Lost: O candidato escrita por Marlon C Souza


Capítulo 24
Capítulo 24 - Hanbal




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Era o ano de 2010, e Aaron ocupava a espaçosa sala de estar na imponente casa de sua avó, Carole Littleton. Com seus seis anos, ele mergulhava em um mundo de brincadeiras enquanto sua mãe, Claire, compartilhava um momento na conversa com sua avó. Ambas estavam acomodadas no sofá, observando o pequeno se divertir com seus brinquedos.

— Não importa o que eu faça, mãe. Parece que o Aaron está sempre me rejeitando. Já se passaram três anos desde que Kate saiu de nossas vidas — desabafava Claire, uma expressão de desilusão marcando seus traços.

— Eu entendo sua inquietação, filha. Kate deixou uma marca significativa na vida dele, mas duvido que ele se lembre dela. Ele era muito pequeno na época — consolava Carole, suas palavras carregadas de experiência materna.

— Como você pode ter tanta certeza, mãe?

— Confie em mim, filha. É apenas uma fase.

Ao dizer isso, Carole se levantou e se dirigiu à cozinha. Claire se aproximou de Aaron, sorrindo. No entanto, Aaron continuava imerso em seu mundo de brincadeiras, até que sua mãe o interpelou:

— Filho, você me ama?

Aaron virou-se para ela e respondeu com um sorriso sincero: — Claro, mamãe.

A resposta animou Claire, que abriu um sorriso ainda mais amplo. — Obrigada. Eu também te amo.

Ao dizer isso, ela o abraçou. Carole observava a cena, encostada na pilastra próxima a eles, um sorriso afetuoso se formando ao ver sua filha abraçada com seu neto.

Em um ponto indefinido no tempo, Aaron se encontrava diante de um homem que insistia ser uma versão futura dele mesmo. Hanbal, como era chamado naquela época, afirmava ser o próprio Aaron que havia vivido por anos naquela região, junto ao antigo povo egípcio de Decalia, próximo ao povoado conhecido como os Rakotis. O peso desse momento sombrio pairava sobre sua mente, pois, afinal, seu eu mais velho acabara de revelar que estavam 5 mil anos no passado, em uma região que, no futuro, se tornaria a ilha onde estavam seus companheiros atualmente.

— Você não pode simplesmente me deixar aqui sozinho. Isso é absurdo — exclamou Aaron, claramente irritado e preocupado.

— Relaxa, rapaz. Vamos manter a calma. Vai da tudo certo. — Tentou Hanbal apaziguar a situação.

Aaron sacou a pistola de seu bolso, ameaçando Hanbal. — Não me faça perder a paciência. Quem diabos é você?

— Vamos com calma. Não precisa chegar a esse ponto — respondeu Hanbal, tentando acalmar os ânimos.

— Pela última vez: quem é você? — Insistiu Aaron, pressionando o gatilho.

— Já disse, sou você, 20 anos mais velho. — Revelou Hanbal, exibindo um sorriso enigmático.

— Não estou brincando — retrucou Aaron, já irritado, torcendo a expressão.

— Eu sou você. Tenho 45 anos agora. Estamos exatamente 5 mil anos no passado. Não menti sobre isso. Estamos na ilha, ou melhor, no continente africano. Este é o lugar exato onde a ilha estava antes de se tornar uma ilha pelas mãos de Taweret — explicou Hanbal.

Aaron arregalou os olhos, assustado. As palavras de Hanbal pareciam uma mistura estranha de ficção e realidade. Seus pensamentos permaneciam entrelaçados, como se aquele à sua frente fosse, de alguma forma, uma versão mais velha e distorcida de si mesmo. A semelhança era notável, mas a compreensão ainda escapava dos limites da razão.

No “presente”, na ilha, o helicóptero controlado por Miguel suavemente tocou o solo, transportando Wilbert, Juan, Marcel e uma tropa de soldados. Juntos, desembarcaram rapidamente em uma área aparentemente deserta da ilha, liderados por Wilbert em direção a um local desconhecido na densa floresta. Entretanto, ao chegarem lá, suas expectativas foram frustradas pela ausência de qualquer sinal da base mencionada por Wilbert.

— Onde está a base? — indagou Miguel, expressando sua inquietação e surpresa.

