Antes que o ano acabe escrita por TatiGreenDay


Capítulo 1
I think a driver might've saved my night


Notas iniciais do capítulo

Eis que eu estava ouvindo uma música de uma cantora que gosto bastante e pensei: "mas por que não uma songfic?"
E foi daí que surgiu essa ficzinha KakaIno tchutchuca (porque o meu sonho era escrever sobre os dois em uma fanfic individual). A princípio, essa fanfic participaria de um evento de Festas de fim de ano lá no Spirit, mas infelizmente não consegui terminar no prazo ç_ç, então é por isso que a história se passa no Ano-Novo ^-^ ♥

Como eu ia dizendo, KakaIno surgiu para mim como um experimento e virou uma das minhas maiores paixões no quesito shipps. Por isso, estou muito animada para compartilhar com todo mundo que se interessar, essa história que gostei bastante de escrever. ♥

Sem mais, espero que gostem. Boa leitura! ;)



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Ino simplesmente não acreditou de primeira. Precisou reler a mensagem que aparecia na tela bloqueada, pelo menos mais três vezes. 

 

“Que horas você vai ser liberado aí?”

“Sobre a sua pergunta da cor da minha calcinha pra esse ano… é nude. De nenhuma”

 

Um emoji de foguinho adornava a mensagem repulsiva. Ino levou uma mão ao peito, sem saber o que fazer ou pensar, enquanto umedecia a boca seca. Estava pálida, engolindo o choro que queria vir. 

Aquilo era uma “paulada”, conforme denominou ela. Um golpe terrível pelas costas. Tudo isso enquanto o homem que supostamente queria namorá-la se arrumava lá dentro, antes de saírem. Pior, ela havia deixado de passar o Ano-Novo ao lado de Choji e Shikamaru, seus melhores amigos, para passar por aquela situação péssima.

Tentou pensar rápido. Precisava agir friamente e “dar o fora” daquele lugar. Foi quando se lembrou de um conselho de Choji. 

 

“Quando algum babaca fizer você de trouxa e nem eu, nem o Shika estivermos por perto, essa vingança é perfeita.”

“Eu tô fora de confusão”, respondeu Shikamaru na ocasião. “Mas pela Yamanaka eu faria, não precisam me fuzilar”, acrescentou, ao ver a cara dos dois.

 

Sem pensar duas vezes, Ino caminhou até a garrafa de refrigerante que estava na mesa e a sacudiu, com toda a força que conseguiu aplicar. Os cabelos acompanharam o movimento, bagunçando o rosto dela.

Após colocar a garrafa de volta na mesa, sentou-se no sofá, remoendo o que havia acabado de descobrir. Aquele cara parecia ser tão legal. Entretanto, mais uma vez o dedo podre dela havia entrado em ação, mostrando a contrariedade daquilo. Bem que seus amigos haviam desconfiado, mesmo, mas ela achava que era uma impressão precipitada de ambos. Secou uma lágrima furtiva, enquanto aguardava ansiosamente que ele voltasse do banho. Nem conseguiu terminar de comer os bolinhos de queijo, deixados ali para ela. Pareciam entalados no meio da garganta. 

Até que o “dito cujo” surgiu, de dentro do quarto. “Dissimulado!”, xingou mentalmente, enquanto o assistia se movimentar pela sala com os cabelos molhados, fechando um botão da camisa de flanela. 

 

— E aí, demorei? 

— Não. Está pronto? 

— Sim! — respondeu ele. — Acho que já podemos ir, senão você vai se atrasar pra ver os seus amigos depois, né! — Checou o próprio relógio de pulso.

 

Ino engoliu todo o nojo que sentia e se esforçou para falar no tom mais natural possível. Ela sabia que aquela preocupação não era com ela, mas sim com a parada seguinte que ele teria.

 

— Você pode pegar mais um gole de refrigerante pra mim?

— Pego, mas você terminando, a gente já sai. 

 

Ino preparou o celular, filmando-o disfarçadamente. Precisava de um registro para mostrar aos amigos, mais tarde. E foi quando ele abriu a garrafa, liberando um jato de líquido e gás diretamente no rosto e na roupa. A sujeira também atingiu a mesa e o piso. Sem entender o que havia acabado de acontecer, o homem afastou a camisa grudada do corpo. 

Ino levantou do sofá, focando a câmera nele, antes de dizer:

 

— Tchau, seu babaca! 

 

Ele a olhou, chocado, enquanto Ino guardava o celular e pegava a bolsa. 

 

— Oi? Aonde você vai? — questionou, chocado pela reação dela. 

 

Ino o encarou, séria. 

 

— Te liberar logo pra mulher sem calcinha. — Piscou, irônica. 

— Ino, que histór-

— As mensagens no seu celular. — Interrompeu ela. — Não esqueça de responder à garota sem calcinha, dizendo que está totalmente livre pra ela agora. 

 

Sem pensar, ele se apressou até o celular e finalmente entendeu do que se tratava. Olhou para ela com a expressão em choque. 

 

— Ino, não é nada disso. Deixa eu te explicar. 

 

Ino levantou a palma da mão na direção dele, como quem recusa a continuidade do assunto. 

 

— Dispenso seus esclarecimentos. Tem coisas que são autoexplicativas. — Deu de ombros, tentando conter a raiva, que a fazia tremer mortalmente. — Bom, vou indo. Boa sorte com essa zona. — Correu os olhos dele para o chão molhado; do chão de volta para ele.  

 

Ignorando os protestos do outro, deixou o apartamento e desceu as escadas em direção à saída do prédio. O edifício possuía apenas quatro andares, de modo que rapidamente estava do lado de fora. Enfim, respirou o ar gélido daquela noite, mas logo passou a andar o mais rápido que podia, pois só queria sair daquele raio e voltar para a companhia dos amigos.





"Solitária, sentada no banco de trás

Queria que esse táxi estivesse me levando pra casa

Eu odeio desperdiçar sextas-feiras

Mas estou nessa estrada me sentindo sozinha"

 

 

Já na avenida, Ino sinalizou para três táxis, que, infelizmente, estavam ocupados. Ela só queria voltar para casa e passar uma virada de ano decente ao lado dos melhores amigos. Entretanto, lá estava: literalmente no meio da rua, chamando carros que não estavam disponíveis e lutando com todas as suas forças para não cair no choro ali mesmo. A sensação de impotência era terrível. E pensar que passaria a virada do ano ao lado daquele “embuste”, como o xingou em pensamento. Agora ela entendia que tudo tinha uma razão para acontecer e, embora houvesse doído descobrir aquelas mensagens, teria sido pior se ficasse no desconhecimento, pensando que tudo estava bem.

Foi quando finalmente avistou um táxi aparentemente livre, ao que ela não tardou a sinalizar, freneticamente. Só precisava sair dali, da vista de todas aquelas pessoas felizes, em clima de Ano-Novo. 

Atendendo aos seus pedidos, o carro diminuiu a velocidade e encostou em um recuo da calçada. Abraçando a si mesma, ela correu a pequena distância até lá e entrou, tão rápido quanto pôde. Suspirou, numa mistura de alívio e de busca por mais um pouco de equilíbrio. Após informar o endereço, ia enviar uma mensagem aos amigos, mas desistiu. Na verdade, não sabia nem o que fazer, com a mente acelerada como estava. Resolveu se acalmar um pouco, primeiro.

 

Ao volante, ele fez a conferência de praxe, que sempre realizava nos passageiros. Era um protocolo de segurança dar uma olhadinha ou outra pelo retrovisor, verificando se estava tudo bem. Não que aquela moça parecesse representar algum tipo de perigo, mas se tinha algo que Kakashi havia aprendido na vida, era que se levar pelas aparências era um equívoco para amadores. Como no dia em que uma senhora muito simpática entrou no seu táxi e puxou uma conversa muito divertida, até sair e deixar uma “surpresinha” no banco. A “surpresa” em si era um filhote de cachorro, que claramente Kakashi não teve coragem de abandonar; e hoje tinha dois anos e se chamava Bisuke. Fora as histórias de outros companheiros de profissão. Desde então, passou a ficar mais atento a quem transportava. 

Para a sua surpresa, a passageira atual parecia secar o rosto.

 

— Estou voltando mais cedo. Vocês tinham razão, ele é um babaca. 

 

A princípio, Kakashi tomou um leve susto, pensando que a conversa fosse com ele. Mas logo viu que ela falava perto do celular, provavelmente enviando um áudio. 

 

— Mas eu estou ótima! — continuou a passageira, e Kakashi notou que ela secou novamente a área dos olhos. — Fiz a vingança que vocês me ensinaram e é isso. Até logo…

 

Ao desligar, ela recostou a cabeça no banco, perdida na paisagem do lado de fora da janela. Por vezes, fungava baixinho e Kakashi constatava que não havia cessado o choro. Sem saber muito como reagir àquilo — deveria reagir? —, soube apenas que não queria ignorar a agonia da moça. Simplesmente ninguém merecia um fim de ano daqueles. Foi então que decidiu interceder. Pigarreou. 

 

— Han… moça? — chamou, num tom baixo e gentil. 

 

Pelo retrovisor, viu quando ela dirigiu a atenção a ele, cruzando assim os olhares pelo pequeno espelho. Parecia checar se ele realmente estava falando com ela.

 

— Oi — respondeu, fungando novamente. 

 

Kakashi prosseguiu. 

 

— Desculpe a intromissão, mas tem lenços de papel aí atrás. — Aproveitando que haviam parado em um farol, tateou o baú entre os dois bancos dianteiros e o abriu, para que ela pudesse ver.  

 

Ino olhou surpresa para a caixa azul. “Que moço gentil”, pensou. Pessoas atenciosas realmente faziam a diferença em um dia ruim. 

