Dinastia 3: A Rainha de Copas escrita por Isabelle Soares


Capítulo 16
Capítulo 16




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— Parece que estamos num santuário. – Emmett falou quando entrou na sala ao lado da mãe. William esperava sentado com uma porção de fotos antigas que tinham sido cedidas por Esme e espalhadas por ele pela mesa.

Apoiada nos braços do seu filho, seguiram até ele em passos lentos. Hoje teriam mais uma entrevista que provavelmente levaria horas com Esme resgatando milhares de memórias que tinha quando Emmett nasceu. Na verdade, os anos 80 foram especiais pra a rainha por causa justamente das suas crianças.

— Bem – vindos! – William nos saudou.

— Obrigada. – respondi. – Você fez uma boa seleção aqui.

— Só as melhores.

— Prepare-se para ficar aqui por horas. – comentou Emmett.

— Quero histórias interessantes. A gente falou sobre coisas externas, baseadas nas opiniões dos jornais com relação a vocês, mas agora eu quero puxar ainda mais pro privado. Acho que vai ser importante para as pessoas se deliciarem mais sobre o começo de tudo, sobre a vida real de vocês. Por isso chamei Emmett aqui. Esse assunto lhe envolve.

— Com prazer.

— Podemos começar?

— Sim. – respondi.

William pegou a primeira foto do monte. Era uma que fugia do tempo cronológico que traçamos. Nela estavam Esme, grávida de alguns meses de Alice, com um pequeno Edward nos braços e Carlisle logo atrás dela com Emmett nas costas. Estavam em alto mar em um dia de folga.

— Que memórias essa foto desperta?

— Eu não me lembro desse dia especificamente. Eu era muito pequeno nessa época, mas o que eu vejo aqui é o mesmo que vejo nessa. – Emmett falou enquanto pegava outra foto mais recente do que a outra. Nessa Alice era um bebê. – Éramos uma família real, mas não no sentido de realeza, mas no significado literal. Papai e mamãe fizeram de tudo para que fôssemos realmente felizes. Que tivéssemos todas as experiências da vida.

— Eu penso o mesmo. Carlisle e eu tínhamos essa preocupação. Precisávamos diferenciar a nossa relação, a nossa família com os nossos títulos e obrigações. Veja a nossa cara. Temos um casal feliz com os seus filhos pequenos, tentando fazer tudo dar certo.

— Então, não havia o pensamento de que os seus filhos também pertenciam ao Estado Belgão?

— Existia sim esse pensamento. Você acha que suas majestades não lembravam a gente disso o tempo todo? Mas nós queríamos aproveitar o que tínhamos. Sermos normais o tanto que podíamos e passar um pouco disso para os nossos filhos.

— Na verdade, eu agradeço muito pelo que tivemos. Mamãe e papai eram apenas humanos e queríamos que soubéssemos disso o tempo inteiro. Meus filhos não possuem nenhuma obrigação com a realeza, mas cresceram em torno disso. Tinham paparazzis que os seguiam, pessoas que os conheciam por causa de seus parentescos, mas eu sempre quis passar a mesma mensagem que recebi dos meus pais. Antes de tudo a gente é uma pessoa normal. Eles foram a minha maior inspiração, na verdade.

— Você fez um bom trabalho, querido. Henry e Melany são pessoas simples, Marlowe é que demorou um pouco pra entender o recado.

— Pois é... Marlowe sempre teve um espírito grande demais. Mas espero que a vida a ensine e que aprenda.

— Essa questão de títulos e sucessão mexeu muito com vocês também.

— Principalmente quando me tornei adolescente. Na verdade, sempre houve um burburinho ou outro sobre o assunto nos corredores e eu como criança acabava ouvindo e percebendo a diferença de tratamento que existia entre mim e meus irmãos, embora não entendesse bem. Mas quando fiquei grande é que comecei a sentir o peso da responsabilidade. Algo que eu não queria. Só desejava a minha vida normal.

— Na verdade, minha sogra me lembrou desse detalhe logo quando sai do hospital com Emmett recém – nascido. Ela me disse claramente que aquele bebê não me pertencia e sim ao Estado e que eu tinha a obrigação de prepará-lo para a missão dele. Me arrepiei toda com essa fala dela na época.

