Quando já era noite, uma garotinha encarava a entrada de uma floresta estando pensativa. Miwa olhava em direção a Floresta dos Gatos estando longe e desejava não ter medo... Treinar ali faria seu pai acreditar nela, mas o que a impedia, era a incerteza de seus próprios objetivos. Porque se tornar uma ninja tão poderosa? Essa era uma pergunta constante dentro de si.

Em suas mãos estava o livro que seu pai havia impedido de ler naquele dia, As Crônicas de Uma Médica Invisível. Ela tinha tanto medo que depois que seu pai havia lhe dito aquelas palavras, ela não teve coragem nem sequer de abrir na primeira página. Ele sabia como fazê-la ter medo apenas com simples palavras pois compreendia que ela temia em saber como sua mãe morreu. Ao dizer que para ler aquele livro ela deveria deixar de ter medo, Miwa logo deduziu que ali estava a resposta da qual ela tanto fugia. Durante todo o tempo desde o dia da morte de sua mãe, seu pai disse que houve alguém responsável, e quando ela soubesse quem foi e o que essa pessoa fez, isso lhe traria uma dor que a mudaria para sempre. O medo da dor… como se tornar uma ninja tendo medo da dor? Essa era a pergunta sem resposta.

Após encarar a capa do livro por alguns segundos e suspirar com tristeza, ela se virou e seguiu o caminho de volta para sua casa.

                                   Vila da Folha

Enquanto isso, Harumi e Sukea estavam na loja de dangos. Após serem servidos, Harumi pegou um palito com os bolinhos e olhou com curiosidade, era como se de fato fosse a primeira vez que ela visse Dangos. Depois de muito olhar, ela comeu o primeiro bolinho e pareceu se surpreender com o sabor, o que fez Sukea olhá-la intrigado.

— O que foi? Não gostou?

Ela mastigou devagar, ainda com uma expressão surpresa, até que engoliu.

— É… É o melhor doce que já comi na minha vida! – Ela disse com euforia e logo comeu outro bolinho.

Sukea sorriu com satisfação e também começou a saborear seus bolinhos.

Depois de saborearem seus dangos, Sukea e Harumi voltaram a caminhar pela Vila da Folha. 

— Para onde vamos agora? – Harumi perguntou enquanto caminhavam sem rumo.

— Isso será uma surpresa. – Ele a olhou com um leve sorriso.

Ela o olhou levemente intrigada, mas continuou caminhando ao lado de Sukea. Depois de um tempo, eles chegaram nos portões da Vila da Folha.

— Porque estamos saindo da Vila? – Harumi perguntou intrigada.

— Bem, precisamos sair da Vila para chegar no nosso próximo destino. Há um lugar muito especial que quero mostrá-la.

Harumi continuou intrigada e os dois seguiram o caminho.

Enquanto caminhavam pela floresta, Harumi observava tudo à sua volta, mas nada parecia lhe trazer lembranças. Depois de um tempo de caminhada, eles chegaram até um lugar que tinha um tronco em posição de banco e Sukea parou ali.

— Chegamos. 

Harumi olhou tudo cuidadosamente, mas continuou intrigada por não compreender o porque aquele lugar era tão especial para ele.

— Que lugar é esse? – Ela perguntou ainda observando a sua volta.

Sukea a olhou e depois caminhou até o tronco em posição de banco.

— Venha, sente-se aqui.

Harumi o olhou intrigada, mas foi até ele. Ao chegar no tronco em posição de banco, ela se sentou e por alguns segundos continuou sem conseguir lembrar de nada.

— Eu ainda não consigo ente… – Ela se assustou. 

Em sua mente, se passaram pequenos flashes com imagens de momentos do passado naquele lugar. Ela se viu ali sentada e Kakashi se aproximando com sacolas, depois os dois sentados lado a lado enquanto seguravam caixas com comida e sorriam lindamente.

— Agora você entendeu, não é mesmo? – Sukea sorriu sutilmente.

Sua expressão assustada logo se desfez e ela fechou os olhos enquanto suspirava e um sorriso sutil surgiu em seus lábios.

— Bem, achei que esse seria o melhor lugar para responder todas as suas perguntas. Mas antes, irei contá-la algo sobre mim. – Sukea disse.

Sukea se aproximou, se sentou ao seu lado e após um suspiro, ele fechou os olhos, revivendo algumas emoções.

— Esse era o lugar onde sempre nos encontrávamos no passado para almoçar e conversar. Como dois irmãos, tínhamos esse costume que perdurou até o último dia em que a vi bem.

Harumi o olhou surpresa.

— Depois de sua morte, eu criei o costume de vir aqui todos os dias com a esperança de que você voltasse, como já havia acontecido antes. – Sukea suspirou. - Mas dessa vez, você havia partido de verdade. Quando fui nomeado o Sexto Hokage de Konoha, decidi aceitar que você realmente tinha partido para sempre, o que foi extremamente difícil. 

