Dinastia 3: A Rainha de Copas escrita por Isabelle Soares


Capítulo 13
Capítulo 13




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Esme caminhou até a sua sala preferida do palácio de Clarence em passos lentos. O mês de julho era sagrado para a família Cullen. Era o período de descanso, onde os compromissos se tornavam menores e o momento de férias para quase todos os membros seniors da família real. Para os monarcas era um ensaio para Agosto, onde poderiam realmente parar por um tempo.

O palácio de Clarence sempre foi um refúgio, um lugar onde poderiam viver mais livremente, longe da agitação da cidade grande, dos paparazzis, dos protocolos e regras que eram condicionados todos os dias. Quando as crianças eram pequenas, ela e Carlisle amavam trazê-las ali para poderem sentir o que realmente era diversão. Onde poderiam vê-las correndo, aprendendo a andar a cavalo, brincando com seus brinquedos, sendo crianças normais.

A rainha tinha boas lembranças de Clarence. Havia sido lá que Alice deu seus primeiros passos. Foi nessa mesma sala que ela, rodeada de seus brinquedos, se equilibrou na poltrona e testou andar até sua mãe que observava tudo encantada.

Ela entrou na sala e encontrou a filha rodeada de papéis e lápis de todas as cores. De repente, ela parecia uma criança de novo.

— Você está descumprindo as regras. – Esme falou. – É proibido trabalhar em Clarence.

— Desculpe-me mamãe. Esse é especial!

— E por quê?

— É para o desfile que vou fazer. Na verdade, é uma nova coleção que estou lançando para outubro.

— E o tema é vestido de noiva? – Esme perguntou enquanto observava os rascunhos.

— Não. Na verdade é uma coleção de roupas em homenagem a você.

Esme pegou no peito surpresa. Como ela poderia inspirar uma coleção de roupas? Não se considerava um exemplo fashion. Estava curiosa agora para ver o que Alice estava aprontando dessa vez.

— Como isso é possível?

— Você é muito modesta, mãe. Muitas pessoas se inspiraram nos seus looks por muito tempo. Quer queira ou quer não, você foi um ícone durante muito tempo. Vou pegar os modelos mais marcantes seus de várias épocas para inspirar modelos mais atuais.

— Você deve agradecer aos estilistas que cuidavam das minhas roupas, apenas isso.

— E nunca teve autonomia de escolher o que vestir? Não diga que não por que eu sei que você coloca pitacos em tudo.

— No início não. Ronald Esper foi meu estilista por três anos e ele decidia tudo. Depois eu me libertei um pouco e comecei a opinar no que eu iria vestir. Mas nesse meio tempo eu já conhecia os protocolos direitinho.

— Vovó era dureza, não é?

— Era. Por muito tempo eu tentei entender tudo que ela fazia. Hoje eu consigo um pouco. Toda mãe quer o melhor para o seu filho, mesmo que esse melhor seja baseado apenas nos seus próprios conceitos.

— Ela era sempre tão formal. Poucos afagos, encontros marcados. Os dois na verdade... Mas o vovô era mais apegado a nós. Lembro dele tentando ensinar a gente a andar a cavalo aqui em Clarence. Vovó apenas com um sorriso contido.

— É por que os dois vieram de uma outra geração. Foram ensinados a sempre reprimir os seus anseios. Sua vó era inglesa. Ingleses são sempre muito contidos.

— Verdade. Por isso me casei com um americano.

Ambas sorriram. Seus filhos tinham uma atração por americanos. Tanto Emmett quanto Alice se casaram com estadunidenses. Edward se casou com uma belgã, mas que também havia sido criada nos Estados Unidos, então... Ela podia apenas atribuir isso ao jeito leve e mais caloroso que eles tinham. Seus filhos cresceram num mundo onde tudo era controlado, por isso, encontrar alguém que fugia disso era libertador.

— Mas o que você está desenhando ai?

— Estou tentando atualizar esse vestido aqui.

Alice lhe deu o desenho e Esme logo reconheceu qual era. Não tinha como esquecer. Era seu vestido de noiva. Seu cartão de visita para o mundo como novo membro da família real. Sua vestimenta para o seu novo mundo.

— Meu vestido de noiva. Mas querida, ele é tão datado.

— Tem- se um jeito. As pessoas simplesmente o amam e mangas bufantes, está na moda de novo.

— Ele foi icônico mesmo! Sua vó e Ronald foram simplesmente inovadores.

— Esse vestido ficou tão a sua cara que é até esquecível que não foi você que o idealizou.