Indecisa entre pegar um lenço ou não, passou um tempo encarando o objeto. Se pegasse, ele teria a certeza de que ela havia chorado. Mas pudera! Isso já devia estar óbvio na cabeça do motorista, ou nem teria oferecido. Sem pensar mais, aceitou a gentileza e secou os olhos e o nariz. 

 

— Obrigada…

 

Recostou novamente no banco. Travava uma batalha mental: enquanto seu real desejo era voltar direto para a sua casa, lamentava por perder a noite naquele clima. Nunca, em sua lembrança, havia passado um Ano-Novo tão “pra baixo”, como ela definiu ao analisar o cenário. Mas o motorista chamou sua atenção, novamente.

 

— Bem… minha intenção realmente não era ouvir a sua conversa, mas foi inevitável.

 

Ela voltou a olhá-lo pelo retrovisor. “Que homem bonito”, pensou, enquanto secava as bochechas com o lenço de papel. Meneou a cabeça, negativamente. 

 

— Não tem problema. 

— Mas… — continuou ele. — Tenho uma música interessante aqui, para momentos como esse. 

 

O farol fechou novamente, ao que o motorista mexeu no som. Em poucos segundos, uma música pop preencheu o ambiente, num volume solene, a princípio. Por conta da indicação do outro, Ino procurou prestar atenção na letra enquanto torcia o pedaço de papel que tinha nas mãos.  



“Lágrimas escorrendo pelo meu rosto

Até que ele olha para trás e aumenta no último”



As batidas, a voz da cantora e principalmente a mensagem presente na canção pareciam realmente acolher o seu momento. Permitiu-se fechar os olhos por um instante, absorvendo trechos que lhe caíam perfeitamente. Algumas lágrimas acabaram escapando, pois era impossível não rememorar toda a confusão que a levou até ali. Entretanto, se fosse analisar friamente, a tarefa de ouvir o que a música realmente tinha a dizer, tirava-a um pouco daquele looping mental repleto de decepção e explosão de refrigerante. 

 

“Sei que eu deveria estar deprê

Olhando para o teto, mas aqui está a verdade

Se lamentar seria um desperdício

Isso não vai resolver nada mesmo, não, uau”

 

Lamentar-se seria um desperdício. Realmente, a letra dizia tudo o que ela precisava ouvir. Um chacoalhão para dizer a ela que aquele dia não era feito para chorar. Embalada pela melodia e conectada aos versos, percebeu os pés batucando o piso do veículo, gradualmente envolvida.  

“Seco meus olhos porque eu não quero chorar

Ooh, sim

Pelo menos hoje, não, eu não quero chorar (chorar)”

 

Secou mais uma lágrima, decidida a seguir o conselho da música. 



“Escuto e as nuvens se dissipam

Eu olho pra mim diferente a cada nota

Cada linha parece que lê a minha

A minha mente, como elas sabem?”



Foi quando olhou novamente para o ponto de contato entre ela e o motorista, o pequeno espelho à frente. Fungou, antes de começar. 

 

— Nossa. Essa música é muito necessária. Obrigada. 

 

O homem balançou a cabeça, como num cumprimento afirmativo.

 

— Disponha. 

 

Determinada em espantar a tristeza, resolveu continuar o assunto.

 

— Você tem um arsenal de músicas para o momento de cada passageiro? Ou… sofre por amor e se afoga no pop, enquanto vê a cidade passar num flash, dentro desse carro?

 

Ele riu. Possuía uma risada mais grave e seca, mas isso não significava que não passava sinceridade. 

 

— Ahn… como posso explicar? — Ele mordeu o lábio inferior, pensativo. Embora aparentemente não intentasse fazer charme, Ino percebeu que o resultado ainda assim seria esse. — Primeiro, estou curioso. Gostou da música? 

— Sim! Gosto de como ela nos chama para reagir — refletiu, em voz alta. — E também é animada.

 

O motorista aumentou o volume, divertindo Ino. 

 

— Exatamente, ela é um chamado para aproveitar esta noite, porque pensa bem. Esta noite específica só vai se repetir daqui a exatamente um ano — argumentou ele, falando um pouco mais alto, devido ao som.

 

No interior do carro, os versos continuavam, mais altos.

 

“Ainda não me atingiu (ooh)

E sei que se eu for para casa, ficarei chateada, é

Ainda não me atingiu

Sei que se eu for para casa, ficarei chateada

Ainda não me atingiu (ooh)

E sei que se eu for para casa, ficarei chateada

Pelo menos hoje, não, eu não quero chorar”

 

Ino balançou a cabeça, pensativa. 

 

— Se bem que… estava aqui pensando- 

— Desculpe, não entendi. — Interrompeu o motorista, abaixando novamente o volume. 

— Ah, sim. Sem problemas. Estava pensando aqui e estou um pouco receosa de chegar na casa dos meus amigos e estragar a virada do ano deles, sabe… Somos um trio muito unido e, por mais que eu tente fingir que não estou incomodada, nada passa despercebido por aqueles dois. 

— Sei. 

 

Nem mesmo Ino estava entendendo o porquê de estar se abrindo com o motorista do táxi. De toda forma, percebeu que era relativamente mais confortável conversar com alguém que está totalmente por fora do alvoroço. 

 

— Então — continuou ela —, espero que essa música me ajude a levar uma vibração mais leve e verdadeira pra eles. 

 

Kakashi sorriu, empático. Talvez tivesse algumas coisas em comum com a mulher. À frente, o trânsito apontava. Era de se esperar, levando-se em conta que a maior parte da cidade devia estar na rua. Naquele horário, então, deveriam estar em sua maioria a caminho de seus respectivos destinos. 

 

— Bom, eu confio no potencial dessa música. Podemos repetir e aumentar, pra você ir trabalhando isso até chegar lá. 

 

Ino deixou escapar uma risada, cada vez mais curiosa com a peculiaridade do homem. 

 

— Gosto! Ela já deve ter te ajudado também, né? — perguntou, enquanto checava rapidamente o celular e lia uma mensagem de Choji.

 

Parado no trânsito, ele se permitiu olhar para ela, mais uma vez. 

 

— Então, é aí que entra um detalhe. O primeiro é que entendo essa questão de os seus amigos decifrarem o seu humor, porque isso também acontece com os meus. Coincidentemente, tenho duas amizades de infância. Somos um trio, como vocês. — Ele coçou o queixo, rapidamente. — Agora, respondendo a sua pergunta com esse contexto, informo que acabei de usar a lista de músicas intitulada “bad”, da minha amiga. Ela criou e compartilhou comigo e o nosso outro amigo. 

 

Ino riu, imaginando a amiga dele “enfiando” pop nos amigos, reconhecendo tal característica em si, também. Adorava que Shikamaru e Choji ouvissem o que ela gostava, principalmente quando a música batia em alguma situação para eles. Por outro lado, também estava surpresa pela coincidência. 

 

— É sério que vocês também são um trio? Bom, imagino que você seja bem sortudo, se as suas amizades forem como as minhas. 

 

Ele assentiu com a cabeça, concordando. 

 

— Também não sei como são as suas, mas presumo que sorte seja sinal de algo ótimo, o que, aliás, eu tenho mesmo. Eles são ótimos, embora às vezes sejam insuportáveis, também. — Riu, em seguida. 

 

Ino riu também. 

 

— Pela sua descrição, são muito parecidos com os meus amigos. Qual o nome da sua amiga que entende de bads

— Ela se chama Rin. Coitadinha, já passou por cada situação. Por falar nisso, nós três somos meio azarados nas questões amorosas, devo admitir. 

 

Ino se sentiu representada. Estava condoída pela situação daqueles estranhos. 

 

— Então, você afirma que também faz uso dessa playlist desafortunada? 

 

Ele deu de ombros, aparentemente vencido.

 

— Olha… sim. Mas acho que todo mundo já precisou alguma vez, né? 

 

Ino assentiu com a cabeça, mesmo sem saber se ele havia visto.  

 

“Ooh, sim

Seco meus olhos porque eu não quero chorar

Ooh, sim

Pelo menos hoje, não, eu não quero chorar”

 

Envolvida pela música, percebeu que algumas vezes mexia o corpo, distraída, seguindo as batidas. Por incrível que fosse, estava se sentindo mais leve, mesmo. Agradeceu mentalmente por ter pego aquele táxi. 

 

— Essa música me dá vontade de sair dançando por aí. — Comentou, abrindo metade do vidro da janela e inclinando a cabeça para fora. Respirou o ar frio e puro, sentindo o vento bater no rosto. 

 

Kakashi sorriu. Era gratificante ver que a moça que havia entrado ali triste, havia recuperado um pouco do riso e da animação para o fim de ano. Sentiu-se bem por mudar pelo menos um pouco o rumo daquela noite para ela. Podia supor como ela estava se sentindo, porque não estava na sua melhor virada, também.

 

— Experimente gritar aí na janela. É libertador — sugeriu, gentil. 

 

A passageira tapou a boca, surpresa. 

 

— Moço, não me dê ideias, eu sou meio maluca! 

 

Kakashi gargalhou, pois imaginava qualquer resposta, menos aquela. 

 

— Melhor ainda, o grito vai sair mais desinibido. Eu recomendo. 

 

Pelo retrovisor, ele viu rapidamente que ela levou o rosto à janela, mas desistiu e o olhou. Parecia estar num dilema entre seguir e não seguir a sugestão. 

 

— Você já fez isso? 

 

“Várias vezes”, quis confessar ele. No entanto, era o profissional ali, e poderia assustar a moça. Imagine se ela pensasse que era um “doido varrido”, como costumava dizer. Preferiu optar pela meia verdade. Inclusive, em todas as vezes que havia feito, não era ele que estava no volante, logicamente.

