Lost: O candidato escrita por Marlon C Souza


Capítulo 16
Capítulo 16 - À sombra da ilha




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/809104/chapter/16

 

Aaron trilhava um caminho sombrio na floresta, determinado a evitar qualquer encontro indesejado. Perdido em pensamentos, ele seguia os trilhos mais densos da ilha, o futuro incerto pairando em sua mente. A decisão de entregar Ben e salvar Clementine era algo totalmente novo para ele, uma jornada repleta de incertezas.

Exausto, ele se deixou cair no chão, mergulhando na escuridão da noite, que turvava sua visão. Subitamente, ouviu sussurros misteriosos emergindo dos arbustos à sua frente. — Quem está aí? — ele indagou, temor enchendo seus sentidos. Então ele se levantou.

As vozes pareciam se originar de todas as direções, deixando Aaron em pânico. Apontou sua arma freneticamente em todas as direções, mas as vozes não cediam, como se ecoassem em sua mente. Acuado pelo medo, ele cobriu os ouvidos, buscando refúgio na esperança de escapar do tormento auditivo. Então, uma voz familiar emergiu, encerrando aquele momento de agonia. Era a mesma voz que ouvia em sonhos e visões, repetindo as palavras "me encontre".

Sem hesitar, Aaron olhou para trás e viu um homem loiro, com um sorriso enigmático adornando seu rosto, vestindo roupas que evocavam o estilo de um roqueiro. Era Charlie Pace. A familiaridade era inegável, mas Aaron só conseguia lembrar dele nos momentos de loucura, enquanto estava imerso nas visões estranhas da ilha. — Olá Aaron. — disse Charlie, fixando um olhar penetrante em seus olhos.

Enquanto isso, do outro lado da ilha, a busca pelos desaparecidos intensificava-se sob o véu da noite. Jessy avançava com os braços cruzados, assombrada pelas lembranças do que havia ocorrido no navio, onde tantos homens foram deixados à mercê da morte. A médica encontrou um momento de desespero e sentou-se entre as raízes das árvores, lágrimas silenciosas escapando de seus olhos. Nesse instante, um dos soldados que seguia Roger aproximou-se, demonstrando preocupação:

— Tudo bem?

— Não, não está tudo bem. — desabafou ela, suas emoções em um turbilhão — Nunca antes tinha abandonado pacientes daquela maneira. E por que ninguém está comentando sobre isso? Pessoas morreram de maneira terrível por causa dessa doença insana que a Clementine mencionou.

O soldado permaneceu em silêncio, respeitando o momento de dor enquanto Jessy chorava. Após um breve intervalo, ele finalmente estendeu a mão, um gesto de compaixão em meio à escuridão.

— Levante-se, vamos lá. Vamos encontrar os desaparecidos. — disse ele, incentivando-a a se erguer.

No passado, Jessy era uma médica notável, brilhando no Hospital de Sydney como uma cardiologista excepcional. O ano era 2020, durante a pandemia de COVID-19, o momento em que sua carreira ganhava proporções extraordinárias. Uma noite de maio de 2020, ela estava em um plantão, acreditando que seria apenas mais uma noite comum. Em um breve intervalo, saiu do consultório para fumar, buscando um momento de alívio. Repentinamente, Charllote Malkin, sua colega de plantão, apareceu. Loira, com olhos azuis penetrantes, Charllote era altamente dedicada à profissão.

— Está tudo bem contigo? — perguntou Charllote, preocupada.

— Só mais uma noite. — respondeu Jessy.

— Está brincando? Você está fumando de novo. Não combina muito bem para uma cardiologista, sabia? — comentou Charllote, rindo. Jessy também riu.

— Como está seu pai? — mudou de assunto Jessy.

— O asilo não tem sido fácil para ele. Minha mãe ainda insiste que deveríamos cuidar dele em casa.

— Ironicamente, a única coisa que seu pai não conseguiu prever foi essa pandemia.

— Ele ainda gosta muito de você.

— Gosta, não é? Tudo poderia ter sido diferente.

— Você deveria visitá-lo. Seria muito importante para ele.

— Vou tentar amanhã após o plantão. — decidiu Jessy, jogando o cigarro fora, colocando sua máscara no rosto e retornando para o interior do hospital, deixando Charllote para trás. Ao ver Jessy entrando, Charllote deu um sorriso, abaixando a cabeça, como se tivesse algo em mente.Parte superior do formulário

No presente, Aaron encarava Charlie, imerso em um misto de incredulidade e incerteza. O sorriso de Charlie era enigmático, um gesto que convidava Aaron a se aproximar.

— Você não está realmente aqui. — afirmou Aaron, vacilante diante do que estava vendo.