— Cada vestido de noiva real é a marca de seu tempo. Sua vó quis algo que chamasse atenção e conseguiu.

— Então daquele dia a única coisa que lhe desperta lembranças é o fato de ser algo relacionado a sua entrada na realeza?

— Claro que não. Eu estava me casando com o homem da minha vida, isso é muita coisa. Além de entrar para a família real, eu também estava me tornando uma mulher casada. Imagina como isso é algo adulto para uma garota de 22 anos.

— Jesus como você se casou jovem! Quase esquecemos desse detalhe.

— Naquela época as moças se casavam até mais jovens. Imagina que ainda a mentalidade da maioria das famílias era que o futuro das suas filhas era o casamento. Eu ainda tive que convencer o seu pai a me deixar ao menos terminar a faculdade.

— Papai era um homem apaixonado.

— Sim, ele era. Impulsivo também. O tempo lhe ensinou a ter mais paciência. Era como se naquela época ele fosse Emmett e depois se transformou em Edward com a maturidade.

— Verdade. Que saudades dele!

— Eu também. Todos os dias. Carlisle era meu porto seguro. Meu lugar quentinho para estar no fim do dia. Um era o sustentáculo do outro.

— Acho que se fosse por ele, o casamento teria sido bem mais sentimental, não era? Você lembra como tudo ele transformava em um acontecimento? Eu lembro quando perdi meu primeiro dente. Deus! Eu estava assustada com o sangue que saiu da minha boca e ele comemorou como se fosse um marco. Disse que tínhamos que fazer uma carta para a fada do dente. Acreditei de verdade que não era ele que deixava uma moedinha de baixo do travesseiro durante a noite.

— Ele era especial! Você sabia que ele guardou todo os dentes de vocês? Está em algum lugar lá no palácio. Eu vivia dizendo que ele usaria para fazer a dentadura dele quando estivesse velho.

Alice e Esme sorriram, mas os olhos da rainha começavam a ficar marejados. Lembrar que Carlisle não estava mais ali perto dela lhe causava dor. Mesmo acreditando que ele só podia estar num lugar muito bom esperando por ela.

— É verdade que vocês meio que se casaram antes do grande dia? É bem coisa do papai fazer algo assim.

— Não foi bem um casamento. Foi uma benção na verdade. E sim foi um arrombo romântico do seu pai.

Esme: Sua Verdadeira História – Capítulo 13: O Grande Dia

Sim, casamentos reais são feitos para serem a representação do “final feliz” dos contos de fadas. Tudo é programado cada segundo para ser um grande espetáculo para encher os olhos dos espectadores e os emocionarem de alguma forma.

É mágico também para quem vai se casar. É difícil desvincular o lado humano do teatro que se compõe. Logo quando fiquei noiva, eu quis com a minha família planejar cada detalhe. Era tanta coisa para se pensar que eu nem sabia por onde começar. Minha mãe estava tão animada e eu também. Nessa cerimônia, eu seria eu mesma e colocaria tudo que eu sonhara. Nós passávamos horas indo de loja em loja comprando o meu enxoval, ou olhando em catálogos, planejando todos os detalhes. Lembro de uma agenda onde eu escrevi por uma semana tudo que achava especial ter numa cerimônia e na recepção. Eu ficava vendo as revistas de casamento e me inspirando com idéias, recortando as imagens e colando nas páginas ao lado de comentários meus.

Cheguei a levar essa agenda para o palácio nas primeiras reuniões que tivemos. Eles nem a abriram. Apenas disseram que já tinham outros planos e realmente tinham. A idéia era que os cinco meses que antecediam a cerimônia fossem o de propaganda para o grande espetáculo de julho. Iriam me “domesticar”, transformar a pedra em diamante e mostrar para todos que podiam fazer esse trabalho duro com sucesso.

Nunca fui tão acarinhada pela mídia como naqueles meses. Até parecia que tudo que tinham falado antes tinha ficado pra trás como um pesadelo. Cheguei até mesmo a acreditar que eles tinham me enxergado de verdade. Porém, eu notei essa movimentação na época. Muito do que era divulgado era um trabalho da assessoria do palácio. Fiquei pasma com a frieza como eles tratavam tudo. Falavam pra gente:

— Vocês devem comparecer a esses eventos e deixem a entender que vocês estão muito apaixonados, porém não demonstrem demais. Timidez causa comoção e mistério. As pessoas devem sonhar acordados com vocês dois. Quanto mais estiverem na boca do povo melhor. Vai causar uma boa impressão.

