Dinastia 3: A Rainha de Copas escrita por Isabelle Soares


Capítulo 17
Capítulo 17




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Esme revirou-se na cama pela última vez. Colocou a mão nos olhos e desistiu de tentar dormir. Olhou para o relógio e viu a luz vermelha indicar que eram 5 da manhã. Já não era tão cedo. Podia muito bem se levantar e ninguém faria nenhum comentário. Poderia dar umas voltas pelo jardim e tomar um banho fresco para se acalmar. Às vezes tinha dessas. Não conseguia dormir bem à noite, isso aumentou ainda mais quando seus filhos nasceram. Um sono completo era um luxo. Diziam que quando as crianças crescessem tudo iria melhorar, porém quando se é mãe, a preocupação nunca acaba.

Olhou para a foto de Carlisle na cabeceira e lembrava que ele percebia quando ela tinha noites insones. Muitas vezes ele lhe fazia um chá de camomila, ou acarinhava sua cabeça até que ela dormisse, sussurrava em seu ouvido coisas agradáveis, mas às vezes isso terminava com os dois fazendo amor e conversando em seguida até altas horas.

— É uma pena que não esteja mais aqui, meu bem. – Ela falou para a foto, lembrando que só o cheiro dele a acalmava.

Resolveu levantar de vez e pôs o roupão. Talvez na cozinha houvesse algo de bom pra comer. Podia fazer um café antes de colocar as pernas em movimento no jardim. Desceu as escadas devagar e observou tudo em silêncio. Era tão bom ver tudo calmo assim. Mesmo em Clarence que haviam bem menos funcionários do que em Belgravia, durante o dia havia uma grande circulação de pessoas pelo palácio.

Desceu com um pouco mais de pressa antes que alguém a visse. Quando se aproximou da cozinha ouviu vozes. Na verdade, era um barulho esquisito. Parecia um gemido depois em seguida de uma risada. Se aproximou mais.

— Pare com isso, meu amor, vão pensar que estamos fazendo outra coisa.

— Não posso. Essa torta está dos deuses!

Mais uma risada e Esme entendeu que não havia sido apenas ela que tinha decidido fazer uma travessura pela madrugada. Entrou na cozinha de vez e viu Renesme e William se deliciando do que restava de uma torta de chocolate. A princesa estava tão maravilhada com o seu doce que até a sua boca estava suja, dessa vez foi a rainha que sorriu.

— Acho que formos pegos, meu pardal.

— Vovó. – Renesme olhava para Esme com uma cara de culpada.

— Continuem o que estão fazendo. Me arranje uma colher, William, querido, os gemidos de Ness me deram água na boca por essa torta.

Esme sentou-se na mesa ao lado da neta e depois pegou a colher que William lhe trouxera, a colocou na torta e tirou um pedaço generoso. Estava mesmo uma delícia!

— Então, por que vocês dois resolveram fazer essa travessura a essa hora da madrugada?

— Culpada! Senti um desejo enorme por chocolate. Achei que a cozinha fosse o caminho mais rápido.

— Lembrei que comemos essa torta deliciosa ontem no jantar. – William completou.

— Vocês dois juntos parecem que tem a mesma idade da filha de vocês. Mas tenho que admitir que a idéia foi ótima!

— Então, não vamos para a forc? – Renesme perguntou com a boca cheia.

— Eu não poderia prender a mãe do meu próximo bisneto. Deus me livre!

Todos riram e a rainha olhou para o céu do lado de fora através das cortinas e viu a beleza que estava a paisagem. O tom alaranjado encantava seus olhos. A vontade era marcar aquela imagem para sempre. Nunca tinha visto um nascer do sol tão lindo! Seus olhos quase se encheram de água.

— E a senhora, majestade? Por que está acordada em uma hora dessas?

— Bom, não sei... Eu sempre tive noites que eram mal dormidas.

— Não está preocupada com nada, não é vovó?

— Não, meu bem, com o que me preocuparia? Não estamos numa crise eminente. Acho que seu pai está conduzindo bem as coisas.

— Ainda bem. Achei que ele nunca deixaria o luto pela mamãe findar.

— O luto nunca acaba, querida, ele apenas esfria.

— A saudade é eterna. – a princesa completou.

— Sua insônia está ligada a Carlisle, então?