Harumi desviou o olhar por alguns segundos estando pensativa.

— Então… você foi a última pessoa que eu vi antes de morrer?

— Eu tenho certeza de que não.

Harumi se surpreendeu novamente.

— E-Então quem foi? Me diz, como eu morri?! 

Sukea/Kakashi pensou por alguns segundos.

— Harumi, no passado você foi uma ninja muito corajosa. Tanto que eu nem sequer podia imaginar a dimensão da sua coragem, até o dia em que você morreu. Tudo que você fez durante a vida foi encoberto, você viveu e morreu nas chamadas sombras, mas sempre lutando para proteger as pessoas que amava. – Ele a olhou. - Eu quero que você tenha total certeza de que… você morreu como uma heroína.

Harumi o olhou surpresa por alguns segundos, mas depois desviou o olhar entristecida.

— Mas… porque não consigo me lembrar de nada disso? Eu fui trazida de volta e não sei nada sobre mim mesma. Isso tem sido uma tortura! – Ela disse com frustração e apertou as mãos com raiva.

Sukea/Kakashi desviou o olhar.

— Bem, eu sou o único que de fato sabe tudo sobre você.

— E porque você não me diz?! Eu pensei que você me ajudaria! – Ela disse levemente irritada.

Ele suspirou entristecido.

— Minha intenção é apenas protegê-la, Harumi. 

Harumi se surpreendeu novamente.

— No passado, eu sempre tentei proteger você, mas só depois da sua morte que eu descobri que na verdade, você quem me protegeu durante muito tempo. Você sacrificou tudo por minha segurança e eu nunca pude livrá-la de nada, nem sequer amenizar suas dores. -Ele suspirou. - Sei que pode parecer tolice e até mesmo egoísmo da minha parte, mas… Quero protegê-la da dor, assim como você me protegeu. Tudo isso se dá pelo fato de que você realmente merece uma segunda chance de viver, e eu quero que você realmente viva. Mas para isso, você terá que seguir em frente e construir novas lembranças. O passado… já não importa mais.

— Mas…Kakashi…

Ele a olhou.

— Por favor… me deixe protegê-la como um verdadeiro irmão mais velho faria.

Harumi continuou olhando-o com surpresa.

— Apenas viva o hoje e construa um novo amanhã. E tenha em mente que para qualquer coisa, o Sexto Hokage estará pronto para ajudá-la. 

Os olhos de Harumi marejaram. Abrir mão do passado seria uma decisão difícil, mas talvez Sukea/Kakashi estivesse certo, uma segunda vida não deveria ser desperdiçada com tudo aquilo que já não pode mais ser alterado ou mudado. Ela estava tendo a chance de construir um novo amanhã sem se basear no que já passou. Ela ficou pensativa por alguns segundos, até que suspirou.

— Tudo bem… de agora em diante eu viverei uma nova vida e construirei novas lembranças. O passado… – Ela fechou os olhos. - …já não importa mais.

Sukea/Kakashi a olhou com um leve sorriso.

— Mas… me prometa uma coisa. – Ela o olhou.

— Sim? 

— Que contará comigo quando for necessário. Não deixe de confiar em minha força.

Sukea/Kakashi desviou o olhar e suspirou com um leve sorriso.

— Isso é algo impossível de acontecer, Harumi. Para mim, sua força sempre será necessária e, sendo assim, eu prometo. – Ele a olhou e sorriu novamente.

Harumi sorriu sutilmente.

— Obrigada… irmão. 

Após se olharem com carinho, os dois desviaram o olhar para o céu que estava lindo e estrelado. O passeio foi finalizado e eles ficaram ali por um tempo olhando as estrelas.

No dia seguinte, Harumi caminhou novamente até o Terceiro Campo de Treinamento e se sentou à beira do rio que cercava o lugar. O vento agitava seus cabelos levemente enquanto ela sorria sutilmente apreciando aquela sensação de paz e tranquilidade. Depois de um tempo observando o rio, ela olhou para trás, em direção aos troncos onde aconteceu a prova Genin do time 7 e decidiu caminhar até lá.

 Ao se aproximar dos troncos, ela os observou por alguns segundos estando pensativa, até que pareceu ter tido uma ideia e saiu caminhando para outra direção.

Enquanto isso, era mais um dia de treino para Miwa tendo a observação de Eiji, seu pai. Ela parecia cada vez mais desmotivada e enquanto tentava acertar kunais em alguns alvos presos em árvores, seu pai estava um tanto quanto disperso, perdido em seus pensamentos...

“Porque ninguém nunca falou sobre essa Nukenin se ela também foi discípula da Quinta Hokage? Porque mudaram seu nome no livro? Será que o motivo de a esconderem são seus atos criminosos ou há algo a mais?” – Ele pensava sobre Harumi.

