Alguém Melhor Que Noah Price escrita por V P Santos


Capítulo 3
Capítulo 3




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 Confesso que me diverti bastante com Austin sexta à noite. Depois de nossa conversa atrás do carrossel, fomos à vários brinquedos, encontramos amigos da escola e terminamos a noite num pub com Karaokê. Em cima da minha escrivaninha há uma coleção de bichinhos de pelúcia que Austin ganhou para mim e, tenho certeza que naquela grande zona que é o seu quarto estão jogadas num canto as pelúcias que eu ganhei para ele.

O resto do fim de semana foi igualmente divertido. Na verdade, eu posso facilmente dizer que foi a melhor parte das minhas férias, mas nunca admitiria isso em voz alta, afinal, isso só alimentaria o ego do Théo, e ele já tem o ego inflamado o suficiente.

Hoje é o dia de voltar para Ashbury, acordei mais cedo que o normal, porém me sinto cansada por ter ido dormir tão tarde. Austin e eu ficamos conversando no quintal até de madrugada na noite anterior, e agora meu corpo sofre as consequências. Tomo um banho frio para despertar e volto para me vestir no quarto, meu uniforme já preparado no cabideiro. Visto as partes de baixo primeiro, como de costume, e logo depois, um sutiã rosa claro. Quando estou prestes a abotoar a blusa social, ouço um barulho na janela, o prenúncio do meu estresse.

— Ei, bom dia, princesa Jillian, já está pronta? Sua carruagem... Ah! Desculpa! – Austin entra pela janela sorrindo, mas logo sua expressão muda quando percebe que eu ainda estava me vestindo. Ele vira o rosto, totalmente envergonhado e eu reviro os olhos, terminando de fechar a blusa.

— Sério, preciso convencer meu pai a consertar o trinco da janela... – Digo, jogando um travesseiro em Austin Théodore. – Trinco este que VOCÊ quebrou, e logo, VOCÊ devia consertar! E aliás, quando você vai parar de invadir meu quarto, Austin? Não acha que eu mereço privacidade?

— Até parece... Você sentiria falta se eu parasse. – Responde, rindo feito bobo. Seu rosto ainda está vermelho como um pimentão maduro, o que me faz querer rir de toda a situação. Théo se joga em minha cama bagunçando tudo, deitado de costas, coloca o braço sobre os olhos para os proteger da luz. – Belo sutiã, aliás, gostei!

— Bom saber, vou te dar um igual no seu aniversário. Combina perfeitamente com o tom vermelho-vergonha da sua pele... – Sorrio, prendendo meu cabelo castanho no habitual rabo de cavalo. Théo ri e volta a se sentar, apoiando os cotovelos nas coxas, observando-me, parecendo muito entretido.

— O que foi? Tem algo no meu cabelo? Está bagunçado? Ou é minha roupa? – Indago, voltando o olhar para o espelho da penteadeira, apenas para confirmar que não havia nada de errado.

— Não é nada, Jill, só estou admirando você. Daríamos um belo casal, sabia?

Olho para Austin pelo reflexo do espelho e reparo que, mais uma vez, ele está uma linda bagunça. Seu cabelo ainda molhado — pois Austin Théodore nunca se dá ao trabalho de secá-lo após o banho — cai sobre a testa, alguns fios grudados pela água. Está usando a calça escura do uniforme, a blusa social branca abotoada de forma totalmente errada, seus velhos all stars favoritos e a gravata listrada torta e frouxa. Olho em seguida para o meu reflexo, o completo oposto, tudo em ordem, e ele, um completo caos. Deixo escapar um sorrisinho. Talvez ele tenha razão...

Quando percebo o que acabei de pensar, balanço a cabeça em negativa. Que raio de pensamento é esse? Austin é meu melhor amigo desde sempre, desde antes mesmo de nos entendermos por gente. E eu gosto de outra pessoa, certo? Não vai rolar.

Suspiro e vou até a fonte do meu incômodo, parando em sua frente. Desfaço o nó de sua gravata e começo a refazê-lo, pois está me deixando agoniada. Meu olhar passa rapidamente por seu rosto e pego seus olhos intensos me encarando de forma que me causa arrepios inexplicáveis, fazendo meu coração bater mais rápido. Sério, o que está acontecendo comigo? Estamos tão próximos que me sinto mais incomodada que antes, por isso, me apresso em terminar o que estou fazendo. Dou um nó perfeito em sua gravata e empurro sua cabeça para o lado de forma brincalhona. Théo se joga na cama novamente, rindo.

— Você é um idiota, sabia? – Rio, tentando não transparecer o nervosismo que sinto. Pego meu blazer no cabideiro, sorrindo, enquanto tento acalmar as batidas do meu coração. – Vamos, não quero me atrasar.