— Estava bem aqui. Dadas as circunstâncias, acredito que alguém tenha movido a ilha — comentou Wilbert, lançando uma sombra de mistério sobre a situação.

— Como assim “movido a ilha”? — perguntou Juan, perplexo.

— Há muita coisa para explicar agora — respondeu Wilbert, deixando todos os presentes confusos e curiosos.

Subitamente, um dos soldados se aproximou de Wilbert com uma informação alarmante. — Senhor, tudo desapareceu instantaneamente após o clarão — relatou o soldado.

— Entendido, soldado. Mas não importa agora. Nosso foco é a Estação Orquídea. Temos que impedir que a ilha continue pulando no tempo — declarou Wilbert com determinação.

— Sim, senhor — confirmou o soldado.

— Chame Frank e Walt para mim e peça que ele vá imediatamente para lá. — Ordenou Wilbert.

— Desculpe, senhor. Frank e Walt partiram com alguns de nossos homens para a floresta, com o objetivo de eliminar Ben Linus — informou o soldado.

— Como é? — indagou Wilbert, visivelmente irritado com a insubordinação. Enquanto eles conversavam, Marcel saia de fininho, afinal, tinha outros planos em mente.

Enquanto isso, do outro lado da ilha, Walt observava de longe o grupo que sepultava o corpo de Cindy próximo à praia. Seus olhos fixavam Clementine, a jovem que havia sido sequestrada por ele dias antes, e que agora estava junto ao grupo que lamentavam o funeral.

— O que está olhando? — questionou Yan, ao passar perto de Walt.

— Nada — respondeu Walt.

— Clementine me disse que você tentou matá-la. Não tenho medo de você. Também sou um candidato, e sei que não pode me matar — provocou Yan.

— Para alguém da sua estatura, você é bem valente, não é, rapaz? — comentou Walt.

— Por que a sequestrou? — indagou Yan.

— Não a sequestrei. Foi Wilbert. Eu queria usá-la como moeda de troca pela vida de Ben Linus, o homem que arruinou minha vida. Ele sim me sequestrou e fez meu pai cometer suicídio pelo bem dessa ilha — explicou Walt.

— Não me importo com sua história. Ela me disse que você puxou o gatilho e ainda ordenou aos soldados que fizessem o mesmo. Não funcionou. Poderia ter a matado. — Contou Yan.

— Eu imaginava que não funcionaria — admitiu Walt. —Mas a vida de vocês não importa para mim. Saiba que, neste momento, estou aqui para vingar meu pai.

— Então, por que está entre nós? — perguntou Yan, apreensivo.

— Porque, se o mundo acabar por minha culpa, terei que carregar esse fardo pelo resto da minha vida após a morte — revelou Walt, deixando Yan confuso.

— Vida após morte? Você é louco — comentou Yan.

— Você deixou sua vida de enfermeiro em um dos maiores hospitais dos Estados Unidos para se unir à trupe de Aaron para uma expedição sem pé nem cabeça, e o louco sou eu? Eu vim parar nessa ilha por acaso. O que me tornei foi por acaso. E não sei por que estou te dando satisfação, fedelho — disse Walt, levantando-se com raiva e deixando Yan para trás.

De repente, emergindo da floresta, Hugo apareceu ao lado de Aaron/Hanbal, despertando a curiosidade de todos.

— Olha, é Hugo e aquele homem — comentou Jessy.

Todos se aproximaram curiosos. Walt resolveu manter uma distância respeitosa.

— Olá pessoal. É bom revê-los depois de tantos anos — cumprimentou Hanbal/Aaron com um sorriso no rosto.

— Aaron? — Indagou Clementine, seus olhos cheios d'água como se pudesse reconhecer aquele à sua frente. Depois de tudo que passou era reconfortante vê-lo, visto que não o via desde que foi abandonado por Walt para trazer Ben, mas estava estranhamente mais adulto e sério.

— Olá, Clementine. É bom revê-la — disse Aaron, sorrindo, enquanto Clementine estava vermelha e tentando entender como ele poderia estar mais velho.

Em 2011, a atmosfera festiva do sétimo aniversário de Aaron envolvia o quintal, onde primos e amigos compartilhavam risadas. Enquanto a família Littleton se reunia nas mesas, Claire, a anfitriã, anunciou a hora dos parabéns, reunindo todos diante do bolo festivo.

