Alguém Melhor Que Noah Price escrita por V P Santos


Capítulo 2
Capítulo 2




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Apesar de não gostar de pessoas aglomeradas ao seu redor, Austin Théodore me trouxe para um parque de diversões. Não é muito longe, foi uma viagem de vinte e cinco minutos em sua Mercedes preta. É um carro bem caro, Austin ganhou de seu avô ano passado no aniversário de dezesseis anos. Vovô Théo gosta de mimar seu neto, e como é muito rico - dono da maior corretora de imóveis do Canadá -, faz isso com gosto. Caminhamos lado a lado pelo parque enquanto jogamos conversa fora, hoje há um fluxo médio de pessoas.

— Onde quer ir primeiro, Jill? – Pergunta Théo animado como uma criança. Tem tanto barulho ao redor que Austin está quase gritando. – Eu quero ir na roda gigante,  mas vou te deixar escolher primeiro.

— Você sabe muito bem que eu tenho medo de altura. – Grito de volta.

— Ah, certo, é verdade... – Murmura pensativo, segurando o queixo.

— Vamos ver as apresentações do circo, ali! – Aponto animada para a grande tenda à nossa esquerda. Théo faz uma careta e meneia a cabeça em reprovação.

— Esqueceu que eu tenho medo de palhaços?

— Ah, verdade, esqueci disso. – Franzo o cenho, lembrando de um episódio traumático com palhaços que ele passou na infância. Ficamos pensativos por um tempo, tentando decidir onde ir primeiro.

— Bem, nós podemos ir no túnel do amor... – Théo me olha com expectativa, parando de andar. Agora é minha vez de fazer uma careta de reprovação enquanto viro para encará-lo.

— Me recuso. – Cruzo os braços sob o peito. – Só vou se for com o Noah.

— Sério Jill, o que você vê nesse cara? – Ele arfa e revira os olhos, irritado. Austin sempre fica contrariado quando falo sobre Noah Richard Price, minha paixão desde o começo do ensino médio.

Confesso, eu tenho um padrão bem alto quando se trata de garotos. Quero dizer, não sou interesseira ou coisa do tipo, não me importo se tem muito ou pouco dinheiro, mas nas demais coisas, eu não aceito menos que o melhor. E Noah atendia a todos os requisitos: o mais bonito, mais inteligente, melhor atleta, mais engraçado e mais gentil. Noah é tudo isso e muito mais, sem tirar e nem por.

— Noah é simplesmente o melhor. – Enfim explico à Théo, que franze o cenho em confusão.

— O que quer dizer com isso?

— Ele é o melhor em tudo, e eu tenho a consciência de que não mereço menos que isso. – Explano. Austin Théodore pisca surpreso e então começa a rir enquanto volta a andar pelo parque, me deixando indignada. Sigo logo atrás dele até caminharmos lado a lado novamente, para enfim pararmos numa barraquinha de algodão doce.

— Eu concordo que você merece o melhor... – Austin entrega-me dois algodões doce azuis, abre a carteira e tira uma nota de vinte dólares para o vendedor, recusando o troco. O vendedor sorri, agradecido e nós voltamos a andar quando o entrego seu doce. – Mas olha, Jill, eu discordo que esse cara seja o Noah. Ele tem qualidades, é claro, e só digo isso porque sou amigo daquele babaca! Mas ele não serve para você.

— Bom, saiba que eu discordo da sua discordância! – Rio, colocando um pedaço do algodão doce na boca. Ele me olha de soslaio. – Ele definitivamente é o melhor.

— Por que essa fissura com isso de "o melhor"? – Pergunta, fazendo sinal de aspas com os dedos e franzindo o cenho. Chegamos à um banco de madeira atrás do carrossel, onde vimos  várias crianças sorrindo (e algumas chorando) nos cavalinhos e pais animados tirando muitas fotos dos pequenos. Ali não estava menos barulhento, mas era melhor para conversar, ainda que com a voz elevada.

— Bem... – Respondo, pensativa. – Lembra da época em que descobriram que o Triss é um gênio?

Austin acente e eu o encaro por alguns segundos, percebendo que sempre adiei essa conversa. Sinto-me nervosa e minha mãos começam a suar, mesmo que o dia esteja fresco. Théo nota meu desconforto ao falar sobre meu irmão gêmeo e acaricia meu cabelo castanho, virando-se totalmente para mim. Meu coração acelera com seu toque, mas me sinto encorajada e volto a falar.

