleos respondeu rigidamente. – Que mensagem é essa?

— Uma oferta de paz – Robb ficou de pé, com a espada na mão. Vento Cinzento pôs-se ao seu lado. O salão silenciou-se. – Diga à Rainha Regente que, se aceitar as minhas condições, embainharei esta espada e encerrarei a guerra entre nós.

                Se sor Cleos estava surpreso, teve o cuidado de não demonstrar isso. No fundo da sala, Cordyra observou lorde Karstark saindo da sala de forma tempestuosa. Parte dele quis ir atrás dele; havia perdido dois filhos, que dor poderia possivelmente ser maior? Mas era um vassalo, e era esperado que apoiasse seu suserano. Ir atrás dele não era o papel de Cordyra. Tinha um lugar ao lado do rei.

— Olyvar, o papel – ele ordenou.

O escudeiro apresentou a espada e entregou-lhe um pergaminho enrolado. Robb o desenrolou.

— Em primeiro lugar, a rainha deverá libertar minhas irmãs e oferecer-lhes transporte por mar de Porto Real até Porto Branco. Deve ficar claro que a promessa da mão de Sansa a Joffrey Baratheon chegou ao fim. Quando receber do meu castelão a notícia de que minhas irmãs foram devolvidas incólumes a Winterfell, libertarei os primos da rainha, o escudeiro Willem Lannister e seu irmão, Tion Frey, e lhes darei uma escolta segura até Rochedo Casterly, ou qualquer outro local onde ela deseje que sejam entregues.

                Willem e Tion não passavam de crianças. O primeiro tinha os cabelos dourados dos Lannister, e o segundo, madeixas castanhas. Não estavam nas masmorras com o resto dos prisioneiros, mas em celas especais, com camas e guardas às suas portas, Cordyra fora até eles, levara comida um par de vezes. Lorde Umber insistira que não era trabalho de uma rainha, e lorde Cerwyn chegara até mesmo a insinuar que os meninos podiam atentar contra a vida dela. Mas o que Cordyra encontrara nas celas fora apenas isso: meninos. Estavam assustados e a visão de Norte ao seu lado fizera Tion Frey gemer enrolado em si mesmo. Vira alguns soldados sendo mortos por Vento Cinzento e não suportava a visão dos lobos.

                Willem fora mais corajoso, embora não tivesse se aproximado da comida até que Norte parasse de cheirar as fatias de carneiro assado que Cordyra o oferecia. Cordyra perguntou quem ele era, e o garoto explicou que era filho de Kevan Lannister, escudeiro de Jaime Lannister, irmão gêmeo de Martyn Lannister. Disso ela sabia. Mas ele também a contou que estava aprendendo a manejar a espada com o primo, Jaime, de quem ele falava com admiração que prescindia as palavras, e que sua comida preferida era queijo trufado com tartufos brancos. Na terceira visita, ele pedira para tocar no lobo, e Cordyra garantira que Norte apenas o machucaria se ele pretendesse fazer mal a ela.

                Então o garotinho de cabelos dourados acariciou o pelo denso da loba.

                Ao redor deles, haviam testas franzidas e lábios apertados. Mas também haviam dois lobos gigantes no estrado, então ninguém abriu a boca. De qualquer forma, Cordyra estava curiosa para saber o que diriam, caso tivesse tal coragem.

— Em segundo lugar, os ossos do senhor meu pai nos devem ser devolvidos, para que possa repousar ao lado do seu irmão e de sua irmã nas criptas sob Winterfell, como teria desejado. Assim como devem sê-los os restos mortais dos homens da guarda doméstica que morreram ao seu serviço em Porto Real.

                Agora Cordyra ficou o olhar em sua tia. Os lábios de Catelyn estavam comprimidos, e seus olhos pareciam grandes e brilhantes.

