21 HORAS ANTES DO GRANDE DIA

A música estrondava pelas paredes do Sixteen Candles Club, fazendo com que tudo tivesse que ser repetido mais de uma vez para que Lily conseguisse escutar. É claro que não ajudava o fato dela ser a única pessoa sóbria ali. Marlene simplesmente não fazia tanto sentido quanto achava que fazia.

Em poucas horas, Sirius e Remus estariam assinando um contrato vitalício de amor autorizado pelo estado. O que queria dizer que todos os amigos haviam se reunido em Hogsmeade novamente para que pudessem celebrar o casamento que havia sido planejado e desejado há tanto tempo.

Foi ideia de Dorcas trazer os dois de volta a Sixteen Candles. Não era a melhor boate da cidade (não havia tanta competição assim), mas tinha história, e naquele momento, a nostalgia era tudo que eles desejavam. Fora naquele mesmo lugar, uma vez lotado, que um Sirius de apenas 17 anos gritara a plenos pulmões que estava completamente apaixonado pelo melhor amigo.

— Quase tudo continua o mesmo – disse Emmeline, aproximando-se do ouvido de Lily para que conseguissem conversar. – A diferença é que agora podemos usar nossas identidades reais!

Ela apontou em volta, fazendo Lily se virar também, notando o quanto tudo era real demais. Dorcas ainda tinha as melhores ideias, Peter continuava dando em cima de garotas que não davam bola para ele, Marlene ainda bebia demais, pois sabia que Lily se manteria sóbria para cuidar dela e Sirius continuava o mesmo bobo apaixonado por Remus. Talvez ainda mais agora aos 30 anos do que quando tinham apenas 17.

Os noivos estavam agarrados dançando quando a música simplesmente parou. A ruiva se voltou para o palco, nem um pouco surpresa ao ver James Potter pegar o microfone do DJ. Como Emmeline havia dito, tudo continuava igual. Especialmente James. Sempre querendo toda a atenção para si. 

— Boa noite, Hogsmeade! Sinto muito parar a música assim, mas...

— Vai, Cannons!— ouviu-se um grito solitário após todo o local ficar em silêncio para ouvir James. Lily revirou os olhos no mesmo momento. 

— É melhor você trazer a taça para casa este ano, Potter! – gritou outro.

James abriu seu melhor sorriso, gesticulando para que os homens parassem de falar.

— Vocês sabem que eu vou – respondeu. – Porém, eu estou aqui por outro motivo. Hoje é a despedida de solteiro dos meus dois melhores amigos da vida inteira. Há doze anos, neste mesmo lugar, quando o velho Abbot ainda não havia feito essa reforma toda e isso aqui parecia um maldito caldeirão furado, um deles se declarou pela primeira vez.

— Primeira vez de muitas! – interrompeu Marlene aos risos. 

Sirius revirou os olhos enquanto James parava para que todos rissem antes de continuar como se estivesse em um stand-up.

— Detalhes! – disse ele. – O importante é que aconteceu bem aqui. Estávamos juntos antes e estamos agora. Não consigo expressar o quanto sou grato por ter todos vocês comigo. Amo vocês dois mais do que posso colocar em palavras. E para provar isso, e também que sou o melhor padrinho do mundo – completou, passando o olhar rapidamente por Lily – quero que vocês revivam esse exato momento. Sem o gay panic do Moony, é claro. Apenas como duas pessoas que vão se casar em mais ou menos… – ele olhou no relógio rapidamente –  21 horas. Caramba, menos de 24 horas! – James balançou a cabeça, um sorriso grande e sincero no rosto – O ano era 2010 e Jason Mraz era o momento! Aos noivos! – James levantou o copo que segurava e todo mundo que estava no local o imitou, até mesmo Lily. Os primeiros acordes de Lucky começaram a tocar. Remus arregalou os olhos imediatamente.

— Não acredito! 

James, que já descia do palco, deu uma piscadela para o amigo.

Ele caminhou em direção ao bar enquanto os noivos se deixavam levar pela melodia e voltavam a ficar presos apenas um ao outro. James parou próximo a ruiva, pedindo um refil do seu copo de cerveja.

— De onde você tirou essa música?

James demorou um segundo inteiro para olhar de volta a Lily.

— É a música deles. Estava tocando na noite em que Sirius surtou e gritou que estava apaixonado pelo Rem. 

— Eles têm um milhão de músicas.