Carlisle apenas revirava os olhos e rebatia os comentários. Eu observava tudo calada, apenas tentava mentalizar que fazia parte do ecossistema da instituição. Hoje, olhando pra trás, vejo que tínhamos uma assessoria e tanto trabalhando pra nós. Tudo foi devidamente orquestrado para limpar a imagem da família real diante da população. Para trazer de volta a magia que se tinha em torno da realeza e para isso formos transformados em dois personagens diante do palco montado.

Tudo ficou tão intenso que tiveram que fazer algo que não estava planejado antes, me mudarem pra Frogmore Cottage. Sim, minha sogra quando veio da Inglaterra ficou lá, a rainha Mary, minhas noras, Bella foi à última a habitar a casa que ficou conhecida como o lugar do “pré – casamento” a “guarda noiva”, mas nunca esteve nos planos que eu estivesse lá. Eu já morava em Belgravia. Estava no palácio todos os dias, praticamente. Porém, tudo ficou absurdamente difícil até para a equipe do palácio trabalhar. Os paparazzis estavam fora do controle.

Mesmo que a mídia tivesse mais boazinha comigo, nada pagava os milhões que eles ganhavam com qualquer fotinha minha ou de Carlisle. Na época, tudo era muito novo. Essa história de “shirp de casal” era extrema novidade e a mídia de tablóide estava percebendo que podia lucrar muito em cima das expectativas alheias, fazendo-os criarem histórias em suas cabeças. Então, valia à pena ficarem acampados na minha rua, seguirem a mim e a minha família para descobrirem pra onde eu ia, com que roupa, com quem e tudo que pudesse gerar mais notícia. Até eu tinha medo do que podia fazer por que tudo poderia gerar comentários desnecessários. E ninguém pode subestimar o interesse de um fã por um casal. Eles vão até o limite para comprovarem as suas histórias e alimentarem seus anseios por amor. Isso ajudava ainda mais a fomentar o conto que o palácio criava por trás.

Estar em Frogmore nos dois meses que antecederam o casamento foi um tanto solitário. Me ajudou muito a me desvincular mais da minha família para entrar aos poucos no universo da monarquia. Mas estar diante desse novo mundo, escutar o que eu escutei, ver os planos serem criados na minha frente, ver como eles viviam, o desconstruir da idéia que eu tinha deles me assustou muito nos primeiros dias. Mesmo que minha irmã tivesse sempre que podia comigo ou minha mãe, eu me sentia incrivelmente sozinha. Foi duro me acostumar que eu tinha uma série de compromissos e aulas, que agora a realeza era minha nova realidade, meus pais tinham que se encaixar no tempo que me ofereciam. Agora tinha uma agenda apertada a cumprir, cabeleireiro, estilista, maquiador, secretário, assessor. Era outro modo de vida que estava me sugando e eu tentava acompanhar tudo. Às vezes eu só queria parar um pouco e refletir sobre que estava acontecendo, mas eu não tinha tempo algum pra isso. Tinha que seguir com o combinado. Sentia falta de estar fazendo coisas simples com a minha família, mas como? Se tudo tinha mudado! Eles também estavam tentando se encaixar no meio.

Ainda mesmo estando agora mais próximo ao palácio. Não participei de quase nenhuma decisão a cerca do casamento. Tudo foi organizado pela minha sogra e pela equipe dela. As únicas escolhas minhas foi o buquê todo de rosas vermelhas, as minhas preferidas, e duas crianças que eu queria que me representassem como dama e pajem de honra. Uma era minha afilhada e o menino era filho de uma amiga minha, o restante, não pude dar nenhum palpite.

Eu acompanhava tudo de longe, até por que o meu papel era aprender o que me foi designado e comparecer aos eventos. Eu estava vendo que iria ser algo grande com a Abadia lotada de convidados importantes, 800 ao todo. Da minha família foram poucos, apenas os mais próximos e amigos mais íntimos, por que foi isso que eu quis desde o princípio. Eu queria que estivessem presentes apenas quem realmente me amava de verdade. Mas por parte de Carlisle foi tudo muito imenso. Haviam pessoas que eu sabia que ele nem conhecia.

Seria mentirosa se eu dissesse que estava bem com tudo isso. Eu não me sentia a vontade ao lado daquelas pessoas que eu era apresentada. Eu sentia que eu era a carne nova do pedaço e que de alguma forma eu estava os enganando e a mim também. Eu nunca seria como eles, mesmo com todas as aulas que eu fizesse. Mas eu teria que me acostumar por que aquilo faria parte da minha vida. Eu me casaria com o pacote inteiro. Não que não tivesse valido a pena. Carlisle mereceu qualquer esforço.