— Em terceiro lugar, a espada do meu pai, Gelo, será entregue em minhas mãos, aqui em Correrrio. Em quarto lugar, a rainha ordenará a seu pai, Lorde Tywin, que liberte meus cavaleiros e senhores vassalos que capturou na batalha do Ramo Verde do Tridente. Assim que fizer isso, libertarei os seus prisioneiros capturados no Bosque dos Murmúrios e na Batalha dos Acampamentos, exceto apenas Jaime Lannister, que permanecerá meu refém a fim de garantir o bom comportamento do pai. E, por fim, o Rei Joffrey e a Rainha Regente devem renunciar a todas as exigências de domínio sobre o Norte. De agora em diante, não fazemos parte do seu reino. Somos um reino livre e independente, como nos tempos antigos. Nossos domínios incluem todas as terras Stark a norte do Gargalo, às quais se somam as terras banhadas pelo Rio Tridente e seus afluentes, limitadas a oeste pelo Dente Dourado e a leste pelas Montanhas da Lua.

— O REI DO NORTE! – Trovejou Grande-Jon Umber, com um punho do tamanho de um presunto socando o ar enquanto gritava: – Stark! Stark! O Rei do Norte!

Robb voltou a enrolar o pergaminho.

— Meistre Wyman desenhou um mapa, mostrando as fronteiras que reclamamos. Levará uma cópia para entregar à rainha. Lorde Tywin deverá se retirar para lá dessas fronteiras e pôr fim aos ataques, incêndios e pilhagens. A Rainha Regente e seu filho não cobrarão impostos, rendimentos ou serviços do meu povo e libertarão os meus senhores e cavaleiros de todos os votos de lealdade, juramentos, penhores, dívidas e obrigações devidas ao Trono de Ferro e às Casas Baratheon e Lannister. Além disso, os Lannister entregarão dez reféns de alto nascimento, a se determinar por mútuo acordo, como garantia de paz. Irei recebe-los como hóspedes de honra, de acordo com suas posições sociais. Desde que os termos deste pacto sejam respeitados fielmente, libertarei dois reféns por ano, e eles serão devolvidos a salvo às suas famílias – Robb atirou o pergaminho enrolado aos pés do cavaleiro. – As condições são estas. Se ela as aceitar, terá a paz. Se não – assobiou, e Vento Cinzento avançou, rosnando –, terá outro Bosque dos Murmúrios.

— Stark! – Voltou a rugir Grande-Jon, e agora outras vozes o acompanharam no grito: – Stark. Stark. Rei do Norte! – O lobo gigante jogou a cabeça para trás e uivou.

                Sor Cleos havia adquirido um tom pálido de leite, mas a própria Cordyra também sentiu o uivo nos ossos quando Norte se juntou à cantoria.

— A rainha ouvirá a sua mensagem, senh… Vossa Graça.

— Ótimo – Robb respondeu. – Sor Robin, providencie uma boa refeição e roupa limpa para ele. Deverá partir ao raiar do dia.

— Às suas ordens, Vossa Graça – sor Robin Ryger aquiesceu.

— Então terminamos.

Os cavaleiros e senhores vassalos dobraram os joelhos quando Robb se virou para sair, seguido de perto por Vento Cinzento. Ele deu a Cordyra a mão para que o acompanhasse, e ela segurou seu braço, Norte em seu encalço. Olyvar Frey, o escudeiro, precipitou-se na frente, para abrir a porta. Catelyn os seguiu, com o irmão ao seu lado.

— Você foi bem. –Disse Catelyn ao filho, na galeria que levava para a parte de trás do salão –Embora aquela coisa com o lobo fosse uma brincadeira mais adequada a um garoto do que a um rei.

Robb coçou Vento Cinzento atrás das orelhas e trocou um sorriso com Cordyra. Ela forçou-se a sorrir de volta. Ainda sentia enjoos matinais, e também tinha vontades esporádicas de atacar Robb com a Irmã Negra depois do que ele prometera sobre os dragões. Era uma boa coisa que fosse o rei que levasse a espada à tiracolo, e não ela.

— Você viu a cara dele, mãe? – Ele perguntou, sorrindo.

— O que vi foi Lorde Karstark saindo.

— Eu também.

Robb ergueu a coroa com ambas as mãos e a entregou a Olyvar.