— Não William. Apesar de que penso nele a todo instante.

— Ainda mais aqui, não é? Vovô amava quando estávamos todos aqui reunidos.

— Sim, ele gostava de ter momentos em família. Sabe, que um dia, quer dizer, quando Emmett completou um ano. Acordamos cedo, assim como vocês, começamos a fazer um bolo pequeno. Não éramos tão bons cozinheiros, mas tentamos seguir a receita. Fizemos uma bagunça completa na cozinha.

A idéia era bater os primeiros parabéns do filho logo nas primeiras horas da manhã quando ele acordasse. Também era um bolo de chocolate. Não sabia se uma criança tão pequena poderia comer, mas Emmett amava. Enquanto o bolo assava, eles encheram alguns balões e colocaram pendurados ao lado da cadeirinha de bebê. O bolo esfriava na bancada quando Maria desceu com o menino recém – acordado. Carlisle colocou uma vela acessa no bolo e Esme pôs um chapéu de aniversário na cabecinha do filho e começaram a cantar os parabéns. Emmett não se assustou, apenas sorriu e quis pegar no fogo da vela e foi impedido pelo pai. Mas ele não conseguiu impedir o filho quando pôs as mãos no bolo e começou a comê-lo. A rainha sorriu com aquela lembrança.

— Tenho certeza que ele está feliz com o desfecho que tudo teve. – William declarou convicto.

— Sim. Vai fazer um lindo dia hoje. – Esme suspirou mudando o assunto. Não queria chorar logo cedo. – O céu está divino!

— Oh sim! Vou já levar Bebela para um passeio matinal. – Ness falou.

— Acho que também vou dar umas caminhadas.

— Você sabe que Henry vem hoje, não é?

— Não.

— Não? Ele me mandou uma mensagem ontem me dizendo que traria uma surpresa.

— É mesmo? Que ingrato! Nem me disse nada.

— Acho que estragou a surpresa, amor.

— Verdade. Foi mal.

— Tomara que seja a namorada dele. Ainda não tive muito contato com ela. Gostaria de conhecê-la melhor.

— Acho que ela vem sim.

De repente ouviram um grito e olharam para trás. Era a cozinheira assustada com tão nobres visitas em sua cozinha. Todos gargalharam.

— Não se preocupe, meu bem, estamos de saída. – Esme falou enquanto se levantava. – Aliais, sua torta estava uma delícia!

A cozinheira ainda a olhava assustada quando ela passou por ela tocando o seu ombro.

Mais tarde, ao dar uma volta pelo entorno do palácio. Ouviu um barulho de um jipe. Sorriu, já imaginava quem poderia ser. Apressou os passos enquanto pôde e seguiu para a entrada. Henry já descia do carro com o seu sorriso maroto. Ele sempre tinha essa mesma cara que parecia que estava fazendo alguma travessura. Lembrava bem de como o seu segundo neto era quando mais novo. Não era tão levado quanto Emmett, mas chegava perto. Sorte que Renesme estava sempre por perto para olhar para ele com uma cara feia.

— Olha só quem veio visitar a vovó!

— Oi, vó! Tenho que me desculpar mais uma vez.

— Vai chegar uma hora que eu não vou mais aceitá-las. Sinto falta do meu menino.

— Eu também, vovó. – Henry falou enquanto a abraçava. Esme sentia uma paz imensa quando podia contar com a presença de seus netos. Eles foram criados em sua companhia e eram como se fossem seus filhos também. – Eu trouxe Elinor. Lembra dela, não é?

— Claro, mas poderia me lembrar melhor se trouxesse mais ela aqui. Ainda somos uma família.

— Não haverá desculpas o suficiente, não é?

— Não. – Esme falou fazendo uma falsa cara feia pra ele e se aproximou da namorada do seu neto. – Como vai, meu bem?

— Tudo certo, majestade.

— William e você nunca vão aprender a me tratar como a vó postiça, não é? Ashley já aprendeu direitinho.

— Desculpe. – Elinor falou com as bochechas coradas. Às vezes ela não conseguia acreditar que seus netos haviam crescido e tinham suas próprias vidas. Quando eles nasceram era como se tivesse se tornando jovem de novo e sendo mãe novamente.

— Vó. Tenho uma surpresa pra você.

— É mesmo?