Em meio à celebração, Claire, ao perceber que havia esquecido a vela, não pôde evitar rir da situação.

— Esqueci a velinha — confessou, provocando risos entre os presentes. Determinada a remediar a situação, ela se dirigiu à casa para buscar a vela. Na cozinha, enquanto procurava pela pequena peça, Claire se deparou com uma figura do passado: Thomas.

— Olá, Claire — cumprimentou ele.

— O que você está fazendo aqui? — indagou ela, escondendo sobriedade sob seu sorriso festivo.

— Sua mãe me deixou entrar, então eu ...vim trazer um presente para o Aaron — explicou Thomas, sorrindo.

— Ele não precisa do seu presente — afirmou Claire, seus olhos revelando uma mistura de emoções mal resolvidas.

Thomas segurou o presente, colocando-o sobre a arquibancada da cozinha. — Faça esse presente chegar nas mãos dele. Sei que isso não compensa o fato de eu ter abandonado vocês, mas senti que precisaria entregar isso.

— Vai embora — ordenou Claire, a tensão crescendo entre eles.

— Já estou de saída — respondeu Thomas, mas antes que pudesse se retirar, Claire soltou as palavras represadas.

— Não pense que um presente pode consertar o que você fez. Abandonar sua família não é algo que se resolve com uma caixa bonita — disparou ela, seu tom contendo anos de ressentimento.

Thomas suspirou, ciente da magnitude de suas ações passadas. — Eu sei, Claire. Mas precisava tentar.

Antes que a conversa pudesse se aprofundar, Aaron entrou correndo na cozinha. — Mamãe, cadê a velinha? — Perguntou ele, observando a tensão. — Quem é esse homem? — Continuou, enquanto Claire o pegava no colo.

— Não é ninguém. Ele já está indo embora — disse Claire, forçando um sorriso para proteger Aaron do turbilhão de emoções que estava prestes a explodir. Thomas se virou e partiu, deixando para trás não apenas um presente, mas também uma complexidade não resolvida.

Há 5 mil anos no passado, Aaron enfrentava sua versão mais velha, ambos imersos em um intenso olhar, a arma apontada entre eles.

— Abaixe a arma, cara. Eu sei que você não sabe usar — instigou Hanbal.

— Como pode ter tanta certeza? — Retrucou Aaron, desafiador.

— Eu já disse que sou você.

— Prove.

— No nosso aniversário de 7 anos, um homem te deixou um presente na cozinha, lembra? Aquele homem era nosso pai. E você já sabe disso, não é? A foto no diário da mamãe.

— Pare de falar como se fôssemos a mesma pessoa.

— Aaron, é estranho, eu sei. Eu sei que você nutre sentimentos pela Clementine desde o dia que a conheceu. Sei que Tyler é seu melhor amigo, tanto que ele ajudou muito você lá na Widmore. Sei que você tem medo de perder a mamãe, mas sempre sentiu que sentia falta de alguém e esse alguém é a Kate. Sei que você ama música graças a influências do Charlie. Eu sei tudo sobre você e sei também do que vai acontecer daqui em diante. Você em breve receberá a capacidade de se comunicar com o povo daqui. Taweret nos escolheu para sermos o guardião destas terras porque somente alguém que nasceu nesta ilha genuinamente, mesmo durante um período de infertilidade, poderia ocupar esse cargo. Aaron, nós nascemos aqui. Graças aos esforços da médica de Ben Linus, a Juliet, nós nascemos contrariando as leis de Taweret.

— Tá bom, já chega. Onde quer chegar?

— Como eu disse, vou voltar para o futuro. Não podemos coexistir na mesma linha temporal por muito tempo.

— Como você fará isso?

— Eu não posso te dizer, você descobrirá sozinho. Se eu te falar agora, provavelmente vai querer voltar para o futuro e tudo estará arruinado.

Aaron mais velho se virou para sair dali e, como se desaparecesse como mágica, começou a se dissipar.

— Espera, não me deixa aqui.

— Sinto muito por fazer isso para você, mas não somos mais donos de nossas vontades. Fomos escolhidos para esse cargo e temos que cumprir. A ilha nunca nos deixará em paz.

— Por favor, estou implorando.