— Ual! Isso foi bem forte. Nocaute! – Emmett comentou enquanto esmurrava o ar.

— Eu simplesmente não queria que Emmett e nem os meus outros futuros filhos fossem robôs controlados por regras e protocolos. Só trabalho e nunca diversão, entende? Eu sabia o quanto isso tinha afetado Carlisle e Carmen em suas vidas.

— E não acha que isso acabou influenciando no que aconteceu depois? Digo na abdicação de Emmett. – perguntou William.

— Não. Apesar de que acho sim que cometemos alguns erros na educação de nossos filhos, mas não foi por que não ouvimos a minha sogra. Carlisle e eu éramos pais como qualquer outro. Tentamos fazer o que foi possível.

— E o que achavam que era certo. – Complementou Emmett. – Minha abdicação não teve nada a ver com a minha criação. Foi uma mistura de fatores.

— Certo. Não vou muito me estender nesse assunto até por que vamos ter outro momento para falar sobre isso. Agora quero mostrar essa foto aqui.

— É uma de minhas preferidas! – falou a rainha.

— Minha também. – Emmett concordou.

A foto havia sido tirada logo após a chegada de Esme e do pequeno Emmett ao palácio. Ela mostrava o lado real da maternidade, com uma mãe que nem parecia uma duquesa com os seus cabelos bagunçados tentando fazer o seu bebê dormir.

— O que essa foto diz pra você, Emmett?

Ele pensou um pouco e respondeu:

— Me fala sobre todos os momentos que passei ao lado da minha mãe. Essa mulher aqui deu tudo de si para os seus filhos. Teve os seus erros tentando fazer o melhor para nós, mas nenhum deles paga todo o amor e carinho que recebemos dela.

Esme sentiu as lágrimas começarem a se formarem dentro dos seus olhos. Apertou a mão do filho para se segurar.

— Dizem que você é o filho favorito? Confirma isso? – William perguntou rindo.

— Bom, isso eu não sei, mas é uma honra.

A rainha sorriu e abraçou o seu primogênito. Esse comentário era algo que sempre escutava pelo fato de tanto ela quanto Carlisle protegerem seu filho mais velho, mesmo diante das besteiras que ele tinha feito. Se eles ao menos soubessem...

— Aqui temos uma jovem mãe tentando aprender nessa nova aventura que é cuidar de um pequeno ser humano que tinha saído de dentro dela. Por isso que eu gosto tanto dessa foto por que ela mostra uma cena real entre muitas mães por aí.

Emmett pegou outra foto e mostrou para a sua mãe. Era uma que havia ido para o cartão de natal do ano de 1983. Carlisle e Esme estavam com o seu neném de poucos meses no colo, com suas expressões jovens e felizes. A rainha olhou com carinho para aquela imagem. Ela trazia uma sensação tão boa que dava vontade de voltar no tempo.

— Obviamente eu não lembro desse momento, porém, vai encontrar muitos registros como esse. Mamãe e papai gostavam de descobrir coisas novas conosco. Estávamos sempre com o pé na estrada. Eu lembro que todas as férias escolares íamos para um local diferente. Passávamos meses tentando decidir para onde ir e depois colecionávamos imãs de geladeira para marcar cada pedaço que conhecemos.

— Verdade. Carlisle amava descobrir novas aventuras e eu também. Acho que era a forma que tínhamos para tentar ser um pouco mais como nós mesmos.

William assentiu sorrindo e pôs outra foto na frente deles. Era um Emmett com as bochechas rosadas e inchadas logo depois de nascer. Esme seria capaz de sentir aquele bebê de novo em seus braços.

— E como foi quando Emmett nasceu? – questionou o jornalista.

— Isso eu também quero saber. – Emmett comentou sorrindo.

A rainha se ajeitou na cadeira e segurou algumas fotos, puxando da mente algumas lembranças.