— Sim. Elinor e eu trouxemos do México.

— Não me diga que são tacos deliciosos?

— Melhor ainda.

Henry se separou do grupo e voltou até o carro, onde abriu a porta traseira e tirou de dentro uma pessoa muito conhecida por Esme, que fez parte de muitos momentos importantes de sua vida. Maria estava de volta e ela não resistiu e saiu ao seu encontro para um abraço. A antiga babá de seus filhos lhe correspondeu com o mesmo afeto. Havia anos que não se viam. A rainha nem sabia que ela ainda estava viva. Revê-la era como voltar no tempo.

— Maria que bom te ver!

— O mesmo digo, senhora. Faz tantos anos!

— Sim. Por que não nos comunicamos mais vezes?

— Erro nosso.

— Como você está?

— Bem. Voltei para o México. Estou feliz.

— Que maravilha! Você sempre pensou em voltar. Que bom que conseguiu.

— Mas digo que Belgonia também é minha casa.

Esme assentiu e a abraçou novamente como se pudesse reviver todos os momentos que passaram juntas. Maria sempre lhe trouxe muita paz.

— Vamos. Você deve estar cansada da viagem. Venha comer alguma coisa. Emmett e Edward estão aqui e precisa vê-los.

— Eu gostaria muito.

A rainha saiu praticamente puxando Maria para o interior do palácio enquanto Henry e Elinor a seguiam sorrindo. Quando chegaram na sala de refeições, Emmett e Rosalie tomavam seu café da manhã e ficaram surpresos com as visitas. A duquesa logo se levantou para abraçar o filho.

— Oh querido! Que bom que veio!

— É bom estar aqui, mãe. – Henry falou enquanto abraçava Rosalie e estendia o braço livre para o pai.

— É bom vê-la também Elinor. – falou Rosalie ao terminar de abraçar o filho mais velho. – Fizeram uma boa viagem?

— Fizemos sim. – Elinor respondeu em um tom mais baixo.

Esme então colocou Maria de frente a todos. Emmett quase saltou da mesa ao vê-la. A rainha sabia o quanto os filhos tinham um grande apresso pela sua antiga babá, especialmente o seu primogênito que a enxergava como uma segunda mãe.

— Mamá. Há quanto tempo!

— Há quanto tempo mesmo! Que bom revê-lo bem e com os seus filhos!

— E netos! Sabia que já estou no segundo?

— Não sabia? Filhos de quem?

— Marlowe tem Diana de quase três anos e Melany tem Carlisle de dois meses.

— Que bom! Quero conhecê-los antes de voltar ao México.

— Vai sim. Eles devem dar uma passadinha por aqui.

— Não é estranho, Maria, ver os nossos bebês com netos? – Esme falou.

— Na verdade é sim. Parece que estamos ficando muito velhas, não é? Mas é a vida seguindo o seu curso.

— Maria foi mais do que uma babá pra vocês. Ela foi uma mão amiga quando eu estava aprendendo a sobreviver nessa grande loucura. Jamais serei grata o suficiente.

— Você também foi uma grande amiga pra mim, senhora. Eu tinha acabado de chegar a esse país e ninguém poderia confiar em uma imigrante que mal falava inglês. Você acreditou em mim.

Esme acariciou a mão de Maria com um sorriso. Lembrava que mesmo tendo gostado muito dela no início, ainda tinha certo receio de entregar Emmett a outros braços que não eram os dela, receios de mãe protetora. Mas hoje pensa que ainda bem que soube compartilhar o filho. A babá também foi muito importante para a formação de suas crianças.

— Ainda posso me lembrar da primeira vez que comecei a trabalhar.

— Lhe dei muito trabalho, não foi Maria? – Emmett perguntou com a mesma expressão marota de quando era criança.

— Um pouquinho. – Piscou.

Esme: Sua Verdadeira História – Capítulo 17: Vôos Altos

Como é ter um bebê real? Bom, a experiência é igual para um que não tenha esse selo. Quando saímos do hospital, Carlisle e eu nos deparamos com uma nova realidade, tínhamos um filho. Lembro de nós dois sentados no sofá com Emmett adormecido nos meus braços sem saber o que fazer depois dali.

— E agora o que fazemos? – perguntei.

— Temos que cuidar dele. – Carlisle disse com um tom brincalhão.