 

— Já, sim, uma ou outra vez. Mas já adianto, não era eu dirigindo o carro, certo? 

 

Foi a vez dela soltar uma pequena gargalhada, abanando o ar com a mão. 

 

— Não se preocupe. Eu só queria saber, pra ter a certeza de que não vou ser julgada, caso resolva seguir o seu conselho. 

 

Kakashi deixou que um carro os ultrapassasse. Jamais colocaria passageiros em risco por conta de pressa no trânsito. Ademais, precisava admitir que a presença da moça no banco de trás era agradável, de modo que não era nenhum sacrifício passar alguns minutos a mais da previsão da corrida. O trânsito mais parado em si não o chateava.

 

— Jamais. Vá em frente.

 

Ino sorriu. Aquele homem era divertido. Perguntou-se se deveria mesmo gritar na janela. “Por que não?”, pensou. O motorista era um desconhecido, assim como qualquer pessoa que por ventura a ouvisse berrar ao vento. E foi isso que a impulsionou a aproximar o rosto da janela e gritar. A princípio, gritou num volume mais moderado, em um tom mais comedido. Então, ouviu o motorista: 

 

— Isso! Põe pra fora! 

 

Ino gritou novamente, sentindo a própria voz ganhar ares de liberdade. Gritou um pouco da angústia que sentia, sentindo os olhos marejarem levemente. Não era somente pelo babaca que partiu o seu coração mais cedo; o vento cortando o seu rosto enquanto o carro avançava em um ponto menos parado também tinha sua participação. 

Ao voltar, fechou o vidro. 

 

— Nossa… obrigada! — Olhou na direção do homem. — Aliás, qual o seu nome? — perguntou, curiosa. 

 

Novamente, os olhares se encontraram por meio do espelho. 

 

— Kakashi — respondeu, parecendo levemente surpreso pela pergunta. 

 

Ino sorriu, educada. 

 

— Prazer, sou Ino. Obrigada pela dica da janela. 

— Gostou? — perguntou ele, um tanto retoricamente. 

— Bastante! Só seria melhor se eu pudesse sair voando e dançando no ar, enquanto berrava aos ventos — brincou, risonha. — Mas, de verdade, foi ótimo.

 

Kakashi riu também, indeciso entre fazer ou não a proposta que havia passado por sua cabeça. Será que ela pensaria mal dele? Pensaria que ele estava se aproveitando da situação? Receava ser mal interpretado, ainda que fosse tentador perguntar. Sendo bem sincero, o que queria dizer também faria bem a si mesmo, naquela noite fria do dia trinta e um de dezembro. Lembrou-se então de um conselho de Rin e Obito, seus melhores amigos. Segundo eles, Kakashi perdia muitas oportunidades, por ser mais fechado e reprimir alguns impulsos, e sua vida seria, no mínimo, mais divertida se parasse um pouco de pensar mil vezes antes de qualquer atitude. 

Movido pela bronca mental dos amigos, resolveu arriscar, antes que desistisse. Aproveitou o sinal fechado, mas não retirou as mãos do volante.

 

— Ahn… Ino. Vou te fazer uma proposta, mas antes disso, quero dizer que vou entender perfeitamente caso você não aceite. 

 

Pelo retrovisor, observou a moça olhar para ele, num misto que parecia de surpresa e de receio. 

 

— Como assim? Que proposta? — perguntou, confusa. 

 

Kakashi se apressou em falar, para dissipar aquele clima, quanto antes. 

 

— Conheço um lugar legal, com vista para a cidade, que não é cheio, mas também não é vazio e eu sou conhecido lá, pois vou sempre que posso. 

 

Enquanto falava, mantinha o contato visual com ela pelo espelho, sentindo um leve nervosismo. Praguejou mentalmente, culpando seus amigos por aquele impulso idiota. O que ela pensaria dele? Respirou fundo, chegando à conclusão de que aquela ideia era ridícula. 

 

— Olha, moça… desculpa, eu não sei se isso é de bom-tom — admitiu —, por um momento achei que fosse uma ideia legal, mas sei que sou apenas um estranho para você. 

 

Ela foi certeira. 

 

— Faça a proposta e eu decido se é de bom-tom. 

 

Kakashi abriu um micro sorriso. “Gostei dela”, pensou. Imaginou que poderiam dar boas risadas em uma mesa de bar. 

 

— Pensei que, se o que acontece na noite de Ano-Novo se repete por todo o ano, e você não quer passar uma virada de ano no baixo astral com os seus amigos, eu poderia tentar salvar a sua noite, antes de encontrá-los. — Coçou a cabeça, rapidamente. — É uma tentativa, claro, mas talvez funcione. Enfim… entendo o quanto aceitar propostas de estranhos é completamente descabido. 

 

Ino percebeu o embaraço do outro. Na tela de seu celular, estava o perfil dele em uma rede social. Foi um dos primeiros que apareceram na pesquisa. Ela havia procurado, por curiosidade. Pelas postagens, era pai de pet (pelo menos três cães), tinha várias fotos com as mesmas duas pessoas (o que devia validar a informação sobre os tais amigos de infância) e aparentemente era voluntário em alguma instituição. Ela havia simpatizado com ele. Para completar, tinha um terço enrolado no retrovisor daquele carro extremamente limpo, cheiroso e organizado. “Aparentemente, um homem bem-intencionado”, pensou, enquanto enviava sua localização para os amigos, junto à mensagem: “Antes, vou parar em um lugar. Fiquem de olho se eu apertar o atalho da ligação para vocês.”

Terminadas as precauções, ela se voltou para ele, outra vez.

 

— E qual seria o seu plano para salvar a minha noite? Fiquei curiosa. Onde você vai me levar, por exemplo? 

 

Kakashi xingou mentalmente até as próximas gerações de Rin e Obito. Contaria a eles depois, porque, se estava metido naquela situação constrangedora, era culpa dos eternos conselhos encorajadores de ambos. De toda forma, não tinha como voltar no tempo e desfazer a oferta, então precisaria responder à pergunta dela. 

 

— Então, pensei em lugares que são muito eficazes contra a tristeza. 

 

Ao perceber que ela ouvia com interesse, sentiu-se mais seguro para ser mais ele mesmo. 

 

— A primeira parada seria o local que falei a princípio. É uma praça que fica próxima daqui. A segunda, uma feirinha temática que essa semana ainda está no tema de Natal. Está bem bonita, tem comida, uma energia boa… tudo o que ajuda a desestressar. Esses lugares sempre me fazem bem, independente de como eu esteja me sentindo. 

 

Ino passou as novas informações aos amigos, enquanto se animava com a ideia. Parecia realmente um bom plano. Prometeu a Shikamaru e Choji que passaria os nomes dos lugares tão logo estivesse lá. Olhou para o homem, que estava focado na direção.  

 

— Gostei. Eu topo!

 

Ele sorriu, discreto. 

 

— Certo. Vamos! 

 

Aumentou o volume, fazendo Ino rir. Pela primeira vez após a decepção que teve, ela teve esperanças de mudar aquele sentimento até a meia-noite.



“E então eu sinto, sinto uma canção me abraçando forte

Eu acho que um motorista salvou minha noite”





Kakashi estacionou na parte mais alta da praça que dava vista para toda a cidade. Ele estava certo quando mencionou tal detalhe. Olhando ao redor, Ino avistou outras pessoas, mais distantes. No caminho, ele havia colocado outras músicas para tocar, mas lá em cima, ela pediu que ele repetisse a mesma faixa que dialogava com sua situação. 

Por um momento, ignorou a presença dele ali. Dançou livremente, sem se preocupar se estava se movimentando freneticamente na frente de um homem desconhecido. Aproveitou para gritar “para o mundo” xingamentos ao babaca que tentou enganá-la, além de gritos de vazão. O ar gelado batia no rosto, nos cabelos e no corpo bem agasalhado. Sentia-se lavando a alma, afastando a tristeza. Respirou fundo, inalando a brisa fria que chicoteava o rosto. Por um momento, acabou imaginando o que o atual ex havia feito após a saída dela. Teria ido atrás da dona da mensagem? Estariam rindo da cara dela agora? 

Então, lembrou-se da mensagem da música. Não era uma noite para chorar, muito menos para pensar em alguém tão desnecessário quanto aquele cara. Percebeu-se fazendo uma “banana” com os braços, na direção das luzes da cidade. Deveria pensar naquela história como um livramento. “Foi melhor ter descoberto logo, Ino. Foi melhor assim”, pensou. Mentalmente, refletiu sobre vezes em que a situação também foi estranha, vezes em que os amigos disseram a ela que o homem com quem saía “não lhes descia”. Ainda assim, ela deu o benefício da dúvida e agora havia sido contemplada com a verdade. Não havia motivos para perder a sua virada do ano.  

 

Encostado no carro, Kakashi sorriu ao ver que ela não chorava mais. Sentiu-se feliz por conseguir mudar, um pouco que fosse, o fim de ano de alguém. A fim de dar privacidade a ela, que dançava intensamente, aproximou-se do morro e fixou o olhar às luzes lá embaixo. Dali, podia ver até a feira que havia citado, que a propósito parecia bem cheia. Ali em cima, o frio maltratava mais, de modo que cruzou os braços para se proteger, ainda que estivesse bem agasalhado. Após um momento, ela se aproximou, eufórica. 

 

— Caramba! Eu não sabia que precisava tanto disso, até estar aqui! Obrigada! — agradeceu, ofegante, ajustando o gorro sobre a cabeça. 

 

Kakashi sorriu, virando-se na direção dela.

 

— Fico feliz. Pronta para a parte dois? 

 

Ela assentiu, esfregando as duas mãos. 

 

— Com certeza!





Após entrarem novamente no carro, desceram a rua e Kakashi estacionou no início da praça. Em seguida, rumaram para a tal feira mencionada por ele.

