La Belle Anglaise escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 27
26. Marcas Inapagáveis.


Notas iniciais do capítulo

* AVISO: ESSE CAPÍTULO CONTÉM CENAS QUE ALUDEM E RETRATAM ABUSO. SE ISSO DE ALGUMA FORME LHE INCOMODA OU TRAZ GATILHOS, NÃO SINTA-SE NA OBRIGAÇÃO DE LER.



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31|05|1784 Palácio de Hampton Court, Londres

 

— Irreverência? Como assim sua irreverência?— Nos jardins de Hampton Court, sentadas numa toalha jogando cartas, Lady Baster perguntou negativa a Lady Ricketts.

— Philip me acusa de não dar a devida importância ao sofrimento dos negros escravos.— Quase indiferente, Josephine respondeu. Mais afastada de suas damas, Katherine ouvia enquanto era pintada por Thomas Gainsborough.— E ainda ficou irritado quando eu disse que ele dá mais atenção a filantropia que a mim, e por isso não temos filhos.

— Pelos menos isso é fácil de resolver. Basta procurar conversar com sinceridade e tentar entender ambas as situações.— Grace, que havia trazido as crianças para o jardim, suspirou melancólica.— Já eu sofro de um mal maior. Não suporto meu marido, ele não é ruim para mim, mas tão pouco era o que eu queria.

E o que ela queria? Um príncipe encantado de armadura brilhante? Katherine negou e voltou seu olhar ao pintor, que apesar do barulho, continuava muito concentrado.

— Então por que teve dois filhos com ele?— Rindo irônica, Lady Monmouth perguntou e logo depois voltou a observar a pintura.— Acho que você deveria colocar mais forma no nariz da marquesa, Gainsborough.

Já era a sétima vez que ela dava sua opinião, Gainsborough nem prestava mais atenção. Louisa talvez se achasse uma Angelica Kauffman, apenas por saber pintar a óleo. Olhando um momento o pintor, Katherine sorriu docemente, ele deveria continuar o trabalho da forma como queria.

— Se filhos são o principal motivo de alegria, você e Lady Cottington são horrivelmente tristes.— Não deixando acabar assim, Josephine respondeu a cunhada.— Afina você só tem dois filhos, Louisa. Quer dizer então que meu irmão não te faz feliz?

Até mesmo a marquesa sorriu divertida e olhou para a baronesa Monmouth, que estava sem palavras. Ela havia sido pega. Mas rapidamente esse silêncio tornou-se ofensa:

— Claro que sou feliz, Josephine!— Então por que da afobação? As damas riram com as expressões da baronesa, que virou o rosto.— Não estaria com Peter se não fosse.

Novamente as damas riram, Lady Monmouth não deveria levar tão a sério essas brincadeiras. Mas, pelo que parecia, não acabaria nela essa conversa. A viscondessa Ricketts encarou Lady Cottington, e sinalizou para ela falar alguma coisa. A baronesa pensou um momento.

— Sou satisfeita com o que tenho. Não me falta nada, tenho o amor da minha filha e estou longe de ser destratada.— Parecia uma existência bem... infeliz. Lady Cottington tentou sorrir, mas foi melancólica.— Assim é a vida. Casamos e damos filhos aos nossos maridos. Umas fazem isso por amor, outras não. Algumas tem forças para buscar a alegria, enquanto a maioria simplesmente... desiste.

O dia estava claro e fresco, com o sol brilhando fortemente no céu, mas a tristeza e emoção de Lady Cottington... era tão penoso que até mesmo uma sombra depressiva formou-se entre as damas. Todas ficaram caladas, refletindo essas palavras. No final, tudo resumia-se no fato dos homens terem mais liberdade que as mulheres... Mas não era o momento para isso, Katherine voltou a encarar o Sr. Gainsborough.

Tudo rapidamente voltou a ser como antes, até mesma a tristeza de Lady Cottington "sumiu". Era melhor assim... o momento ainda não havia chegado. As damas voltaram então para suas distrações: cartas, leitura, observações e lanches. Pinturas ao ar livre eram um refresco agradável, principalmente quando Katherine poderia observar tão seus filhos.