— Nunca pensei como seria quando chegasse a essa etapa. Quer dizer, eu sei que existe uma linha reta a se seguir. Você nasce, cresce, vai pra escola, vai pra faculdade, casa, tem filhos e morre, mas...

— É diferente quando se torna real.

— Isso.

— Acho que vai descobrir agora como vai ser.

Emmett já se mechia agitado em meus braços. Me assustei e o ajeitei, mas logo veio o berreiro. Será fome? Ou a fralda estava suja? Verifiquei e o cheiro não estava nada bom. Ótimo! Resolvemos banhá-lo. Carlisle me acompanhou no processo. Encheu a banheira com a temperatura correta, bom, ao menos aquela que indicava nos livros. Olhei para o meu filho nos meus braços depois para a banheira e me assustei.

— Eu não consigo. – falei com desespero. – Tenho medo de afogá-lo. Olha o tamanho dele! Acho que compramos a banheira errada.

— Não compramos não, meu bem. Essa é indicada pra bebês, não importa a idade.

— E se ele se afogar? Ou se eu derrubá-lo com as mãos escorregadias? Sou muito desastrada.

— Não deve ser muito difícil, hã? É nosso filho, não vamos fazer mal a ele.

Carlisle, então, tomou a iniciativa e pegou o bebê dos meus braços. Tirou a roupa dele cuidadosamente no trocador e colocou com cuidado dentro da banheira aos pouquinhos. Eu o observava dando banho no nosso pequeno e me sentia uma idiota. Eu era uma mãe agora e deveria ser capaz de fazer algo simples como banhar o meu bebê, mas não. Ao mesmo tempo me orgulhava da habilidade dele. Como era jeitoso! Fez tudo com tanta paciência que parecia que tinha nascido pra isso. No final, lá estava Emmett todo cheiroso e banhado.

Tudo era um grande aprendizado quando se tem um filho. Os primeiros dias sempre são mais desafiadores. São tantas coisas novas para aprender, muitas adaptações a serem feitas. Eu me sentia numa avalanche de emoções no primeiro mês. Cada coisa que dava errado me sentia culpada por não acertar. Ou por não saber o que fazer. O bom é que Carlisle estava sempre presente. Éramos uma parceria nos cuidados com o neném, como fazíamos em todos os aspectos de nossa vida.

Emmett não era um bebê fácil. Sempre parecia estar ligado no 220 volts. Dormia pouco e chorava bastante. As madrugadas eram as mais difíceis. Praticamente não conseguíamos dormir e isso afetava o nosso emocional, principalmente o meu. Muitas vezes me peguei chorando junto com o neném, me sentindo esgotada e culpada por não conseguir fazer o melhor.

— Não somos bons nisso. – falei para Carlisle em uma madrugada em claro.

— Não nascemos sabendo de tudo, Essie.

— Minha vó dizia que uma mãe aprende a ser mãe brincando de boneca. Eu me arrependo de não ter feito isso e agora estou aqui desesperada!

— Eu também não brinquei de boneca, então acho que sou um desastre igual a você.

Carlisle me abraçou e beijou a minha testa. Eu amava a paciência que ele tinha. Por que o estresse que estávamos vivendo daria todo o direito dele me responder as minhas paranóias em algum momento. Mas era o contrário. Apenas acordava comigo na hora que fosse para me ajudar a trocar fraldas, a colocá-lo para arrotar e dormir, além de uma boa massagem enquanto eu amamentava. Aposto que vocês devem estar imaginando que eu estou inventando tudo isso para pintar uma boa imagem do meu marido, confiem que não, Carlisle era um verdadeiro gentleman.

Com o tempo fomos organizando a bagunça e começando a estabelecer uma rotina. Eu já estava ficando prática e até reconhecia o que Emmett queria apenas por seu comportamento e choro. Ficamos muito unidos nos dois primeiros meses. Eu ia me acalmando e ele se acostumando com esse mundo novo. Eu fazia questão de mostrar tudo pra ele. Saia para os parques para que pudesse ver as pessoas passando, a natureza. É claro que muitas vezes era difícil sair e não ser reconhecido. Eu tinha que criar um plano, um disfarce, escolher horários, ou ligava o botãozinho do tanto faz. Eu queria que o meu filho se familiarizasse com o universo da vida real desde cedo.