Então, Aaron mais velho sumiu, deixando Aaron completamente desnorteado e aos prantos, mirando a arma para o vazio. Em um impulso de desespero, apertou o gatilho, e o som do disparo ecoou na região, marcando o momento em que o presente e o futuro colidiram em uma despedida angustiante.

No presente, Aaron, oriundo de um passado remoto, abandonando sua versão mais jovem, permanecia diante de todos que o admiravam por sua súbita transformação em um guerreiro envelhecido.

— Como você pode estar mais velho? — indagou Ji Yeon, seu olhar curioso fixado nas vestes de guerreiro que Aaron ostentava.

— Ah, peço desculpas pela surpresa. Oficialmente, sou o general do exército dos Decalos, pelo menos até Taweret transformar este lugar em uma ilha. Fui destituído do cargo por permitir que Minuts trabalhasse para Taurus. — comentou Aaron.

— Que loucura é essa? — questionou Ji Yeon.

— Aaron? Como assim, é você, cara? — Yan perguntou, perplexo. — O que aconteceu com sua versão mais jovem?

— Ele, que sou eu, permaneceu em Decalia por um tempo. Passei por apuros, mas sobrevivi e agora estou de volta. — explicou Aaron.

— Decalia? — Hugo perguntou, intrigado.

— Sim, é o verdadeiro nome deste lugar antes de se tornar essa ilha. — afirmou Aaron, referindo-se à ilha.

— Então, essa ilha era, na verdade, um lugar no continente? — Jessy perguntou.

— Exatamente, doutora. — confirmou Aaron.

— Como podemos ter certeza de que você é o Aaron? — Yan questionou, ainda desconfiado.

— Ah, cara, lembra quando fomos à casa de James juntos? Parece que foi há 20 anos para mim. Para você, foi há alguns dias. — lembrou Aaron.

— Estou impressionado com o quanto você mudou, Aaron. — comentou Clementine, admirando-o, mas sentindo uma tristeza profunda, pois a menina nutria sentimentos pelo agora homem maduro.

Aaron sorriu para Clementine e, para interromper as perguntas, decidiu esclarecer:

— Há muito para explicar, mas não temos todo esse tempo. Resumidamente, sou o Aaron que veio com vocês na expedição, fui para o passado, vivi lá por 20 anos, e agora estou aqui mais velho para finalmente derrotarmos Taurus de uma vez por todas. — explicou Aaron.

— Ok, já nos convenceu dessa loucura toda. Mas qual é o plano? Somos apenas pessoas comuns que vieram parar nesta ilha por sua causa. — observou Clementine.

— Ninguém está aqui por acaso. — disse Aaron a Clementine, virando-se então para Hugo. — Sinto que o novo guardião é o Roger. Hugo, você fez o ritual com ele, não é? — questionou.

— Sim, mas não funcionou. — respondeu Hugo.

— O ritual é apenas uma formalidade. — disse Aaron, sorrindo. — Roger é o novo guardião.

— Você está brincando, certo? Ele nos abandonou para fugir da ilha. — reclamou Hugo.

— Ele não vai muito longe. — assegurou Aaron.

Do outro lado, Roger e Frank avançavam em direção a um destino que pairava na incerteza da costa da ilha. O passo firme de Frank atrás dele incitou Roger a expressar sua irritação.

— Por que está me seguindo? — questionou Roger, impaciente.

— Só não quero fazer parte daquela loucura, assim como você.

— Por que deveria confiar em você? Tentou me matar em Sydney.

— Mas não matei, não é?

Irritado, Roger sacou sua pistola e a pressionou contra o pescoço de Frank.

— Me dê apenas um motivo para não te matar aqui e agora?

— Não tive escolha, Roger. Fui intimidado por Alvar. Ele jurou que faria mal à minha família se eu não o ajudasse.

Roger respirou fundo e, com ódio, retirou a arma do pescoço de Frank.

— Obrigado. — Comentou Frank enquanto se recuperava. — Qual o plano? — Indagou, curioso.

— Não sei como vamos sair daqui, mas vamos sair.

— Por experiência própria, sair daqui não é fácil. Podemos construir algo juntos. Uma jangada. O que acha?

— Ainda não confio em você, mas não tenho escolha. — Declarou Roger, retomando seu caminho, seguido por Frank.

Enquanto isso, Zack explorava a Estação Orquídea, quebrando a cabeça para descer o mais fundo possível até o local de manipulação da ilha. Em um instante rápido, alguém apareceu atrás dele e questionou:

— Quem é você?

