Lily estava parada na entrada do salão. De onde estava conseguia ver perfeitamente o sorriso brilhante que Remus entregava unicamente a Sirius enquanto dividiam uma dança lenta. Haviam dezenas de pessoas em volta dos dois, e ainda assim parecia serem apenas os dois e mais ninguém. Era isso que mais gostava em casamentos. Algumas pessoas gostavam da festa, outras da comida e dos potenciais solteiros no recinto, mas Lily gostava de comemorar o amor dos noivos.

Especialmente quando um deles era seu melhor amigo.

Especialmente quando ela passou pelas piores 18 horas de sua vida para que aquilo acontecesse.

Enquanto Sirius sussurrava algo no ouvido de Remus, fazendo o marido rir como o bobo que era, Lily só conseguia pensar como todo o trabalho havia valido a pena. Sirius e Remus passaram meses organizando o casamento perfeito para os dois. “Não é grande” diria Remus apenas para Sirius acrescentar “e nem pequeno” logo depois. Meses de organização destruídos em um passe de mágica que possuía a forma de três horas de desastre natural e coincidências tão absurdas que Lily sabia que nunca poderiam ser explicadas mesmo que quisesse, e Lily Evans, a pesquisadora do grupo, queria muito poder explicá-las.

A questão é que tudo havia acontecido de uma vez: uma chuva gigantesca e inesperada havia deixado o jardim perfeito e agradável da mansão da família McKinnon inabitável para um casamento. Aparentemente, o vizinho havia construído sua casa de maneira errada e a chuva forte fez com que o muro desabasse. Ninguém se machucou, mas o quintal ficara destruído e levaria dias até que tudo fosse restruturado. Essa mesma chuva também havia feito o teto da confeitaria favorita de Sirius cair e destruir metade do bolo de três andares que o mesmo havia levado duas semanas e meia para escolher o sabor ideal (que, no fim das contas, era apenas chocolate de avelã). Como se isso tudo não fosse o bastante, o carro de entrega das flores deslizou na estrada acertando a cozinha de um estabelecimento que, àquela altura, ao receber a ligação, Lily apenas sabia que apenas poderia ser o buffet que Remus havia escolhido. E era.

Três meses de organização destruídos em um período de três horas. Lily, como madrinha, ficou desesperada, por um minuto inteiro achou que tudo havia acabado. Se fosse o seu casamento teria definitivamente cancelado sem pensar duas vezes. Mas não era. Era de Remus. Como poderia dizer ao melhor amigo que seu casamento havia sido arruinado? A resposta era clara: ela não podia. E James Potter também não.

Inevitavelmente, o olhar de Lily abandonou os noivos e o encontrou em meio as pessoas. James estava sempre sendo o centro de atenção onde quer que chegasse. Seu terno estava perfeitamente alinhado e ele carregava a rosa-branca de Sirius no bolso. Ele parecia ter feito seu melhor para controlar o cabelo revoltado, mas não parecia ter obtido tanto sucesso assim. Lily sabia que não era preciso, o cabelo como era combinava com ele.

Se havia outra pessoa no mundo tão determinada quanto ela para dar o melhor casamento possível para Remus e Sirius, essa pessoa era James Potter. O infame, arrogante, presunçoso e praticamente intolerável James Potter.

18 horas foi tudo que eles tiveram para fazer a cerimônia acontecer. Lily tinha certeza que metade do seu cabelo tinha caído de tanto estresse, havia roído todas as unhas como fazia quando criança devido à ansiedade e podia presumir com tranquilidade que metade dos estabelecimentos de Londres colocariam seu nome em uma lista de clientes proibidos depois daquele dia. Haviam sido, sim, as piores 18 horas de sua vida. Ela sabia disso.

Mas então, James Potter se virou e seus olhares se encontraram. Os olhos castanhos do outro pareciam desvendar cada coisa que Lily se recusava a dizer em voz alta, exatamente como fizeram nas últimas horas. E como em um passe de mágica, um desastre natural e uma combinação esquisita de coincidências e ideias absurdas, Lily começava a pensar que talvez não tivessem sido as piores 18 horas de sua vida.