— Bebê, vamos dar um passeio agora. Promete se comportar?

Ele sempre me olhava com aqueles grandes olhos azuis. Com o tempo aprendeu a sorrir. Parecia que sabia o que significava sair do palácio. Emmett amava uma aventura desde de pequeno. Quanto mais crescia, mais gostava de estar fora de casa e de se mexer. Carlisle também amava quando saíamos em família. Não havia um final de semana que não fazíamos um passeio juntos. Pegávamos o carro e partíamos para uma cidade qualquer. Víamos pontos turísticos, museus, parques de diversão, um simples McDonnalds ou o preferido de Emmett, o zoológico. Tudo para aproveitarmos o máximo dessa nova fase, pois uma coisa que combinamos desde o princípio, é que seriamos o mais próximo do “normal” possível.

Porém, tudo se complicou quando minha licença maternidade entrou com os dias contados. Eu sabia que no início de 1984 teria compromissos que precisava cumprir. Mas simplesmente eu tinha me acostumado aquela rotina de estar cem por cento dedicada ao meu filho. Ainda estava decidida a cuidar dele e não deixá-lo aos cuidados de outra pessoa. Eu tinha que saber como administrar o meu tempo e minhas funções. Por que também não podia abrir mão dos meus trabalhos, nisso tudo alguma coisa sairia prejudicada no processo. Isso é algo que nós, mulheres, temos que saber lidar em algum momento em nossas vidas. Eu queria fazer tudo que podia. Mas sabia que Emmett tomava quase todo meu tempo. Eu me sentiria péssima toda vez que lembrava que teria que deixá-lo.

— Eu lhe avisei que teria que ter uma babá. – minha sogra comentou durante o jantar.

— E se dividimos melhor a agenda de forma que Carlisle e eu possamos reversar entre os compromissos e os cuidados com Emmett?

— E quando tiverem que ir os dois juntos? Vocês continuam na boca do povo e aparecerem como um casal unido é bom para a nossa imagem.

— Temos um filho agora não dá pra ser como antes e quando tivermos que ir os dois, deixo Emmett com alguém confiável.

Elizabeth me olhou atravessado como se não quisesse concordar.  

— Concordo com Essie, mãe. Acho que pode funcionar dessa maneira até Emmett poder entrar na escola.

— E se começarem a comentar que vocês possivelmente não estão se dando bem por aparecerem sempre separados?

— Que bobagem mãe! Isso lá é argumento para nos convencer. Você é tão boa com a imprensa por que não pode dizê-los o motivo real?

O silêncio se preencheu. O rei apenas observava com aquele jeito austero. Ele nunca se metia nas decisões de Elizabeth. Ela era soberana em muitos aspectos e com o tempo aprendeu duas lições importantes: a primeira é que ela quase sempre conseguia resolver tudo da melhor forma e a segunda era que tinha uma teimosia indomável. Mas nada vencia a minha teimosia junto com a de Carlisle.

Voltei aos meus compromissos e amei estar de novo ao lado das pessoas, podendo escutá-las e estudar o que eu poderia trabalhar nos meus futuros projetos. Entretanto, tinha que confessar que naquele momento eu era mais mãe do que duquesa. Só pensava em Emmett quando estava fora. Sentia falta da companhia de Carlisle comigo e depois de um mês nos demos conta que os eventos eram tantos que jamais conseguiríamos conciliar tudo separados. Sempre haveria alguns que teriam que ser em conjunto, principalmente jantares. Ficávamos na “corda bamba” muita vezes. Porém, só abrimos mão de verdade quando começaram a planejar uma turnê internacional para nós, a nossa primeira.

Gelei com a possibilidade de fazermos algo tão grande como representar o nosso país em outro. Sinceramente, nada preparava a gente para isso. Era uma enorme responsabilidade e o pior de tudo, faz parte do pacote. Sempre era importante haver turnês assim para manter as boas relações e negociações. Carlisle e eu éramos novos no pedaço e precisávamos, segundo o palácio, “ser apresentados”, isso significava que seria a primeira viagem internacional de muitas.

Uma coisa tenho que admitir, a rainha Elizabeth era uma ótima diplomata. Jamais deixaria que viajássemos pra fora sem antes houvesse um grande preparo. Levaria meses para pesquisar como seria a agenda, o que devíamos levar, o que vestir, os assuntos que iríamos levantar, a cultura da Espanha. Sim, isso mesmo. Iríamos para o outro lado do continente.