Após lançar três Kunais, Miwa não se deu conta da força que havia aplicado e uma delas foi em direção ao seu pai. Ele logo se atentou à lâmina que se aproximava de seu rosto e se moveu rapidamente para o lado, se desviando dela. Miwa se assustou e ficou aflita. Após se desviar, Eiji a olhou com raiva por alguns segundos, mas não disse nada, apenas se virou e saiu caminhando. Miwa o olhou se distanciar por alguns segundos, até que desviou o olhar e suspirou entristecida.

Em uma das florestas da Vila da Folha, o garotinho mascarado, Sosuke, aprimorava seu Taijutsu treinando sozinho. Entre socos e chutes, ele parecia dominar cada vez mais aqueles golpes, era possível notar até mesmo um pouco mais de velocidade entre um e outro. Enquanto isso, estando sentada em cima de uma árvore, Harumi sorria orgulhosa ao vê-lo ser tão dedicado, mas depois de um tempo, ela não se contentou em apenas assistir.

 Sosuke estava de costas para a árvore em que ela estava e de repente, ele ouviu alguém, que parecia ter saltado de um lugar alto, parar atrás dele. Ele arregalou os olhos por debaixo da máscara e logo se virou para olhar. Era uma mulher de cabelos castanhos que usava um kimono cinza escuro, calças caneladas e sandálias. Ele a encarou por um tempo enquanto ela o olhava de volta com um sorriso sutil e mãos na cintura.

— Q-Quem é você? – Sosuke perguntou.

— Hum, se eu for uma ameaça, perguntas só lhe farão perder tempo, garoto. – Ela disse com um sorriso ladino.

Sosuke ficou surpreso por alguns segundos, mas logo seu rostinho mudou mostrando bravura e, sem mais demora, ele a atacou. Harumi se defendeu dos golpes do pequeno até que tentou lhe dar um soco, mas com maestria, o garoto parou seu golpe com uma das mãos, o que a fez sorrir orgulhosa. Ela saltou sobre ele e parou logo atrás, ele rapidamente se virou e a olhou com determinação. Harumi fez um selo de mãos e se certificou de que o pequeno o visse bem…

— Kage Bunshin no Jutsu. – Ela formou três clones.

Os clones e a verdadeira Harumi se moveram rapidamente, se escondendo em meio a floresta, e Sosuke ficou surpreso olhando à sua volta, até que se assustou com a voz dela que veio de um dos lados…

— À sua esquerda! 

Ele olhou em direção e se esquivou de um soco dado por Harumi, que desapareceu em fumaça logo em seguida. O garotinho olhou a sua volta estando atento, mas foi surpreendido novamente.

— Atrás de você! 

Ele olhou em direção, mas não teve tempo de se esquivar, porém, num reflexo, ele acertou um soco e Harumi desapareceu em fumaça. Mas não acabou por aí…

— Não abaixe a guarda! – Ela veio por cima, aplicando o golpe Pé da dor Celestial.

Sosuke arregalou os olhos e saltou para trás, se livrando do golpe que acertou o chão e fez um enorme estrago. Em seguida, a Harumi que acertou o chão também desapareceu em fumaça. Sosuke estava com os olhos arregalados e boquiaberto ao ver tamanha força.

— Se aprender a formar clones, você poderá treinar com eles. – Harumi disse estando atrás dele.

Ele se assustou e logo se virou para olhá-la. O garotinho ficou sem palavras e permaneceu encarando-a por um tempo, até que ouviu uma voz familiar.

— Sosuke! Está na hora de irmos para a… – Yuna disse surgindo entre as árvores, mas logo se assustou ao ver uma mulher perto de seu filho.

Dessa vez, Harumi não fugiu como sempre fazia, ela ficou parada, olhando em direção a Yuna. Ao observá-la por alguns segundos, Yuna arregalou os olhos ao se dar conta de quem era…

— V-Você? 

Harumi continuou olhando-a e começou a caminhar em sua direção. Quanto mais ela se aproximava, mais Yuna ficava surpresa por confirmar que sim, era ela.

— Sinta-se orgulhosa pelo filho que tem, ele se tornará um grande Shinobi. – Harumi disse com um sorriso sutil.

Em seguida, ela passou ao lado de Yuna e tocou em um de seus ombros. Yuna tomou mais um susto e ficou sem reação, até que depois de alguns segundos, se virou para olhar em direção onde Harumi seguiu, mas ela já havia sumido.

Depois de passar esse tempo pela floresta, Harumi decidiu ir até o escritório do Hokage, mas antes, ela seguiu caminhando até a loja de Dangos para fazer o que ela acreditava ser o costume do passado, comprar uma porção dupla de bolinhos para eles.

Eiji estava caminhando pela Vila e olhava para frente, sem prestar muita atenção nas pessoas que passavam perto dele. Ele continuava distraído com suas dúvidas, mas, de repente, algo lhe chamou a atenção. Uma mulher de cabelos castanhos com um rosto bastante familiar vinha se aproximando e passou ao seu lado. Demorou alguns segundos para que ele compreendesse de onde conhecia aquele rosto e, de repente, ele arregalou os olhos.