Nunca é tarde para recomessar - fremione escrita por Anna Carolina00


Capítulo 2
Wide Awake




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Já se sentiu como se tivesse vivido em uma eterna zona de conforto? Com os Weasley como uma segunda família, nunca estive realmente sozinha tendo sete irmãos e mais um pai e uma mãe à disposição. Desde o primário, ensino médio, aulas de direção e até mesmo ao tirar passaporte para ir fazer faculdade do outro lado do oceano. 

Lembro de meus pais estarem trabalhando no consultório até tarde quando eu era criança e precisarem que alguém me buscasse nas aulas de balé. Três cabeleiras ruivas diferentes estavam lá na porta, me aguardando para me acompanhar no metrô. Me sentia a segunda garotinha no meio daquele mar de ruivos, junto da Gina. É claro que nenhum garoto parecia ter coragem de me chamar para sair e eu, ingenuamente, não importava com isso, já que era esperado ter Rony como meu par para qualquer coisa. 

—Eu vou estudar astronomia… No Canadá. 

Foi a grande revelação do Natal de 95.

No fundo, eu sabia que precisava de espaço, de respirar sozinha… E só funcionaria há muitas milhas de distância. Já mencionei que também falo Francês?

Senti falta de todos, mas foi bom descobrir que conseguia me virar para sobreviver. E eu tinha Rony e suas ligações semanais, que logo se tornaram quinzenais. Depois de um ano, soava como um acordo silencioso que ligamos só quando algo interessante acontecia, o que não era tão frequente assim depois que entendi que biologia extraterrestre não parecia tão fascinante assim para todo mundo. Mas ainda tínhamos conversas que duravam horas e recarregavam minhas energias para as aulas do semestre. 

Cortando para o agora, de volta a Londres, enfim estando sozinha e vivendo uma independência que fui buscar tão longe… Me odiava por gastar esses últimos minutos antes de dormir pensando em como seria diferente se eu tivesse escolhido ficar, se ainda estaria com ele.

 

Yeah, I was in the dark

I was falling hard

With an open heart

(I'm wide awake)

How did I read the stars so wrong?

 

Não era justo com Fred. Saíamos algumas vezes na semana. Às vezes apenas para um chá no final tarde ou para fazer companhia ao outro na feira de domingo.  Era bom. Simplesmente bom.

—Caríssima senhorita astronauta — o ruivo começou a me ligar assim depois de lhe contar que já entrei em um foguete de verdade — Você está sendo intimada para mais um encontro com Fred Weasley!

—Onde iremos, senhor? 

Respondi segurando o aparelho no ombro enquanto organizava algumas listas de exercícios  para os calouros de Física. 

— Surpresa. Olhe em sua geladeira, deixei uma pista aí noite passada. Melhor não falhar ou vou ligar pro presidente do Canadá para revogar seu diploma.

 Eu ria pensando em como explicaria que não funcionavam exatamente assim, mas não importava. Fred havia se tornado um especialista em me fazer rir em qualquer banalidade. Encontrei um bilhete escrito "Quero dividir as estrelas contigo, Hermione"  e com coordenadas junto. Eu não sabia exatamente qual era o local, mas a coordenada 0 a oeste me deu uma boa sugestão… Afinal, era em Londres que o mundo se dividia em dois.

Dirigi para o Observatório Real de Greenwich carregando uma bússola. Minha grande curiosidade é como Fred havia conseguido as coordenadas, até conseguia imaginar ele entrando em uma biblioteca pedindo um mapa da cidade só para preparar essa brincadeira. Como não sentir borboletas no estômago?

 Achei que ele pudesse estar junto ao grande telescópio e me acompanharia na visita ao local, mas as coordenadas me fizeram descer a colina e seguir em direção aos arredores do Observatório. Com a lua cheia iluminando a grama verde, segui a linha que dividia o Leste e o Oeste do mundo e enfim vi um jovem sentado em uma toalha para piquenique. Ao seu lado havia um pequeno telescópio montado apontado para o céu.