Zack virou-se rapidamente, percebendo que era um desconhecido, mas era Richard Alpert, apontando uma espingarda para ele. Com medo, Zack levantou as mãos.

— Eu pensei que esta estação estivesse vazia. — Disse Zack.

— Controlamos todas as estações da Dharma. Não importa quem seja, terei que matá-lo.

— Só me diga, antes de me matar, em que ano estamos?

— Que pergunta é essa? Claro que é 2003.

— Eu sabia.

— O que está fazendo aqui? Não vou perguntar de novo.

— Você tem que acreditar em mim. Vim do futuro.

Richard riu. — De novo isso?

— É sério. Daqui a exatamente um ano, um avião vai cair na ilha. Voo 815 da Oceanic. Eu estarei a bordo com minha irmã Emma. Meu nome é Zack. Serei sequestrado por vocês e me tornarei um de vocês.

— E espera que eu acredite nisso?

— Espere e verá.

As palavras de Zack deixaram Richard confuso sobre como lidar com ele.

— O que espera que eu faça agora? — Indagou Richard.

— Me ajude a descer. Preciso consertar algo. Há um distúrbio na linha temporal, e se não resolvermos isso logo, o povo do futuro sofrerá.

Richard o encarou, atordoado com toda aquela informação, mas decidiu ajudar, sentindo algo peculiar em Zack que o impelia a querer auxiliar.

De volta à praia, o grupo se dispersara, cada um mergulhando em seus próprios pensamentos. Aaron e Hugo se aproximaram de Walt, que estava isolado, observando silenciosamente o desenrolar dos acontecimentos.

— Walt, Minuts conversou contigo? — questionou Aaron ao chegar.

— Sim. — respondeu Walt, mantendo a cabeça baixa.

— Não se preocupe. Não te culpo pelo que fez comigo. Eu posso extinguir as trevas dentro de ti que Taurus implantou. Basta se libertar desse desejo de vingança. — disse Aaron, um sorriso iluminando seu rosto.

— É tarde demais para mim, cara. — Lamentou Walt.

— Não é tarde. Nem para ti, nem para Minuts. Taurus sempre explorou o desejo de vingança nas pessoas. Passei anos acreditando que o ódio de minha mãe por Kate era uma doença, mas eram apenas as trevas emergindo. O que precisamos fazer é evitar que isso se espalhe como um vírus. — explicou Aaron.

— Como um vírus? — indagou Hugo.

— Quando Taurus dominou os decalos, alguns foram subjugados por um espírito doentio de trevas, alimentado pelo desejo de vingança. Eles agiam conforme a vontade de Taurus, eliminando quem não obedecesse. Para impedir que isso se propagasse e Taurus não conquistasse o poder de Taweret, Decalia foi transformada nesta ilha. — revelou Aaron, fazendo uma breve pausa para absorver a expressão admirada dos presentes. — Com o poder de Taweret, Taurus poderia transformar o mundo em um exército de zumbis sob seu controle. Ele se tornaria o deus supremo. Estamos aqui para evitar isso. — esclareceu.

— Quando foi que você se tornou tão didático? — perguntou Hugo.

— Tenho 45 anos agora e recebi o dom de manipular destinos. Não sou mais o mesmo Aaron de antes. — revelou Aaron.

— Mas qual seria o nosso papel, afinal? — indagou Hugo. — Eles são apenas pessoas comuns. Não tem habilidades de guerra, Aaron.

— Compreendo tua preocupação, Hugo. Mas a ilha, ou melhor, Taweret, não os escolheu por acaso. Se falharmos, o mundo que conhecemos sucumbirá. — Concluiu Aaron, deixando Hugo e Walt estupefatos.

Em 2012, Claire estava no hospital de Sydney, Aaron ao seu lado, um garoto de oito anos. Jessy, na época uma estagiária médica, os atendeu com um sorriso caloroso.

— Olá. — Cumprimentou Jessy, sorrindo.

— Olá. Doutora Jessy, certo? — indagou Claire.

— Isso. Podem entrar no consultório, já estou pronta para atendê-los. — indicou Jessy, sorrindo.

Subitamente, Richard Malkin invadiu o hospital, visivelmente nervoso, seguido por uma enfermeira tentando detê-lo. Ele se dirigiu a Jessy, segurando-a pelo braço.