Ino se sentiu presenteada. O local realmente era muito bonito, grande, repleto de pessoas e trazia aromas misturados de diversas comidas que ela podia apostar que eram gostosas, a julgar pelo cheiro. O próprio clima do local era convidativo, por si só. A decoração era mesmo natalina, conforme Kakashi havia informado. No entanto, algumas barracas já traziam suas luzes brancas e douradas, simbolizando o ano vindouro.

 

— Que lugar legal! Nunca tinha ouvido falar dessa feira — elogiou ela, de olhos atentos aos detalhes do lugar. 

 

Kakashi andava ao seu lado, observando do que se tratavam as barracas. 

 

— É muito interessante, mesmo. Espera só até ver a culinária. Esse mês, estão fazendo algumas das tradições de lugares do mundo.

— Pelo cheiro, parece ser tudo muito bom. 

— E são, acredite. Eu nunca me decepcionei com esse lugar, no quesito comida.

 

Adentrando mais o evento, ambos se depararam com um show de luzes e cores que traziam alegria e aconchego. Eram diversas luzes, pisca-piscas e barracas decoradas com uma atmosfera bem natalina. Tirando Ino de seus devaneios, Kakashi a chamou. 

 

— Ei, que tal fazermos um pedido para o novo ano, naquela árvore? 

 

Ino olhou para onde ele apontava, uma árvore grande intitulada “árvore dos desejos”. 

 

— Vamos! 

 

Enquanto aguardavam na fila, tentavam “quebrar o gelo”, o que não parecia ser muito difícil, considerando o pouquíssimo tempo que se conheciam. Ino sentia facilidade em conversar com ele. 

 

— Nossa, um dos meus pedidos para o novo ano é me livrar desse dedo podre nos relacionamentos. 

 

Ele riu. 

 

— Ótima ideia, vou incluir isso também. 

 

Ino o olhou, incrédula. 

 

— Ah, é. Você também sofre desse mal, né? 

 

Kakashi confirmou com um gesto de cabeça. 

 

— Ah, digamos que sei selecionar a dedo o puro creme do masoquismo emocional. Então, acho que sim. 

 

Ino gargalhou. Por mais incrível que parecesse, sentia-se muito à vontade ao lado do homem praticamente desconhecido.  

 

— Nunca tinha classificado dessa forma, adorei. — Soprou fumaça pela boca, por conta do frio, esfregando os próprios braços na sequência. — Combinado, vamos colocar esse pedido em letras garrafais.

— Boa ideia! — riu ele, abrindo espaço para que ela passasse. Eram os próximos. 

 

Escolheram papéis coloridos e rumaram para a mesa de apoio, onde outras pessoas também a utilizavam para escrever. Kakashi sentiu o cotovelo de Ino bater no dele, enquanto escrevia freneticamente ao seu lado. Sentiu vontade de rir, pois o empenho dela em fazer tais pedidos parecia gigantesco. Era engraçado pensar que parecia conhecer aquela mulher intensa há muito mais tempo. Refletiu que o contrário também costumava acontecer com quem realmente conhecia há mais tempo e não possuía nenhuma afinidade. “Coisas inexplicáveis da vida”, pensou, enquanto fazia dobras nos papéis. 

Após escreverem, foram pendurar os pedidos na árvore, que reluzia com diversas cores de pisca-pisca, além de grandes bolas coloridas e outros enfeites de tamanho proporcional à grandeza da árvore. Ao lado de um urso felpudo e marrom, Ino pendurou o seu desejo, dividido em três papeizinhos dobrados em partes iguais. Aproveitou para fazer uma oração e pedir boas vibrações para o que estava pendurando. Ao olhar para o lado, viu Kakashi parado, encarando a árvore, segurando seus papéis. Parecia estar com a cabeça em outro lugar. Foi quando os olhos de ambos se cruzaram e ele percebeu os próprios devaneios. Constrangido, pendurou logo o que precisava.     

 

— Ei! — Ino o chamou. — Você fez um origami

 

Kakashi sorriu, enigmático. 

 

— Sim — admitiu, divertido. 

— Ouvi dizer que cada origami carrega um significado. O que você fez aí? 

— É isso mesmo. Fiz duas borboletas, que são mais fáceis e rápidas de dobrar. E representam união, autotransformação, clareza mental… ahn… novas etapas, liberdade e renascimento — enumerou, fazendo um leve esforço para se lembrar, enquanto apertava os olhos durante a tentativa.

— Que bonito, Kakashi — elogiou Ino, olhando-o nos olhos. Por Kami, o homem era realmente lindo. Naquele ângulo, então, as luzes batiam nele, deixando-o ainda mais charmoso. Os cabelos platinados brilhavam sob a projeção das diferentes cores.

 

Aproximou-se de onde ele estava, para ver as dobraduras de perto. 

 

— Ficou muito fofo na decoração. Vamos registrar isso, pra gente olhar essas fotos quando os nossos desejos se realizarem. 

 

Afastaram-se um pouco da árvore, e Ino tirou algumas fotos dos pedidos, antes de saírem dali. Foi quando Kakashi retirou as mãos dos bolsos.

 

— Vai lá, eu tiro uma foto sua.

 

Levemente envergonhada, ela aceitou. Posicionou-se à frente da árvore, apontando para os papéis exageradamente roxos pendurados perto do urso e sorrindo marotamente. 

 

Kakashi riu da pose, imaginando que Ino devia ser muito “pentelha” no convívio. Tinha jeito de brincalhona e autêntica. A propósito, era muito bonita, e parecia reluzir com todas aquelas luzinhas de Natal. Perguntou-se sinceramente, o que o homem que a enganou tinha na cabeça para fazer aquela sacanagem. Interrompendo seus pensamentos, ela voltou, animada.

 

— Sua vez! Vai lá perto das suas borboletas, pra você mostrar pra Rin e pro seu outro amigo que a era do dedo podre acaba aqui. 

 

Kakashi riu alto, meneando a cabeça negativamente. 

 

— Você é uma figura. 

— A recíproca é verdadeira — riu ela. — Abra um sorriso de respeito, hein!

 

Kakashi caminhou até os seus pedidos e enfiou as mãos nos bolsos, abrindo um sorriso discreto, de boca fechada. Do lado dele, outras pessoas também posaram para fotos. A árvore era espaçosa e grande, de modo que permitia fotografias simultâneas.

 

— Sorria! — gritou ela. 

— Já sorri — devolveu ele. 

 

Ino projetou um bico nos lábios avermelhados, meneando a cabeça negativamente. 

 

— Esse não é um sorriso de quem finalmente se livrou do dedo podre nos relacionamentos, poxa.

 

Kakashi não aguentava com aquela mulher. Acabou rindo do que ela falava, ao que ela aproveitou para fotografar. Saiu logo dali, protestando de brincadeira. 

 

— Isso foi trapaça. Não sou de sair escancarando sorrisos em fotos. 

 

Ela o olhou com um semblante divertido, fazendo-o se perguntar se ela sabia o quanto era charmosa. 

 

— Deve ser porque você ainda não viveu essa libertação. A partir do próximo ano, tenho certeza de que esses sorrisos vão se repetir. 

 

Trocando piadas e risadas, voltaram a caminhar por entre as barracas, até Ino se assustar com um homem absurdamente alegre que lhe chamou a atenção. 

 

— Quem quer prêmio de Ano-Novo?

— Ai, moço! — exclamou, brincalhona. — Que susto!

 

O homem se desculpou, também exageradamente.

 

— Desculpe, querida! Foi a animação. Vocês gostariam de participar do carrinho de bate-bate e ganhar um bolo de Ano-Novo Chinês? 

 

Kakashi e Ino se entreolharam. Um sorriso brotou nos lábios dele, ao que Ino tapou os olhos com os dedos indicador e polegar. 

 

— Eu vou ser macetada na pista — declarou, observando as pessoas que se chocavam incessantemente em seus carrinhos. Mas… 

— Mas? — perguntou ele, risonho. 

 

Ino abriu um sorriso tão bonito, que Kakashi não conseguiu desviar os olhos. 

 

— Mas eu definitivamente estou a fim de ganhar um bolo. 

 

Kakashi riu, com um semblante incrédulo. Foi a vez de Ino notar o quanto ele combinava com sorrisos “escancarados”, como ele mesmo havia dito.

 

— Nah. Das duas uma. Ou você realmente acha que vale umas batidas por um bolo, o que eu acho ótimo, porque penso igual; ou está escondendo o jogo e é muito boa nisso. 

 

Ino bateu de leve no braço dele, esquecendo-se por um momento de que os dois não tinham intimidade. Completamente sem graça, retrucou, brincalhona: 

 

— Eu acho que pelo bolo, vale. 

 

O homem os interrompeu. 

 

— E você está certíssima! O nian gao é um bolo consumido na cultura chinesa para atravessar o ano e simboliza prosperidade. Quem não quer prosperidade? 

— Onde compra o bilhete? — perguntou Kakashi. 





Ino não conseguia parar de rir. Muito menos a cada batida que levava. Do outro lado da pista, Kakashi também recebeu duas batidas. Tentando tirar o carrinho do enrosco no qual se encontrava, ela acelerou, disposta a bater em pelo menos um carro. 

 

Kakashi ouvia as gargalhadas de Ino ao longe, satisfeito pela alegria dela. Não entendia o porquê era tão importante que ela saísse dali mais leve do que quando entrou em seu táxi, afinal eram dois estranhos. No entanto, era gratificante saber que estava dando certo. 

 

Em algum ponto do jogo, eles se cruzaram, bateram os carros e riram um do outro, travando uma pequena batalha. Em um efêmero momento de calmaria, olharam-se de um jeito cúmplice, como dois estranhos conhecidos. Até um carro os atingir, dispersando-os. 