—Planejando me dar um olho roxo de novo, Weasley? É um jeito estranho de começar um encontro.

Me referia a uma pegadinha. Fred e Jorge tinham uma luneta no quarto e quando crianças, Rony e eu costumávamos brincar com ela quando os mais velhos não estavam em casa. Uma noite, Fred colocou tinta preta no objeto e meu rosto ficou manchado como se eu usasse um monóculo. 

Rony riu por semanas da minha cara. Seu irmão, por outro lado, ficou tão preocupado comigo chorando que decidiu me dar uma permissão para usar a luneta. Só a Hermione, para a fúria de Rony.

Era estranho essa memória voltar à mente com tantos detalhes. Agora lembrava dos gêmeos obcecados com um projeto de um sistema solar giratório automático. Engenhoso. Brilhante.

—Juro que dessa vez não, Hermione, sem pegadinhas.

I'm wide awake

And now it's clear to me

That everything you see

Ain't always what it seems

(I'm wide awake)

Yeah, I was dreaming for so long

Sentei junto ao fabricante de brinquedos à minha frente e vi que o mesmo havia trazido uma cesta com torradas, queijos e doces. Havia uma garrafa de espumante e taças e enquanto nos servimos, ouvi o ruivo explicar o que havia de tão especial naquele lugar, naquela noite.

—Desde pequenos, Jorge e eu gostávamos de ver os gêmeos se despedaçarem do céu… Eu sei que é bobeira pensar assim, mas era o que entendíamos dessa chuva de meteoros saindo diretamente da nossa constelação! Quando nosso pai deu a luneta, nossa diversão passou a ser procurar o lugar perfeito para ver  as estrelas caírem de Gêmeos.

—Gemínidas, o nome.

Me arrependi de cortar a fala de Fred, mas acho que nunca vou saber controlar meu lado nerd… Uma vez sabe tudo, sempre sabe tudo. O bom é que consegui arrancar uma risada de Fred e ele sorrindo era basicamente o paraíso.

—Sim, claro que Hermione Granger já conhece o evento… Eu seria um tolo por achar que estava apresentando algo novo para você.

—Bem, eu nunca a vi deste lado do Atlântico.

Esse comentário pareceu animá-lo.

—Então é seu dia de sorte, porque aqui é, definitivamente, o melhor lugar do Leste  e do Oeste para se ver estrelas!

Depois de algumas taças de petiscos, de histórias de "Fred, o astrônomo" e minhas visitas a planetários gigantescos, nós nos sentamos próximos em posição para ver pelo telescópio. Tivemos sorte do céu estar limpo, era possível ver a olho nu a constelação de Gêmeos… Fred parecia uma criança com um brinquedo novo, me mostrando como sabia usar o equipamento e eu confirmava ou discordava de suas ideias mirabolantes para melhorá-lo. 

Da conversa para a contemplação. Então o silêncio. Estávamos próximos, sabia onde aquela sensação aconchegante iria nos levar. Um beijo rápido e sorrimos pelos olhos. Então outro, outro.  A sensação de estarmos sozinhos na madrugada revelava um lado ousado que eu sequer imaginava possuir.

Por fim, a culpa. Eu não devia pensar em Rony, mas aconteceu. Acontecia.

—Fred …

Devia ser crime separar um beijo tão bom, mas algumas coisas precisam estar claras. Rony foi minha muleta emocional, mesmo sem saber. Eu não podia correr o risco de fazer o mesmo com Fred. Preencher uma solidão involuntária com alguém que não pediu para carregar algo assim. Eu já fui fardo o suficiente para os Weasley por uma vida inteira.