Esme: Sua Verdadeira História – Capítulo 16: Luz do meu caminho

Papai faleceu quando eu estava no fim da minha gravidez. No oitavo mês para ser mais precisa. Fiquei mal, lembro de não querer sair para lugar nenhum, apenas chorar e chorar. Tudo tinha ficado extremamente fora do lugar com a partida dele. Mamãe também se fechou em seu mundo. Era o início de sua depressão que duraria até a sua morte. Não quis voltar ao trabalho ou se ocupar em qualquer outra coisa. Não saia do quarto para nada. Lily foi uma grande salvação nessa época. Cuidava dela e da casa. Foi muito responsável.

Eu me sentia muito por não poder estar sempre ao lado delas. Procurei ir mais na minha antiga casa. Tentar ajudar a mamãe, mas nada que fazíamos surtia muito efeito. Eu a compreendia. Também estava triste e queria ficar sozinha com a minha dor. Carlisle incontáveis vezes foi o meu porto seguro. Por vezes, eu não conseguia dormir a noite e começava a chorar. Ele vinha até mim e me embalava em seus braços.

— Seu pai está em lugar melhor, meu amor. Acredite nisso.

Eu também começava a ficar nervosa para o meu futuro como mãe. Estava tão próximo de acontecer. Dali a um mês teríamos o nosso menino em nossos braços. Será que eu estava pronta? Como eu cuidaria dele nessa rotina louca da realeza? Eu só sabia que estava curiosa para conhecê-lo.

O palácio também aproveitou meu período de luto, pela qual tinha direito, para me “forçar” a me enclausurar e entrar logo na minha licença maternidade. Não me impus, pelo menos não a isso. Eu não tinha mesmo forças para estar em uma série de compromissos. Não conseguia sorrir, meu coração chorava. Meus pés estavam inchados e minha barriga pesava, então nem pensar em ficar horas e horas em pé. Eu saia apenas para locais específicos e para ficar por pouco tempo.

Foi nesse momento também que eu descobri uma série de tradições e tratamentos dedicados a grávidas reais. Algumas inteiramente bizarras e medievais. Minha sogra chegou até mim e perguntou onde eu queria ter o bebê, em Belgravia ou Clarence. Achei aquela pergunta estranha. Como assim? Era óbvio que na capital. Doutor Walter era o meu ginecologista obstetra e só atendia aqui.

— Aqui, é claro. – respondi.

— Ótimo! Carlisle e Carmen nasceram aqui também.

— Uma viagem seria desconfortável.

— Sim, verdade. Em qual quarto você gostaria de tê-lo.

Oi? Ela queria que eu tivesse o bebê no palácio? Pra mim nunca tinha havido outra opção a não ser ter o bebê no hospital e por isso não tinha mencionado isso, era muito óbvio. Todas as mulheres que eu conhecia tiveram seus filhos com toda a assistência médica.

— Eu vou ter o meu filho no hospital.

— O que? Não! Bebês reais não nascem em hospitais. Você tem noção que realeza se distingue das outras pessoas?

— Por quê?

— Por que somos consagrados no óleo sagrado. Somos escolhidos por Deus para estar na função que estamos.

— Eu não fui consagrada com óleo nenhum e nem Carlisle, até onde sei.

A rainha olhava pra mim com o rosto vermelho de raiva. Me mantive neutra apenas olhando para ela em silêncio. Ela ainda acreditava que eu mudaria de idéia. Mas eu não mudaria. O bebê era meu. O parto era meu e eu tinha direito de escolha.

— Você não pode quebrar as regras desse jeito! Por que não faz tudo conforme as tradições?

— Desculpe, majestade, onde há essa cláusula no livro de leis reais que eu não vi? – fiz de desentendida.

Ela me olhou ainda mais irritada. Achei que ela teve vontade de arremessar alguma coisa de tanta raiva que estava. Mas antes que fizesse alguma besteira acabou preferindo se retirar. Fui me informar mais a respeito e descobri que não havia nenhuma regra que dizia que era obrigatório os bebês reais nascerem nos palácios oficiais. A única lei era que tínhamos que mostrar o bebê em público para que todos tivessem consciência que havia ali um herdeiro ou herdeira legítima ao trono.

