Capítulo 1

Amanhecia em Las Vegas.

A equipe de perícia conversava e se despedia no locker. Estavam animados, pois teriam uma semana de folga coletiva em que o turno da manhã os cobriria. A euforia era tamanha, que estavam combinando de sair para beber naquela noite.

—-Sara, você tem que ir com a gente! Embarque depois de amanhã... –Greg implorava.

—-Sinto muito, Greggo. Não vejo o Gil há dois meses, estou morrendo de saudade e temos alguns... Assuntos pra resolver. 

—-Sei bem quais são os assuntos. –Catherine disparou indiscreta.

Sara enrubesceu de leve e riu com eles.

—-E tomar um café da manhã com a gente? --Nick tentou.

—-Isso pode ser. –Ela concordou sorrindo.

Nick comemorou e Morgan perguntou com a cabeça dentro de seu armário:

—-Aonde vamos amanhã?

—-Pensei num tour pelos cassinos da Strip... –Greg contou. –Depois...

Mas Ecklie e Russell chegaram juntos, silenciando-os.

—-Bom dia. –Conrad disse. –Temos algumas mudanças de planos...

Os CSIs começaram a protestar. Tinham dobrado vários turnos para conseguir esses dias seguidos de folga e não poderiam deixar escapar assim.

—-Hey, hey, hey! –DB pediu silêncio. –Esperem o Ecklie falar. Depois vocês reclamam!

Conrad não sabia se agradecia ou brigava. Optou por continuar:

—-Como eu estava dizendo, terão que mudar seus planos. Fui lembrado de que estão com suas atualizações muito atrasadas. Fiz algumas ligações e um amigo meu conseguiu crachás de livre acesso para o Encontro Anual de Perícia dos Estados Unidos. E vocês vão.

Eles voltaram a protestar e desta vez a voz de Sara sobressaiu:

—-Eu não posso ir, Ecklie! Já comprei a passagem para Paris e eu conversei com você, eu preciso ir para casa! -Ela foi enfática.

—-Sinto muito, Sara, mas você irá para São Francisco com o restante da equipe. –Ele foi firme. –É muito difícil conseguir tudo à essa altura do campeonato e vocês não me farão passar vergonha. Meu amigo fez o favor de conseguir as entradas, e ainda vai acolhê-los na casa dele.

—-Por mim tudo bem. –Greg disse.

—-Eu também. –Nick e Morgan concordaram juntos.

—-Lindsey vai ficar furiosa. –Catherine respondeu resignada.

Todos olharam para Sara.

—-Não está tudo bem. Eu tenho coisas sérias para resolver com o Grissom, não é apenas a questão de eu estar há mais de dois meses sem ver o meu marido! –Finalizou esganiçada. 

—-Desculpa, Sara. Nós já conversamos e sei que precisa ir, mas não posso te liberar. –Conrad disse. -Depois do seminário você pode tirar sua semana de folga.

A morena não fez questão de esconder sua raiva bufou alto. Ecklie ignorou.

—-Vocês pegarão o avião ao meio dia de hoje. Meu amigo estará esperando vocês lá no aeroporto. As passagens estão com o Russell. –Ele forçou um sorriso. –Boa viagem.

—-Ele está de brincadeira, não é? –Catherine perguntou à DB.

—-Na verdade não. Bárbara também não vai gostar dessa viagem relâmpago... Mas faz parte. –Ele pegou seu casaco no armário. –Preparem uma mala para sete dias, vamos aproveitar o final de semana por lá. Vejo vocês no aeroporto em algumas horas. 

Ele saiu, mas logo depois estava de volta.

—-Ah, Catherine?

—-Sim?

—-Você tem o máximo de três malas, ok?

E arrancando gargalhadas dos garotos, ele se foi de uma vez.

OoOo

Sara preparou suas malas rapidamente, tomou um bom banho e nem pôde descansar. Tentou ligar diversas vezes para Grissom, mas seu celular estava desligado. E mesmo fazendo tudo com pressa, ela chegou em cima da hora carregando uma bagagem de mão e outra mala de carrinho.

—-Pensei que você tivesse se rebelado. –DB brincou ao vê-la. –Acho que a Catherine sim...

O olhar desanimado de Sara respondeu ao chefe, e ele a abraçou pelos ombros.

—-Vamos, vai ser divertido! –Ele tentou novamente. –Você não é de Frisco?

Ela assentiu com a cabeça, tentando se animar.

—-Por que saiu de lá? –Nick perguntou. –Você nunca nos contou...

—-Gil me chamou para investigar sobre a morte de Holly Gribs, depois pediu para eu ficar na equipe. Nada me prendia em São Francisco, então eu aceitei... E aqui estou.

—-Você já tinha uma queda por ele naquela época? –Morgan indagou.

Sara parecia mais feliz, mas a recém-chegada respondeu por ela:

—-Sara tinha uma queda enorme por ele e era recíproco. Só eram idiotas demais para admitirem. –Catherine brincou.

Sara arqueou uma sobrancelha para amiga, ainda estava com o humor ácido. 

—-Vamos? –Russell chamou. 