Enquanto uma babá cuidava do pequeno Robert, outra observava Richard e Anne brincando. Os dois mais velhos estavam crescendo tão rápido, e pareciam tanto com os Tudor-Habsburg, logo o cabelo ruivo deles iria "desbotar" com certeza. Quanto ao caçula... era muito novo para identificar com quem parecia, se bem que Robert não tinha olhos Tudor-Habsburg.

— Uma amiga da governanta de Courteney House queria um trabalho.— Interrompendo o silêncio, Maria comentou, e não chamou atenção alguma.— Você não aceitaria mais uma babá, Katherine?

Imediatamente a marquesa olhou para a condessa, a atenção foi definitivamente alcançanda. Uma babá?

— Não sei exatamente, Maria. Tudo vai depender de quem ela seja.— Haviam requisitos muito severos, Katherine não queria qualquer uma cuidando dos filhos dela.— Você sabe que elas são os únicos criados que podemos falar, um pouco.

— Então não se preocupe, a filha de um comerciante em algum bairro podre ela não é.— Oh Deus, não era bom rir dos menos favorecidos, mas elas acabaram rindo junto de Maria, que tentou parar séria.— Não. Não devo rir dos comerciantes, afinal, o primo Walton vai casar com a filha de um.

— Walton? Você fala do jovem Walton Denbaste?— Lady Courteney assentiu com um sorriso zombador. Oh Deus! Katherine levou as mãos a boca, espantada.— Mas ele não estava no exército? Pobrezinho!

As damas riram com a marquesa, agora não mais depreciando os pobres, dificilmente Walton Denbaste iria casar com uma mulher sem classe.

— É um comerciante de tecidos em Bond Street, não devemos subestimá-los.— Tentando soar mais indulgente, Bess falou.— Principalmente agora que Georgiana Cavendish boicotou Covent Garden. Talvez seu primo ganhe um belo dote, Maria.

Com a menção a duquesa, elas encararam Katherine antes de rir, procurando saber a reação dela. Mas a princesa simplesmente sorriu de lado e voltou sua atenção a Thomas Gainsborough, ele e Georgiana eram amigos, então não seria bom rir. De qualquer forma, Katherine não iria abandonar Covent Garden simplesmente porque a duquesa de Devonshire queria assim.

O silêncio voltou a reinar entre as damas, deixando o trabalho de Gainsborough ainda mais agradável... talvez até setembro a pintura estivesse pronta...

*****

Por hoje o trabalho de Gainsborough havia acabado, ele já tinha ido embora e as damas estavam voltando para dentro. Era um alívio, enquanto subia a escadaria, Katherine sorria amplamente com a perspectiva de finalmente descansar...

— Katherine, o mordomo mandou avisar que James está na sala verde.— A princesa parou atônita ao ouvir Bess. Bravandale está aqui?— Ele deseja falar com você. E... está esperando a horas.

— Então não deixemos o duque esperando por mais tempo.— Erguendo a cabeça, Katherine colocou a expressão mais orgulhosa no rosto.

Era bom que Bravandale não tomasse muito tempo, ela tinha mais o que fazer hoje. Descendo os poucos degraus que havia subido, a marquesa se direcionou a sala verde com suas damas. As pernas de Katherine quase tremiam com o pensamento de estar na mesma sala que James, sem nenhuma multidão para testemunhar qualquer ato dele... Não! O que o duque poderia fazer?

Katherine e suas damas estavam no corredor da sala verde, quase entrando na sala, quando...

Por favor, não me toque, Sua Graça.— Uma chorosa voz feminina... implorou? A princesa encarou preocupada suas amigas.— Não é próprio, muito menos correto.

— Não seja difícil, doce rosa. Eu posso lhe pagar muito bem.— Uma risada masculina veio logo depois, era... os olhos de Katherine arregalaram.

Eu não sou uma prostituta!— A ofendida voz feminina foi seguida por uma medonha risada.—... Não! Eu imploro!

Esse medo, esse desespero... Katherine levou sua mão a maçaneta da porta, pronta para acabar com isso. Mas... o medo tomou conta dela, o pavor paralisou as damas atrás.

Olha, vai doer menos se você ficar em silêncio, doce rosa.— Isso era asqueroso! Katherine tomou coragem e abriu a porta.