— Estou aqui, Aaron. E tenho algo importante para te dizer.

— Primeiro, quem é você? — questionou Aaron, buscando entender essa figura inesperada. — Por que você me parece tão familiar?

— Desculpe por não me apresentar antes. Quando nos conhecemos, você era apenas um bebê. Meu nome é Charlie. Charlie Pace. Fui vocalista da Banda Drive Shaft, acredito que você já tenha ouvido falar.

— Não. Nunca ouvi falar. — Comentou Aaron, fazendo Charlie bufar. — Você estava no Oceanic 815 também, não é? Você morreu. — Completou sua fala, indagando Charlie.

— Sim, cara, eu morri. Mas estou preso nesta ilha, assim como todos que partiram com alguma missão.

Aaron riu, aproximando-se de Charlie, mas ao tentar tocá-lo, percebeu que não conseguia. Um arrepio de assombro percorreu seu corpo.

— Convincente o suficiente? — indagou Charlie.

— Eu sempre senti que assistente administrativo não era o meu sonho. Sempre sonhei em ser músico. Mas não tenho nenhuma referência na família a respeito disso. — Comentou Aaron, ainda fascinado com o que estava vendo a sua frente.

— Quando você era um bebê, eu fiz questão de te envolver nesse universo da música. Bom, pelo menos o pouco tempo que estivemos junto.

— O que você quer de mim? — perguntou Aaron, afastando-se com um leve temor.

— Aaron, preciso lhe contar algumas coisas, especialmente sobre o homem que você está prestes a confrontar: Ben Linus.

— Como sabe disso?

— Sou uma alma errante nesta ilha. Conheço tudo o que ocorre aqui.

— E o que você quer me dizer?

— Primeiramente, é ótimo vê-lo novamente, cara. Cresceu. Eu cuidei de você quando era apenas um bebê. Não por muito tempo, mas cuidei de você e de sua mãe, Claire. Sempre a amei.

— Por que minha mãe nunca me falou de você?

— Provavelmente ela nunca superou minha morte. Ou talvez não tenha superado o que fiz.

— O que você fez?

— Não importa mais. Muitos anos se passaram. Apenas preste atenção. O homem que você está caçando é um dos mais astutos e perigosos que já conheci. No entanto, por alguma razão, ele é crucial para esta ilha. Não cometa o erro de entregá-lo a mãos erradas.

— Espere, por que eu sonhava com você? Sua voz, essa voz, é tão familiar.

— Tentei trazer você aqui através dos sonhos. Você não é como Hugo, então a única maneira de me comunicar com você fora da ilha era por meio de sonhos e visões.

— O quê? Então foi você?

— Desculpe, Aaron. Não é fácil se comunicar com o mundo exterior, especialmente com alguém vivo. Walt tinha esse dom.

— Como assim Walt tinha esse dom?

— Não importa. Qualquer explicação agora é inútil. Siga apenas as instruções que te enviei. — disse Charlie, quando de repente os sussurros voltaram, e Charlie desapareceu diante dos olhos de Aaron. Assim, os sussurros também se dissiparam.

Enquanto a incerteza pairava sobre Aaron, Roger, Ben e Hugo chegaram ao coração da ilha, onde uma luz pulsante irradiava de uma taverna escondida sob enormes rochas. Roger estava boquiaberto com o que testemunhava, o cenário parecia extraterreno, tudo menos realidade.

— Que luz é essa? — Roger questionou, sua voz carregada de espanto.

— Essa é a energia que mantém a ilha em funcionamento. Aqui, coisas sobrenaturais acontecem, e você já deve ter percebido isso ao chegar aqui. Este lugar foi projetado para ser difícil de encontrar, porque a ilha, ela se move no tempo. — explicou Ben.

— Como assim? — Roger não conseguia esconder sua confusão.

— Hugo, talvez esse não seja o momento ideal para um ritual. — Ben interveio.

— Do que ele está falando? — Roger perguntou, sua impaciência se intensificando.

— Como todo local sagrado, precisa de um guardião. Neste momento, preciso que você assuma o meu papel como guardião, pois a ilha me rejeitou pelo que fiz. — Revelou Hugo, provocando uma expressão de perplexidade em Roger.

— E o que você fez? — Roger indagou diretamente, fazendo Ben olhar para Hugo, preocupado com o que ele poderia dizer.

— Trouxe alguém para a ilha que não deveria estar aqui, e esse alguém está agora ajudando Taurus a roubar todo o poder desta ilha para si. — Hugo afirmou, fazendo Ben franzir a testa.

A última pergunta de Roger, segurando a vontade de rir, foi direcionada a Ben: — Quem seria esse alguém?