Seu sorriso se apagou lentamente à medida que meus olhos soavam como culpados de um crime terrível. Então me olhou com ternura, como se pudesse nos transportar para o passado, onde eu era uma garotinha com rosto manchado de tinta pega em flagrante e ele era o garoto mais velho descolado, que andava de skate e pegava alguns biscoitos escondidos na cozinha para me fazer parar de chorar.

—Hermione. Pode falar. Eu não sou uma criança, posso aguentar um puxão de orelha de vez enquanto. O que fiz de errado?

—Não! Você não fez nada de errado! Eu só… Não sei se estou apressando muito as coisas. Eu namorei seu irmão por tanto tempo que, não sei, talvez esteja me precipitando. Ainda mais com outro Weasley. Como vou encarar seus pais? O que eles vão pensar de mim? O que seu irmão vai pensar? E Jorge! Eu tenho certeza que devia ter pedido a benção dele ou qualquer bobisse do gênero. E se der errado de novo? Não quero sentir que estou te usando para superar o Rony, mas também não posso fingir que já superei tudo tão rápido e…

Senti suas mãos cobrindo meus olhos e me guiando para deitar no gramado. Então minha mão foi posicionada sobre meu diafragma como se recebesse uma ordem: respire.

Inspira.

Respira.

Meu corpo arqueava com a entrada de ar e então relaxava. Segui aquele processo mais vezes até superar aquela pequena crise de ansiedade.

—Melhor?

—Melhor. Desculpe. E obrigada.

—Não quero te levar de volta para aquele pacotinho de nervosismo, mas preciso perguntar. O que quis dizer com superar tão rápido? Você e Rony não terminaram a meses? Pelo menos um ano agora em Dezembro, foi quando ele nos apresentou Luna ano passado.

Gelei. Precisava parecer tranquila para manter aquela mentira por Rony e sou reconhecidamente péssima com segredos.

—Eu… Não lido bem com términos. Ele foi meu primeiro namorado. Quando voltei, pensei — que estávamos juntos — que poderíamos voltar.

Seu rosto se encolheu tristonho.

—Esse é o problema? Ainda quer voltar com ele?

— Não! Digo, eu não sei… Definitivamente não quero voltar com ele. Mas as memórias voltam, sabe? Tudo que já vivi em um relacionamento foi com ele. Você se parecer só torna as coisas mais complicadas. Digo, para superar.

O sorriso voltou. Algo não se pode negar, nada se compara com o sorriso Weasley!

—Primeiro, eu sou muito mais bonito que aquele desengonçado. Nunca mais faça essa comparação, por favor. Segundo: não saiu com ninguém no Canadá? Sério mesmo? Você ficou 10 anos num país gelado como aquele sem… — meu rosto corado acenando negativamente foi uma resposta satisfatória —Céus! Hermione. Eu… Você não se mudou com 18 anos? Era uma menina praticamente.

Era sua vez de parecer constrangido com a descoberta.

Minha vontade era de bradar ao Leste e Oeste que eu fui estudar no Canadá, não transar, mas me mataria de vergonha no processo. Eu tive meus métodos para ficar satisfeita na época, mas agora me sinto arrependida pelo tempo perdido depois de notar que era a única preocupada com essa relação imaginária.

Essa lembrança me deixou enfurecida, como se precisasse descontar a raiva que sentia de Rony… De um modo saudável. E eu tinha ideias criativas no momento de como fazê-lo.

—Fred. Talvez essa conversa tenha me deixado irritada com você sabe o quê. Talvez precise liberar essa raiva e eu não quero parecer que estou me aproveitando de você, mas é exatamente o que quero fazer no momento.

Era isso. Não diria mais nada, restava receber uma resposta positiva… E ela veio com um beijo intenso que me puxava para perto, como se de alguma forma eu planejasse fugir.  

Bem… Eu não pretendia ir a lugar nenhum.

I wish I knew then, what I know now

Wouldn't dive in, wouldn't bow down

Gravity hurts, you made it so sweet

'Til I woke up on, on the concrete




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