Segundo a pesquisa levantada por ela e pelo palácio. Belgonia tinha poucas relações com a Espanha, em relação às outras monarquias. Precisava haver um estreitamento de laços, relembrar a descendência, já que a mãe do rei era parente do atual monarca do país e quem saber manter uma relação de negócios. E para isso mandariam o casal recém- casado como desculpa para nos apresentar e nisso uma coisa levaria a outra. Porém, para que isso acontecesse levaria tempo de preparo.

Elizabeth adorou essa oportunidade para falar sobre babá novamente. Nesse meio tempo, eu já estava convencida que realmente não conseguíamos nos concentrar no que queríamos nos nossos planos para trabalhos sociais nos dividindo em eventos e cuidado de Emmett. Além disso, eu estava cansada. Essa era a verdade. Pouco se fala o quanto a maternidade pode ser um grande desafio. Crianças pequenas ainda estão se adaptando ao mundo, assim como os seus pais. Então, mesmo que os meses passem, cada um deles trazem uma nova dificuldade. Carlisle e eu queríamos nos doar cem por cento, como bons pais de “primeira viagem”, e não perder nada. Isso significava que tínhamos sempre algumas dores em algumas partes do corpo, ou olheiras, que certamente davam trabalho demais para os meus maquiadores me deixarem sempre bela e apresentável.

Dissemos sim para a babá rendidos e com um pouquinho de dor por, de alguma forma, ter que deixar um pouco Emmett de lado por algumas horas. Tínhamos combinado que seriamos uma família integralmente, nós três e ninguém mais, a não ser outros filhos. Carlisle tinha pavor de babás. Ele e Carmen haviam sido criados praticamente por uma. Quase nunca viam os pais e eram submetidos a um sistema rígido de educação que Astrid acreditava que era o certo. Por isso, ele e não eu, foi contra que a sua antiga babá viesse cuidar do nosso filho como seus pais sugeriram.

— Eu não quero nenhuma Mary Poppoins psicopata cuide do meu filho. Se vamos ter uma babá tem que ser uma que se adéqüe aos meus métodos de educação e aos de Esme.

Assim começou uma verdadeira saga para a escolha daquela que seria a cuidadora do nosso pequeno príncipe. Lembro de entrevistarmos várias mulheres de todas as idades e de metodologias de educação diferentes. Quando gostávamos de uma, a rainha não aprovava. Segundo ela, o futuro rei tinha que receber instruções adequadas para a sua futura função.

— Para um adulto se tornar sério, maduro e responsável deve começar a receber instruções na infância.

— Concordo, mas as metodologias de educação de Astrid estão ultrapassadas. – Carlisle rebateu.

A procura estava tão longa que eu mesma resolvi sair pela tangente. Vi um anúncio no jornal de uma pessoa se oferecendo para os cuidados de uma criança. Achei interessante como ela se anunciou. “Ampla experiência com os pequenos de minha família. Sempre distribuindo muito carinho e cuidado.”.

— O que você acha dessa babá aqui, Emmett? – falei enquanto brincava com ele.

— Bá! – ele gritou enquanto batia no jornal.

— Acho que você precisa de alguém que te dê tanto carinho quanto eu dou.

Sorri e resolvi ligar. A pessoa do outro lado atendeu com um forte sotaque, entendi que se tratava de uma estrangeira. Estava um pouco afoita, talvez estivesse ansiosa para receber alguma proposta. Não nos falamos muito. Marquei uma entrevista pessoalmente. Gostaria de vê-la e sentir a sua energia para realmente saber se ela era adequada para o meu filho.

No dia marcado recebi Maria. Ela era baixinha, tinha características indígenas e parecia se tratar de uma imigrante latina. Me explicou que tinha 25 anos e estava chegando do México. Tinha vindo tentar a sorte em Belgonia para ajudar a família na América. Fiquei curiosa quando me falou que era a quarta de 14 filhos. Todos viviam numa vila e ela tinha crescido tomando conta de seus irmãos e primos mais novos. Porém, nunca tinha trabalhado como babá profissionalmente. Eu tinha certeza que esse detalhe iria ser um obstáculo para a rainha aceitá-la.

