Stella escrita por Vic


Capítulo 42
Evento traumático


Notas iniciais do capítulo

BOM DIA! Hoje o capítulo é uma especial em comemoração ao fato de eu estar escrevendo essa história há um ano! Nesse exato dia, um ano atrás foi que tudo isso começou e eu nem esperava conseguir dar continuidade a ela por tanto tempo... mas aqui estamos nós!
Que esse capítulo está bem bombástico vocês já sabem. Obrigada por todo o apoio e vamos nessa!
OBS: A música que a Stella canta para a Lily no final é In My Daughter's Eyes.
A história é longa mesmo, os eventos acontecerão de forma bem lenta.
Boa leitura!



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Stella sempre soube que não conseguiria fugir de seu passado pelo resto de sua vida, mas não esperava receber um golpe tão grande do destino. Os deuses pareciam estar brincando com ela, como se ela fosse uma marionete ou algo do tipo. Sem saber como fugir daquele som horrível, levou as mãos aos ouvidos, tapando-os com tanta força que chegava a doer, aquilo não a incomodava, preferia a dor à tortura de ser obrigada a ouvir aquele assobio.

Will só percebeu o que estava acontecendo quando fez uma pergunta para a mulher e não ouviu a resposta. Chamou seu nome mais uma vez, sem resposta. Foi quando decidiu olhar para trás e se deparou com a cena de sua esposa tapando os ouvidos com as mãos.

— Stella? – Abandonou o que estava fazendo para ir acudir a mulher, que estava tão pálida que parecia ter visto um fantasma. – Minha querida? – Segurou as mãos dela com o máximo de delicadeza possível, e só então as tirou de seus ouvidos. – Ei, tudo bem? – Procurou algum sinal de concordância em seus olhos. – Sou eu. – Lentamente a envolveu em um abraço, apertando-a com uma força contida. – O que foi? – Indagou, afastando-a para poder olhar em seus olhos. – O que aconteceu?

Ela até tentou explicar ao marido o que estava acontecendo, mas sua voz simplesmente não saía. Quando começou a chorar, o homem a abraçou mais forte. Sua vontade era de abandonar o trabalho e levá-la para casa, mas não podia se dar ao luxo de arruinar um caso. Sem nenhuma outra alternativa, a acompanhou até a recepção e pediu para a recepcionista ficar com ela até que ele terminasse o serviço, não queria deixá-la sozinha no carro naquele estado. Assim que terminou sua parte do serviço, eles pegaram o carro e voltaram para o laboratório. Will estranhou o silêncio da mulher, mas decidiu não a perturbar com perguntas fora de hora, esperaria o momento certo para fazê-las. O restante do trabalho ficaria sob a responsabilidade de Chad, que havia retornado ao trabalho há apenas alguns dias, mas que já estava ansioso para mostrar serviço.

O restante do dia passou de forma lenta e tediosa para ambos, quase pularam de alegria quando o expediente chegou ao fim. Era quase fim de tarde, e por mais que estivesse ansiosa para voltar para casa e ver a filha, Stella preferiu ir até o lago para pensar em tudo que havia acontecido naquele dia. Estava tão imersa em seus próprios pensamentos que nem percebeu quando seu marido chegou e se sentou ao seu lado.

— Uma moeda por seus pensamentos. – A voz do homem a puxou de volta para a realidade. Ela olhou para a moeda na palma da mão dele e sorriu. – Duas?

— Meus pensamentos são muito mais caros do que isso, Taylor. – Arqueou as sobrancelhas, dando uma risada tão gostosa que fez o coração do homem disparar. – Valem no mínimo umas dez dessas.

— Então acho que sou pobre demais para comprar seus pensamentos, Taylor. – Abriu um sorriso muito sincero e a abraçou. – Quer me contar o que foi que te deixou daquele jeito?

A expressão de Stella se fechou e ela se mexeu no banco.

— É uma longa história...