— Nenhuma tão especial quanto essa – James sorriu presunçoso. – Não para o Remus, pelo menos. Acho que foi o Jason Mraz que fez o Remus aceitar a declaração daquele dia. Foi um momento e tanto. 

— Você lembra?! Como você se lembra disso? Faz mais de 10 anos! Eu entendo porquê eles lembram, mas você?

James deu de ombros e virou o corpo de cerveja que estava na sua frente antes de olhar para Lily.

— Acho que aquele dia se tornou um pouco memorável para mim também.

A ruiva franziu o cenho sem entender. James a olhava como se esperasse que ela se lembrasse também, que entendesse a mensagem implícita em suas palavras. Por um momento, pensou que James estava falando sério, mas então seu sorriso arrogante voltou ao seu rosto e Lily involuntariamente parou de levá-lo a sério.

— 1x0 para mim, hein?

Lily revirou os olhos. 

— Acho que a última queda em campo prejudicou um pouco seu cérebro tão pouco desenvolvido, Potter, mas isso é um casamento, não uma competição.

James se inclinou, aproximando-se de Lily. Seus cabelos escuros caíam na sua testa e seus olhos brilhavam um pouco mais naquele momento.

— Tudo com você é uma competição, Evans.

— Vê se cresce, Potter – Lily revirou os olhos, pegando o próprio drink e se afastando.

Poucas pessoas conseguiam tirar Lily Evans do sério como James Potter. Talvez fosse o fato de conhecê-lo há mais de dez anos e ter visto absolutamente todas as fases dele. Lily viu James provocar colegas de sala por nada, o viu magoar garotas como se elas fossem apenas passatempos e não pessoas de verdade. Também viu quando ele amadureceu aos olhos do mundo, indo para a mesma faculdade que ela lutou para entrar apenas por saber jogar futebol. Viu quando ele adiantou todas as disciplinas para se formar mais rápido e jogar nos grandes times de futebol internacionais enquanto era jovem, pois não queria desistir da universidade por algum motivo que ela nunca entende. Assistiu James se mudar para Barcelona, Paris e, então, voltar para casa. Viu os prêmios que ele ganhou no caminho, as pessoas que o cercavam e o quanto ele gostava disso.

Em contrapartida, James também a conhecia, mesmo que Lily não gostasse de admitir isso. James viu Lily ter seu coração partido pelo seu melhor amigo da época ao descobrir que ele não era uma pessoa muito boa, a viu tirar as notas mais altas e ser o sonho de todos os pais de Hogwarts, até mesmo dos seus. Estava lá quando ela se tornou líder de torcida e fazia cara feia quando o treinador propositalmente a entregava a camisa 10 que brilhava com o nome "Potter" para que ela torcesse por ele. James foi o primeiro (e talvez único) a notar a fase emo de Lily, onde ela queria ser diferente e sozinha mesmo que sempre tivesse sido o oposto disso. Sempre sendo a mais querida do grupo, a primeira a ser convidada e a última pessoa da festa que desejavam que partissem. Estava ao seu lado na universidade, raramente encontrando a ruiva nas arquibancadas em dia de jogo, e também estava em sua festa de despedida, pouco mais de 4 anos atrás, quando ela partiu para a Itália, onde conseguiu seu título de doutora em Arquitetura e Urbanismo. Se tornar uma especialista em sua área fazia parte do seu “Plano de 10 Anos” para que pudesse voltar para casa e dar aula na Universidade de Cambridge, como ela sempre havia sonhado. 

Eles se conheciam. Sempre estiveram lá. Afinal, como não estariam? Desde que se entendiam como pessoas, sempre foram os oito: James, Remus, Sirius, Peter, Lily, Marlene, Dorcas e Emmeline. Nenhum dos outros se importava se ambos não iam com a cara um do outro. E daí se Lily achava James egocêntrico, metido, mulherengo e Muito Rico e Famoso Para Uma Pessoa Normal, e especialmente, para seu próprio bem? Estavam presos no mesmo círculo e nenhum dos dois abriria mão disso. 

James não se lembrava quando essa implicância havia começado. Provavelmente no ensino médio, quando ele e um dos melhores amigos de Lily se odiavam. James nunca fora uma pessoa muito paciente. Não sabia não reagir quando Lily o provocava quando eram adolescentes, sempre colocando sua inteligência em dúvida por ser jogador de futebol. De qualquer forma, James sabia que com Lily era melhor não tentar ultrapassar a linha.

Não de novo.