Mas sinceramente, gostei muito de Maria logo de cara e Emmett também. Ele estranhava pessoas e não era todo braço que ele ia, mas com ela foi diferente. Os dois brincavam como se conhecessem há anos. Fiquei feliz com isso. Além disso, Maria não parecia deslumbrada com o fato de sermos da realeza. Eu era como qualquer pessoa pra ela, assim como o meu filho. Tínhamos recebido muitas candidatas que se esforçavam muito para nos tratar diferente e nos bajular pela nossa posição e eu sentia falta de mais naturalidade. Então, tomei uma decisão arriscada, contratei Maria sem nem mesmo falar com Carlisle ou com Elizabeth.

É claro que isso gerou uma confusão monstruosa. A rainha não queria de forma alguma Maria. Dizia que ela não tinha preparo algum. Que iria deixar Emmett fazer o que queria, iria se tornar um mal educado, nossas vidas seriam expostas por que “americanos falam demais quando estão deslumbrados”. Carlisle amou Maria logo que a viu também e aprovou a escolha, era isso que importava no final.

Tanto tumulto para vencermos no fim. Me comprometi a ficar responsável por qualquer coisa que Maria fizesse e a ensinasse como um bebê real deveria ser tratado. Além disso, ela assinou um contrato estritamente exigente que dentre as inúmeras cláusulas, ela não podia revelar nada que via ou ouvia para ninguém, completo sigilo. É claro que a rainha também acompanhava de perto o que Maria fazia e dava pitacos em tudo. Posteriormente, nos demos conta que ela era ideal para todos nós.

Além de cuidar de Emmett, ela também cuidava de mim. Sempre era disposta a dar conselhos, oferecia seus ouvidos e seu conforto, era alguém que aprendi a contar nesses primeiros anos tumultuados na realeza. No final, Maria ficou com a gente por 15 bons anos e cuidou de todos os meus filhos.

Após a escolha da babá ter sido finalizada entramos de cabeça para os preparativos da nossa primeira turnê internacional. Carlisle e eu estávamos muito animados. Primeiro por que Carl estava ansioso para conhecer outras realidades para ter uma inspiração de trabalho para ser aplicado em Belgonia. Nessa época, tínhamos muitas idéias, mas não tínhamos conseguido aplicar nenhuma ainda. Muito do que pretendíamos era barrado pelo palácio. Não cabia com a proposta dos monarcas.

Eu estava com uma ansiedade quase infantil, como quando uma criança tem um passeio da escola. Era a minha primeira viagem internacional. Imagina que nem de avião eu tinha andado. Tudo seria absolutamente novo. Mas mesmo com tantas responsabilidades, que me apavoravam, eu estava absolutamente animada para conhecer um novo ambiente.

— Eu nem consigo imaginar que você nunca saiu do país. – Carlisle comentou enquanto eu me espreguiçava em seu peito na cama durante a noite, agradecendo por estar escuro o suficiente para ele não me ver corando.

— Eu não tinha pais ricos feito você.

— Eu sei... Mas nem para a Suécia?

— Não. O dinheiro não sobrava muito depois que nos mudamos para Belgravia.

— Sim, você tinha me contado. Lamento.

Ele virou e me abraçou apertado. Cheirou os meus cabelos e sussurrou em meu ouvido.

— Quero te proporcionar tudo que você merece.

Corei ainda mais e beijei o peito dele.

— É uma pena que vamos a trabalho.

— É uma pena mesmo, mas prometo que iremos aproveitar também para fazermos algo divertido nas horas vagas. Vai ser a nossa primeira viagem em família.

Me animei com a idéia de fazermos algo juntos, apenas nós três. Porém, descobrimos depois que Emmett não estava incluso nos planos da viagem. Não era costumeiro levar crianças em turnês reais. Era algo de trabalho e elas poderiam atrapalhar. Carlisle sabia bem disso, eu não. Mas nenhum de nós dois sequer pensávamos em nos separar do nosso filho. Batemos o pé. Sem o garoto nada feito. Tiveram que acatar.

