Um Reino de Monstros Vol. 4 escrita por Caliel Alves


Capítulo 10
Capítulo 2: Vigiados, testados e punidos - Parte 3




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Rosicler não demorou para perceber que estava sendo seguida desde a saída do castelo do sultão. O que ela ainda não sabia se era o serviço secreto oasiano ou algum espião monstro. A garota caminhava pensativa.

Dificilmente deixariam a Companhia de Libertadores sair por Oásis.

Ela tentou despistar os perseguidores, mas eles eram bons em se ocultar na multidão. Eles tinham perdido o fator surpresa, mas continuavam a conhecer a cidade melhor que a forasteira. A gatuna tinha o cabelo oculto por um véu de seda vermelho, que ela amarrou na cabeça como se fosse uma bandana.

Diferente dela, as mulheres nas ruas tinham o rosto coberto. Era uma sociedade exigente com as mulheres, de pouca liberdade, pensava Rosicler.

Não tendo mais como despistar a dupla que a perseguia, ela subiu as paredes de uma casa e ficou esperando os homens no telhado.

Eles não demoraram a subir. Rosicler estava desarmada pela primeira vez, o guarda real havia lhe retirado todas as suas armas. Mas ainda assim contava com as suas habilidades de luta e evasão, era uma mestra em fugas.

— Atacar uma pobre garota indefesa e desarmada como eu não é uma vergonha para vocês, assassinos de Oásis?

— De modo algum, no que desrespeito as ordens que recebemos, não fazemos julgamentos morais. A moral é uma tolice criado pelos homens para esconder as suas verdadeiras paixões, somos guiados pela lógica, somos partes de uma estrutura...

— Aqui em Oásis a gente faz uma perguntinha e as pessoas respondem com filosofia de porta de bar, caralho! Que chato viu.

— Ora, sua meretriz!

Os homens correram em direção a ela, era desvantajoso tentar revidar o ataque naquelas condições. Provavelmente não receberia ajuda dos seus amigos, os outros também estavam sendo perseguidos, ela só temeu pela vida de Tell, era o mais jovem e também o mais ingênuo. Ele havia sido protegido pelo avô, não presenciou o horror da guerra.

Não que ele não houvesse sofrido, mas Rosicler havia sido transformado em um monstro para proteger o irmão, era uma lembrança cruel demais para ela.

Custe o que custar eu tenho que sobreviver, não posso morrer aqui, tenho que encontrar Reinaldo.

Os homens vinham em seu encalço, mas ela era mais rápida que eles. Isso era um feito para eles, pois desde muito jovens eram treinados na arte do assassinato. Para executar bem as suas missões, recebiam uma alta instrução que ia desde caligrafia até geografia.

Toda a soma de conhecimento que tornava meros homens em perfeitas máquinas de matar, sem julgamentos morais, frios e calculistas, obedientes e devotados a causa de seu senhor, nesse caso, o atual sultão.

— Não irá escapar de nós.

— Desista, Rosicler Cochrane, entregue-se e morra.

— Sai fora, cambada.

— Ora, sua desgraçada!

Os homens acionaram seus katares e dispararam lâminas na direção de Rosicler. A cada lâmina disparada, o bracelete girava engatilhando outra lâmina no pulso, sendo disparada após um mecanismo ser acionado.

Aqueles eram as chamadas “Lâminas Fantasmas”, pois matavam pessoas nas ruas e nas mesquitas de Al Q’enba, surgindo ninguém sabia de onde e ceifavam almas.

A ladina saltava por cima de telhados, sendo acompanhada cada vez mais de perto pelos perseguidores. Mas nada havia ali que lhe desse uma chance de escapar, nem nada que pudesse usar como arma.

Saltou em direção as ruas, desceu dependurando-se em uma bandeira de Oásis e continuou saltando pelas varandas. Sua intenção era levar a luta as ruas e criar o maior tumulto.

De acordo com o que ouvira, o Esquadrão Assassino Secreto e a cavalaria de Oásis não se davam bem. Os alfarazes desaprovavam os métodos dos assassinos de elite e viviam em constante conflito com eles. Era uma chance em mil, mas a única.

— Volte aqui, sua ladra.

— Droga, ela parece ser mais esperta do que eu pensei.

— Ela só queria ter certeza que éramos oasianos.

— Eu sei, eu sei, mas ou a capturamos ou teremos problemas com o Qayid Eazim.

— Ele parece não ter engolido a ofensa feita ao nosso adail.

— Vamos pegar ela agora. Não vamos dar uma chance de fuga, essa foi a nossa missão.

Se a missão designada fosse a de assassinato, com certeza ela já teria sido cumprida, mas a ordem dada foi apenas a de capturar o alvo. Isso dificultava um pouco as coisas.

Rosícler não era apenas uma ladra comum, mas uma ladina bem escorregadia. Era uma mestra em Le Parkour, uma técnica de deslocamento rápido que unia acrobacias, corridas, rolamentos e saltos, permitindo vencer diversos obstáculos urbanos pelo caminho.

As ruas de Oásis eram perfeitas: estreitas, com diversos varais de roupa secando ao sol, varandas e mercadores com caixas e barracões instalados ao longo do caminho.

Mas a fuga deu numa viela escura. Lá, sozinha, Rosicler pensou, ficou acuada. Os perseguidores foram até ela, prontos a atacar. Ela enfiou a mão dentro da túnica e retirou duas poções Fog que ela havia roubado da alquimista e as lançou contra os inimigos.

— Droga, fomos enganados.

— Onde ela está?

— BEM AQUI, OTÁRIOS!

E dentro da névoa se deu uma grande pancadaria. Quando a névoa se dissipou, apenas Rosicler estava de pé. Ambos os homens estavam desacordados.

— Não deu nem pra saída!

A ladina saiu do beco, mas os seus passos estavam ficando lentos. Sua visão embaçada, o seu ouvido tinha um zumbido que amplificava até mesmo o som do vento a um limite insuportável. Ela se encostou na parede, uma mancha de sangue se formou enquanto ela deslizava até o chão.

Rosicler olhou para o céu, uma nuvem cinza cobriu o sol parcialmente, ela respirou fundo sentindo o veneno correr pelas suas veias, era uma sensação horrível.

Ela não queria que tudo terminasse ali, daquele jeito, daquela forma.

A não veio, que saco!


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