A Fada e o Caçador escrita por Sorima


Capítulo 1
Ryan e Kael


Notas iniciais do capítulo

Curiosidade: Esta estória foi originalmente inspirada pela música The Willow Maid (Erutan), mas com a chegada do desafio adicionei Fukuro à lista de inspirações, ela anda sendo aquela música chiclete na minha cabeça.

Boa leitura!



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A vila Anã era rústica, pequena e cheia de sujeitos desconfiados. A fonte de renda que chegava ali vinha dos viajantes, entusiastas e uma ou outra caravana que se arriscava por ali, como muitos diziam, no pequeno vilarejo que parecia ter saído da terra próximo a uma floresta realmente excêntrica.

A inconfundível Floresta dos Ecos, a inspiração de bardos e empolgação dos mais aventureiros. A floresta que atraíra os dois jovens indivíduos que agora chegavam na mesa da taberna:

— Talvez tenhamos feito mal em vir? Todos parecem nos ver com maus olhos. – o caçador sussurrou apertando o arco enquanto olhava em volta.

— Que nada, é por nossa causa e de todos que vêm aqui que essa vila ainda existe. Longe de tudo, eles deviam é nos agradecer por virmos aqui. – o outro lhe respondeu despreocupado, deixando o cabo do machado encostado na mesa.

Vendo o amigo sentar-se e se recostar satisfeito no encosto da cadeira ele apenas se resignou a suspirar e se render. O caminho até ali não tinha sido fácil e sua musculatura dolorida realmente estava precisando de um descanso.

— Como que você pode estar tão tranquilo, Ryan? – perguntou indignado, ainda no tom baixo. – Quer dizer, você ou é muito corajoso ou muito tolo para insultar quem nos recebe.

Ryan deu de ombros, indiferente.

— Essa é a pura e simples verdade, Kael. Eles não devem se ofender por conta disso.

O caçador soltou outro suspiro exasperado. Aquela sinceridade grosseira poderia custar caro um dia, pensou.

— Você parece tenso, meu amigo. Talvez o trabalho esteja sendo puxado para você? Vou ver se eles servem alguma coisa por aqui.

— Não está. – Corrigiu, mas o colega já tinha levantado e ido atrás do barmen, o único que parecia estar ali para ouvir os pedidos.

Passou a mão pelo cabelo olhando em volta mais uma vez. Dois rapazes mais jovens discutiam há algumas mesas de distância, fora eles uma mulher estava em outra mesa com o olhar distante. Talvez Ryan estivesse certo, não precisava ficar com a guarda tão alta. Apoiou o arco na lateral da mesa e movimentou os ombros e o pescoço para distencionar a musculatura rígida antes de se recostar de olhos fechados.

A viagem até ali tinha sido longa e a volta provavelmente seria o real desafio. Ryan tinha aceitado uma aposta: ele ganharia a madeireira do falecido pai se cortasse uma das árvores que compunham a antiga Floresta dos Ecos, e Kael foi contratado para lhe servir de segurança na viagem. Além disso, Ryan lhe daria 40% dos lucros da venda daquela rara madeira, o que seria suficiente para lidar com seus gastos por alguns anos.

— ... elho de pelagem marrom!? – ouviu a voz de um dos rapazes se sobressaltar.

— Shii... – o outro o censurou.

— Mas no inverno os coelhos tem a pelagem branca! – o garoto baixara a voz, porém o caçador ainda o escutava.

— E no verão eles tem a pelagem preta.

— Você tem certeza que não era outro animal, Lion? Ainda mais por ser perto da Floresta...

— Eu tenho certeza do que vi Artur. Estava caçando um coelho de pelos brancos e esse outro apareceu.

Fez-se silêncio por alguns segundos.

— Aquela floresta é sinistra... Vou me mudar daqui assim que conseguir algum dinheiro. – o garoto que Kael reconheceu como Artur falou fazendo o outro bufar.

— Eu quero é um par de luvas desse coelho marrom. Vou caçar ele amanhã.

— Não brinca!

E então o som de duas canecas batendo na mesa fez com que o caçador abrisse os olhos de novo, deixando a conversa dos garotos de lado.

— Você está mesmo cansado. – Ryan zombou satisfeito, um sorriso largo no rosto.

— Não é bem isso... Ah, deixa para lá. Vamos comer! – respondeu com o costumeiro tom baixo antes de tomar o líquido amargo da caneca e engoli-lo com dificuldade. – Eca!

O colega franziu o cenho antes de pegar a caneca e cheirar seu conteúdo.

— O sujeito do bar falou que a cerveja deixava a comida com um sabor melhor, só não esperava que pudesse ser desse jeito.

A comida foi servida um tempo depois e ambos se puseram a comer.

— Parece que hoje será a comida que vai ajudar a cerveja a descer. – comentou Ryan.

Os dois riram antes de acabar de devorar a refeição.


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Notas finais do capítulo

Os dois jovens conversam animadamente, distraídos e desatentos...
Mal sabem eles que os sussurros das árvores já estão se espalhando pelo vento, e também por...