Antes de mim, algumas semanas antes da data prevista para o bebê nascer, quanto antes melhor, a parturiente ficava acomodada em um cômodo do palácio sem sair e nem ser vista por ninguém além do necessário. Isso a resguardava e mantinha a sua privacidade em sua condição. Como eu havia dito antes, a gravidez era tratada como algo íntimo e sagrado dentro da realeza. Uma parteira de confiança era chamada e essa tinha o maior cuidado para tocar o mínimo naquela que estava dando a luz. Pessoas da família real não podiam ser tocadas por qualquer pessoa sem a permissão delas. Uma grande bobagem, é claro! Coisa que devia ficar no passado.

Tive que apelar para Carlisle. Eu tinha certeza que ele preferia que o nosso filho nascesse pelas mãos de seu amigo e na segurança de um hospital. Não podíamos descartar que algo pudesse dar errado e eu queria estar bem assegurada.

— Você terá o bebê onde você achar melhor, Essie. – ele disse para o meu alívio. – Isso é bobagem da mamãe. Tradição antiga. O corpo é seu e a escolha também é sua.

Elizabeth foi vencida a contra gosto. Para evitar que a raiva dela se tornasse ainda maior do que ela já estava, deixei que ela escolhesse o hospital. O escolhido foi o St. Clair, o mais tradicional e antigo da cidade. Diante disso também tive que aceitar o fato de que logo ao sair do hospital, eu, Carlisle e o nosso garotinho pousaríamos para algumas fotos e acenaríamos para as pessoas conhecerem o nosso filho. Ok, regras eram regras. O único desafio foi fazer com que o hospital aceitasse que o parto fosse feito por um médico que não trabalhava lá, mas ninguém negaria um pedido feito pela realeza, não é?

Quanto mais o mês de setembro avançava. Um comunicado do palácio anunciou que o bebê nasceria no St. Clair e isso motivou várias pessoas a acamparem lá por dias e isso me deixou realmente impressionada. Como poderiam estar tão afoitos com a chegada de uma criança de alguém que eles nem conheciam pessoalmente? Foi surpresa também para os jornais de TV que iam para a frente do hospital para cobrir tudo. Um imenso relógio foi posto na parede como uma grande contagem regressiva.

Em casa também havia muita expectativa. Lembro de me olhar no espelho e ficar acariciando a minha barriga enorme. Brincava com os chutes constantes do meu garotinho como se conversasse com ele. Me via no futuro ao seu lado lhe contando histórias para dormir. Imaginava um menino loirinho correndo pelos corredores todo travesso. Rezava todos os dias para que ele crescesse saudável e feliz.

Carlisle também estava ansioso. Ficava me observando e qualquer coisa significava que algo grande estava por vir. Ele levantava a cabeça e arqueava as sobrancelhas e eu dizia que estava tudo bem.

— Eu te amo tanto bebê! – ele falava com a minha barriga. – Estamos prontos para quando você quiser chegar.

— Ele vai vir quando estiver pronto. Tudo na hora do neném.

— Eu sei. Só sou um papai ansioso.

Me ajeitei na cama e o abracei. Naquela altura, nenhuma posição era confortável. Tentei me aconchegar nele como pude para voltar a ter aquela sensação gostosa que era estar em seus braços.

— Está confortável? – Carlisle perguntou no meu ouvido. – Posso tentar me ajeitar.

— Não ouse. Aqui, agora é a definição textual de momento perfeito.

— É sim. Eu estou feliz.

— Eu também. Tem noção que logo seremos três?

Carlisle beijou os meus cabelos e com as mãos massageou a minha barriga. O menino tentava acompanhar os movimentos dele com chutes dentro de mim.

— É inacreditável, às vezes. Vamos ter alguém circulando por ai que é parte de nós, sabe?

— É surreal!

— E muito adulto.

Rimos um para o outro.

— Sabe o que nós precisamos? – sugeri.

— O que?

— Uma música para marcar esse momento. Em qualquer hora o bebê pode nascer e precisamos de uma canção para lembrar do último momento em que somos apenas nós dois.

— Tá bom. Que música seria?

— Espera.