O bolo tinha o sabor único das frutas vermelhas e foi feito pela doceira italiana Caterina Lobato depois de uma seleção apurada entre diversos confeiteiros que mandaram seus cartões de visitas para o palácio. Mas Caterina agradou tanto que se tornou a doceira oficial da família real após o casamento. O bolo estava lindo! Traduzia a simplicidade entre mim e Carlisle, apesar dos quatro andares típicos de bolos de matrimônios reais. Também achei muito fofo ela usar todo o lado romântico na hora de enfeitá-lo, usando as rosas vermelhas que eu tinha escolhido para o meu buquê como decoração.

O convite era folheado a ouro, mas o meu vestido não seria criado por um grande estilista. Afinal, pra que? Eu não era nobre e nem queria um casamento grande. Então, minha sogra escolheu um dos estilistas que trabalhava no palácio para desenhá-lo. Ela que criou todo o design junto com Ronald Esper sem a minha participação, fui apenas para as provas. Mas tenho que dizer que ele deu o sangue dele. O meu vestido era icônico! Talvez um dos mais extravagantes da história de Belgonia. Feito para esmagar os olhares tanto dos súditos quanto dos convidados importantes e com uma mensagem explícita: podemos transformar uma mera plebéia em uma princesa.

O vestido traz características clássicas dos anos 80. Com mangas bufantes, longas, forradas com renda floral e saia fluida. Finalizando em uma suntuosa cauda de 4 metros, ambas bordadas à mão em fios de prata e cristais Swarovski em tecidos de seda, cetim e tule. Pesando cerca de 70 Kg e foi avaliado depois em 350 mil dólares. Entrou para a História dos vestidos de noiva, mas eu só lembro de o quanto ele era pesado.

Meu primeiro ato de rebeldia de verdade foi na escolha da tiara que iria estar na minha cabeça no dia do casamento. Como mandava a tradição, mulheres que estavam prestes a se casar com um membro da família real tinham o direito de usar uma jóia no seu grande momento. Fiz questão de levar as minhas noras até o Banco Central pra que elas pudessem escolher o que quisessem usar. Pra mim esse instante é precioso demais. Porém, no meu caso foi diferente. A rainha me recebeu em sua sala e já tinha três tiaras disponíveis para eu escolher, todas bem simples e bem bonitas, mas eu já sabia qual eu queria.

— A tiara que eu gostaria de usar não está aqui.

— Você tem essas opções, the lotus tiara, the Queen Edith tiara e Belgium tiara. Todas jóias do acervo raro.

— Eu achei todas lindíssimas! Mas acho que todos queiram me ver com a tiara da rainha Mary. Pelo menos é o que eu ouço por aí.

A rainha Elizabeth olhou pra mim como se quisesse garantir que estava ouvindo certo o que eu estava falando e rebateu:

— Não estamos com ela disponível pra você. É uma jóia muito significativa.

— Eu sei. É muito significativa pra mim também.

Algumas relutâncias depois, acabei vencendo. Ela não rejeitaria a minha oferta. Usar essa tiara no meu grande dia era um sinal de vitória diante de tudo que eu estava passando. A Rainha Mary foi uma mulher que batalhou muito pelo que acreditava, também tinha conflitos internos dentro da família e acabou triunfando. Eu queria absorver essa força e consegui.

Os dias em Frogmore e todo o “prá lá e prá cá” acabou me afastando de Carlisle, por mais incrível que isso poderia parecer, já que estávamos juntos quase todos os dias. Porém, estávamos começando a agir de modo mecânico. Exatamente como mandavam que agíssemos. Sabíamos que nossos adoradores tinham muitas expectativas com relação a nós. Como a opinião deles era uma das únicas que realmente nos importava, queríamos agradá-los de qualquer jeito. Então, dosávamos muito do que era dito para não ser mal interpretado e fazíamos ao máximo para falar com todos os presentes, apertar as suas mãos e lhe agradecer por estarem conosco nessa jornada.

Mas isso tudo era muito exaustivo para nós. Mal tínhamos tempo para ficarmos sozinhos para curtir esse período antes de nos casarmos e formarmos a nossa família. Mas o que tudo que tenta juntar acaba afastando. Eu sentia falta de coisas simples. Lembro de ver anúncios de shows de bandas que escutávamos nos discos no dormitório dele e querer estar com ele lá apenas aproveitando o momento, ou de poder lhe beijar e agradecer por ser tão especial, entretanto, nada disso estava sendo possível.