— Sem problemas. – Sorriu. – Temos todo o tempo do mundo... – Olhou para o relógio em seu pulso e pigarreou. – Todo o tempo do mundo até às 19h, que é a hora que a Kate vai para casa.

Stella riu do comentário e respirou fundo.

— Ser órfã é uma das piores coisas do mundo... – Sua voz saiu tão baixa que parecia mais um sussurro ou um mero ruído. – Não tem ninguém para te proteger, sabe? – Apertou a própria coxa. – Passei por tantas coisas ruins naquele lugar...

Ele não podia nem imaginar os horrores que ela havia vivido em sua infância, e nem ousaria mensurar o tamanho da dor que ela carregava em seu peito. Foi por isso que se limitou a acariciar suas costas e oferecer-lhe um sorriso gentil, não queria que ela se sentisse obrigada a falar sobre um assunto tão delicado.

— Já vi aquela expressão antes... em ex-fuzileiros. – Comentou em um sussurro. – Não precisa me contar...

— Não... – Respirou fundo, tentando criar coragem.

Will levou a mão ao rosto dela e fez uma leve carícia em sua bochecha com o polegar.

— Estou aqui com você.

— Sabe como sabíamos que ele estava chegando? – Murmurou em um tom quase sombrio.

Ele negou com a cabeça.

Stella olhou diretamente para ele e imitou exatamente o mesmo assobio que eles tinham ouvido no hotel em Inwood. Aquilo lhe deu calafrios.

Anos atrás – Orfanato em Calamata

Stella estava acostumada a se esconder nos lugares mais inóspitos do orfanato, era tão boa nisso que sabia exatamente onde os outros não a procurariam de jeito nenhum. Era uma pena ela estar usando aquele armário para se esconder daquele homem horrível. Ao ver-se sem alternativas, optou por tentar normalizar a própria respiração, assim seria mais fácil de respirar. O som inconfundível do assobio dele ficava cada vez mais próximo, o coração da menina estava disparado, ela sabia exatamente o que iria acontecer, mas tentou não se deixar dominar pelo medo.

— Stella. – O homem sussurrou baixo demais. – Vem aqui. – Ela conseguia ouvir o som dos passos dele enquanto ele revirava o lugar. – Tenho um brinquedinho novo para você. – O barulho do couro em choque com os móveis deu um susto na menina, que deu um pulinho, batendo a cabeça no teto. Stella sabia exatamente o que era aquilo, e não estava nem um pouco disposta a inaugurar aquele “brinquedinho”.

Para a infelicidade da menina, aquele não era mesmo o seu dia de sorte. Não demorou muito para que ele a encontrasse no fundo daquele armário, ele sorriu para a criança como se tivesse acabado de ganhar um presente, a segurou pelos cabelos e a arrastou para fora. Infelizmente ela cometeu o erro de tentar correr, isso só acabou de piorar as coisas. O homem usou o cinto para bater em suas pernas, fazendo-a cair de cara no chão. Infelizmente aquele era o esconderijo perfeito demais.

— Não... – Os olhos da menina já estavam marejados, mas isso não o fez sentir pena dela. – O que... eu fiz dessa vez? – Tentou proteger o rosto com os braços, mas ele os puxou para baixo.

— Nasceu.

A surra que levou foi tão grande que quando tudo acabou havia uma pequena poça de xixi ao seu lado. Ela ficou sentada ao lado dela, estava desolada, mas não podia nem demonstrar, ou apanharia mais ainda. O homem apenas a encarou e deu uma gargalhada, tinha se divertido muito com o sofrimento que infligiu a ela. Stella sabia que teria que usar roupas compridas pelo resto da semana para esconder as marcas deixadas em seu corpo.

Seus amigos notaram sua a ausência durante toda a semana, mas preferiram não a incomodar com perguntas sobre o que teria acontecido, sabiam que ela era do tipo de criança que gostava de lidar com seus problemas sem envolver terceiros. A única coisa que ainda a animava era ir à igreja visitar o padre Sinead, ele sempre sabia exatamente o que dizer. A primeira coisa que ele perguntou quando a viu, foi porque ela estava usando roupas tão longas, ela tratou de dar um jeito de mudar de assunto, não queria que ninguém soubesse. O padre tinha suas suspeitas, mas escolheu respeitar o silêncio da criança.