Ao final, receberam o pequeno bolo cozido no vapor, assim como todos os outros participantes da rodada. Grudadas na caixa por uma fita adesiva, duas velas de faísca acompanhavam o brinde. Saíram dali alegres, em direção a uma barraca de comida. 

 

— Caramba, isso tudo me deu fome. — Comentou Kakashi. 

— E calor — complementou Ino, enquanto verificava as placas nas barracas de comida. — Gostei dessa ideia das culturas e dos pratos típicos. 

 

Kakashi assentiu. 

 

— É muito interessante, mesmo. Inclusive, olha essa barraca aqui. — Apontou, lendo a placa de apresentação. — No Japão, a tradição da ceia de Natal é comer frango frito.

 

Ino aspirou o aroma do lugar e sentiu a boca salivar. 

 

— Nossa! Que cheiro maravilhoso, Kakashi. Vou comprar aqui mesmo. 

 

Kakashi analisou os tamanhos de balde e os molhos disponíveis, fortemente tentado a fazer o mesmo. 

 

— Vamos levar um balde, então. Eu pago esse. O que acha de comermos lá em cima? Aproveitamos e já subimos de carro para a praça. De lá, continuamos a nossa corrida — riu, sem jeito. 

 

Ino checou o relógio. Eram quase onze horas. A ideia de passar a virada do ano no “topo da cidade” era animadora. Ademais, poderiam sentar com calma, longe do alvoroço das outras pessoas conversando e movimentando o espaço. Meneou a cabeça, afirmativamente. 

 

— Combinado! — Sorriu. — Mas só se eu comprar os nossos refrigerantes. Vou levar dois pra cada! E está decidido. 

 

Kakashi levantou as mãos, rendido, divertindo-a. 

 

— Gosto assim! Agora vamos preencher essas barrigas, antes que o ano acabe. 

— Justo! — concordou ele, abrindo mais um daqueles sorrisos que agradavam Ino. 





A caminhada até o carro foi regada de uma afinidade que ninguém sabia muito bem como surgiu tão fácil, mas que ficava mais natural a cada interação. 

De volta à praça, sentaram-se no topo do gramado, observando a vista. Ino mordeu um pedaço de frango, maravilhada pelo sabor combinado ao molho agridoce.

 

— Uau… — Tapou levemente a boca. — Você estava certo quando disse que conhecia os lugares ideais para espantar a tristeza. — Lambeu a ponta dos dedos, enquanto fixava o olhar em um arranha-céu com uma luz azul no topo. — Mais um pouco e eu nem vou saber mais o nome do babaca. 

 

Kakashi limpou a boca com um guardanapo, rindo baixo. Pegou mais um pedaço de frango e o mergulhou no molho apimentado. 

 

— Fico feliz em saber. Isso só atesta o quanto esses lugares são realmente especiais. — Observou as pessoas caminharem pela feira lá embaixo, como se fossem formigas. 

— São mesmo. Agradeço por compartilhar comigo… Não me culpe, se a partir de agora nos vermos mais vezes, porque posso querer vir aqui, esporadicamente. 

 

Kakashi sorriu, involuntariamente. A ideia lhe soou positiva, pois havia se acostumado com a presença contagiante daquela mulher. De repente, a possibilidade de a encontrar mais vezes o animou mais do que deveria, pois era estranho imaginar que aquele encontro duraria apenas algumas horas antes de um novo ano. 

Naquele momento, não se sentia somente um motorista solitário trabalhando na noite de Ano-Novo. Sentia-se encontrando o mesmo consolo que Ino, pois estava agradavelmente bem acompanhado. Queria ajudar e foi ajudado também, mesmo sem ela saber. 

 

— Por que eu te culparia? Bons lugares estão aí para serem divulgados, mesmo. E… — Fixou os olhos nos dela, gentil. — Seria bem agradável te ver por aqui de novo — admitiu. 

 

Ino não sabia dizer o porquê de ter se animado tanto com aquela resposta. Estaria emocionada demais, por ter passado pela decepção de horas atrás? Precisava “segurar a emoção”, como ela gostava de dizer para os amigos. Todavia, não conseguia negar que além de lindo, o homem ao seu lado era muito simpático e havia conseguido fazê-la esquecer por um momento dos problemas, focando inteiramente no presente e no futuro mais positivo que imaginava para si, a partir do próximo ano. Não pôde disfarçar o semblante de satisfação que invadiu o seu rosto.

 

— Eu também não reclamaria — respondeu, sem desviar os olhos. Precisava tomar cuidado com o magnetismo dele. “Como é que esse homem consegue ser atraente mastigando frango, Yamanaka?”, pensou. — Aliás, me conta um pouco sobre você. Vem aqui sempre sozinho? Faz tempo que descobriu esse lugar? — perguntou, sem poder conter a curiosidade.

 

Kakashi pensou por um tempo, apertando um pouco as pálpebras. 

 

— Ahn… acho que conheço essa praça há uns dois anos. Vim aqui com os meus amigos, em um dia que o Obito não estava muito legal. Desde então, esse lugar virou o nosso respiro. Sabe aqueles dias em que você só precisa dar uma pausa e colocar os pensamentos em ordem? 

 

Ino assentiu. 

 

— Mas claro — continuou ele —, também acabamos aparecendo por aqui pra espairecer e jogar conversa fora. — Kakashi riu, como se lembrasse de algo. — É aqui, normalmente, que discutimos também as nossas crises esporádicas dos trinta. 

 

Ino riu, pendendo a cabeça para trás. 

 

— Oh, céus! Nem me fale, já sofro com isso aos vinte e sete, quem dirá quando realmente acontecer. Como é passar por isso? 

 

Ele pegou um guardanapo e limpou a boca. 

 

— Bom, devo te adiantar que não é o bicho que todos pensam. Em um dia, você acorda com trinta anos e nada mudou de quando você tinha vinte e nove — gargalhou. — O que acontece são mais coisas pontuais e normalmente passageiras. Por exemplo, estou com trinta e seis. Nesse meio tempo, você se questiona sobre algumas coisas; um dia acorda achando que está perdendo tempo, que já está velho demais para certos planos… No outro, você chega à conclusão de que nada disso é verdade. E assim vivemos — finalizou, em seguida bebeu um gole de refrigerante.

— Uau! — reagiu ela. — Eu nunca acharia que alguém como você está limitado a alguma coisa. Isso também serve pra mim, aliás — riu, enquanto lambia a ponta dos dedos. — Mas entendo que, às vezes, essas reflexões aparecem mesmo e a gente só precisa manejar, para que elas não ganhem tanta importância. — Deu de ombros. 

 

Kakashi se encolheu, quando um vento mais forte bateu. Em seguida, passou um pedaço de frango no molho, sorridente.

 

— Olha! Estou garantindo elogios para o ano todo. Obrigado, Ino. 

 

Ino riu alto, empurrando-o de leve com um cotovelo. 

 

— Ué, só falei a verdade. Você é jovem e ainda tem muito tempo pra fazer o que quiser! Com todo respeito, é um gato, também! Logo, sem problemas e sem dedo podre no novo ano, ninguém te segura pra nada! — gargalhou, em seguida. 

 

Kakashi abriu um sorriso charmoso. Estaria ela flertando com ele? Quanto a isso, não tinha certeza, mas decidiu ser sincero na devolutiva:

 

— Bom, se formos olhar por esse lado, amanhã mesmo o seu problema estará resolvido também. — Piscou, percebendo a surpresa na expressão da outra. 

 

Ino parou a coxa de frango no caminho da boca, processando se aquela era realmente uma cantada ou se era coisa da cabeça dela. Kakashi parecia um homem mais maduro do que os caras que ela havia conhecido. Mais direto, também, o que aumentava as chances de aquilo realmente ser uma investida. Entretanto, achou melhor não se equivocar e estragar o momento agradável que estavam dividindo ali. Limitou-se a lançar a ele um olhar enigmático, acompanhado de um pequeno sorriso, enquanto oferecia o próprio frango para um “brinde”. Ele devolveu o gesto. 

 

— E você e os seus amigos, tem algum costume do tipo? — perguntou Kakashi, enquanto decidia entre um molho agridoce e um barbecue.

— Vários! — respondeu Ino, de imediato. — Mas tem uma que é de lei: a pizza às quintas-feiras. É o nosso momento de conversar, desabafar, atualizar um ao outro das fofocas… parecido com o que você faz com os seus amigos. 

 

Kakashi gostou da maneira com que Ino falava dos amigos, pois pareciam ser tão importantes para ela quanto Rin e Obito eram para ele.

 

— Eles são o meu porto seguro. Às vezes, me conhecem mais do que eu mesma. — Prosseguiu ela. 

— Entendo perfeitamente. Aliás, foi por culpa dos meus amigos que fiz aquele convite nada conveniente pra você — riu ele, depois deu um gole no refrigerante. 

— Como assim, culpa deles? Você contou-

— Não, de forma alguma! — negou ele, descansando o pedaço de frango sobre o guardanapo no colo. — É que eles me dizem que perco muitas oportunidades por pensar muito, antes de fazer alguma coisa. Ou nem fazer — acrescentou. — E que eu deveria me arriscar mais. Aí, quando pensei em te fazer a proposta do Ano-Novo, descartei na mesma hora, mas depois resolvi seguir o conselho dos dois. E é por conta deles que estou aqui agora, comendo frango frito com a minha passageira. 

 

Ino riu do último comentário, tapando a boca para não cuspir a comida. Internamente, agradeceu pela influência dos amigos de Kakashi, pois graças a eles agora ela estava vivenciando momentos muito agradáveis. 