— Leve esta coisa para o meu quarto. –Ele olhou para Cordyra como se esperasse que ela fizesse o mesmo com a própria coroa. Mas a sua era leve, e combinava com seus cabelos esbranquiçados, então ela não o fez.

— Imediatamente, Vossa Graça – o escudeiro afastou-se a passos rápidos.

— Aposto que havia outros que sentiam o mesmo que Lorde Karstark – Edmure declarou. – Como podemos falar de paz enquanto os Lannister se espalham como uma peste pelos domínios do meu pai, roubando suas colheitas e massacrando seu povo? Volto a dizer, deveríamos marchar sobre Harrenhal.

— Não temos força para isso – Robb retrucou, em tom infeliz. –Não aguentaríamos um cerco com as perdas que tivemos de colheita, e Lorde Tywin certamente espera que nos arrisquemos. Não.

Edmure insistiu:

— Será que ficamos mais fortes aqui, parados? Nossa tropa diminui todos os dias.

— E de quem é a responsabilidade disso? – Catelyn se dirigiu ao irmão.

Foi por insistência de Edmure que Robb tinha dado aos senhores do rio licença para partir após a coroação, para que cada um defendesse suas terras. Sor Marq Piper e Lorde Karyl Vance tinham sido os primeiros a partir. Seguiu-os Lorde Jonos Bracken, prometendo recuperar o esqueleto queimado do seu castelo e enterrar os mortos, e agora Lorde Jason Mallister tinha anunciado sua intenção de voltar aos seus domínios em Guardamar, ainda misericordiosamente intocados pela luta.

— Não pode pedir aos senhores do rio que não façam nada enquanto seus campos são pilhados e seu povo é passado na espada – Sor Edmure rebateu. – Mas Lorde Karstark é do Norte. Seria ruim se nos deixasse.

— Falarei com ele – Robb se adiantou. – Perdeu dois filhos no Bosque dos Murmúrios. Quem pode censurá-lo por não querer fazer a paz com os seus assassinos… Com os assassinos do meu pai…

— Mais derramamento de sangue não trará seu pai de volta para nós, nem os filhos de Lorde Rickard – Catelyn o alertou. – Uma proposta tinha de ser feita… Embora um homem mais sábio tivesse oferecido termos mais agradáveis.

— Mais agradável do que aquilo teria me dado náuseas.

— Cersei Lannister nunca consentirá em trocar suas irmãs por um par de primos. É o irmão que ela quer, como você sabe muito bem – Catelyn já lhe tinha dito exatamente isso, mas estava descobrindo que os reis não escutavam com a mesma atenção que os filhos.

— Não posso libertar o Regicida, nem mesmo se quisesse. Meus senhores nunca admitiriam isso.

— Os seus senhores fizeram de você o rei deles.

— E podem desfazer com a mesma facilidade.

— Se a coroa for o preço a pagar para que Arya e Sansa nos sejam devolvidas sãs e salvas, deveríamos pagá-lo de boa vontade. Metade dos seus senhores gostaria de assassinar o Lannister na sua cela. Se ele morrer enquanto for nosso prisioneiro, os homens dirão…

— … que teve o que merecia – Robb concluiu.

— E suas irmãs? – Catelyn perguntou rispidamente. – Também merecem a morte? Garanto-lhe que se algum mal acontecer ao irmão, Cersei pagará sangue com sangue…

— Lannister não morrerá – Robb parecia ter certeza do que dizia. – Ninguém sequer fala com ele sem a minha autorização. Tem comida, água, palha limpa, mais conforto do que teria direito. Mas não o libertarei, nem mesmo por Arya e Sansa.

                Aquela era uma discussão antiga, e perdida para o lado das mulheres. Certamente Cordyra e Catelyn valorizavam mais a vida das meninas que a honra de Robb, mas descobriram rapidamente que o Robb rei nunca tomava nenhuma vantagem para si mesmo. Era a coisa certa a se fazer, mas apenas do ponto de vista militar, masculino. Fossem seus dragões maiores, Cordyra teria voado com eles por cima de Porto Real, e colocado tudo em fogo se fosse para trazer suas primas de volta. Depois, voaria sobre as Gêmeas, e desfaria o acordo de seu marido. Que a sua honra se danasse para lá. Ela queria as meninas. A velocidade arteira de Arya, e a gentileza fácil de Sansa.