O único dia que pudemos ficar realmente a sós foi dois dias antes do casamento. Tínhamos acabado de voltar da minha cerimônia de investidura como Duquesa de Richmond. O evento contava com a presença ilustres de nobres, de presidentes e membros de outras famílias reais do mundo que tinham vindo ao casamento e acabaram presenciando a minha entrada oficial para a nobreza Belgã num banquete espetaculoso. Quando tudo acabou, me surpreendi ao ver que Carlisle havia me acompanhado ao grupo que foi comigo a Frogmore. Eu sabia que ele sentia falta de estar ao meu lado também.

Acabamos os deitados na grama do jardim, olhando um para o outro em silêncio completo. Demos as mãos e ficamos observando o peito de um e do outro subir e descer. Nenhuma palavra que disséssemos naquele momento iria expressar o sentimento que estávamos sentindo. Muito em breve iríamos nos unir para sempre, nada agora estaria mais nos impedindo de estar juntos e isso era uma vitória e tanto diante de tudo que passamos.

— Olha onde estamos agora? – Perguntei. – Como no início... Dois amigos de mãos dadas sem saber o que dizer um para o outro.

Carlisle apenas sorriu.

— Te assusta estar se casando? – o interroguei por que a mim essa idéia me dava um frio imenso na cabeça.

— Um pouco, mas vou estar com você. Sei que quando estamos juntos tudo dá certo.

— Você tem muita confiança.

— Você não?

— Tenho. Que Deus nos abençoe!

— Ele já abençoou. Imagina tudo que aconteceu. Duas pessoas de mundos tão diferentes se encontrarem de uma maneira muito inusitada. Ficaram amigos. Se apaixonaram. Enfrentaram um milhão de desafios e permanecerem juntos. Acho que papai do céu já tinha traçado um plano pra nós.

— Que plano maravilhoso! Por que eu não consigo imaginar viver uma vida sem você. Ele é um máximo por conseguir isso.

— Eu também. Apesar de tortuoso, tudo valeu à pena, meu amor. Eu faria tudo de novo.

— Promete que nunca vamos largar a mão um do outro?

— Não vamos. A partir de agora tudo é junto.

Fui ao encontro dele e abracei o seu peito, sentindo a sua respiração. Os lábios dele foram para o meu cabelo e em seguida traçou caminho pela minha testa até chegar aos meus lábios. Onde demos um longo e apaixonado beijo. Eu queria morar naquele momento. Esquecer o que viria pela frente, todas preocupações, todos os impedimentos e ser apenas uma noiva apaixonada.

Ele quebrou o beijo de repente e olhou pra mim com os olhos brilhantes.

— Quer saber? – olhou as horas no relógio de pulso. – São oito da noite. Consigo encontrar o arcebispo acordado.

— Não podemos nos casar hoje.

— Vamos fazer uma loucura, hum? Pedimos a ele para dar uma benção a nós antes do teatro do nosso casamento.

— Que loucura! Ele não faria isso.

— Não? Quer apostar?

Carlisle se afastou de mim e seguiu para dentro da casa em direção ao telefone. O segui sem acreditar no que ele estava prestes a fazer. Mas ele discava os números que estava na lista telefônica sem se importar com nada mais.

— Oi! Boa noite vossa reverendíssima! Aqui é Carlisle. Sim, sou eu. Estou com Esme ao meu lado e queríamos, se possível, que nos abençoasse agora. Estamos querendo uma confirmação de Deus antes do casamento.

— Você é maluco! – sussurrei pra ele.

— Podemos ir aí? Muito obrigado mesmo! – Carlisle desligou o telefone e olhou pra mim. – Ele aceitou. Vamos?

Fiquei olhando pra ele ainda pasma e com as mãos na boca. A sensação era de euforia por dentro. Eu seria capaz de começar a gargalhar descontroladamente a qualquer instante.

Carlisle primeiro se aproximou de mim e me deu um selinho demorado e depois me levou até a saída. Seguíamos no carro com a mesma sensação de estarmos fazendo uma travessura muito grande que ninguém poderia saber. Mas no final foi tudo lindo! O acerbispo nos recebeu muito bem e nos deu as bênçãos diante de um altar. Carlisle e eu saímos de lá com o sentimento de estarmos casados de verdade. Nunca sentíamos mais unidos como naquela noite. Foi como se toda aquela correria dos últimos meses nem tivesse existido. Toda a essência de tudo que estávamos sentindo estava ali. E foi naquela noite que contrariamos mais outra regra. Como dois rebeldes, dormimos juntos pela primeira vez naquele dia e renovamos as esperanças para o nosso futuro que estava sendo construído naquele instante.