— Padre... – Mordeu o lábio inferior, estava com medo de fazer aquela pergunta. – Posso fazer uma pergunta?

O homem sorriu para ela e assentiu.

— Claro.

— Por que eu não tenho mãe e nem pai?

O padre abriu a boca para responder à pergunta, mas ficou sem palavras. Então segurou as mãoszinhas da menina entre as suas e olhou no fundo de seus olhos.

— Minha filha, eu não sei a resposta para essa pergunta. – Foi bem sincero, sorrindo carinhosamente para ela. – Mas sei que você veio para esse mundo para nos agraciar com a sua existência. – Concluiu, erguendo o queixo dela. – Tudo acontece exatamente como tem que acontecer. – Acariciou seus cabelos com as duas mãos. – Quer a sua bênção?

A menina assentiu, colocando um enorme sorriso em seus lábios. O padre girou o corpo em sua direção e arrumou sua postura, preparando-se para abençoá-la.

— Que o caminho seja brando aos teus pés, o vento sopre leve em seus ombros, que o sol brilhe cálido sobre tua face... – Continuou a oração, encerrando-a com um leve tapinha nas costas da menina, que sorriu em troca. Antes que saísse correndo, o padre a segurou pelos ombros e a encarou. – Minha filha... – Umedeceu os lábios. – Quero que se lembre muito bem do que irei lhe dizer agora. – Ela assentiu. – Stella, ninguém é forte sozinho.

A menina fez uma careta para ele, não tinha entendido nenhuma palavra do que ele tinha lhe dito, mas não teve coragem de perguntar o que aquilo significava, então agradeceu ao padre pelas palavras e pela bênção ofertada e saiu correndo.

Fim do flashback

— Acho essa oração celta tão linda. – Disse ao marido, colocando um sorriso saudoso nos lábios. – Era a minha preferida. Ela me confortou nos piores momentos da minha vida, espero que faça o mesmo na vida da nossa filha.

— Ela é muito linda mesmo. – Concordou, dando um beijo no topo da cabeça da esposa. – Sinto muito por tudo isso...

— E essa nem foi a pior coisa que me aconteceu naquele lugar. – Suspirou profundamente, levando a mão à testa. – O pior mesmo era ter que deixar de comer para dar para as crianças mais novas, não tinha o bastante para todo mundo. – Murmurou com a voz quase embargando. – É por isso que sou tão magra, meu corpo ainda não entendeu que não preciso mais fazer esse tipo de coisa... – Deu uma risada sem graça.

Will não disse mais nada, apenas a puxou para seus braços, dando-lhe um abraço muito apertado. Ficaram assim até a mulher fazer um comentário sobre a hora e os dois se levantarem, era hora de voltar para casa. Assim que abriu a porta e foi recebida pelo enorme sorriso banguela da filha, Stella soube que o padre Sinead tinha razão, tudo acontece exatamente como tem que acontecer.

A angústia também era um sentimento muito constante na vida de Danny desde que sua mulher fora hospitalizada. Era difícil procurar respostas no escuro, Lindsay não se lembrava de muita coisa e o que ela lembrava não era de muita serventia. Sua memória parecia um quebra-cabeça com peças faltando, e por mais que se esforçasse para tentar se lembrar de alguma coisa, era inútil. Naquela noite, antes de dormir, orou, pedindo a Deus para que lhe desse respostas para as suas perguntas. Ele deve tê-la ouvido, pois naquela mesma noite os eventos daquele dia a atingiram como um raio.

Hospital Mercy – Quarto 940

A situação entre as duas mulheres havia melhorado muito, nem parecia que tinham discutido há tão pouco tempo, eram águas passadas. Era tão boa a sensação de ter colocado tudo em pratos limpos e tirado aquele peso de suas costas, Jas não gostava de guardar segredos e gostava menos ainda de ser vista como uma traidora.