— Sim, mamãe! – Théo levanta e bate uma continência, fazendo-me rir novamente. Empurro-o para fora do quarto que, naquele momento, parecia sufocante.

***

Após tomarmos café com a minha família, embarcamos numa jornada de cerca de quarenta minutos até Ashbury College na Mercedes do Austin. Jogamos conversa fora por boa parte da viagem. Em algum momento falamos sobre o futuro, e eu começo a me sentir um pouco ansiosa.

— O que foi? – Théo olha rapidamente para mim e volta a prestar atenção no trânsito logo em seguida.

— Nada, só estou pensando. Essas foram nossas últimas férias escolares... Austin, estamos prestes a nos formar! – Exclamo, como se fosse algo de outro mundo. Austin franze o cenho.

— Bom, e? É o que se espera dos alunos veteranos, não?

— Sim, mas não é o que eu quero dizer. Nossa vida vai ser tão diferente agora, faculdade, emprego, problemas de adultos, etc. Isso não te deixa ansioso? – Olho para Théo, esperando sua resposta.

— Uh, na verdade não, nem um pouco. – Dá de ombros. – Eu não ligo para a maioria dessas coisas.

Ah, é claro. As vezes eu esqueço que Austin Théodore vive numa realidade totalmente diferente da minha. Ele já tem um futuro praticamente garantido, considerando que a família dele tem dinheiro para sustentar, e com muito luxo, suas próximas vinte gerações. Porém, Théo não gosta de depender de seus parentes, por isso arrumou um emprego, não numa lanchonete ou num mercado como um adolescente normal, mas como modelo oficial da Roots.

O mais curioso sobre tudo isso é que Théo, por algum motivo, odeia tirar fotos.

— Argh, deixa para lá. – Digo, um pouco emburrada. De repente, ouço algo no rádio que tocava baixinho e exclamo de excitação. – Austin! Aumenta o volume!

Austin Théodore olha para mim como se eu fosse um alienígena, mas ainda assim atende ao meu pedido. Logo sua expressão também muda e ele aumenta o volume ao máximo, pois é nossa música favorita da infância, que não ouvíamos há muito tempo. Théo bate as mãos no volante e balança a cabeça no ritmo da música.

Só estamos começando! E não queremos parar,— Cantamos alto, meio desentoados, mas sem se importar com isso. As pessoas que passavam por nós, olhavam como se fossemos loucos.

Somos como lobos e o mundo será nossa caça!— Olho sorrindo para Austin, a música me trás lembranças incríveis de quando éramos crianças, de quando fazíamos festas do pijama e pulávamos na cama fingindo ser astros do rock. Parece que foi há eras, tudo parecia mais simples...

Somos donos do mundo agora, mas vivemos sozinhos...— Suspiro, com a mente repleta de boas memórias relacionadas a essa música e, em todas elas, Austin está lá. Sempre me animando com suas brincadeiras bobas, rindo das minhas piadas sem graça e me corrigindo quando erro. Sei que sempre reclamo dele, mas não o trocaria por nada nesse mundo, porque ele está sempre comigo, nós momentos bons e nos ruins também. E espero poder retribuir.

Pois em nossa matilha só os mais fortes sobrevivem... Só estamos começando!— Uma sensação de nostalgia invade meu peito, fecho os olhos e aproveito a música e a companhia de Austin Théodore. Fecho os olhos e tento não pensar na ansiedade que senti agora a pouco e em como vai ser se nós separarmos por um tempo depois da escola. Agora só quero aproveitar os momentos com ele. O espio, abrindo um olho e ele olha para mim de volta, sorrindo, genuinamente feliz, fazendo-me sorrir também.

Continuamos cantando e jogando conversa fora o resto da viagem, relembrando nossas várias aventuras e situações da infância, e então, desejo que aquele momento nunca acabe.

Só estamos começando!

***

Depois de chegar na escola, assisto às cerimônias e vou para o dormitório para desfazer as malas. Estou focada em arrumar o armário, quando sinto alguém tocar minhas costelas e grito de susto.

— Você se assusta tão fácil, ainda bem que não é cardíaca! – Ri Mylla, minha colega de quarto.

— Bem que você gostaria que eu fosse para ficar com o quarto só para você. – Respondo, em tom de divertimento.

— Que nada, depois de todo esse tempo te aturando? Eu me sentiria solitária! – Diz minha amiga, com um lindo sorriso brilhante. – Senti sua falta, chatinha!

— Também senti a sua, bobona! – Sorrio, abraçando-a.

Mylla Bennett é minha segunda melhor amiga, somos colegas de quarto desde que vim para Ashbury aos quinze anos. Mylla é um doce, divertida e linda — O suficiente para o idiota do meu irmão, Tristan, ficar atrás dela como um cão. Seus cabelos loiros claros levemente ondulados agora vão até um pouco abaixo do ombro, eram bem longos antes das férias. Tem grandes olhos azuis claros e seu rosto parece de boneca, com lábios carnudos e rosados. Com certeza uma garota que chama bastante atenção, ainda mais com sua personalidade dócil e agradável.