No dia 18 de julho de 1981 acordei me sentindo apreensiva diante de tudo que estava para acontecer. Não tinha como não estar, não é? Na verdade acho que nem dormi. Ficava me revirando na cama, tendo pesadelos que tudo iria dar errado, até que levantei e fui fazer um chá para ao menos me acalmar e descansar por uma hora antes que todos chegassem para me arrumar.

Logo cedo chegou uma caixa de chocolates e uma rosa vermelha com um cartão de Carlisle. Sorri. “Conseguiu dormir bem? Espero que sua noite tenha sido melhor do que a minha. Sei que gosta desses chocolates, desfrute antes de me encontrar na igreja. Te amo sempre e para sempre!”. Ele tão sensível tal como todas vezes sabia exatamente o que eu estava sentindo por que parecia que era o mesmo dele também.

A equipe de maquiagem e cabeleireiro chegou super cedo. Na época, os casamentos reais ainda eram feitos pela manhã, o meu foi marcado para as dez da manhã para a recepção ocorrer ao meio dia. Então tive que começar a me arrumar às seis. Sei que dei muito trabalho por ter olheiras enormes da noite mal dormida, até admiro tudo que eles fizeram porque ninguém conseguiria arrumar uma noiva real tão belamente em três horas e meia.

Lembro que foi épico me fazer entrar no vestido de noiva. Ele era tão grandioso e pesado que foi necessário três pessoas me ajudarem. Enquanto, eles tentavam colocá-lo em mim, eu não sentia o peso, mas depois que desci do púlpito para pegar o meu buquê é que senti o “baque”. Ele realmente tinha 70 kg, não é? Deus! Como era pesado! Tinha camadas e mais camadas que parecia que eu carregava o mundo enquanto andava. Eu tinha que me concentrar muito para não cair, porém, ao me olhar no espelho o amei, aquele excesso todo tinha ficado belíssimo em mim! Santo Ronald!

O momento mais tocante da minha saída de Frogmore e todo o percurso para a Abadia com certeza foi o meu pai. Ele estava tão emocionado, que por gestos se chamou a si próprio estúpido. Nunca esquecerei o abraço apertado que me deu e disse no meu ouvido:

— Tenho tanto orgulho de você!

Foram as palavras mais lindas que ouvi. Durante todo o caminho, eu estava assustada com toda a multidão nas ruas. Milhares de pessoas se espremiam em cada canto para ver melhor cada passo do cortejo do casamento. Depois eu soube que cerca de 2 mil pessoas acompanharam o casamento em torno da Abadia, do palácio ou das ruas onde passaríamos. Tudo isso mesmo a cerimônia sendo pela primeira vez transmitida pela TV, que teve a audiência aproximada de 500 mil expectadores pelo mundo todo. Isso era demais pra mim e me fazia entrar em ebulição. Papai apenas segurou a minha mão e acariciava quando sentia minha tensão.

Mas ele também estava nervoso. Era novo pra ele. Ainda era inacreditável pensar que todas aquelas pessoas estavam ali para nos ver, e que de alguma forma gostavam da gente.

Os gritos e saudações aumentaram ainda mais quando descemos do carro. Papai tinha se confundido antes. Passamos em frente da St. Martin-in-the-Fields e ele pensou que estávamos em frente ao nosso ponto de chegada. Estava pronto para sair, foi maravilhoso e ri bastante! Ainda mais quando paramos em frente à Abadia e simplesmente fiquei entalada. Ronald me recebeu junto com dois guardas e se deu conta que talvez o vestido fosse grande demais para o carro pequeno. Precisou alguns minutos para poderem conseguirem me tirar de dentro. Eu só conseguia rir.

Fui acompanhada por seis crianças pela nave central. Louise Johnson, filha do Duque de Belgravia, e a minha afilhada Charlote MacDonnald foram as primeiras da fila levando algumas rosas que eram jogadas pelo caminho. Margareth Cullen, prima e afilhada de Carlisle, levou as nossas alianças ao lado do filho da minha amiga, Christopher. Atrás de mim e do meu pai estavam Maria Cullen e John Johnson levando a minha cauda para que eu não me desequilibrasse.