— Walt. Por causa dele, tivemos que enviar a chave, no caso, Desmond, de volta ao continente para encontrar novos ocupantes para o meu cargo, porque a ilha já não me quer mais. — revelou Hugo.

Roger começou a rir freneticamente. Ben revirou os olhos e disse a Hugo: — Ele não pode ocupar essa posição.

— Neste ponto, não temos escolha, Ben. Sabendo que Wilbert já está aqui. — Hugo respondeu.

— Espera, o quê? Wilbert DeGroot? — Roger indagou, surpreso.

— Sim, ele mesmo. Precisamos que você aceite esse cargo imediatamente, porque estamos correndo um grande risco de Taurus retornar à ilha. — Hugo enfatizou.

— Isso é absurdo. — Roger protestou.

— Se parece absurdo, não custa tentar. — Hugo disse, fazendo Roger ficar pensativo.

Enquanto isso se desenvolvia, do outro lado da ilha, Jessy sentou-se novamente, desta vez para descansar, o soldado que a acompanhava sentou o lado dela, pegou seu cantil e bebeu. Logo em seguida, ofereceu para ela, que rejeitou.

— Como pode estar tão calmo? — Indagou ela, para o soldado.

— Do que vai adiantar eu me estressar? Já aceitei o convite de Roger e estou aqui. Sinto muito pelos que perderam a vida, mas eu já sabia que não seria fácil.

— Para mim tudo isso é um pesadelo. Eu já vi pacientes morrerem em massa, mas não assim. — Comentou ela, olhando fixamente para o soldado.

No passado, Jessy percorria os labirínticos corredores do imenso hospital em Sydney. Ao sair para o exterior, ela se afundou em um assento, buscando um breve alívio no cigarro que queimava entre seus dedos trêmulos. O estresse a consumia, suas emoções à flor da pele, quando de repente, as lágrimas transbordaram em um choro desesperado.

— Está tudo bem? — Uma voz interrompeu o turbilhão de seus pensamentos, trazendo-a de volta à realidade. Jessy ergueu o olhar, encontrando alguém parado bem à sua frente, seu rosto um misto de curiosidade e compreensão.

— Não. Nada está bem. Eu não esperava que fosse assim. — Ela admitiu, sua voz carregada de desânimo.

Erguendo a cabeça, seus olhos encontraram os de Richard Alpert, como se o próprio destino o tivesse colocado ali. Ele se sentou ao seu lado, sua presença tranquilizadora em meio ao caos.

— É incrível como um microscópico vírus pode abalar nossas vidas dessa forma. — Ele comentou, a voz suave carregando uma sabedoria profunda.

— Eu sonhei durante tanto tempo em ser médica. E agora parece que todas as minhas expectativas foram jogadas ao vento. — Jessy confessou, a frustração escorrendo de suas palavras.

— Às vezes, a vida nos reserva reviravoltas que jamais poderíamos prever. Mas são esses desafios que nos moldam e nos tornam mais fortes. — A voz de Richard era um bálsamo para sua alma angustiada.

— Você tem razão. — Um sorriso tímido desabrochou no rosto de Jessy, um lampejo de esperança surgindo em seus olhos. — Desculpe, nem perguntei seu nome.

— Richard Alpert. Apenas um humilde representante da Widmore Corporation. Estou em Sydney a trabalho, observando a área. — Ele se apresentou com um toque de humildade.

— E o que um representante de uma corporação desse porte está fazendo aqui, no meio do caos de um hospital?

— Digamos que eu não me acostumei muito bem com a ideia de envelhecer. — Um brilho travesso iluminou os olhos de Richard, e ambos compartilharam uma risada espontânea.

— Obrigada, senhor Alpert. Rir em um dia como esse é um alívio e tanto.

— Por favor, me chame apenas de Richard. E saiba que você não está sozinha nisso. Se quiser, podemos continuar essa conversa em um lugar mais tranquilo. A Widmore poderia ter um interessante caminho para você.

— Imagino que sim. — Jessy fixou seu olhar no dele, uma conexão inexplicável se formando entre os dois.

— Bem, eu preciso seguir. — Richard comentou, estendendo um cartão para ela. — Mas estou à disposição, caso queira falar mais.

E assim, Richard partiu, deixando Jessy envolta em pensamentos.

No presente, Jessy estava no limite, suas emoções em turbilhão. O nome que reverberava em sua mente, acusador e carregado de ressentimento, era o de Richard Alpert. — Se não fosse pelo Richard, eu não estaria nessa situação maldita. Oportunidade maravilhosa, não é mesmo, seu traidor desgraçado? — Escapou-lhe o comentário, quase como um sussurro amargo para os ventos. Um soldado que estava por perto olhou para ela, curioso.

