Estavam perto agora, assustadoramente perto. Tentando controlar as batidas do seu próprio coração, Rose abriu a janela do fusquinha, deixando o vento quente soprar em seu rosto. Godric’s Hollow, a velha vizinhança em que crescera, não aparentava ter mudado. Estava tudo ali: o céu cinzento, as casas de tijolinhos, as petúnias nas janelas e as árvores antigas. Até o aroma parecia igual ao de suas lembranças: uma mistura de grama cortada e de biscoitos assando no forno. Talvez fosse apenas a sua imaginação enganando-na... ou talvez o tempo só tivesse passado para ela. No fundo, sabia qual hipótese era verdadeira.

No banco do motorista, Hugo tagarelava, energicamente. Rose, contudo, mantinha-se perdida em pensamentos e apenas resmungava de volta. Com um suspiro, desbloqueou a tela do celular e abriu o Instagram, vendo sua última publicação, um stories de quando o avião pousou em Londres. Já havia mais de mil reações.

— E não se esqueça — alertou Hugo, quando finalmente entraram na rua de casa —, você precisa dizer que gostou.

Rose voltou-se para o irmão caçula, franzindo a testa.

— Não estava prestando atenção, estava? — riu. Ele não ousou perguntar o porquê da sua distração. Existiam muitas coisas não ditas a respeito do retorno dela. Coisas que eram apenas intuídas. — Você precisa dizer que gostou da lasanha de abobrinha do papai.

— Ah... — conseguiu abrir um sorriso.

— Não é ruim, só é... hipossódica, o que significa dizer que não tem gosto de nada — sorriu. — Papai agora decidiu se aventurar pela culinária saudável e vegana e ai de nós se reclamarmos. E... Rosita... — Hugo respirou fundo antes de continuar: — Não comente nada sobre a doença. Ele é forte, mas a mamãe... Tem sido difícil para ela.

— Deve estar sendo difícil para você também.

— Um pouco. Mas você está aqui agora, não? Pra ajudar.

— Sim, estou aqui — repetiu.