 

— Bom… — Começou, antes de terminar de mastigar. — Gostei dos seus amigos. Eles te encorajam em coisas que talvez você nunca fosse viver, se não fossem esses empurrõezinhos. E te digo mais: sempre preste atenção aos conselhos deles. — Analisou a embalagem de molho, levemente embaraçada, como se o segredo do mundo estivesse ali. — O Shikamaru e o Choji, por exemplo, nunca foram com a cara do meu mais novo ex. 

 

Kakashi não soube muito o que dizer, pois ela estava visivelmente desconfortável. Ainda que o receio de que Ino voltasse a se sentir triste estivesse ali, ele não teve coragem de interromper o desabafo. Talvez ela precisasse daquilo. Pelo visto, estava certo, já que ela prosseguiu. 

 

— Viviam me dizendo que alguma coisa não batia naquele cara, como se ele não passasse verdade. — Encarou o pedaço de frango, chegando à conclusão de que talvez aquela conversa fosse inconveniente. — Bem, deixa pra lá. Não tem porque eu falar sobre isso. 

 

Kakashi interviu. 

 

— Ei, se precisar botar isso pra fora, vá em frente. Aproveita que o ano ainda não acabou e deixa tudo aqui, ainda temos meia hora. — Sorriu com gentileza, checando o relógio. — Agora, se realmente não te faz bem, respeite seus limites, mesmo. 

 

Ino olhou para cima e fitou as nuvens passeando pelo céu nublado. Pensou em Shikamaru e sua obsessão por elas.

 

— Tá… acho que quero me livrar desse peso e começar uma nova história daqui mais ou menos meia hora. — Respirou fundo, enchendo-se de coragem para falar sobre o constrangimento que havia passado. Por mais que Kakashi fosse um estranho na vida dela, não era fácil expor algo tão pessoal e frustrante. Mas ela sentia vontade de se livrar daquilo, de uma vez por todas. — Eu estava ficando meio sério com esse cara. Sabe aquelas relações fechadas em comum acordo, que vão virar namoro, naturalmente?  

 

Kakashi assentiu, compreensivo. Ino limpou os dentes com a língua, antes de continuar.

 

— Ele era bem legal, o que o Shikamaru e o Choji, meus amigos, nunca concordaram cem por cento. Assim… concordavam que ele fosse agradável pra trocar um papo e tudo o mais… mas que não passava disso, sabe? Achei que eles estivessem viajando. Brinquei até que estavam com ciúme e medo de eu deixar de ficar tão perto deles. — Abanou a mão, brincalhona. — Tudo sacanagem, claro. A questão é que cinco meses se passaram, e se eu tivesse seguido os conselhos deles para alguns detalhes aqui e ali que não soavam muito bem, talvez não tivesse me envolvido na ideia de que dessa vez ia dar certo. Hoje, eu descobri que aquela desconfiança não era só coisa da cabeça, quando peguei mensagens bem explícitas no celular da pessoa que eu estava cogitando namorar.  

 

Ino respirou fundo mais uma vez, enquanto observava a cidade à frente deles. 

 

— Eu não quis conversar, não quis saber a quanto tempo estou sendo feita de trouxa. Mas quis me vingar, antes de sair. Eu me vinguei, Kakashi!

— O que você fez, pelo amor de Deus? — perguntou ele, num misto entre surpreso e divertido. Pelo pouquíssimo tempo que a conhecia, Ino dava todos os indícios de ser muito impulsiva, o oposto dele. 

 

Ela riu, pois não esperava aquela reação. 

 

— Calma, eu não gastei o meu réu primário! — assegurou, achando graça da expressão do outro. — Só fiz uma técnica que os meus amigos me ensinaram: sacudi uma garrafa de refrigerante e o resto você pode imaginar. 

 

Kakashi deixou escapar uma risada gostosa de quem torcia mesmo para que o tal ex tivesse pagado por aquilo de alguma forma. 

 

— Ok, estou aliviado por não ser nada fora do normal — brincou, provocativo, ao que Ino lhe mostrou a língua. — Mas, enfim. Brincadeiras à parte, como um ouvinte totalmente fora dessa situação, acho que você fez bem em se preservar e evitar saber mais detalhes, porque só te deixariam mais impotente.

— Impotente. Essa é a palavra! — corroborou Ino, batendo na própria coxa. — Eu já saí de lá impotente, extremamente humilhada só com o que vi, que dirá se soubesse que essa palhaçada estava rolando há meses. 

 

Kakashi cutucou uma grama.

 

— Talvez ele te procure para finalizar isso. E se eu puder te dar um conselho de pessoa alguns anos mais velha do que você… cautela nessa conversa. Não se deixe duvidar de si mesma por qualquer coisa. Seja qual for a sua decisão no final, respeite a si mesma e aos seus sentimentos.

 

Ino assentiu com a cabeça, enquanto passava mais um pedaço de frango no molho agridoce. 

 

— Obrigada. Com certeza, vou me preservar. Não tem mais volta, não importa qual desculpa mirabolante ele dê. Eu não confio mais, e, se quer saber, nem queria ter que conversar mais sobre nada. Mas entendo que existe a possibilidade dessa discussão. — Mordeu sua comida, absorta nas próprias reflexões. — E é por isso que eu acho que precisamos ouvir sempre, ou quase sempre — riu, tapando a boca para falar —, os nossos amigos. Querendo ou não, eles estão de fora observando tudo com a frieza que nós não temos, enquanto envolvidos na situação. 

— Concordo. Assim como também temos esse papel na vida deles. — Kakashi voltou a mastigar, pensativo. — Feliz de quem tem amigos. 

 

Ino abraçou a si mesma, protegendo-se de um vento mais forte que bateu, enquanto lembrava com carinho de Choji e Shikamaru. 

 

— Vem cá, achei uma graça essa coincidência entre a gente. Os dois com amigos malucos e sábios ao mesmo tempo, em mesmo número — gargalhou, saudosa. — Já quero encher os dois de abraços quando chegar lá. 

 

Kakashi limpou a boca com o guardanapo, em seguida encarou o horizonte, alinhando os fios de cabelo que o vento havia bagunçado.

 

— Sortuda. Eu só vou ver os meus amigos amanhã, pelo fim da tarde. Esse ano, cada um vai passar num lugar.

— Só fico encucada com uma coisa — confidenciou Ino, escolhendo o penúltimo pedaço de frango, antes de buscar o olhar de Kakashi. — Você abdicou do seu fim de ano para estar aqui, agora, com uma estranha. Não sei se me sinto bem com relação a isso. 

 

Antes que ele pudesse responder, ela sentiu a necessidade de complementar, temendo não ter sido clara. 

 

— Claro, preciso agradecer pela sua companhia e pela maneira com que me ajudou a devolver a animação para essa noite, sabe? Nem sei como agradecer por esse gesto. — Sorriu genuinamente para ele. — Mas, ao mesmo tempo, atrapalhei o seu trabalho, não sei se você iria curtir o seu Ano-Novo depois da minha corrida… Desculpa por bagunçar a sua noite. Paralelo a isso, agradeço muito por ter entrado no seu táxi.    

 

Kakashi passou a mão pelos cabelos bagunçados, enquanto sustentava o olhar de Ino. Ela pensou que fosse derreter com o charme daquele homem. 

 

— Fica tranquila, eu só abdiquei de trabalhar, mesmo — riu ele. — Sei que trabalhar na noite da virada parece um bom negócio em certos termos, tipo ter trabalho durante o ano todo, mas acho que prefiro repetir essas coisas que fizemos hoje, no meu ano novo. 

— Mas… — objetou Ino. — Você ia comemorar a passagem do ano sozinho? — perguntou, incrédula. 

 

Kakashi mordeu o lábio, reflexivo. 

 

— Ahn… vou te contar mais uma coincidência. 

 

Ino aguardou com atenção, enquanto ele retirava o último pedaço do balde e passava no molho. Antes de morder, Kakashi confidenciou: 

 

— Tive o mesmo receio que o seu, de preocupar pessoas importantes em um dia que deve ser festivo. Preferi esticar no trabalho e ficar mais na minha. Mais tarde eu já ia dar uma passada aqui, de qualquer forma. Como comentei mais cedo, gosto de vir nessa praça para refletir.

 

Ino lambeu os dedos e os limpou no guardanapo, atenta às palavras dele. 

 

— Desculpa a intromissão, mas por que estão preocupados com você?  

 

Kakashi ponderou se deveria contar. Parando para pensar, já era uma questão quase cicatrizada. Decidiu fazer como Ino e jogar no universo, contando a uma estranha imparcial. Limpou os dedos, jogando o guardanapo no balde vazio, em seguida. Após passar a língua pelos dentes, voltou a buscar os olhos dela. 

 

— Faz alguns meses que terminei um relacionamento. Também descobri coisas complicadas e as pessoas do meu convívio acompanharam esse processo, que não foi tão fácil. Eu sabia que se passasse a noite da virada com eles, qualquer sinal de discrição e recolhimento da minha parte poderia trazer uma energia estranha para a celebração. Então, preferi me recolher e falei que ia esticar o trabalho de motorista para pagar alguns gastos de fim de ano. — Kakashi riu, embora Ino percebesse o cuidado nas palavras dele. — O táxi é o meu segundo trabalho, um complemento de renda. Então, não se preocupe, porque você não fez nem uma coisa, nem outra. Pelo contrário, foi bom te encontrar. Fiz a proposta porque achei que seria legal tentar mudar a sua noite, pelo menos um pouco para melhor. E aí, você também mudou a minha. Obrigado.