— Tudo bem. – Suspiro. – Desde aquela época eu recebo cobranças e comparações o tempo inteiro. De parentes, de pessoas de fora, professores... Era sempre a mesma coisa, todos me comparavam com o Tristan e perguntavam o porquê de eu não ser inteligente igual a ele.

Théo me olha com uma expressão de tristeza. Meus olhos ficam marejados com a lembrança, aquilo afetou muito minha autoestima na infância e na pré-adolescência. Meus pais me defendiam quando viam acontecer, mas nem sempre eles estavam por perto. Aprendi a lidar sozinha com aquela situação, simplesmente ficando em silêncio e abaixando a cabeça com um sentimento de culpa. E tinha algo mais que me magoava sobre tudo isso.

— E também... – Olho nos olhos de Théo. – Me comparavam muito com você.

— Comigo? – Indaga surpreso e confuso, como que sem acreditar no que ouviu. – Por que te comparavam comigo?

— Oras, porque você é talentoso, inteligente, bonito, vem de uma família rica... – Conto nos dedos. – Sempre ouvi que não era boa o suficiente para andar contigo, que você e meu irmão tem um futuro brilhante, etcetera e etcetera, e no final ouvia sempre um "e você, Jillian?".

— Jill, isso... Ah... – Théo me olha em choque, boquiaberto. Nós dois sempre conversamos sobre tudo, sem segredos. É quase como uma regra na nossa amizade. Mas, para mim, esse assunto em particular sempre foi difícil de falar. – Eu sinto muito, muito mesmo! Não sabia que você passava por essa situação...

— Eu nunca te contei, de qualquer forma. – Balanço a cabeça e como outro pedaço do algodão doce. – Passei um bom tempo remoendo isso, me sentia uma completa inútil, incapaz. E, confesso, até com um pouco de rancor de vocês dois.

— Espera, espera, foi por isso que você ficou meses sem falar comigo no sexto ano?

— Sim, Théo, por favor, me desculpe por isso! – Digo, envergonhada por lembrar da minha atitude infantil. Sempre fomos muito apegados, então fiz meu melhor amigo sofrer bastante por causa disso, e toda vez que lembro, me bate o arrependimento.

— Depois eu percebi que a culpa não era de vocês, – Continuo, virando-me totalmente para ele assim como ele fez. – e também comecei a me esforçar para atender as expectativas. Tentei ser a melhor em tudo o que fazia, nos estudos, atividades, esportes... E quando percebi que mesmo com as conquistas as comparações continuavam, parei de me importar. Passei a focar no que é melhor para mim e entendi que sou incrível e tenho muitos talentos!

Fico feliz de finalmente compartilhar isso com Théo, e me sinto orgulhosa de mim mesma. Austin Théodore sorri para mim lindamente e acaricia minha bochecha com o polegar, fazendo-me sentir estranha. Sinto meu rosto em chamas e o coração acelerar.

— Você é maravilhosa, Jillian Rose! – Diz Austin, seu rosto tão vermelho quanto o meu. Ele me olha nos olhos de forma tão intensa que me faz sentir ainda mais estranha. Mas um estranho muito bom. O que diabos está acontecendo comigo?

— Enfim... – Pigarreio, desviando os olhos e me sentindo constrangida. – No fim de tudo, descobri que me tornei a melhor que posso ser e a cada dia tento superar meus limites. Então quando tiver um namorado, espero que seja o melhor também, e nada menos que isso! Pode me julgar se quiser, eu não ligo, é assim que penso.

— Não, não vou te julgar, na verdade, te entendo e até concordo com você. Mas tem um porém... – Diz Austin, ficando de pé e terminando seu algodão doce.

— Que seria...?

— Eu sei de alguém muito melhor para você do que Noah Price.

— Ah, é mesmo? – Ironizo, com a sobrancelha arqueada em sinal de incredulidade. – E quem seria esse?

— Eu. – Austin Théodore aponta para si mesmo com os polegares. – Sei bem que você gosta de atitude, não de palavras. Então me observe, Jillian, e eu vou te provar que sou alguém melhor que Noah Price.


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