— Por que fez aquilo? — Questionou ele, agitado.

Observando a cena, Claire reconheceu o vidente que a influenciou a embarcar no voo que mudaria sua vida. Nervosa, ela se levantou e se aproximou.

— Richard Malkin? Não posso acreditar que seja você. — comentou ela.

— Claire? O que está fazendo aqui? Por que saiu da ilha? — Indagou Malkin, soltando Jessy.

— Eu que pergunto, seu desgraçado, mentiroso... — Comentou Claire, nervosa. Aaron observava a situação sentado na sala de consulta.

— O que foi Claire? Em que parte, menti? — Indagou Malkin.

— Me fez pegar aquele voo... sofri bastante por causa disso. — Disse ela.

— Seu bebê está bem, não está? Você o criou sozinha, como previ. Aaron é especial, e eu provei isso para você. — Comentou Malkin.

— Richard, volte para casa. Nos deixe em paz. — Comentou Jessy.

— Ainda não acabei contigo. Por que contou a minha esposa o que fizemos? — Indagou Richard, irritado.

— Larga ela, seu ogro. — Gritou Claire.

— Meu problema não é com você. É com essa mulher. — disse Malkin.

— Não a trate assim. Duvido que não a tenha enganado também. — retrucou Claire.

— Não se mete, garota. — gritou Malkin.

Então, alguém chegou, exibindo uma postura mais profissional. Era Marcel, completamente diferente da sua versão no presente.

— Ei, o que está acontecendo aqui? — indagou Marcel.

— Ninguém te chamou na conversa. — Ordenou Malkin.

— Não vou deixar o senhor tratar essas duas mulheres desse jeito. — disse Marcel.

— Não se intrometa, seu francesinho de merda. — gritou Malkin. Marcel cerrou o punho e desferiu um soco no rosto de Malkin, que rapidamente caiu no chão. Richard ficou olhando para Marcel com a mão no local atingido.

— O que foi? Quer tentar de novo, valentão? Com mulheres, quer bancar o fortão? — provocou Marcel.

Malkin se levantou e dirigiu-se à saída, sem reação, afinal, não tinha chances contra seu oponente.

— Estão bem? — perguntou Marcel.

— Sim. Estou bem, obrigada. — disse Jessy. Claire sorriu para ele, indicando que também estava bem.

— Sou Daniel. Estou aqui para a consulta. Sou o próximo. — Apresentou-se Marcel, como Daniel, sorrindo.

— Ah, claro. Tudo bem. Deixe-me apenas terminar de atender o Aaron. — respondeu Jessy, sorrindo.

Marcel, ou Daniel sorriu para Aaron, e os dois trocaram olhares por alguns segundos, o que chamou a atenção de Claire.

— Algum problema? — indagou Claire, tentando entender o significado daquele olhar.

— Nada. — respondeu Marcel/Daniel. Sentou-se no banco de espera enquanto Claire e Jessy seguiam para o consultório. Claire sentiu uma preocupação latente naquele olhar dirigido pelo homem à sua criança.

No presente, Marcel explorava as densas matas com um propósito claro, guiando-se entre arbustos e árvores na ilha. A cada passo, a sensação de estar perdido crescia dentro dele.

— Devo estar perdido — murmurou para si mesmo, sem ninguém por perto.

De repente, ele pisou em uma corda, sendo arremessado para o alto e ficando preso em uma rede, uma armadilha engenhosa. Marcel gritou por socorro, mas o eco de suas palavras parecia perder-se na vastidão da ilha. Horas se passaram, e ele já havia perdido as esperanças quando, finalmente, uma figura apareceu.

— Quem é você? — Indagou a mulher que chegara, armada com uma escopeta, sua identidade envolta na escuridão da noite.

— Meu nome é Marcel, estou perdido. Quem é você? — perguntou ele, visivelmente amedrontado.

— Você é um deles? — ela questionou.

— Um deles? De quem você está falando?

— Você é um dos outros?

A mulher aproximou-se da armadilha, revelando seu rosto. Era Danielle Rousseau.

— Danielle?

— Como sabe meu nome? — Indagou Danielle, completamente chocada com o fato daquele homem saber seu nome.

