Capítulo 10

Já passava das nove da manhã quando Grissom preparava o café. Sara ainda dormia profundamente e ele aproveitava para se atualizar das notícias enquanto preparava as panquecas preferidas da esposa. Foi com surpresa que ouviu a campainha tocar. Com o cenho franzido e a expressão confusa, o entomologista desligou o fogão e foi atender a porta.

Dois visitantes encontravam-se na soleira, ambos com pastas e papéis nas mãos. O mais alto era calvo e vestia um terno impecavelmente alinhado, enquanto o outro, grisalho e de óculos, vestia roupas comuns de trabalho. 

—Russel, Ecklie… bom dia! 

Ecklie olhou Grissom de cima à baixo e não escondeu um riso de surpresa ao vê-lo com um confortável pijama xadrez na cor azul, cabelos ligeiramente bagunçados e chinelos confortáveis. Percebendo o olhar, Grissom se afastou para que eles pudessem entrar.

—Sentem-se comigo, estou preparando o café da manhã.

Os dois agradeceram e se acomodaram, recebendo xícaras com a bebida forte. 

—O que aconteceu? Algum problema com o caso? -Perguntou preocupado.

Russel e Ecklie se entreolharam, mas foi o sub-xerife quem tomou a palavra:

—Não, Gil. Viemos por outro motivo.

Grissom olhou de um para o outro e percebeu as intenções antes mesmo de serem ditas.

—Não, Conrad. -Ele foi enfático. -Eu vim apenas ajudar, e você sabe disso.

—Com a saída de Russel, eu pensei…

Grissom o interrompeu se levantando e voltando para suas panquecas no fogão.

—Chega de crimes, Conrad. -Seu tom era firme. 

Ecklie e DB se entreolharam mais uma vez, mas antes que pudessem dizer alguma coisa, passos chamaram a atenção deles. Sara entrava na sala com roupas confortáveis, robe de seda e os cabelos presos em um rabo de cavalo.

—Bom dia! -Ela os saudou e recebeu cumprimentos de volta. -Ouvi vozes diferentes… Vieram nos fazer companhia para o café? Gil faz panquecas ótimas.

Ela foi até o marido e o ajudou a colocar as panquecas quentinhas e a geléia sobre a mesa. Se acomodou ao lado de Grissom e fez com que os dois homens também se servissem.

—Na verdade, apesar das panquecas estarem apetitosas, viemos por outro motivo, Sara. -Russel esclareceu. -Pensamos que Grissom pudesse retornar para o laboratório em seu antigo cargo de supervisor da equipe.

O casal trocou um olhar cúmplice.

—Eu não vou voltar para o laboratório e bagunçar a vida profissional da Sara. -Gil foi enfático. 

—Mas não pensei nisso, Grissom. -Ecklie tomou a palavra. -Você seria o supervisor de Greg, Nick, Morgan, Julie e Sara. Todos eles.

Grissom o olhou desconfiado e surpreso, mas não encontrou argumentos.

—E como isso funcionaria, Ecklie? -Sara perguntou entre uma panqueca e outra.

A morena tentava a todo custo não expressar a esperança e a euforia que dançavam dentro dela. Ter o marido no mesmo turno que ela seria um verdadeiro deleite! Viveriam na mesma casa e compatilhariam de uma vida a dois efetivamente.

—Grissom vai liderar a equipe normalmente, fazer avaliações e relatórios. Eu vou acompanhar de perto e se algo puder ser questionado diante de um júri, vou fazer pessoalmente as avaliações. -Ele bebericou seu café e reprimiu um sorriso ao ver que Grissom o olhava atento. -Além disso, já recebi o aval da Xerife, que ficou muito entusiasmada. E tenho certeza que não vou precisar intervir em nada se Gil mantiver a mesma postura que teve quando vocês dois namoravam escondidos.

Grissom olhou de um para o outro e terminou com os olhos em Sara. O brilho no olhar dela era indescritível e o seduziu naquele instante. Não poderia negar nem para si mesmo o quanto fora satisfatório estar ao lado de sua aluna preferida mais uma vez. Aquilo havia reacendido aquela paixão pela resolução de mistérios que há muito ele acreditava que não existia mais. Com um suspiro resignado, perguntou:

—Então trabalharíamos no mesmo turno e até nos mesmos casos?

—Isso mesmo. -Ecklie enfatizou. 

—Poderíamos tirar folgas juntos?

—Acho que podemos fazer uma escala que fique boa para vocês. -Respondeu.

—Miss Pig voltaria para a minha sala sem comentários maldosos?

Conrad arqueou uma sobrancelha e respondeu revirando os olhos:

—Ela, o alarme de peixe barulhento e toda aquela sua parafernália esquisita, Gil!

Grissom trocou outro olhar com a esposa e por alguns segundos tiveram um diálogo mudo. Com um sorriso de lado, ele cedeu:

—Preciso de duas semanas para resolver as pendências que deixei no Peru. -Ele sorriu ao sentir Sara apertando sua mão por baixo da mesa. -Vou voltar para o CSI.

OoOo

Duas semanas passaram na velocidade da luz. Foi o tempo perfeito para Russel finalizar seus casos abertos e organizar suas coisas, liberando sua sala para o não tão novo ocupante. Sara, por sua vez, aproveitou uma folga e redecorou o lugar com a ajuda de Nick e Greg, fazendo com que a sala vazia retomasse o espírito de Grissom. 

O entomologista não conseguia conter sua excitação. A euforia por voltar, e agora com novas regras, quase não permitia que dormisse. Se sentia um jovem prestes a iniciar no primeiro trabalho dos sonhos. A ansiedade era tanta, que chegou ao laboratório horas antes de seu turmo começar, com a desculpa que queria se inteirar dos casos antes de distribuí-los.

A equipe aguardava animada na sala de descanso quando ele chegou. Um sorriso brincava em seu rosto bem barbeado quando ele começou a distribuir os casos:

—Boa noite, crianças!

Os peritos o saudaram animados.

—Temos uma noite cheia hoje! Sara e Greg, vocês têm um 419 em um motel ao sul da Strip. Morgan e Finn, vocês ficam com um triplo em Henderson. Nick, você vem comigo… Temos uma verdadeira colônia de insetos em um corpo desovado no deserto. Bom trabalho, crianças!

Antes de partir, Grissom trocou um olhar cúmplice com a esposa, que disse sem emitir som algum:

—Bem vindo de volta, querido.

Ele sorriu para ela e acenou com a cabeça. Assim, seguiram para mais um turno cheio de casos no departamento de perícia de Las Vegas.