— Preciso ir ao banheiro, tudo bem se continuarmos essa conversa quando eu voltar? – Indagou ao soltar as mãos da cunhada.

— Pode ir, vou sobreviver. – Sorriu.

— Volto já. – Levantou da cadeira, indo em direção a porta, dando uma última olhada para ela antes de sair do quarto.

Lindsay sorriu para si mesma, virando a cabeça de lado e fechando os olhos, pretendia descansar um pouco enquanto ela não voltava. Estava quase se perdendo em seus próprios pensamentos, quando ouviu o barulho da porta se abrindo, estranhou de imediato, era impossível ser Jas. Abriu os olhos e virou a cabeça para ver quem estava no quarto, deu de cara com um homem negro de estatura mediana, musculoso e com um olhar enigmático a encarando. Achou que fosse um médico ou um enfermeiro, por conta de suas vestes, mas não se lembrava de nenhum funcionário com aquela descrição.

Pode ser um funcionário novo.

Foi o que pensou enquanto o homem lia seu prontuário.

— Lindsay Messer? – Olhou diretamente para ela, que assentiu com um sorriso amigável.

Ao ouvir a confirmação, calçou as luvas e tirou uma seringa de dentro do bolso do jaleco. O sorriso que ele deu a deixou arrepiada, como se soubesse que alguma coisa estava muito errada. O sorriso que ela tinha nos lábios desapareceu imediatamente e ela se encolheu na cama, tentando se proteger.

— Qual é o problema? – Se aproximou mais da cama, fazendo-a se encolher ainda mais. – Medo de agulha? – Seu sorriso se abriu ainda mais, o deixando mais assustador. – Ah, me desculpe. – Deu meia volta, indo fechar a porta que tinha esquecido aberta, fazendo questão de também fechar as persianas da porta e das janelas. – Não queremos nenhuma interrupção, não é mesmo? – Voltou ao seu encontro. Ela até pensou em gritar, mas seria um esforço inútil. – Vamos ao que interessa, nossa última dança. – Fez questão de frisar a palavra última. – Sei que deve estar pensando em gritar, é um ótimo instinto, mas te aconselho a não tornar as coisas mais difíceis do que elas já são. – Riu. – Que cara é essa? Não tenho nada contra você, mas o seu maridinho precisa aprender uma lição, infelizmente a vida é assim. Sabe, os mais velhos costumam dizer que o tempo é tudo em nossas vidas, e o seu está acabando... culpa do seu marido, é claro. – Explicou enquanto andava de um lado para o outro no quarto.

Lindsay encarou a seringa nas mãos dele, tentando pensar em algo para ganhar tempo até que Jas voltasse.

— O que você vai fazer? – Sua voz saiu trêmula e muito baixa.

— Não precisa se preocupar com isso. – Soltou uma gargalhada, mudando a seringa para a destra enquanto ia até ela. – Sério mesmo... não sou do tipo que esfaqueia alguém 37 vezes e vai embora coberto de sangue, acho que quanto mais sutil for a coisa, melhor ela é. – Sorriu, enquanto ela engolia em seco, torcendo para que alguém entrasse por aquela porta e a salvasse. – É muito mais criativo, sabe? Mas enquanto nada disso acontece, acho que podemos conversar um pouco, assim sano algumas dúvidas que tenho na minha cabeça. – Voltou a encará-la. – Cadê o seu orgulho?

Lindsay franziu as sobrancelhas em uma careta.

— O quê?

— Olha a situação em que você se enfiou, tudo por causa daquele cara. – Esclareceu com um sorriso cínico nos lábios. – Um policial viciado que é a causa da sua morte.

Ela fechou a cara.

— Isso não é verdade. – Retrucou com toda a coragem que ainda possuía.