— Quem é esse Richard? — Perguntou o soldado, sua voz incitando a curiosidade queimando nos olhos de Jessy.

— Ah, não me surpreende que não conheça. Richard é apenas o homem que transformou minha vida em um pesadelo. E agora, ele está morto. — A amargura tingia cada sílaba enquanto ela falava.

— Compreendo. Dra. Williams, acho que seria prudente retornarmos ao acampamento. Parece que a senhora está passando por um momento difícil.

— Faça o que quiser, soldado...

— Yago. Meu nome é Yago.

Enquanto a cena se desenrolava, do outro lado da ilha, Roger se preparava para o ritual sob a orientação de Hugo. Ben cuidadosamente trouxe um copo de água do riacho, suas águas reluzindo à luz que escapava das profundezas da gruta.

— E o que exatamente eu devo fazer? — Roger perguntou, seu tom carregado de desconfiança.

— Apenas aguarde. — Hugo respondeu, mais tranquilo e transmitindo uma confiança enigmática. Ben entregou o copo de água para Hugo, que bebeu e depois ofereceu a Roger.

— Não vou beber essa água até me explicarem o que diabos está acontecendo. — Afirmou Roger.

— Por que não apenas beber e ver o que acontece? — Questionou Ben, com uma pitada de impaciência.

— Beber e depois o quê? Isso tudo é loucura, seu lunático. — Roger respondeu, sua voz cheia de desdém.

— Ele tem as mesmas atitudes do Sawyer. — Comentou Hugo a Ben.

— Não me lembre disso. — Ben resmungou.

Roger revirou os olhos, pegou o copo das mãos de Hugo e tomou um gole. Hugo, então, disse:

— Agora, somos iguais.

Roger olhou para Hugo, confuso, mas antes que pudesse protestar, algo aconteceu. Uma compreensão silenciosa pareceu passar entre eles.

— Roger, para onde você vai? — Ben questionou quando Roger se levantou apressadamente.

— Vocês queriam que eu bebesse, bebi. Agora preciso encontrar Aaron, Clementine e os outros.

— Você não pode fugir do seu destino, Roger. A ilha tem um plano para você, queira ou não. — Hugo disse com serenidade.

Roger se virou para Hugo, raiva faiscando em seu olhar. Ele agarrou a camisa de Hugo, seu punho cerrado, pronto para desferir um golpe.

— Escute aqui, gordinho. Eu não sei que tipo de poderes você tem ou se essa ilha é uma fantasia maluca. Não me importo nem um pouco.

— Não foi culpa sua, Roger. — Hugo comentou, sua voz firme, mas gentil.

— Do que você está falando? — Roger perguntou, confuso e um pouco perturbado. Ben observava a cena sem intervenção.

— Julia. Você sabe a quem me refiro. Seu coração não é mau. — Hugo afirmou com convicção.

Roger soltou a camisa de Hugo, retrocedendo. — Como você sabe disso? — Ele indagou, emoções borbulhando à superfície.

— Não foi culpa sua. — Hugo repetiu.

— Não, não. Eu a matei. Você não sabe de nada. Me deixe em paz. — Roger disse, afastando-se de Hugo e adentrando a floresta, seu passo rápido e carregado.

— Por que fez isso? — Ben perguntou, confuso com a troca de eventos.

— Porque o ritual não deu certo. Ele não acreditou em nós.

— Por que tentaram o ritual com ele? Nosso foco era Aaron.

— Foi por causa dela. — Hugo apontou vagamente para o vazio, seu olhar distante. Diante de Ben, um espírito emergiu, uma jovem mulher vestida com roupas que evocavam os anos 90, um sorriso radiante em seus lábios. Mas Ben não conseguia vê-la. — Essa é a Julia. Ela me disse que Roger seria o próximo guardião.

Ben bufou e deixou Hugo para trás. Hugo comentou para ninguém em especial, aparamente conversando com a ilha: — Eles estão me dando muito trabalho. Eu esperava que você me ajudasse um pouco também, né?

Ao dizer isso, Hugo também saiu dali. De repente, a luz da gruta brilhou mais intensamente, iluminando todo o bosque ali ao redor, de repente, um homem loiro apareceu. De costas, ajoelhou-se ali próximo para pegar o copo que Roger havia deixado cair. O homem se virou e era Jacob. Estava velho novamente, visto que a última vez que aparecera era apenas uma criança, pois foi morto por Ben.

— Estou sempre com você, Hugo. — Comentou Jacob para ninguém ouvir. Rapidamente, Jacob desapareceu novamente, fazendo assim a luz do local voltar a brilhar com o brilho normal.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lost: O candidato" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.