Ooo

A poltrona de Sara ficava na janela, ao lado de Catherine e Morgan e os três rapazes estavam na fileira da frente. Antes de levantar voo e perder completamente o sinal, a morena tentou discar novamente o número do marido, e como das outras vezes não obteve sucesso.

Ela praticamente jogou o celular dentro da bolsa e pegou um livro. Catherine sabia que Sara não queria conversar, mas ao ver que a morena lia o livro de ponta cabeça, não resistiu:

—-Sara... Sei que não gosta de falar da sua vida pessoal, mas o que...

—-Estou grávida. –Sara a cortou.

Catherine a encarou de queixo caído e Morgan a olhou da mesma forma, deixando seu celular pendurado pelo fone em seu ouvido. E aparentemente a notícia saíra em voz alta, pois os meninos viraram-se para trás na velocidade da luz.

A morena corou por ser o centro das atenções e se arrependeu por um segundo por ter contado.

—-Escutem, Gil ainda não sabe. Eu iria contar para ele hoje.

Mas eles continuavam em silêncio.

—-Vocês estão me deixando nervosa. –Ela mordeu o lábio inferior.

—-Isso foi realmente surpreendente. –Catherine disse pausadamente.

—-Quase inacreditável. –Nick completou.

A morena cruzou os braços.

—-Não vejo o porquê! Sou casada, saudável, Gil também... Nós dois temos...

—-CERTO!–Catherine a interrompeu. –Meus parabéns, Sara!  Grissom vai adorar!

—-Eu não sei disso... –Ela disse insegura.

—-Claro que vai! –Nick a animou. –E vamos dar um jeito de você falar com ele logo.

—-Sem dúvidas! –Greg confirmou. –Dá pra acreditar? Eu vou ser tio!

Sara riu da animação deles, mas logo todos se acomodaram a pedido da aeromoça.

O voo foi curto, ainda mais para a morena que passou a maior parte do tempo conversando sobre a novidade com as duas CSIs ao seu lado. Ela se sentia bem mais leve agora que não tinha mais que guardar esse segredo, e sabendo que podia contar com eles para chegar até o marido.

No desembarque era a morena quem guiava o grupo para o saguão, pois era quem conhecia melhor aquele aeroporto. Não podia negar que sentia certa nostalgia por pisar ali novamente.

—-Ecklie disse para esperarmos o amigo dele aqui. –Russel disse, indicando uma cafeteria famosa.

—-Qual é o nome da pessoa? – Sara questionou e DB gesticulou que não sabia. –Você conhece algum amigo do seu pai que more aqui em São Francisco, Morgan?

—-Não sei…

Mas uma voz familiar entrou na conversa, surpreendendo a todos:

—-Vocês são da Perícia de Las Vegas?

—-Grissom! –Catherine gritou.

Por estar mais perto, a loira foi a primeira a abraçá-lo com saudade. E quando o soltou, já começou a apresentar:

—-Estes são Morgan Brody e DB Russell.

—-Muito prazer. –Gil apertou a mão dos dois.

Mas o entomologista estava no piloto automático para cumprimentar. Desde que os avistara saindo da ala de desembarque, seus olhos estavam presos em uma morena. Na sua morena.

—-Oi Honey.

Ele lhe estendeu a mão e ela segurou, sendo puxada para um abraço apertado, que encheu seus olhos de lágrimas.

—-Sabe o nervoso que eu passei para tentar falar com você? –Ela cochichou em seu ouvido. –Mas eu amei a surpresa.

Grissom sorriu faceiro ao se afastar dela e recebeu um beijo casto da esposa.

—-E nós? –Nick se manifestou.

—-Querem um beijo? –Griss arqueou a sobrancelha.

Os rapazes riram e abraçaram o antigo chefe.

—-Pronto. Problemas resolvidos. –Russell disse olhando par Sara. 

—-Você sabia disso?!

—-Ele quem sugeriu que fosse surpresa. –Gil respondeu.

Sara estava radiante, definitivamente não parecia a mesma pessoa que subira no avião horas antes.

—-Eu vim com uma minivan que aluguei, estacionei logo na entrada. Vamos?

Grissom ajudou Sara com suas malas e logo o carro estava cheio. Eles saíam do aeroporto enquanto conversavam:

—-As palestras começam só amanhã, então podíamos dar uma volta mais tarde. –Gil propôs - Ou vocês preferem ir agora?

—-Vamos descarregar as malas, tomar um banho... A noite deve ser muito bonito. Podíamos ir à praia. –Catherine respondeu por eles.

Como os demais concordaram, Gil seguiu o caminho de casa.

—Nos explique como vocês armaram isso tudo, Gil…

O entomologista sorriu de lado enquanto dirigia e começou a contar:

—Bem, eu recebi esse convite há algumas semanas e fiquei bem interessado, mas como calhava com a nossa folga, pensei em fazer uma surpresa. Organizei as inscrições e conversei com o Ecklie… Imaginei que seria uma oportunidade interessante para passarmos um tempo juntos, como nos velhos tempos.

Catherine concordou com animação no banco traseiro.