— Tem certeza? – Riu. – Parece que as drogas sempre estarão em primeiro lugar para o detetive Messer.

— O Danny não é mais um viciado.

— Ainda não, mas voltará a ser... muito em breve. – Assentiu, fazendo questão de olhar no fundo de seus olhos. – Uma decepçãozinha e ele já voltou a usar. – Gargalhou.

— Não. – Murmurou baixinho.

— Tudo bem, você venceu. – Fingiu bater palmas. – Talvez tenhamos o ajudado um pouco, dois de nós o segurou e o outro injetou a coisa nele. – Deu alguns passos até ela. – Um produto da melhor qualidade, foi como ver alguém voltar para casa depois de muito tempo. – Deu as costas para ela, que aproveitou a oportunidade para puxar um pouco do fio que lhe daria acesso ao botão para chamar os enfermeiros. – Acho que você já sabe o que aconteceu depois. – Ele virou para ela de uma vez. – Acho que ele aproveitou cada minuto daquilo, foi como desfrutar da companhia de um velho amigo, a vida ganhou cor outra vez.

— Ele lutou tanto para ficar sóbrio. – Murmurou, tentando não deixar seu nervosismo transparecer através de sua voz.

— A sobriedade... eu sei. – Fez uma falsa cara de choro. – Mas nem tudo é do jeito que a gente quer.

— Não faça isso com ele.

— Oh... – Fez uma falsa expressão de tristeza. – Isso é tão comovente. – Levou a mão ao peito. – Tanta preocupação com um cara que não dá a mínima para nada. – Riu. – Não me olha assim, não sou um monstro. Acredito muito no amor verdadeiro, sério mesmo. Mas infelizmente... – Pulou em cima dela, arrancando o fio de sua mão. – Você está no meu caminho. – Jogou o fio no chão e foi desligar o monitor cardíaco que estava conectado à mulher. – Antigamente eu era jardineiro, rosas eram a minha paixão. – Foi até a bancada onde havia deixado a seringa. – Uma flor maravilhosa. – Tirou um frasco de vidro do bolso esquerdo do jaleco e destampou, colocando a agulha lá dentro. – Sabia que as primeiras rosas têm cerca de 200 milhões de anos? Isso não é incrível? – Puxou o êmbolo da seringa, fazendo o cilindro se encher de líquido. – É uma beleza tão frágil combinada com uma vontade tão grande de sobreviver. – Sorriu. – Você tem muita vontade de sobreviver. – Riu. – Sim, eu sei que tem. A vida é uma coisa linda, uma coisa linda em um mundo feio. – Mostrou a seringa para ela. – Você deve estar se perguntando o que é isto aqui, é só uma coisinha que meu médico me receitou. – Explicou, fazendo questão de sorrir. – Essa é apenas mais uma das vantagens que tenho com esse negócio, médicos que trabalham para mim. – Esclareceu. – Me ajuda a evitar todo o trabalho de tentar convencer algum médico a receitar um remédio para uma doença que eu nem tenho. É só fazer uma ligação e em questão de minutos tenho tudo o que eu preciso em mãos. – Colocou o frasco de volta na bancada.

— Você vai me drogar...

— Oh... – Levou a mão à boca. – É mesmo, estas aqui são de uma padaria no centro da cidade. – Explicou, enquanto molhava um pedaço de pano com alguma outra coisa que Lindsay não sabia o que era. – Estamos sempre espalhando alegria por toda parte, e é bem mais fácil vender nas ruas usando uma padaria de fachada. – Concluiu com um sorriso. – Percebeu que não coloquei tudo ainda? – Referiu-se a seringa que tinha em sua destra. – Isso é porque ainda preciso que responda algumas perguntas. Seu marido sabe quem está por trás de tudo isso?

Lindsay negou com a cabeça.

— Não.

— Não. – Imitou a voz dela.

— Não. – Repetiu.