Depois disso foi tudo uma grande avalanche. Ronald tinha calos nas mãos desenhando um look diferente para cada ocasião. Deveríamos ter ao menos quatro trocas de roupas por dia, sempre estar com os cabelos arrumados e maquiagem com perfeição. Foi nessa viagem que fui aprendendo mais sobre esse conceito de como se mostrar ao mundo. Meu estilista me dizia “as pessoas lhe tratam da forma como você se apresenta ao mundo”. Era verdade. Estar bem apresentável e seguro de si lhe garantia boas portas abertas.

Fiz também um esforço para aprender um pouco de Espanhol, língua que me aprofundaria mais depois. Também fiz inúmeras pesquisas importantes sobre a cultura, História e política da Espanha. Eu estava gostando de absolutamente de tudo que estava descobrindo e tinha certeza que amaria aqueles dias que passaria por lá.

No dia anterior a viagem, eu estava tão ansiosa que nem consegui dormir. Passei a noite andando de um lado para o outro ou velando o sono de Emmett sem sentir o meu chegar. Quando Carlisle acordou para nos aprontarmos, percebeu que eu tinha passado o tempo que deveria estar dormindo todo em claro. Beijou os meus cabelos e me assegurou que tudo daria certo. Ele foi o meu suporte quando o avião decolou. Segurou a minha mão e aliviou o meu medo de voar. Seus olhos azuis hipnotizantes me fez esquecer que estávamos entre as nuvens. Na verdade, ele me fazia estar entre elas sempre. Seu ar passava tanta tranqüilidade e segurança que consegui relaxar e dormir durante as mais de três horas de viagem. Me acordando apenas para retocar a maquiagem quando estávamos próximos de pousar.

Depois tudo foi um completo borrão. Passamos uma semana na Espanha e nem pareceu por que tudo tinha passado realmente rápido. Tínhamos muitos compromissos a cumprir e mal passávamos um tempo livre para estar com Emmett ou para fazer qualquer outra coisa. Mesmo assim, Carlisle fez questão de tirar muitas fotos de qualquer momento que estávamos nós três juntos. O rei Juan Carlos tinha sido especialmente gentil e um bom anfitrião. Nos tratou com muita simpatia e com acolhimento. Ofereceu um jantar, onde pudemos conhecer muitas pessoas importantes, e ainda nos proporcionou um dia em Maiorca para podermos descansar antes de voltarmos. Foi muito divertido. Andamos de lancha e nadamos nas belas águas cristalinas. Emmett estava começando a dar seus primeiros passinhos. Lembro dele encantado com os pés na areia tentando vir até nós. Construirmos alguns castelos de areia para serem derrubados depois e ganharmos um sorriso banguela. Suas mãos curiosas pegavam tudo que achava interessante. Trouxemos muitas conchas e algas para casa.

Quando faço uma reflexão sobre esse momento me vem a conclusão de que sai uma pessoa diferente dessa turnê. Observei muito e sem dúvida muitas das lacunas na minha mente foram preenchidas. Estar diante de gestores me fez fazer uma série constatações sobre jogos políticos que eu nem se quer me dava conta. Via a sua majestade espanhola interagindo com Carlisle e com outras pessoas, entendi o desenrolar da coisa. Ele tinha muito tato, sorrisos, pequenos agrados para conseguir sempre o que queria. As pessoas eram mais agradáveis e solicitas quando recebiam um bom tratamento. A rainha Sofia também não era uma figura apenas figurativa. Ela parecia dura em seus modos, até formal, mas sabia exatamente o que acontecia tudo em volta, completando as habilidades de seu marido de acolher e conseguir de maneira ímpar.

Foi naquela viagem que me dei conta de agora, eu também era uma parte da gestão e o quanto aquilo era uma grande responsabilidade. Enquanto via as apresentações culturais ou assistia algum evento na Espanha, pensava que o resultado de tudo aquilo funcionar fazia parte de uma grande engrenagem. Se alguma parasse de funcionar, tudo pararia e eram aquelas pessoas que sofreriam. Pensei em tudo que podia fazer em Belgonia. Havia tantos planos. Não sabia bem por onde começar, mas tinha certeza que eu não queria apenas cortar fitas de inauguração. Eu queria ser uma engrenagem que fazia tudo funcionar de verdade. Por isso, considero aquela viagem foi um marco. Aprendi a ser da realeza ali, embora tenha aprendido mais depois. A questão era que outra Esme começou a existir a partir dali. COMENTEM BASTANTE! 


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