 

Ino estava chocada com a quantidade de coincidências entre eles. Eram duas pessoas decepcionadas, lidando com o fim do ano de uma forma mais leve, sem nunca terem se visto na vida. A vida podia pregar cada peça, quando menos se esperava. Em simultâneo, lamentou mentalmente pela história contada. Kakashi parecia desconfortável após o relato, o que Ino entendia perfeitamente. Não era fácil se expor, fosse alguém conhecido ou não. Podia até ser mais tranquilo conversar com desconhecidos, mas nunca um mar de rosas. E foi por isso que ela suspirou pesadamente, pelos dois. 

 

— Ufa! Acabamos de deixar para trás essas energias que não combinam com o nosso astral. Toca aqui! — Ofereceu a palma da mão a ele, que retribuiu o gesto. 

 

Sorriram, cúmplices, trocando mais um olhar que falava mais do que muitas palavras jogadas ao vento. Se alguém pedisse para qualquer um explicar o que estava acontecendo ali, não saberiam nem como começar. A naturalidade com que interagiam era fluida, de uma maneira que nem Ino, nem Kakashi poderiam imaginar dividir com um desconhecido na rua. 

 

Ino tentava se convencer mentalmente de interromper aquele contato, ou corria sérios riscos de beijá-lo por impulso. Não queria ser dessas pessoas emocionadas que confundem as coisas, mas, ao mesmo tempo, não queria desviar. Kakashi era lindo e lhe passava sinceridade e uma energia boa.

 

Kakashi deixou que os olhos passeassem até os lábios levemente entreabertos de Ino, arrependendo-se em seguida. Eram bonitos demais para não causarem uma vontade absurda de beijá-los. Desviou, rapidamente, voltando o foco aos olhos azuis. Ostentando um meio sorriso, ele assentiu. 

 

— Estava pensando aqui. Que loucura, não? — Voltou-se novamente para as luzes à frente. — Olha quanta gente coexiste nessa cidade, e você tinha que ter entrado justo no meu táxi, com todas essas coisas em comum. 

— Sim. — Ino observou o movimento, as luzes acesas nos prédios, pessoas falando alto lá embaixo e sentiu a brisa fria bater no rosto. — Tinha que ser justo você, cruzando a avenida com o carro livre, com tantos táxis por aí. E olha que tentei chamar vários! — acrescentou. 

— Encontros e desencontros da vida — refletiu ele. 

— Nada é por acaso. — Ino esfregou as botas na grama. — A propósito, obrigada por ter decidido fazer a proposta, mesmo que não tenha sido tão confortável pra você. — Sorriu para ele, grata. — Você salvou a minha noite.

 

Kakashi sustentou o olhar de Ino e lhe lançou um dos sorrisos mais bonitos que deu naquela noite.

 

— E você, a minha. — Piscou, ainda sem tirar os olhos dos dela. 

 

Ino era impulsiva. Tão impulsiva, que não percebeu em que momento exato aproximou o rosto e encarou os lábios de Kakashi, pronta para beijá-los a qualquer momento. Ele não se afastou. Pelo contrário, fez o mesmo movimento de aproximação, de modo que as respirações de ambos se chocaram, os olhos alternaram entre se encarar e descer para a boca um do outro, enquanto a expectativa crescia ainda mais em torno da união. O desejo de ambos era quase palpável.

Ino pensou que fosse derreter com a forma com que ele olhava para a sua boca, como se precisasse colá-la à boca dele com urgência. Nem em mil anos imaginou estar ali, passando a virada do ano e por um triz de beijar o motorista do táxi que a levaria para casa. 

 

Kakashi não conseguia mais distinguir se aquilo era recomendável ou não, só sabia mesmo que desviar daqueles olhos e daquela boca seria uma tarefa quase impossível. Em nenhum momento ele havia pensado naquela intenção. Uma coisa era certa, Ino era irresistível, de uma forma que ia além do físico. Perdeu as contas de quantas vezes sorriu sinceramente ao lado dela e trocou coisas que jamais trocaria com um estranho. 

Um ruído alto e inesperado os assustou, tirando-os do foco.

Eram fogos de artifício, anunciando que logo seria a virada do ano. Desconcertados, separaram-se, tentando disfarçar o constrangimento. Ino foi a primeira a falar, com a mão sobre o peito. 

 

— Nossa! — Olhou ao redor e avistou os fogos extremamente coloridos pintando o céu. — Já é meia-noite?

 

Kakashi pigarreou, agradecendo por poder checar o relógio. Em outras situações, não estaria tão embaraçado. A grande questão era soar como alguém que premeditou tudo aquilo desde o momento em que a convidou para aquele lugar, o que não era verdade. Estava, inclusive, muito surpreso pelo desenlace de seu fim de ano.   

 

— Opa, quase! Faltam cinco minutos. Vamos abrir o bolo? — perguntou, agradecendo aos céus por terem um assunto pertinente para desviar da situação anterior. 

 

Ino sentiu o mesmo alívio. Não que ela tivesse pudores com relação a ficar com alguém naturalmente. A questão era a situação atípica na qual estavam inseridos, além do fato de que um quase beijo entre pessoas sem muita intimidade deixava mesmo o clima estranho, mais do que se realmente houvesse se consumado. 

 

 — Vamos! — respondeu, prontamente, alcançando a caixa do lado dela e colocando entre eles. — Adorei o conceito das velas no bolo. 

 

Kakashi riu. 

 

— Nossos fogos particulares — brincou, sorrindo de canto, enquanto apalpava os bolsos do casaco em busca de um isqueiro. 

 

Ino levou as costas da mão até o queixo e fez um semblante de satisfação, brincalhona. 

 

— Somos muito especiais. 

 

Depois, abriu a caixa com cuidado, revelando o pequeno bolo, no qual Kakashi espetou as duas velas cuidadosamente paralelas, ao centro. Ino conferiu o horário, olhando com expectativa para o homem. 

 

— Faltam dois minutos. 

— Dois minutos para a concretização dos pedidos na árvore e para a prosperidade. — Kakashi estendeu sua garrafa de refrigerante, propondo um brinde para Ino. 

— Pelo fim do dedo podre! — bradou ela, risonha, levantando sua garrafa e arrancando risadas do outro. 

— E pelo começo do dedo assertivo — completou Kakashi, piscando para Ino e juntando as garrafas. 

 

Ino sorriu, meneando a cabeça afirmativamente. 

 

— E pensar que a minha noite começou com uma garrafa de refrigerante e vai terminar com uma garrafa de refrigerante — refletiu, fitando o recipiente, após beber um gole da bebida. 

 

Kakashi reajustou a postura, apontando sua bebida para ela. 

 

— O importante é que desta vez foi com um brinde. 

— E com uma companhia muito melhor, aparentemente — disparou ela, sem desviar dos olhos dele.

 

Novos fogos estouraram, sinalizando aos dois que faltavam apenas vinte segundos para o novo ano. Kakashi se apressou em acender as velas, que produziram faíscas ensandecidas, serpenteando ao vento, que estava relativamente forte naquela altura e temperatura. Ino bradou: 

 

— Faltam dez segundos! Dez, nove… — Iniciou, seguida por Kakashi. 

 

Juntos, fizeram a contagem regressiva. Novos fogos anunciaram de vez a virada do ano. 

 

— Feliz ano novo, Ino! 

— Feliz ano novo, Kakashi! 

 

As velas continuavam faiscando, divertindo os dois. 

 

— Nossa, essas velas estão ensandecidas! — divertiu-se Ino. 

— É o vento — riu Kakashi. — Cuidado com as faíscas. 

 

Por entre os feixes de luz faiscante, trocaram um sorriso cúmplice, em seguida assistiram aos fogos, maravilhando-se com as explosões coloridas que enfeitavam o horizonte. Quando as velas finalmente queimaram, chegou o momento de comer o bolo. Ino analisou como poderiam dividi-lo, o que não foi muito difícil, já que se tratava de um bolo fino e pequeno, que poderia ser facilmente partido em duas partes. Após realizar a divisão, ela ofereceu uma metade a Kakashi, que pegou o seu pedaço e brindou com o pedaço dela. Ino soltou vapor pela boca, fitando o seu pedaço. 

 

— Achei esse bolinho tão singelo. — Mordeu o alimento, mastigando com atenção. — Nossa, que gostoso! 

 

Kakashi assentiu com a cabeça, satisfeito. 

 

— Uhum. — Após mastigar, prosseguiu. — Desejo que a prosperidade entre na nossa vida como esse bolinho simpático está entrando no nosso estômago — riu. — Brincadeiras à parte, desejo mesmo que o ano seja muito bom para nós. 

 

Ino também riu, deliciando-se com o bolo cozido. 

 

— Por um momento achei que você diria algo poético, não sei por quê. 

— Ué, o que pode ser mais poético do que comer? 

 

Ino tapou a boca para rir. 

 

— Você tem um ponto, Kakashi — admitiu. — Mas… gostaria de retornar aqui ao assunto das repetições de Ano-Novo. Se for mesmo assim, acho que nós dois teremos um ótimo ano, regado a bons encontros, brincadeiras divertidas, boa comida — salientou, balançando levemente o pedaço de bolo —, berros no topo de uma praça e cumplicidade. 

 

Kakashi concordou com tudo em um gesto de cabeça. Ergueu o dedo indicador. 

 

— O ano também me trará passageiros ímpares, tenho certeza. 

— E taxistas ímpares, no meu caso. Enfim, conseguimos salvar a noite. 

— É, conseguimos — concordou ele. 

 

Olharam-se, gratos pela companhia em uma noite que tinha tudo para ser monótona e, de certa forma, solitária. Todavia, juntos a transformaram no oposto.

Se alguém passasse por ali naquele instante, encontraria duas pessoas de costas sentadas em silêncio, apreciando a linda vista, que contava com um céu nublado pintado de manifestações coloridas acima dos pontos luminosos da cidade.  



“Ele aumentou o volume e mudou minha vida

(Eu acho que um motorista salvou minha noite)”





Após recolherem as embalagens, jogaram tudo na lixeira mais próxima e rumaram para o carro. 