As damas arfaram horrorizadas com a imagem que encontram. A marquesa quase caiu para trás. Uma assustada criada, que chorava como uma criancinha, estava sendo agarrada pelo duque de Bravandale. Ver com os próprios olho era pior que ouvir!

— Mas o que é isso que você está fazendo na minha casa, James!?— As palavras jorraram da boca de Katherine como água. O duque soltou assustado a criada, que fugiu chorando.— Você abusou dela! Vá ajudá-la, Louisa.

O que aconteceu nessa sala, Deus? Vendo a reação da marquesa, e Lady Monmouth indo atrás da criada, Bravandale riu zombador... não, ele riu maldoso! Imediatamente Katherine percebeu uma taça quase seca na mesa. Quanto ele bebeu?

— Linda, não? A mais bela das suas criadas, pena que é morena e não loira. Sabia que o nome dela é Kathelyn?— James riu consigo mesmo. Totalmente asqueroso, ela sentou longe dele.— Parece tanto com... Quanto você quer por ela?

— Aqui não é um bordel! E muito menos sou uma cafetina!— Ele riu e bebeu o resto do líquido que havia na taça. A marquesa negou com nojo.— Se dê algum respeito, James. Você não tem vergonha?

— Vergonha? Na situação que estou não tenho mais vergonha de nada!— Deixando a alegria de lado, Bravandale encarou fortemente Katherine. Um calafrio subiu na espinha dela.— Eu preciso saciar meu desejo e farei isso com quem eu quiser.

Parecia... uma ameaça. Esse olhar de James sobre ela... Katherine virou o rosto, buscando alguma ajuda em suas damas, mas elas estavam mais assustadas ainda. Será que Bess estava com o sino? A marquesa sentia o perigo chegando, mas haveria alguém para salvá-la? Respirando com força, ela encarou friamente o... duque.

— Na minha casa não. Existem muitas meretrizes bonitas para você usufruir, em outros lugares.

Foi como uma piada para James. Ele riu novamente, com desgosto e maldade, para depois encará-la com... desejo! O horror tomou conta dos olhos de Katherine. Completamente apavorada, ela encarou Bess, implorando para a dama tocar o sino e chamar a Guarda Germânica, mas... estava apavorada!

— Mas a única que eu quero é a prostituta dos nórdicos.— Como!? A raiva tomou conta de Katherine, mas logo tornou-se medo. Bravandale saiu de seu lugar e veio para perto dela. Esse olhar...— Tão linda, com um cabelo loiro alaranjado, olhos como o dos anjos, sempre vestida de glória e coberta por diamantes... Sem dizer nua, quando...

Bravandale estava tão perto, Katherine sentia o hálito nauseante dele. Ela queria chorar!

— Não me toque, James!— Usando toda a sua força, a marquesa tentou empurrar o duque para longe, mas ele simplesmente a agarrou.— Solte-me, ou vou destruir a sua vida! Volte para Bravandale House...

Parecia até um pesadelo terrível, onde ela tentava gritar com todas as suas forças, mas nada saia. A questão é que não era um pesadelo, tudo isso estava sendo real!

— Eu morro de desejo por você, Katherine.— Sorrindo por tê-la em seus braços, James tentou colocar seus lábios nos dela. Levada pelo desespero, Katherine fez a única coisa que lhe veio a mente: deu um forte tapa nele.— Sua vagabunda ingrata!

Os olhos de James encheram de raiva, tanta raiva que ele levantou a mão e... Como ele ousou ter feito isso!? Katherine tinha uma mão na bochecha, sua boca tremia com a vontade de chorar. Bravandale havia dado um tapa em nela... Um covarde brutamontes! Cheia de raiva, a marquesa empurrou o duque, levantou-se do sofá e tentou sair de perto...

Mas rapidamente James conseguiu agarrá-la pela cintura. Katherine se debateu nos braços dele, arranhou e, por fim, tentou dar um tapa, revidar, mas o duque agarrou o braço dela, fazendo isso com tanta força que doeu como a morte.

— Você está me machucando, James! Solte-me, agora mesmo!— Os lábios dela ainda tremiam, a voz de Katherine era chorosa, mas ela não daria a esse homem o prazer de vê-la chorar!— EU MANDEI SOLTAR!