— Ótimo. – Sorriu. – Isso poderia até salvar a sua vida, mas é como eu disse... infelizmente você está no meu caminho. – Comprimiu os lábios, fazendo a mulher se encolher o máximo que podia. – Mas você me entende, não entende? A vida é assim mesmo. – Ao dizer isso, deu alguns passos em direção a ela, que até tentou fugir, um esforço inútil.

— Não. – Sussurrou, antes que ele colocasse o pano em seu nariz.

— Vamos lá. – Segurou sua cabeça. – Só... – Forçou o pano em seu nariz, mantendo seus braços imóveis para que não tivesse a chance de escapar. – Só tente relaxar e seguir o roteiro. – Ela tentou se livrar do pano, mas ele era muito mais forte do que ela, e conseguiu a imobilizar sem nenhum trabalho. – A vida é realmente cheia de surpresas, não é mesmo? E muitas delas levam à morte, só resta aceitar. Sei que esse é um assunto delicado para você, mas a vida é assim mesmo. – Aos poucos a mulher foi fechando os olhos, estava cansada demais para continuar lutando. – Isso, apenas relaxe. – Sussurrou. – Você está prestes a ter a paz eterna... é tarde demais agora. – Disse com um sorriso de canto. – Acredite ou não, você me pegou em um bom dia. Os meus planos para o Danny são muito piores, ele vai morrer aos poucos, um comprimido de cada vez.

Estava prestes a injetar a droga em sua bolsa de soro, quando ouviu passos indo em direção ao quarto e decidiu se esconder atrás da porta para não ser visto.

— Lindsay. – Jas chamou, estranhando a ausência de resposta. – Ei, Lindsay. – Tentou mais uma vez, sem respostas. – Volto mais tarde. – Sussurrou antes de fechar a porta.

Com medo de ser pego no flagra, verificou rapidamente os sinais vitais dela, pegou um dos travesseiros que ela usava, retirou um canetão de dentro da bolsa que trouxe consigo e escreveu a palavra mentiroso em caixa-alta na fronha, colocando-o novamente atrás da cabeça dela e saiu do quarto. Para seu azar, Lindsay era muito boa em se fingir de morta.

Fim do flashback

O grito que a mulher deu ao acordar ecoou pelo quarto, assustando a jovem enfermeira que estava ali só para injetar mais uma dose de morfina em sua veia. Lindsay limpou o suor do rosto com as mãos e se desculpou com a moça, voltando a se acomodar na cama. Aquele com certeza tinha sido o evento mais traumático de toda a sua vida.

Enquanto cantava para a filha dormir, Stella também pensava no próprio evento traumático que tinha acabado de relembrar. Tentava não pensar em coisas ruins enquanto ninava a criança em seus braços, ela merecia todo o amor do mundo. Continuou cantando até perceber que a menina estava começando a fechar os olhinhos.

— Tenha bons sonhos, meu amor. – Desejou, ao colocar a criança adormecida dentro do berço. – A mamãe te ama demais.

— E o papai também. – Will completou, cruzando os braços ao lado da porta.

— E o papai também. – Ela adicionou com um sorriso no rosto, acariciando o rostinho da filha, foi quando se lembrou da oração do padre Sinead. – Que o caminho seja brando aos teus pés, o vento sopre leve em teus ombros, que o sol brilhe cálido sobre tua face... que as tarefas do dia não sejam um peso em teus ombros, e que os deuses te envolvam num manto de amor. – Concluiu a oração dando um beijinho na testa da menina.

Will sorriu com a cena e abraçou a mulher quando ela passou por ele, apertando-a contra seu peito. Quando os dois se deitaram na cama e ele a aconchegou em seu corpo, foi que Stella parou para pensar que ainda tinha mais uma coisa que não havia contado ao marido.


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Notas finais do capítulo

Eita, parece que o ano de 2009 estava realmente querendo levar a Lindsay, a mulher foi feita de refém, caiu da escada, sofreu um acidente de carro e agora mais essa. Se ainda não morreu, agora ela é imortal mesmo!
Stella sempre cheia de segredos, amo!
Até o próximo!



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