— Será que tem medo de ver Lannister de novo em batalha? É esta a verdade?

Vento Cinzento rosnou, como se tivesse pressentido a ira de Robb, e Edmure Tully pôs uma mão fraternal sobre o ombro de Catelyn.

— Cat, pare. O menino tem razão nisso.

 – Não me chame de menino – Robb reagiu, virando-se para o tio, derramando toda a ira de uma vez só sobre o pobre Edmure, que só tinha querido apoiá-lo. – Sou quase um homem-feito, e um rei… o seu rei, sor. Mãe, o que acha que acontecerá se dobrar o joelho e voltar para Winterfell como protetor do Norte? Os Lannister vão deixar que Cordyra viva para dar-me filhos e deixar que cresçamos um exército de cavaleiros de dragão no Norte? O preço de voltar a Winterfell agora, e dobrar o joelho pelas meninas é a cabeça de minha esposa, e de qualquer filho que ela me der.

                Catelyn não olhou para Cordyra. Robb não havia terminado:

—E não temo Jaime Lannister. Derrotei-o uma vez, vou derrotá-lo de novo se precisar. É só que… – afastou uma mecha de cabelo dos olhos e balançou a cabeça – poderia ter trocado o Regicida pelo pai, mas…

— … mas não pelas meninas? – A voz de Catelyn era calma e gelada. – Meninas não são importantes o suficiente, não é?

                Foi como se ela o houvesse desferido um tapa.

— Farei tudo o que puder pelas minhas irmãs – Robb se recompôs. – Se a rainha tiver algum bom-senso, aceitará meus termos. Se não, farei com que ela lamente o dia em que os recusou – era evidente que estava farto do assunto. –Mãe, vá com Theon. Ele parte de manhã. Irá ajudar os Mallister a escoltar aquele grupo de cativos para Guardamar e depois embarcará para as Ilhas de Ferro. Poderia também encontrar um navio e chegar a Winterfell em uma virada da lua, se os ventos forem bons. Bran e Rickon precisam da senhora.

— Resta ao senhor meu pai muito pouco tempo. Enquanto seu avô for vivo, meu lugar é em Correrrio, com ele.

— Poderia ordenar que partisse. Como rei, poderia.

Catelyn ignorou aquilo.

— Digo de novo que preferia que mandasse outra pessoa a Pyke e mantivesse Theon por perto.

— Quem seria melhor do que o filho para lidar com Balon Greyjoy?

— Jason Mallister – Catelyn sugeriu. – Tytos Blackwood. Stevron Frey. Qualquer um… mas Theon não.

Robb agachou-se ao lado de Vento Cinzento, afagando o pelo do lobo, e como que por acaso evitando seu olhar.

— Theon lutou corajosamente por nós. Contei como ele salvou Bran daqueles selvagens na mata de lobos.

—Com irresponsabilidade, se bem me lembro. –Cordyra interferiu, com a voz cheia de desprezo. Jamais gostara de Greyjoy, mas Robb parecia ter se esquecido o que de fato se passara na Mata de Lobos, e como ele próprio havia ficado furioso. Robb a lançou um olhar de lado, enquanto Catelyn assentia em concordância.

—Se os Lannister não quiserem fazer a paz, precisarei dos dracares de Lorde Greyjoy. –Robb voltou o seu olhar para a mãe.

— Seria mais fácil tê-los se mantivesse seu filho como refém. –Apontou Catelyn.

— Ele foi refém metade da vida.

— Por bons motivos – Catelyn respondeu. –Balon Greyjoy não é homem em quem se possa confiar. Lembre-se de que também usou uma coroa, ainda que só durante uma estação. Pode aspirar a usá-la novamente.

Robb ficou em pé.

— Não tenho rancor dele por isso. Se sou Rei do Norte, que ele seja Rei das Ilhas de Ferro, se é isso o que deseja. De bom grado lhe darei uma coroa, desde que nos ajude a derrubar os Lannister.