— MAS EU NÃO QUERO!— Gritando altamente, James zombou dela rindo.— Seu rosto é tão lindo, amo ele tanto quanto você, meu amor. E está marcado, pena que não é com um beijo meu.

Aumentando mais ainda seu aperto na cintura dela, o duque aproximou novamente seus lábios nos de Katherine. Ele iria beijá-la! A marquesa tentou se soltar, debater, mas...

— Solte Katherine, James! Não vê que está machucando ela!?— Era Maria! James estava tampando a visão da princesa, que apenas escutava.— Você não quer isso...

— A única coisa que eu quero é ter Katherine comigo! Que ela seja minha!— A condessa tentou chegar mais perto do duque, mas o medo a parou. James riu e, voltando-se a ela, fez a princesa encará-lo.— Estaremos juntos, na vida ou na morte.

— Não vale a pena, James...

— Lembre-se de quem Katherine é, Bravandale!— Interrompendo Maria, Josephine tentou dialogar, só que menos doce. Em sua cabeça, Katherine apenas orava a Deus pedindo que Bess encontrasse o maldito sino!— Você sabe o que acontece com os violentadores!

— Caladas! Calem suas malditas bocas!— Novamente o duque voltou-se as damas. O silêncio tomou conta da sala um...— O que você pensa que está fazendo, Lady Torrington?

Como...? Apertando ainda mais a cintura de Katherine, Bravandale virou a princesa na direção de suas amigas. Oh Deus! Frederica estava segurando uma faca na direção de James! Onde...? Ela que estava trazendo a cesta do jardim!

— Sua Graça, eu... não quero machucá-lo. Peço apenas que... solte a marquesa...— Lady Torrington tremia tanto que nem fazia medo.— Eu sei usar uma faca.

Essa visão fez o duque rir, e com muito prazer. Bravandale estava achando tudo isso muito engraçado, uma visão que não era compartilhada pelas damas, todas estavam horrorizadas! Lady Cottington e Bess pareciam paralisadas.

— Pois venha, milady. Tente me apunhalar e veja o que acontecerá. Os Herbert e os Castlemaine serão destruídos! E seu marido... o exílio lhe é agradável?— Com James usando o medo a seu favor, a condessa baixou sua "arma".— Boa menininha, nada poderá ser feito com essa... faca de sobremesa. Quanto a você, Katherine... Vagabunda! 

Apertando a faca com força, Lady Torrington avançou em direção ao duque assim que ele distraiu-se...

Katherine mal teve tempo para pensar no que aconteceu. Num momento ela estava sendo fortemente agarrada pelo duque, e no outro estava caída no chão, observando James gritar de dor com uma faca fincada no braço. Logo depois um som de sino foi ouvido... três guardas germânicos entraram correndo na sala.

— Levem rapidamente o duque de Bravandale para casa, ele teve um acidente! Deus queira que uma veia não tenha sido atingida.— Bess logo ordenou aos guardas.— Você está bem, Katherine?

A marquesa não respondeu. Apenas observou em silêncio James ser levado para fora. De fato, ele não poderia morrer, teria de sofrer muito antes disso! Maria e Josephine foram tentar ajudar Lady Torrington, que chorava desesperadamente pelo "crime" cometido por ela.

— Quero apenas ir para meu quarto.— Bess entendeu e ajudou sua amiga a levantar. Fechando os olhos com força, Katherine tentou acalmar-se. Abrindo novamente, ela ergueu arrogantemente a cabeça.— Não contem nada a Wilhelm. Ele ficaria louco.

Iria procurar James e depois matá-lo... ou talvez fosse morto antes... Novamente fechando os olhos, Katherine tentou não pensar nisso. Ela apenas queria esquecer que esse dia existiu!

*****

Whitehall, Londres

Whitehall não era a mais bela rua de Londres, e muito menos a mais organizada. Mas, por estar próxima do Palácio de Westminster e de Downing Street, era com certeza uma das mais importantes da capital britânica.