— C'est moi, ton frère, Daniel. (Sou eu, seu irmão, Daniel.) — disse Marcel, em francês, fazendo os olhos de Danielle se arregalarem.

Enquanto esse reencontro ocorria, na Orquídea, Zack e Richard encontraram uma maneira de descer até a parte de baixo da Orquídea: um botão dentro do escritório que havia no subterrâneo da estação que acionava uma porta que dava acesso a parte detrás do que parecia ser uma máquina do tempo chamada de “Transmissor magnético”.

— Como sabe que está atrás disso? — Indagou Zack.

— Somente eu sei como funciona essa estação. Nem Ben sabe como chegar ao leme. É uma medida de precaução contra ele.

— Por que me ajudou?

— Já vivi o bastante para não duvidar mais de alguém que diz que vem do futuro. — Disse Richard, sorrindo para Zack. Por outro lado, Zack estranhou aquela atitude de Richard, mas ainda assim, entrou a porta e chegou a alguns túneis que o levou até o leme.

Zack estava assustado com o local. O frio era intenso. Determinado a continuar, andou até o leme. Quando chegou lá, percebeu que estava deslocado e se movia freneticamente, mas sua parte superior não tocava a luz. Zack se aproximou lentamente.

Dentro da floresta, Danielle se aproximava da armadilha onde Marcel, ou talvez Daniel, se encontrava. O reencontro a deixava admirada e profundamente abalada.

— Est-ce vraiment toi? (É realmente você?) — indagou ela para o homem que afirmava ser seu irmão.

— Oui, c'est moi. Laisse-moi partir, s'il te plaît. (Sim, sou eu. Me solte, por favor.) — gritou ele.

Danielle desfez a armadilha, fazendo Marcel cair ao chão. Ela se aproximou lentamente, observando-o tentar se libertar.

— Je suis sur cette île depuis 15 ans. Comment peut-il apparaître ici et maintenant? (Estou há 15 anos nesta ilha. Como pode aparecer aqui e agora?) — indagou Danielle, confusa.

— 15 ans? Impossible. Nous sommes en 2029. (15 anos? Impossível. Estamos em 2029.)

Danielle apontou a arma para ele. — Es-tu cette foutue fumée qui essaie encore de me tuer ? (Você é aquela maldita fumaça tentando me matar?) — indagou ela, completamente nervosa.

— Quoi? Non, je jure. (O quê? Não, eu juro) — disse Marcel/Daniel com as mãos para cima, após se soltar da armadilha.

Neste momento, Zack puxou o leme para cima, recolocando-o em seu lugar original. A luz e o som que haviam desaparecido reapareceram, deixando todos atônitos.

Na praia, o desespero tomava conta do grupo.

— O que está acontecendo? — indagou Yan.

— Está acontecendo de novo? — questionou Clementine, em desespero.

— Alguém colocou o leme no lugar que o Ben mexeu.

— Zack?! — exclamou Emma, triste por seu irmão ter conseguido.

O grupo de Wilbert também estava sendo afetado.

— Isso está acontecendo de novo? — indagou Juan para Wilbert.

— Parece que sim. — disse Wilbert.

De repente, o céu ficou branco novamente. Danielle olhava para Marcel/Daniel em choque, armou sua arma e tentou atirar nele. Subitamente, ele desapareceu.

Marcel/Daniel, ao abrir os olhos, estava sozinho na floresta, já era dia.

— O que aconteceu? — indagou ele ao vazio, saindo em disparada pela floresta.

— Danielle? — chamava para ninguém que estava ali.

Aaron abriu os olhos e olhou para Hugo, dizendo:

— Voltamos.

Enquanto isso, fora da ilha, Charlie e Tyler chegavam à estação Poste de Luz, apressados para obter a localização da ilha. Enquanto estavam lá, o telefone de Charlie tocou.

— Alô? — atendeu Charlie. — Como assim a ilha se moveu de novo?

— De novo? — questionou Tyler, irritado.

— Está em nosso tempo?! — indagou Charlie. — Obrigado, disse ele, desligando.

Zack acordou em solo tunisiano. O deserto o deixou completamente aflito. Caminhou lentamente em direção a uma cidadezinha próxima, admirado por finalmente ter saído da ilha.


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Notas finais do capítulo

Uma singela homenagem a eternizada Mira Furlan, atriz que fez Danielle em Lost.



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