— Robb…

— Vou enviar Theon. Bom dia, mãe. Vento Cinzento, vem.

                Cordyra o seguiu pelos corredores. O quarto que eles dividiam ficava na fortaleza central de Correrrio, com seus três lados, e eram cercados de outros lordes por todos os lados. Mesmo assim, Quent, Olyvar e Hallis ainda eram colocados eventualmente na porta, para guarda-los, especialmente desde que o meistre de Correrrio confirmara o que Cordyra já suspeitava: esperava por uma criança.

                Seria uma criança de inverno, Cordyra pensou, lembrando-se da carta trazida por um corvo branco no começo daquela semana.

                Uma vez no quarto, ela seguiu para a janela. A paisagem era estranha; o bosque dos murmúrios se erguia do lado de forma, mas apenas após muito chão coberto de água. Havia água em Winterfell e nos arredores, mas eram córregos, lagos e riachos; nada como o poderio do grande rio que cercava Correrrio. Nas águas estava refletido o rastro vermelho do cometa que cortava no céu. Agora era possível vê-lo durante o dia, e todos pareciam ter uma impressão diferente sobre o seu significado.

                Grande-Jon Umber dissera a Robb que os deuses antigos hastearam uma bandeira vermelha de vingança pelo seu tio Ned. Edmure, o irmão da tia Cat, acreditava tratar-se de uma truta vermelha com o céu azul como fundo, significando a vitória de Correrrio. Outros diziam que era um presságio de guerra, e que significava sangue derramado. Apenas Jocelyn olhou para o cometa desinteressada.

—Ora! –Exclamara dando de ombros. –São dragões, minha senhora. É a primeira vez que são vistos há cem anos e está sendo anunciado.

                Robb se aproximou por de trás dela e parou, tão perto que ela podia sentir a respiração pesada dele em sua nuca. Era apelativo, mas Cordyra se virou, ficando de frente para enfrenta-lo.

—Mandou uma mensagem para os Frey? –Perguntou-lhe.

                Robb pareceu magoado.

—Não ainda. –Respondeu. Então suspirou. –O que sugere?

                Cordyra não podia se importar menos com os Frey, então abriu a boca para responder qualquer coisa, quando Robb segurou suas mãos.

—Minha senhora, por favor. –A voz dele era cheia de necessidade. –Os Frey têm quatro mil homens, e preciso de cada um deles.

—Quando esses dragões cresceram, valerão mais que qualquer número de soldados. –Cordyra garantiu, a voz confiante. –Ofereça um filhote de lobo. Norte pode acabar tendo filhotes um dia.

                Robb soltou suas mãos e endireitou-se.

—Me dê algum tempo para pensar no que os oferecerei. –Pediu ele. –Então mandarei a mensagem.

                Quando ele se virou, ela pensou que não aguentaria. Se faria em pedaços se deixasse ele ir embora. Cordyra foi até Robb, e ele olhou para ela com surpresa. Ele a pegou em seus braços, e o alívio foi incrível – ela não tinha percebido o quanto queria ser tocada até que ele estava a tocando. Até que ele a estava abraçando, e sua força, calor e suavidade estavam todos pressionados contra ele, e seu rosto era tão lindo que doía, e seus lábios se separaram de surpresa e sem outro pensamento ela os beijou.

                Seus órgãos internos derreteram deliciosamente, quentes dentro dela. Robb a apertou mais forte, e doeu, mas foi uma dor deliciosa. Ele acariciou seu rosto conforme foi se afastando, e ela deixou que terminasse o beijo.

—Theon está indo, e preciso supervisionar sua partida. –Disse ele, e antes que ela dissesse qualquer coisa, já estava partindo.

                Sem mais nenhuma palavra, ele foi-se embora, com Vento Cinzento em seu encalço. Cordyra virou-se e olhou para Norte, acanhada no chão, com os lábios apertados. Sabia que estava o afastando, com sua insistência, mas não era uma guerra que estava disposta a perder.

—Os dragões não vão. –Ela falou para a loba, com determinação.


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