Entre as muitas libras que Wilhelm recebeu do dote quando casou com Katherine, havia também uma casa geminada em Whitehall. Essa "casa" era muito grande, mas igualmente estranha, havia sido construída em um estilo arquitetônico que Wilhelm não fazia a mínima ideia de qual era, parecia até renascentista... O príncipe nunca deu atenção alguma a esse residência, até que o rei mandar ele fazer algo com ela...

— Quando mesmo essa casa foi construída, Hartford? Eu não estava prestando atenção no início.— E muito menos agora. Era impossível para Wilhelm não fazer uma careta ao ver como esse lugar era velho.— Talvez Henry VIII ainda estivesse vivo.

O barão Hartford, que estava visivelmente descontente em mostrar ao príncipe essa casa, riu sem muita sinceridade.

— Foi construída entre 1698 e 1703, e pertenceu a... Um minuto, por favor.— Nem mesmo esperando Wilhelm assentir, o barão pegou um lenço do bolso e espirrou.— Sir Roger Castlecomer, um amigo próximo de William III.

— E qual seria o estilo?— Pegando o castiçal numa mesa, o príncipe assoprou o pó do objeto, fazendo o barão espirrar novamente. Como era agradável irrita!— Lembra-me de algumas salas em Josephean Hall e um quadro da antiga Amilian House.

— Jacobino! Esse é o estilo jacobino, meu príncipe.— Lord Wilmington respondeu animado. Mas... Wilhelm franziu o cenho, jacobino não era o estilo do início do século XVII?— Talvez Sir Roger tenha seguido a planta de algum avô que viveu entre a Era Elisabetana e o Período Stuart.

— A questão é que o lugar pertence ao senhor, meu príncipe.— Recuperando-se dos espirros, Hartford falou impaciente. Pertencia a ele... Wilhelm olhou pela enésima vez a sua volta.— Algum problema com a casa?

Voltando a encarar o barão, agora com um olhar sarcástico, o príncipe assentiu com um petulante sorriso. Essa "casa" tinha muitos problemas. Mas, por ser um príncipe, Wilhelm apenas disse:

— O que eu faria com esse lugar? Nunca iria, nem irei, morar aqui.— Numa casa velha e atrasada. Os palácios dinamarqueses eram velhos, mas atualizados.

— Não é uma questão de morar, mas de possuir. Ninguém mora em Tudor House, mas o príncipe Frederik mandou reformá-la a seu gosto.— O príncipe semicerrou os olhos ouvindo Hartford, ele queria que Wilhelm reformasse a casa?— Neoclássico seria um estilo perfeito para esse lugar. Esse poderia ser o legado do príncipe.

A conversa desse homem estava muito estranha. Negando a cabeça, o príncipe novamente observou o lugar a sua volta. Por que deixar um legado na terra? Sempre haveria um retrato de Wilhelm em algum palácio na Dinamarca, sem contar que ele era o marido da mais bela Tudor-Habsburg. Mas... um sorriso surgiu nos lábios do príncipe, todos homem queria deixar sua marca no mundo.

— Wilmington, estou lhe dando a resposta de cuidar... disso.— Gesticulando pelo lugar, Wilhelm aceitou. O conde arfou com medo e entusiasmo.— Para o seu próprio bem, não faça isso novamente, ou sua garganta vai fechar.

— Mas... eu? Não faço a mínima ideia...

— Seu trabalho é apenas buscar um arquiteto e mandá-lo fazer algo decente.— Se bem que qualquer coisa seria melhor que o atual estado dessa casa. Wilhelm acrescentou irônico:— Não será algo difícil.

— Decerto que não. Já tenho até um nome em mente: Henry Holland.— Quem? O príncipe nunca tinha ouvido falar desse homem, mas ele confiaria em Wilmington, por enquanto.— Qual vai ser o nome de casa?

Nome? Wilhelm encarou confuso os cavalheiros. Esse lugar precisava de um nome? Por que não permanecer com o original? Mas a julgar pelas expressões deles...

— A casa precisa sim de um nome, meu príncipe.— Claro, ele revirou os olhos ouvindo Hartford, mas logo depois suspirou desistente. O barão sorriu satisfeito.— Sendo que já existe uma Tudor House, qual tal Habsburg House?

— Ou Wilhelm House?— Nondell também sugeriu, embora mais zombador que sério.