— Bem, já que você me ignorou durante as férias, temos muitas coisas para conversar. – Mylla senta-se na minha cama, cruzando os tornozelos. – Você sempre esquece que tem celular, não dá um sinal de vida, pensei que tinha morrido dessa vez... Ainda bem que Austin deu notícias de você para a gente.

— Minhas férias são meu momento de paz, Mylla, sem redes sociais, sem escola, apenas paz. – Explico, ajoelhando-me no chão para guardar o restante das roupas nas últimas gavetas.

— Aposto que ficou o tempo todo estudando e vendo filme de romance clichê. – Mylla revira os olhos. Termino de arrumar minha gaveta em silêncio, não querendo admitir que foi exatamente o que fiz durante as férias inteiras.

— Então... – Mudo de assunto, pois não quero ouvir sermão às nove da manhã. Levanto-me e sento ao lado da minha amiga. Aponto para o cabelo dela. - Cortou o cabelo? Combinou com você.

— Você gostou? – Pergunta, alegre, penteando-o com os dedos. – Cansei deles longos, queria mudar... Não muda de assunto! Você tem ideia do quanto eu fiquei preocupada? Não tive ninguém para compartilhar as fofocas durante às férias!

— Sei... – Reviro os olhos e encaro minha amiga dramática, que coloca a mão sobre o peito e faz beicinho meneando a cabeça, fingindo estar triste. – Até parece que você não conversou com o tal carinha misterioso das mensagens de texto.

— Eu... Ahn, bem, sim. – Mylla senta-se sobre os pés, desconfortável, e coloca uma mexa de cabelo atrás da orelha enquanto pigarreia. – Nós conversamos bastante. E nós vimos também, no início das férias, antes de eu viajar.

— É mesmo? – Indago, curiosa, inclinando a cabeça e franzindo o cenho. Mylla sempre parece incomodada ao falar sobre esse rapaz, ainda que na maioria das vezes ela mesma puxa esse assunto. E ela nunca deixa de me contar as experiências. – Como está indo o relacionamento de vocês?

— Nos estamos ficando. – Ela responde, mordendo o canto inferior da boca e brincando com a barra da saia preta de veterana, sem me olhar nos olhos. – Mas não é nada sério ainda. Porém já é um grande avanço, considerando o quanto ele é lerdo para essas coisas... Parece você.

— Ei! – Bato nela com uma almofada, sentindo-me um pouco ofendida. Mylla ri, tirando o cabelo, agora bagunçado, do rosto. – Bom, que seja. Se você está feliz, está ótimo. Mas qualquer deslize dele, é bom que ele saiba que sou a melhor arqueira que Ashbury já teve!

— Ah, eu amo quando você ameaça flechar os outros por mim, me sinto querida! – Gargalha Mylla. – Ah, é mesmo! Você viu o anúncio do coordenador?

— Não, que anúncio?

— É claro que você não sabe, ele postou no Facebook do grêmio estudantil...

— Mylla, o que ele disse? – Questiono, impaciente. Ela suspira.

— Nós vamos ficar responsáveis pelo baile de formatura. O coordenador disse que temos que trabalhar em dupla e nos ajuntou aleatoriamente. E advinha só? Minha dupla é ninguém mais, ninguém menos que Noah Richard "Lindinho" Price! – Mylla canta o nome, sacudindo-se no ritmo. Arregalo os olhos e entendo que aquela é uma grande oportunidade.

— Mylla, Mylla, Mylla! Por favor, por favorzinho... – Começo, juntando as mãos para implorar. Mylla, entretanto, ergue a mão, fazendo-me ficar quieta. Mordo o lábio inferior ansiosamente.

— Nem precisa dizer, sei o que você vai pedir. Eu sou uma amiga maravilhosa, não sou? – Pergunta, cruzando os braços.

— Você é a melhor, totalmente perfeita! – Bajulo.

— Sim, sim... Por isso avisei a ele que trocaria de parceiro assim que fiquei sabendo. Você ia trabalhar com a Nora, agora eu é que vou. – Ela conclui. Dou um gritinho histérico sem acreditar e me jogo no pescoço de Mylla, que dá tapinhas nas minhas costas.

— Obrigada, obrigada, obrigada! – Repito, sem soltá-la do abraço.

— Tudo bem, não precisa surtar. Mas você fica me devendo essa. Agora vou ter que cuidar da parte musical do baile e adivinha?

— O quê? – Pergunto, imaginando qual poderia ser o problema. Mylla fecha a cara, numa expressão completamente indignada.

— Quem vai tocar na festa é a banda do Pierre LeMontreau. E aparentemente vou ter que passar muito tempo com ele.


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