Me levantei devagar e fui até o toca discos. Abri a rádio e a primeira música que estava tocando era FlashDance por causa do filme que tinha sido lançado recentemente nos cinemas. Carlisle gargalhou da cama.

— Agora essa vai a música desse momento. – falei. - A partir de agora toda vez que ouvi-la vai lembrar de quando éramos apenas dois recém- casados sem saber nada sobre o mundo.

— Essa não vai ser a nossa música.

— Por quê? É alegre e dar vontade de dançar.

— Escolhe outra.

Comecei a dançar e ele gargalhou ainda mais. Aquela música tinha sido mesmo marcante. Quando se falava de anos 80 com certeza todos colocariam flashdance na playlist. Mas toda vez que Carlisle e eu a ouvimos começávamos a rir lembrando de quando nosso primeiro filho estava prestes a nascer e quando nossas vidas iria mudar pra sempre.

O trabalho de parto não demorou muito depois disso, começou durante a manhã do dia 24 de setembro, um sábado. Era outono e estava um frio gostoso lá fora. Lembro de me sentir incrivelmente sonolenta. Não consegui sair da cama naquele dia apesar das pontadas que eu sentia de leve. Era já de tarde quando me levantei para o almoço. Senti a minha barriga dura e as dores tinham aumentado. Informei à empregada que limpava o quarto.

— Deixe estar, alteza, a gente sente essas coisas quando está perto.

Às cinco da tarde, as suas majestades requisitaram a minha presença para um chá antes do jantar que sempre acontecia às oito. Eu comecei a me sentir incrivelmente enjoada. Abri o chuveiro ignorando a sensação ruim e as cólicas insistentes. Mas antes da água descer, senti uma água escorrer pelas minhas pernas. Então, entendi tudo.

Avisei a Carlisle e saímos todos apreensivos para o hospital. Acabou vazando a nossa chegada por lá e as pessoas começaram a chegar ao recinto também. Mas estive que esperar muito até o momento de empurrar e fazer com que meu filho nascesse. Ouvia os barulhos das pessoas lá fora enquanto a dor me dilacerava. A dilatação demorava horrores para se espaçarem.

— É normal. – Dr. Walter me disse. – O primeiro filho sempre é mais demorado.

Eu suava litros e me sentia cansada de tanta dor. Carlisle limpava meu rosto e me mandava respirar. Mas nada disso adiantava diante de tanto sofrimento. Eu sentia que ele estava tão apreensivo quanto eu, porém, tentava demonstrar calma.

Em um momento, Dr. Walter e os seus colegas consideraram a hipótese de proceder a uma cirurgia de emergência. Durante o trabalho de parto, a minha temperatura subiu drasticamente, o que provocou algumas preocupações com a saúde do bebê. Por fim, recebi uma epidural na base da coluna e consegui dar à luz com o meu próprio esforço, sem o recurso a fórceps ou à cesariana.

O nosso menino nasceu as quinze para as nove da noite. Era um bebê grande, pesava quatro quilos e era a cara de seu pai. Os ralos cabelinhos na cabeça virariam um loiro cor de areia e aqueles olhos azuis permaneceriam. Quando ele foi colocado em meu peito, senti meu coração se encher de ternura. Era uma sensação que eu não sabia explicar. Esse neném saiu de mim, eu virara mãe e isso era inacreditável! Parecia que minha vida tinha ganhado outro significado.

— Ele é o bebê mais lindo que eu já vi. – Carlisle sussurrou ao meu lado.

— E nosso. Imagina? Temos um filho agora. – a minha ficha estava caindo aos poucos, mesmo sabendo que eu convivia com aquele serzinho há nove meses. Sentia seus chutes fortes e incessantes, mas agora tudo era real.

— Começa agora a nossa aventura mais desafiante.

— Sim. Estamos prontos, não?

— Estamos como sempre tivemos.

Ele beijou a minha testa e em seguida a pequena cabeça do nosso menino, que se remexia em meus braços. Logo que encontrou o queria, começou a mamar como se já soubesse como fazer há tempos. Sorri.