Encarar todas aquelas pessoas pelos corredores me deixou ainda mais nervosa, principalmente por que eu não as conhecia. Me fazia lembrar que aquilo tudo era um grande espetáculo encenado. Todos os olhares estariam em mim e em Carlisle, sem possibilidade de erro no script que tinha sido ensaiado um dia antes. Me apertei em meu pai que tentava sempre sorrir para todos enquanto passávamos pelas pessoas. De qualquer maneira, eu subi até ao topo. Pensei que tudo aquilo era uma histeria, casar, no sentido em que isto era, estavam apenas dois jovens adultos ali se casando. O que tinha demais nisso? Tentei pensar que tudo aquilo era natural e foi nisso que me concentrei e lembro-me de estar terrivelmente preocupada com os cumprimentos à rainha e ao rei.

Só consegui avistar Carlisle no altar depois de algum tempo. Eu ficava amaldiçoando o tamanho da igreja por me afastar dele. Por que eu sabia que assim que eu encontrasse os olhos dele, me sentirei calma e em casa. Nossa! Lembro-me de estar tão apaixonada pelo meu noivo que não conseguia me desconcentrar dele. Pensava apenas que era a moça com mais sorte em todo mundo.

Quando o alcançamos, ele nos deu um sorriso lindo e pegou a minha mão.

— Você sabe que era para ser apenas uma reuniãozinha familiar, não é? – ele brincou com o meu pai que apenas sorriu.

— Vamos nos casar. – falei baixinho pra ele.

— Vamos. Você está maravilhosa!

— Agradeça a sua mãe. – ele piscou pra mim e nos viramos para o padre.

— Estamos aqui para celebrar a união de Carlisle Christopher Cullen e Esme Anne Platt. Celebrar o amor, a confiança e a esperança. – O Arcebispo começou com o discurso e Carlisle praticamente esmagava a minha mão, demonstrando que também estava nervoso. – Muito se fala sobre o casamento no dia a dia, alguns até contra, acreditando que é efetivamente o fim da vida. E hoje Carlisle e Esme atestam que já escolheram um ao outro como sua família e estão celebrando conosco algo que já começou e continuará a crescer ao longo dos anos. Uma caminhada que envolve abrir mão do que são separados, em prol de tudo o que podem viver juntos, A união de duas pessoas sempre mostra algo sublime, sensível e eterno ainda existe. Esperamos que vocês sejam muito felizes, superando os momentos difíceis, olhem nos olhos um do outro e resgatem o amor verdadeiro que os uniu.

Lembro bem do sermão do acerbispo nesse dia por que foi algo realmente nos acompanhou durante todo o nosso tempo de casados. Carlisle e eu parecíamos ligados a um cabo invisível. Em todos os momentos de nossas vidas nunca largamos um ao outro por que estávamos presos a promessa que fizemos juntos e ao sentimento que nutríamos um pelo outro. Superamos tudo juntos.

O arcerbispo uniu as nossas mãos em cima da Bíblia para fazermos o juramento.

— Carlisle e Esme viestes aqui para unir-vos em matrimônio. Por isso, eu vos pergunto perante a Igreja: é de livre e espontânea vontade que o fazeis?

— Sim. – respondemos com fervor.

— Abraçando o matrimônio, ides prometer amor e fidelidade um ao outro. É por toda a vida que o prometeis?

— Sim. - Falamos juntos mais uma vez.

— Estais dispostos a receber com amor os filhos que Deus vos confiar, educando-os no amor de Cristo e da Igreja?

— Sim.

O padre olhou para os inúmeros convidados na Igreja e perguntou sem alguém era contra o nosso casamento. O silêncio pairou sobre o recinto e ele deu continuidade à cerimônia. Estendeu- a mão direita em nossa direção e fez a sua prece:

— Oh Deus abençoa esse homem e essa mulher com suas graças e os iluminem para que eles tenham uma vida abençoada e feliz por todos os anos em que viverem.

— Amém! – todos responderam.

— Visto que é de livre espontânea vontade entregar-se ao matrimônio como companheiros, que as alianças sejam um lembrete visível de seus sentimentos um pelo outro. Ao olhar para elas, lembrem-se de que vocês se encontraram e que nunca mais andarão sozinhos.

Lembro vividamente de cada detalhe daquela cerimônia apesar de estar querendo que tudo acabasse logo e as atenções saíssem de cima de nós e que eu pudesse estar só com Carlisle. Tenho, no fim das contas, agradecer imensamente a minha sogra pela bela cerimônia. Todos os detalhes deixaram tudo muito emocionante e lindo. Parecia mesmo um grande contos de fadas.

Quando chegou à hora de eu repetir os votos, fiquei tentando me concentrar em falar tudo bem explicado. Nervosa minha dicção ficava ainda pior. Mas acho que no final deu tudo certo. Carlisle só sabia rir emocionado para mim.