—-Apesar de ter ficado nervosa, gostei de ter nos reunido. -Sara disse sorrindo. -Quem mais vai palestrar? 

—-Tem um folheto com todos os palestrantes no porta luvas, honey.

A morena pegou e começou a ler em voz alta:

—-Debbie Morgan, de Miami, vai falar sobre psicopatas e assassinos seriais…

—Interessante! -Morgan Brody disse animada.

—-Julie Finlay, não conheço… -Sara continuou.

—-Eu trabalhei com ela em Seattle. –DB se manifestou do banco de trás. –É especialista em manchas de sangue. Uma das melhores que conheço...

—-Eu a vi ontem, preparando sua palestra. –Griss comentou.

—-Teri Miller... –Sara olhou para o marido e ouviu Cath rir no fundo. –Já teve o prazer de vê-la, querido?

Grissom rolou os olhos para o alto enquanto fazia uma curva aberta.

—-De relance...

—-Espero que ela tenha visto sua aliança de relance, também. -Sara voltou a atenção para o folheto e seu semblante se tornou surpreso. -Temos um baile de encerramento! Você fica lindo de smoking, Gil…

Catherine e Morgan bem que tentaram, mas não resistiram em dar uma boa gargalhada no banco de trás. Grissom corou levemente e pigarreou antes de responder:

—Jim e Ecklie nos encontrarão no baile de encerramento. 

Mais uma curva e o entomologista estacionou na frente de uma casa grande, de dois andares e um jardim na frente. Sara respirou fundo antes de sair do carro, aquela era sua casa na infância. Ali morara até sua mãe ter assassinado seu pai numa noite chuvosa. Já voltara ali inúmeras vezes depois de tudo, mas ainda respirava fundo antes de por seus pés naquela soleira.

—-Bem vindos. –Sara disse abrindo a porta da frente. –Como ficará a disposição dos quartos, querido?

—-Nick, Greg e Russell no primeiro à esquerda; Morgan e Cath no da direita. Separei o quarto no andar de cima para Jim e Ecklie. E nós ficamos no seu quarto antigo no final do corredor. Eu cheguei há alguns dias e arrumei tudo. Tem alguns cobertores nos guarda-roupas, toalhas sobre as camas e se precisarem de alguma coisa é só me avisarem.

Os CSIs agradeceram e seguiram para os quartos indicados. O casal Grissom foi atrás, ficando com a suíte no final do corredor. 

A mobília fora toda trocada pela morena no tempo que ela passou em São Francisco quando saiu do laboratório, assim como a pintura, a fachada e o jardim. E quando seguiu para a expedição, deixou a casa nos cuidados de uma vizinha amiga de sua mãe, muito zelosa e que adorava cuidar do jardim.

—-Vai visitar sua mãe na clínica? --Griss perguntou.

Sara se jogou na cama antes de responder.

—-Pretendo ir amanhã. Você vem comigo?

Ele se deitou ao lado dela, acomodando-a no seu ombro antes de responder:

—-Você quer que eu vá?

Sara se virou na direção dele e o abraçou com a perna.

—-Claro que sim. –Beijou-o no queixo. –E a minha mãe adora você.

Grissom a beijou nos lábios com ternura. Ia começar a aprofundar o beijo quando ela se afastou o suficiente para olhá-lo nos olhos.

—-Gil, precisamos conversar...

Duas batidas agitadas na porta interromperam a conversa. Greg nem esperou e abriu a porta feliz, com Nick ao seu lado.

—-Oh, desculpa atrapalharmos.

Mas ele realmente não parecia sentir. O casal se sentou na cama para ouvir os dois.

—-Nick e eu estamos famintos. Vamos fazer um lanche. O que vocês querem?

—-Uma jarra de suco de laranja bem gelado. –A morena respondeu. –E um lanche de queijo.

—-Anotado. –Greg disse. –Grissom?

—-Pode ser o mesmo para mim, obrigado. Podem ficar à vontade na cozinha; eu fiz umas compras, mas se faltar algo é só me avisarem...

Os rapazes assentiram com a cabeça e saíram fechando a porta. Griss voltou a abraçar a esposa e a beijou devagar, saudoso.

—-O que você quer conversar?

—-Nós temos qu...

—-Saraaa?

A voz de Catherine ecoou pelo corredor.

—-Conversamos depois, meu bem. Vou ver o que elas precisam.

Sara seguiu até um dos quartos onde as mulheres estavam se acomodando. 

—-O que aconteceu, Catherine?

—-São suas medidas?

A loira indicou uns riscos na porta, com o nome de “Sara” e “Sean”. A morena assentiu com um sorriso.

—-Sim. E do meu irmão.

—-Não sabia que tinha irmãos. –Morgan disse.

—-É uma longa história. –Sara finalizou vagamente.

—-Já falou com o Grissom? --Cath perguntou ansiosa.

Sara se sentou em uma das camas.

—-Ainda não. Vou falar com ele mais tarde. –Ela colocou a mão sobre a barriga sorrindo. –Vamos comer alguma coisa? Estou com uma fome descomunal ultimamente...