Depois de limpo e passado todos os procedimentos normais, o bebê foi devolvido para os meus braços mais um pouco. Carlisle tirou uma foto como recordação. Agradeci aos seus por ele ter se lembrado de trazer a nossa máquina no meio às pressas que saímos de casa. Babo ainda hoje ao ver aqueles lindos olhinhos esticados.

Alguns minutos depois fui levada ao quarto para que eu pudesse descansar, mas não consegui. Estava num estado de euforia. Fechei os olhos e só apareciam as imagens do meu pequeno. No fundo ouvia os gritos das pessoas do lado de fora. Eu não podia acreditar que ainda poderiam haver pessoas naquela hora da noite em frente a um hospital. Mas não eram só eles. Os sinos da Abadia badalavam audivelmente. Foi naquele instante que eu me dei conta que o meu filho não era só meu, mas do mundo.

Isso foi ainda mais claro no dia seguinte. Eu estava com ele nos braços depois de amamentá-lo quando meus sogros chegaram. Sorri ao vê-los, mas senti um tanto despreparada para recebê-los. Carlisle não estava ali. Tinha ido se trocar para podermos sair juntos do hospital. A minha equipe não tinha chegado ainda para me aprontar e eu estava informal demais. Me encolhi.

— Viemos ver o pequeno Christopher. – a rainha falou e estranhei.

— Não escolhemos o nome dele ainda. – Algo que não era totalmente verdadeiro. Antes do neném vir ao mundo, no momento que fiquei de cama, me viciei num livro onde o personagem principal se chamava “Emmett”. Me apaixonei pelo nome e depois fui pesquisar sua origem. Era nórdico e significava “valente” e desde desse momento, eu já tinha escolhido aquele nome.

— Temos que colocar esse. É tradição que o primeiro filho se chame Christopher.

Eu não sabia nada disso.

— Vou conversar com Carlisle.

Ela revirou os olhos, no mínimo pensando que eu estava sendo chata mais uma vez e eu seria.

— Podemos ao menos segurá-lo? – perguntou.

— Claro! É neto de vocês. – falei timidamente, ainda me sentindo desconfortável.

A rainha se aproximou de mim para pegar o bebê em meus braços enquanto o rei permanecia sentado na poltrona em frente a mim, como se tivesse receio de se aproximar. Ele era mais contido que a esposa. Ela tirou a criança de mim e eu de repente me senti mal por meus braços ficarem vazios. O meu pequeno pacotinho me deixava mais calma.

— Graças a Deus! Ele se parece tanto com Carlisle. Venha ver Pierino.

O rei se levantou e ficou do lado da esposa. Eu apenas observava tudo.

— Olhe essas bochechas. Tão parecido com o nosso filho, não acha?

— Acho sim. Deus queira que ele será um grande rei um dia. Vamos prepará-lo muito bem.

— Vai sim, tenho certeza. Ainda bem que veio um menino primeiro, não? Imagina se tivéssemos uma futura rainha?

— Os Cullens sempre acertam de primeira.

A risada dos dois contaminou o quarto e eu me encolhi com aquele comentário extremamente machista. Eles são de outra geração, coloquei em minha cabeça para não revidar aquele absurdo.

— Temos que planejar o batizado. Deverá ser no início de dezembro para não atrapalhar o natal.

— Ele não deverá ter completado três meses nessa altura.

— Não há problema. A diferença será apenas de dias. Vou falar com o acerbispo.

— Será televisionado?

— Oh sim! Temos que apresentar o nosso príncipe e futuro rei para o mundo! Um Cullen não pode passar despercebido.

— Bom... Temos que ressaltar bem isso. Já ouvi comentários que o bebê seria contaminado pelo sangue plebeu e não seria completamente puro.

— O que pudemos fazer quanto a isso, não? Quando verem que o garoto é Carlisle todo não vão nem lembrar da procedência dele.

De repente, me senti sufocada com aquela conversa dos dois. Não consegui falar nada, apenas senti os olhos marejarem, minha tristeza se tornava maior. Eu já estava preparada para enfrentar o preconceito das pessoas, só não estava preparada para suportar que esse preconceito se transferisse para o meu filho.