— Eu, Esme Platt, te recebo Carlisle Christopher, como meu esposo, e te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de minha vida.

— Eu, Carlisle Christopher, te recebo Esme Anne, como minha esposa, e te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de minha vida.

Margareth, prima e afilhada de Carlisle, se aproximou de nós com as alianças ao som de uma linda canção cantada por um coral de crianças. Ela passava os olhos por todos, sorrindo pela missão que lhe foi encarregada e dando passos tranqüilos até entregar as alianças para o acerbispo.

— Esme Anne , receba esta aliança, em sinal do meu amor e da minha fidelidade. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

— Carlisle Christopher, receba esta aliança, em sinal do meu amor e da minha fidelidade. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Colocamos as alianças um no outro. Carlisle estava tão nervoso que mal conseguia colocá-la no meu dedo e eu apenas sorria para encorajá-lo. No fim , ele pegou a minha mão e a beijou.

— Sendo assim, de acordo com a vontade que ambos acabam de afirmar perante a todos, pelos poderes concedidos a mim, eu vos declaro marido e mulher.

Carlisle sorriu de volta pra mim e tudo voltou a parecer um grande e bom filme em câmera lenta e seguimos juntos pela nave. A sensação era de estar pisando em terra firme depois de meses no mar. Instável, vibrante e com o mundo ao redor girando.

À saída da abadia foi um sentimento maravilhoso, toda a gente soltando vivas, toda a gente feliz por nos julgar felizes, e essa foi a grande questão gravada na minha mente. Tomei consciência de que tinha abraçado um enorme papel, mas não tinha idéia do que iria fazer – nenhuma idéia.

Então, a multidão me tirou do transe ao gritar: “beija! beija!”. Olhei tímida para Carlisle e ele também estava com as bochechas vermelhas. Até o momento, nenhum casal real tinha se beijado em público.

— Você quer? – ele me perguntou.

Assenti e Carlisle encostou as duas mãos no meu rosto, como gostava sempre de fazer, e me puxou para perto. Então, nossos lábios se encontraram. Respirei o cheiro gostoso dentro de mim enquanto ouvia os gritos ao fundo. Não foi um beijo longo e nem podia ser. Depois nos olhamos e descemos os degraus da Abadia com todo o cuidado para seguirmos para o palácio de carruagem.

Durante todo o percurso de volta tudo que fizemos foi sorrir e acenar. Acho que voltei com o pulso doendo. Não tinha um minuto em que pessoas e mais pessoas apareciam amontoadas em cada canto das ruas. Era assustador aquela multidão, porém, depois da cerimônia, parecia mais fácil encará-las.

De volta ao Palácio de Belgravia, fiz todas as fotografias com Carlisle, tudo muito tradicional. Algumas poses ao lado dele na sala do trono, outras com nossas damas e pajens, e depois na sala ao lado com a nossa família e padrinhos. Lembro de tudo passar como um borrão, ainda embalada pela adrenalina do casamento. Só sorri e pensei que estava perto de eu tirar aquele vestido pesado.

A recepção do casamento foi realizada na forma de almoço, tudo muito sofisticado como a rainha Elizabeth era. Saladas nobres e canapés de lagostins escoceses enrolados em salmão defumado. Depois o prato principal com cordeiro e Fricassé de frango com cogumelos. Além do bolo principal, foi servido uma sobremesa de frutas vermelhas com direito a discurso lindo do meu marido. O mais emocionante, pois o restante foi tudo muito ensaiado. Tudo que Carlisle falava era de coração.

Mas lembro de encerrar aquela tarde com o peito aberto de amor. Tudo tinha dado certo no final e isso era gratificante. Estava cansada, exausta na verdade, mas o sorriso não saia do meu rosto e acredito que a cara de apaixonada ainda estava ali. Carlisle e eu estávamos nos casando por amor e isso estava claro para todos o quanto tudo era extremamente natural. Ficamos na nossa bolha, protegidos, o dia inteiro.

Porém, uma frase que me marcou meus pensamentos pelos próximos dias foi de minha sogra quando ficamos uns minutos a sós depois da recepção.

— Seu trabalho agora é produzir um herdeiro o mais rápido possível.

Aquelas palavras me marcaram como tatuagem. Me arrepiei toda e isso ficou marcado de tal forma que virou uma meta obrigatória, que me deixaria extremamente culpada se não conseguisse alcançar.  COMENTEM POR FAVOR! SUA OPINIÃO É IMPORTANTE!


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