A Fada e o Caçador escrita por Sorima


Capítulo 2
Aposta


Notas iniciais do capítulo

Seja bem vindo, Max Lake, a mais essa estória! Gratidão por acompanhar!

Boa leitura!



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Uma voz parecia chama-lo e crianças pareciam rir ao seu redor. Avançava determinado, não sabia de onde teria surgido aquele sentimento de urgência, quem era ou para onde ia. Entretanto, aquele era um compromisso importante, não podia faltar. Estava lento. Olhou para baixo e viu: em uma das mãos o machado e na outra o arco. Algo estava errado. Os risos amentaram em meio a uma floresta. Engolindo em seco seguiu em frente, direto para os olhos gigantes que o encaravam.

Grunhiu, esfregando a mão pelos olhos e cabelo para se acordar. A luz pálida entrava pela janela. Kael jogou as cobertas longe e sentou-se na cama. Ainda meio grogue de sono espreguiçou-se e levantou.

— Mas que droga... – disse ao ver a cama vazia o amigo.

Tinha dormido demais. Depois de rapidamente resolver suas necessidades colocou a roupa e pegou as ferramentas que iria precisar e desceu, após trancar o quarto, para a área do bar. Ryan estava sentado em uma mesa com uma caneca fumegante, pão, queijo e um mapa aberto, o qual estudava atentamente.

— Bom dia. – cumprimentou distraído quando Kael se sentou.

— Podia ter me acordado. – o caçador o censurou pedindo mais uma caneca para o barmen.

— Eu tentei, você estava dormindo igual uma pedra.

Isso era estranho, Kael franziu a testa. Normalmente ele não dormia tão pesado, ainda mais em uma região desconhecida. Contudo, o fato de ter perdido a hora explicava a sensação de estar atrasado. Encheu a caneca recebida com café e tomou um gole, era melhor do que a cerveja. Comeu o desjejum enquanto Ryan lhe mostrava as áreas no mapa, apontou:

— Vamos nesse ponto aqui, parece que tem um acesso mais fácil para os cavalos, mesmo puxando uma carroça.

— Hum. Achei que estivesse vindo atrás de uma árvore mais velha. – comentou Kael.

— Você vai ver que mesmo nessa borda as árvores são suficientemente grandes. – o amigo retrucou.

— É?! E como sabe?

— Vai ver depois que terminar o café. Ontem já estava escuro quando chegamos.

E Kael realmente viu, boquiaberto, o tamanho das árvores gigantes que ainda se encontravam a uma boa distância do vilarejo. Só não às tinha visto antes pois chegaram ali pelo caminho mais baixo das montanhas. Ainda abismado, o caçador se virou para Ryan e sussurrou, a fala marcada pelo vapor que saia da boca:

— Você pretende cortar uma dessas?

A base podia ser facilmente bem mais larga do que uma casa, na verdade tentava imaginar quantas famílias poderiam viver dentro de só um tronco daqueles.

— Nã... Vou com alguma que esteja mais na borda, são mais jovens e também menos grossas, ou não terminarei nem com toda a minha vida aqui. Venha cuidar dos cavalos ou não sairemos hoje. – Ele chamou.

Balançando a cabeça, Kael foi atrás do colega, os cavalos então foram escovados e alimentados antes de finalmente colocarem as selas e os protetores de frio, e os montassem.

— Eles terão mais tempo para descansar do que nós, então não precisamos nos preocupar. – Ryan falou. – Além disso, eles devem achar alguma grama na neve, já que estamos perto do fim do inverno.

Os cavalos seguiam em um trote lento enquanto eles se dirigiam para a trilha que seguiriam. O arco e a aljava estavam bem protegidos do ar gélido da manhã e o machado tinha as lâminas protegidas. Mesmo assim, Kael reparou, algumas pessoas notavam o machado e então arregalavam os olhos, os olhavam com censura e seguiam resmungando. Só lhes restava torcer para que não estivessem os amaldiçoando. O caçador já ouvira os boatos: a Floresta atraia apenas os mais distantes, seus vizinhos mantinham uma distância temerosa dela, mesmo que essa não exigisse nada em troca nem os ameaçasse.

O som dos cascos amassando a neve era um bom sinal. Os jovens continuaram seguindo com cautela por pouco mais de uma hora até chegarem na orla. Chegando no destino, Ryan finalmente desmontou e pôs-se a observar admirado as árvores a sua volta.

— Uau...

— Acha que termina em uma semana? – Kael perguntou.

— Talvez em duas. Eu realmente não esperava isso.

— Então, mãos à obra...

O amigo já partira na direção das árvores batendo para ouvir se era oca, analisando a casca e para onde se estendia a sua copa, se tinha frutas ou galhos secos, ou se talvez algum animal morasse nelas. Enquanto isso o caçador retirava as ferramentas das selas e liberava os cavalos para pastarem. Finalmente pegou o arco, encaixando a corda, e a aljava, colocando-a nas costas. Voltou para perto de Ryan carregando o machado. O amigo marcava a árvore escolhida com um punhal.

— Vou começar a parte chata para você agora. – avisou estendendo a mão para o machado e agradecendo com um menear de cabeça. – Se quiser, fique à vontade para fazer a guarda, e talvez o almoço também.

Kael ergueu uma das sobrancelhas. Não o tinham avisado de que iria cozinhar. E então as batidas secas do machado começaram. Observou o amigo por apenas alguns segundos antes de concluir que seria melhor se ocupar antes que Ryan o fizesse bater na árvore também.

Se afastou a uma distância em que ainda poderia vê-lo e socorre-lo se necessário e começou a buscar rastros na neve, qualquer animal que atravessasse o seu caminho seria o almoço. Ou assim pensou. Ouviu um ‘tuc’ seco atrás das árvores e em um movimento fluido pegou uma flecha da aljava e encaixou-a no arco, reconheceria aquele barulho em qualquer lugar; lançara muitas flechas em pedaços de madeira. E o que viu saindo de detrás da árvore o fez arregalar os olhos: um coelho marrom. Atirou nele sem hesitar, errou-o.

— Ei! Ele é meu! – um rapaz magricelo saiu carregando um arco já pronto para atirar.

O que fez, dessa vez acertando o coelho que pulava para longe.

— Muito bom. – Elogiou Kael se aproximando.

Não teve resposta, apenas o olhar apavorado e fixo do rapaz que parecia ter paralisado.


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Notas finais do capítulo

E na borda da Floresta dos Ecos... Que terror que já os ameaça?