— Já chamamos a babá para cuidar dele. Ela chega hoje no palácio. – afirmou Elizabeth

— Eu não pedi nenhuma babá. – falei com a voz rouca.

Elizabeth riu da minha cara, achando que o que eu tinha dito era uma piada de mau gosto.

— Você não deve estar pensando direito.

— Eu não quero uma babá. Eu tenho esse direito.

— Você vai precisar de uma babá. Acha que com os seus compromissos vai dar conta de cuidar de um bebê.

— O filho é meu. A responsabilidade é minha.

— Veremos.

Elizabeth olhou pra mim como se me desafiasse e eu devolvi o mesmo olhar já sentindo que eu poderia chorar a qualquer momento. Malditos hormônios! O neném começou a chorar nos braços da avó e foi a nossa deixa.

— Bom, precisamos ir, Elizabeth.

— Vamos sim.

Estendi os braços para ela me passar o bebê, mas ela o colocou dentro do berço de acrílico do hospital. Bufei.

— Não o toque. Deixe-o chorar. Crianças crescem mimadas quando são muito paparicadas pelos pais.

Não respondi. Esperei eles saírem para fazer uma careta e pegar o meu bebê nos braços. Se dependesse de mim, meus filhos teriam todo o carinho necessário.

Mais tarde deixamos o hospital e formos recebidos por uma verdadeira multidão. Até aquele momento, bebês reais eram apresentados para o povo na janela principal do palácio de Belgravia. As pessoas ficavam esperando à milhas de distancia no portão, que estaria fechado, ou seja, mesmo sendo um momento público, não havia tanta proximidade com as pessoas. Elas só veriam a carinha do bebê quando as fotos oficiais saíssem.

Minhas noras e minha filha falaram do desconforto que era estar em frente a uma porção de fotógrafos e curiosos logo após o parto. Eu tinha que me desculpar com elas toda vez que ouvia algo do tipo por que fui responsável por essa loucura toda. Na verdade, a princesa Diana tinha feito primeiro lá em Londres alguns anos antes e quando eu disse que iria ter o meu bebê no hospital, a equipe que trabalhava conosco achou ótimo trazer a experiência da princesa Gales para Belgonia.

Pra mim não foi ruim. A essa altura eu tinha ciência de como bebês reais eram uma sensação nacional, como tudo ligado a realeza. A família real fazia parte não só da cultura, do dia a dia, mas também das famílias de cada belgão. Sabia que Carlisle e eu tínhamos um lugar especial no coração das pessoas e sinceramente, estava feliz por mostrar a eles o motivo da minha felicidade.

Quando as portas do St. Clair abriram ouvimos os gritos enlouquecidos das pessoas. Elas choravam, riam, tomavam champagne e comemoravam como se tivéssemos ganhado a copa do mundo. Os flashes nos cegavam. Haviam vários fotógrafos e jornalistas de todos os lugares para captar um pouco do que quer que seja, principalmente do bebê, é claro.

Ficamos em pé no topo da escadaria ao lado do orgulhoso diretor do hospital na época. Ele agradeceu muito por termos escolhido o lugar. Depois que anunciamos o nascimento do neném e mesmo depois vinda dele, o número de partos lá aumentou consideravelmente. Todo mundo queria ter a experiência de ter um momento como uma princesa.

Esperamos poucos minutos para os registros serem feitos. Cinco minutos no máximo. Mostrei o bebê para eles como uma mãe orgulhosa e depois Carlisle pegou na minha mão e descemos juntos em direção ao carro. No outro dia o que falavam nos jornais não era como o novo príncipe era bonito, mas o fato de eu ter escolhido um vestido que marcava minha barriga pós- parto. Fiquei chocada, claro, por esse detalhe ter sido escolhido como pauta. Eu não tinha menor pretensão de esconder algo que era tão natural. Eu tinha acabado de dar a luz! Minha barriga não sumiria como um passo de mágica. Sempre fui a favor da humanização da gravidez e do puerpério.