Durante a viagem, Ino optou por voltar no banco da frente, o que agradou Kakashi. Estranhamente, aquela mulher havia preenchido sua noite como ele nunca havia imaginado. De repente, percebeu-se desanimado pela possibilidade de nunca mais a ver. Ao conhecê-la, deu-se conta de que estava pronto para se abrir novamente a conhecer pessoas. 

Ele nunca entenderia tais loucuras da vida, em que, em um minuto, ele estava trabalhando, e, no instante seguinte, estava parando o carro para uma pessoa que nunca havia visto na vida, mas que se tornou relevante em poucas horas. Por que o carro dele? Nunca saberia responder com exatidão àquela questão, mas não acreditava muito em acaso. Para ele, tudo tinha um motivo de ser. E agradeceu mentalmente pelo que quer que fosse. 

 

Ino voltou em silêncio, refletindo sobre a própria vida. Parando para pensar, o ex-quase-namorado não era tão relevante quanto ela acreditava. Claro, estava inclinada a namorá-lo, sentia-se bem perto dele, mas após descobrir as mensagens, percebeu que o que mais a machucou não foi o fato de que terminariam. Tinha muito mais a ver com a confiança que foi quebrada; com a sua autoestima, que sofreu diante daquela descoberta e com a situação a qual foi submetida. Tinha mais a ver com a decepção. No fim, o sentimento maior ainda seria construído, o que, com sorte, ela nem precisou vivenciar. Chegou então a certas conclusões, sendo elas: o grande livramento antes que o ano terminasse e o descontentamento que gerou tristeza, mas que logo foi estancada por aquela noite maluca na vida dela. Parecia tão premeditado que era difícil pensar naquela situação como uma simples coincidência. 

Por fim, estava ensaiando uma forma de se despedir do homem que a ajudou a entender que ela era a sua própria prioridade. A despedida não a deixava feliz, pois conhecê-lo havia sido uma grata surpresa do destino. A pergunta era: Deixaria passar? Foi envolvida nesses devaneios, que Ino nem percebeu quando chegaram ao endereço.  

 

— Entregue — anunciou Kakashi, trazendo-a à realidade. 

 

Ino se apressou a pegar a carteira, ao que ele interrompeu. 

 

— Não se preocupe com isso. Fica como cortesia e agradecimento pela companhia.

 

Ela se inclinou na direção dele, incrédula. 

 

— Não, eu insisto! Você ficou pra lá e pra cá com esse carro, gastando combustível e perdendo clientes. Vai fazer falta no seu mês. 

— Ino, não precisa. Eu convidei. E como te disse antes, esse não é o meu emprego fixo, é um extra. Não vai me fazer falta. 

 

Ino continuou segurando o dinheiro, incerta.

 

— Estou com vergonha, sentindo que sou a maior caloteira do universo. 

— Nah. — Kakashi abanou o ar com uma mão, dispensando o comentário. — Considere como um agradecimento, por favor. 

— Mas foi você que mudou a minha virada do ano para melhor. 

 

Kakashi cruzou os braços, olhando para ela de uma forma que quase a derreteu por dentro. 

 

— Assim como você mudou a minha. Essa noite me respondeu muitas questões internas e isso é o mínimo que posso fazer para agradecer. 

 

Quando Ino percebeu, estava lacrimejando. 

 

— Fico feliz. Porque queria agradecer de alguma forma por você também ter me proporcionado algo tão bom. Nunca vou me esquecer disso. — Tentou disfarçar a própria sensibilidade, abrindo o maior sorriso que conseguiu. — Posso te dar um abraço? 

 

Kakashi se inclinou na direção dela. 

 

— Claro! 

 

Um pouco sem jeito, abraçaram-se, lutando contra a quantidade de agasalhos que estavam vestindo. Kakashi aspirou o aroma que vinha dos cabelos dela, sentindo-se um homem sortudo por um primeiro abraço do ano tão gostoso. 

Com Ino não foi muito diferente. Pensou que estava louca, por sentir tanta conexão em um único abraço. Ademais, o homem era muito cheiroso. 

Com custo, separaram-se, trocando um sorriso levemente desanimado. 

 

— Bom, é isso. Muito obrigada, Kakashi. 

— Obrigado, Ino. 

 

Ao sair do carro, Ino o viu acenar e finalmente partir. Sentiu o coração apertar um pouco. Perguntou-se o porquê de ter deixado que uma simples conveniência afastasse alguém interessante. E daí que ele era alguém que prestou serviço para ela? Tecnicamente, o serviço em si só durou até ele fazer o convite, já que no final, nem mesmo pôde pagar. Quantas pessoas não se conheciam numa confusão das circunstâncias? Ino sabia de várias histórias. Agora, ficaria sem saber o que seria se tivesse tomado a iniciativa de pedir ao menos o número dele. 

Parada na porta do prédio onde os amigos moravam, finalmente tocou o interfone e aguardou que abrissem o portão. Abraçou a si mesma, pensativa. Checando as fotos do celular, rememorou a noite que tiveram, sorrindo ligeiramente. Foi quando lembrou que não havia passado as fotos para Kakashi, fazendo uma careta de desânimo. “Droga, Ino!”, praguejou mentalmente. Entretanto, o sermão mental durou pouco, pois, em um estalo, lembrou-se do perfil dele que havia encontrado nas redes sociais. 

 

— Ino? — perguntou uma voz ao interfone. Era claramente de Shikamaru. 

— Isso, Nara! 

 

Em um clique, o portão se abriu e ela já ia se preparando para avançar, quando ouviu um barulho de carro na rua silenciosa. Ino olhou para trás e lá estava ele, saindo do veículo e correndo até ela. Não teve coragem de dizer nada, então aguardou que ele falasse. Kakashi pigarreou, antes de começar. 

 

— Desculpa, mas rodei o quarteirão pensando no que os meus amigos diriam se soubessem de tudo isso… e baseado nas coisas óbvias que eles falariam, cá estou. — Com as mãos, evidenciou a si mesmo, arrancando um riso baixo de Ino. — Acho que seria um desperdício nunca mais a gente se falar. Está afim de passar o seu número? 

 

Ino ajustou o gorro, aproximando-se mais dele. 

 

— Não conheço os seus amigos… mas posso seguir esses conselhos sábios deles e te pedir um beijo? — perguntou, enquanto trocavam respirações com vapor. 

 

Kakashi não respondeu. Apenas se aproximou e envolveu a cintura de Ino, selando-lhe os lábios na sequência. Enquanto a apertava de leve, sugou e beijou com paciência os lábios que admirou a noite toda, tanto que quem tentou introduzir a língua primeiro foi ela. 

Ino enlaçou o pescoço de Kakashi, subindo uma das mãos até os fios macios dele, acarinhando-os. Era engraçado como o beijo não demorou a encaixar, mais um sinal de que ela havia tomado a decisão certa. Explorou com vontade cada espacinho que sua língua podia tocar, roçar e trocar carinho. Desceu as mãos até as costas escondidas pelos tecidos sobrepostos, abraçando-o, enquanto ele a puxava ainda mais para si. 

Kakashi mordeu levemente o lábio inferior de Ino, passando a língua em seguida, antes de voltar a introduzi-la na boca dela. O beijo deles tinha sabor de bolo cozido da prosperidade, o que o fez rir mentalmente, chegando à conclusão de que o ano já havia começado bem. Ino era intensa, de modo que o corpo acompanhava a euforia dela em aprofundar o beijo. Após alguns minutos naquela interação, separaram-se, ofegantes. 

Ino riu, enfiando o rosto no peito dele, aproveitando para aspirar com vontade o cheiro bom que ele exalava. 

 

— Ai, Kakashi. O que foi essa virada de ano? 

 

Ele a abraçou, beijando-lhe o topo da cabeça. 

 

— Eu sinceramente não sei, mas gostaria de investigar. 

 

Ino se afastou, pegando o celular. 

 

— Ainda bem que você veio pedir meu número, porque esqueci de te passar as fotos. Era nisso que eu estava pensando quando você voltou — confessou, omitindo a parte em que lembrou das redes sociais.

 

Kakashi riu. 

 

— Estávamos alinhados, então. Saí daqui pensando em todos os contras de te perder de vista. Então, resolvi arriscar, preparado para tocar em todos esses apartamentos. — Tampou os olhos, balançando a cabeça negativamente. — Arriscando levar o maior fora de ano novo já vivido. 

 

Ino gargalhou, imaginando a cena. 

 

— Acabei de imaginar o Choji ou o Shikamaru te atendendo. Sério, teria sido hilário. 

— Que bom que não precisei me humilhar para pelo menos… — analisou, olhando para cima — … vinte apartamentos? 

— Algo assim — respondeu Ino, fazendo bico e sorrindo ao mesmo tempo. — Mas independente da humilhação, pelo menos eu ficaria impressionada e o desfecho continuaria sendo esse beijo. 

 

Após a troca de telefones, beijaram-se novamente para se despedir, incapazes de dizer como é que tudo foi parar naquela cena em que encaixavam perfeitamente nos braços um do outro. Dali em diante, poderiam dar continuidade àquele primeiro e imprevisto encontro, desta vez, conscientes de que dariam um passo cauteloso em busca do que pediram para o novo ano. No entanto, a ideia de que esses passos fossem conjuntos trazia tranquilidade. E esperança de novos dias tão agradáveis, respeitosos e cúmplices quanto aquele que deu início a tudo.



“Eu sinto as palavras, uma voz, secando meus olhos

Eu acho que um motorista salvou minha noite”

 


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Notas finais do capítulo

A quem chegou até aqui, fica o meu agradecimento! ;)

caso queiram dividir impressões, sou toda olhos e ouvidos ♥



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