— Será Oldenburg House.— Em homenagem a família dele. Hartford e Nondell inicialmente ficaram surpresos, mas não querendo ouvir mais nada, o príncipe voltou-se na direção da saída.— Agora eu quero ir embora. Lembrei que James I era casado com Anna da Dinamarca.

A vontade dele não tardou para ser feita e logo o príncipe estava sozinho em sua carruagem rumo ao Palácio de Hampton Court. Mas durante essa viagem, Wilhelm não conseguia parar de pensar no motivo do rei estar tão interessado numa reforma em "Oldenburg House". Era verdade que Whitehall, por estar onde anteriormente era o Palácio de Whitehall, pertencia as Terras da Coroa, mas o rei não mostrou interesse algum em comprar a casa.

— Que coisas passam na cabeça daquele ser vivo?— Seria uma pergunta sem resposta. Wilhelm deu os ombros e suspirou.— De qualquer forma... Quem vai pagar essa reforma!?

Mais uma dúvida surgiu na cabeça do príncipe, mas dessa vez ele não perderia seu tempo pensando.

Logo Wilhelm chegou em Hampton Court, onde o resto da tarde e noite passou como um silencioso sopro, um bem silencioso realmente. Tudo estava muito calmo e quieto, talvez até depressivo. Katherine passou a maior parte da noite em seus aposentos com as damas de companhia, descendo apenas para o jantar, e sem Lady Torrington, ainda por cima.

— Mais cedo, quando Thomas Gainsborough estava fazendo sua pintura, todas as seus damas estavam presentes, — Quando Katherine estava sendo preparada para dormir, Wilhelm perguntou sua dúvida.— agora não mais. Lady Torrington foi para casa?

— Viajou para Bath com o marido.— O príncipe franziu o cenho, mais pela surpresa que por causa da rapidez em falar da esposa. Viajar assim tão repentinamente?— Frederica não estava muito bem. Talvez os banhos ajudem na saúde dela.

— A família de Frederica, os Castlemaine, tem uma casa na cidade.— Mas eles não eram galeses? Novamente Wilhelm franziu o cenho, agora na direção de Lady Cottington. Ela acrescentou mais clara:— Que eles usam quando não estão em Londres ou Castlemaine Hall.

Fazia mais sentido agora. Instaurou-se um grande silêncio no quarto da marquesa, um que incomodava muito ao príncipe... Parecia até que algo havia acontecido e ele não sabia.

— Espero que ela melhore.— As damas de companhia assentiram para ele, mas foi apenas isso. Wilhelm não gostou disso.— Você já foi a Bath, Katherine?

— Não.— Curta, como quase todas as respostas que ela deu hoje.

— Um dia ainda iremos visitar Bath.— Observando a esposa pelo espelho, Wilhelm percebeu que ela continuava imperturbável.— Mas talvez você não goste muito da ideia de tomar banho no mesmo local que "os comuns".

— Sou uma princesa Tudor-Habsburg, meu lugar é entre os grandes da terra, não com pessoas comuns.— Essa resposta... havia irritação na voz dela. Mas antes que ele pudesse perguntar algo, Katherine apontou para a porta.— Eu gostaria de dormir sozinha hoje, Wilhelm. Não estou com cabeça para romance.

Sorrindo amavelmente, o príncipe assentiu e saiu do quarto. Apesar disso, Wilhelm sabia de uma coisa: algo havia acontecido enquanto ele estava fora, o que? Essa era a questão. Por que os pulsos de Katherine estavam roxos? E... ela não usava maquiagem antes de dormir... Hoje passaria, mas amanhã uma resposta teria de ser dada.

No dia seguinte, Katherine acordou muito mais alegre. Tanto que Wilhelm nem conseguiu fazer suas perguntas, ele descobriu apenas uma coisa: o duque de Bravandale havia apunhalado o próprio braço com uma faça de sobremesa, ou pelo menos, foi isso que disseram.

Ainda havia uma sensação que algo estava errado... e muito errado...


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Notas finais do capítulo

* A cena da faca é uma inspirado em um evento verdadeiro que aconteceu com o rei George III e que mais tarde eu vou mencionar.

* La Belle Anglaise no Pinterest: https://pin.it/5wYtYQd



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