Entretanto a minha preocupação naqueles primeiros dias nem foi com isso. A imprensa continuaria falando o que quisesse independente do que eu fizesse. Mas com a escolha do nome do bebê. Eu já tinha contado a Carlisle sobre o meu desejo de chamar o nosso filho de Emmett. Ele tinha adorado. Meu esposo amava tudo que era diferente e o que certamente irritaria a família dele. Então, nós meio que tínhamos já batido o martelo. Porém, o rei e a rainha não queriam de jeito nenhum aquele nome por fugir totalmente do tradicional. Carl tivemos que lutar bastante e eles acabaram sendo vencidos com a promessa que o nome do nosso próximo filho ou filha seria uma escolha deles e mais conservadora.

Aceitamos na expectativa que eles esquecessem isso. Afinal, depois do nosso primeiro filho não tínhamos pressa alguma para ter o segundo. Então, dois dias depois de seu nascimento, registramos o nosso menino de Emmett Christopher Cullen, atendendo todas as expectativas. Quer dizer, alguns apostadores que esperavam Pierino, John ou Guilherme acabaram chateados e sem seu dinheiro. Me desculpem! Mesmo com um certo atraso.

Mais tarde, todos viram o batizado de Emmett. Teve quase a mesma audiência do casamento. O que ninguém sabe que nada daquilo era pra ser como foi. Lembro demais das inúmeras batalhas que tivemos que enfrentar nos meus primeiros anos de casada. Era quase um UFC, mas não televisionado. Tudo se tornava uma grande discussão, até por mínimos detalhes.

Por mim batizaríamos Emmett no dia de natal, aproveitando a tradicional missa, seria bem significativo. Mas a rainha não queria e ninguém no palácio. Ele era o segundo na linha de sucessão e se tornaria rei um dia, então teria que ser algo grande televisionado. Foi uma coisa que Carlisle e eu tivemos que ceder, embora que tiveram que aceitar a escolha do meu marido para padrinhos, algo pessoal, sua irmã Carmen e seu marido Eleazar.

Escolheram o dia 11 de dezembro, um domingo, uma dia horrível. Programaram um horário sem me consultar, achando que uma criança tão pequena poderia se adaptar a um roteiro. Tudo começou mal na noite anterior. Emmett sofrera de cólicas e como dois pais de “primeira viagem”, Carlisle e eu não sabíamos o que fazer. Ficamos o balançando a noite inteira. Fizemos tudo que lembrávamos terem ensinado nos livros que lemos antes dele nascer, nada resolvia. O bebê só foi dormir já era quase de manhã quando me lembrei de vovó falar muito em chá de camomila para acalmar. Deu certo, mas tínhamos que estar de pé antes das oito, ou seja, não descasamos nada.

Tínhamos criado uma rotina para começar a adaptar Emmett. O horário escolhido para o batizado estava entre suas mamadas e soneca. Ele estava acostumado e enjoado pela noite mal dormida, o resultado foi um grande chororô praticamente durante todo o evento. Carlisle tentou controlá-lo em seus braços. Mas nem suas melhores habilidades puderam acalmar Emmett. Tudo estava sendo televisionado e a abadia lotada o deixava ansioso e sem conseguir dormir.

Seguiram como se nada tivesse acontecendo, afinal, o show não podia parar. Já estávamos ali com nossas roupas chiques e de chapéus. Não havia volta. Emmett foi batizado e graças aos céus parou de chorar quando teve sua cabeça banhada pelo acerbispo. Ele dormiu enquanto tirávamos milhões de fotos no palácio. Infindáveis sessões fotográficas com a Rainha, o rei, comigo e com Carlisle, todos juntos e uma festa com um almoço comemorativo que pude escapar por alguns minutos.

No final, minha cara nas fotos oficiais ficaram horríveis pelo meu desconforto e Emmett ganhou o prognóstico de criança imperativa pela mídia, algo que o acompanharia pela vida inteira. Mas ao menos tudo transcorreu bem. Suas majestades tiveram o seu evento grandioso, mais uma geração estava ali para dar luz à monarquia ainda sobrevivente. Enfim, acho que esse muro de lamentação está ficando chato. Vou parar esse capítulo por aqui antes que joguem meu livro pela janela, se ainda não o fez. POR FAVOR COMENTEM BASTANTE! ;)


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