Stella escrita por Vic


Capítulo 41
Escória da terra


Notas iniciais do capítulo

Bom dia! Como estão depois da minha revelação no capítulo passado? haha! Espero que bem! Os acontecimentos nesse capítulo serão bem intensos, então apertem bem os cintos, pessoal!
Boa leitura!



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Os eventos que viriam a seguir prometiam serem ainda mais catastróficos. Danny ainda conseguia sentir a textura da correntinha em contato com sua mão, não tinha tirado a mão do bolso desde que colocou os pés para fora do laboratório. Estava torcendo para que Jas estivesse mesmo certa, e aquele singelo objeto fosse mesmo da sorte. O local escolhido para o encontro foi o lago atrás do laboratório, seria mais fácil pedir socorro, se fosse preciso.

— Ei, cara. – Evan chegou cheio de marra. – Gostou do meu produto?

Danny o agarrou pela gola da camiseta, quase colando seu rosto no dele.

— Cala a merda dessa boca, Evan. – O ódio em sua voz era quase palpável. – Você quase me matou. – Apertou ainda mais a gola de sua camiseta. – E agora você vai me dizer o motivo. – Evan tentou se desvencilhar das mãos dele, mas ele estava determinado a não deixar que isso acontecesse. – É... eu sei que foi você que me drogou naquele beco. Agora me diz, que porra foi aquela?

— Foi só uma pequena amostra do meu produto. – Ironizou, colocando um sorriso sarcástico no rosto.

— Não, não. – Negou com a cabeça. – Você me deu uma dose que era o suficiente para me matar, seu filho da puta.

— Te dei o bastante para te levar a lugares que você nunca conheceu antes. – Riu.

— Tipo o fundo desse lago aqui, não é? – O segurou com mais força.

— Olha, se eu quisesse mesmo te matar, teria pedido para um dos meus capangas dar um jeito em você. – Sussurrou muito cinicamente, era clara sua intenção de provocar. – Mas além de você ser um cliente e tanto... ainda é um policial. – O sorriso em seu rosto se abriu mais ainda. – Não quero esse tipo de problema para mim.

— É mesmo? – Soltou a gola de sua camiseta, dando-lhe um empurrão forte o suficiente para que ele se assustasse. – Então devia ter pensado nisso antes. Devia ter pensado nisso antes de me drogar naquele beco.

Evan abriu um sorriso ainda mais largo.

— Sim... – Continuou debochando. – Mas você é um profissional, Messer. Pude ver isso pela forma com que você relaxou e se deixou levar. – Fungou, usando a manga da camiseta para limpar o nariz. – É como andar de bicicleta. Tipo... é bom demais para não dar mais uma voltinha, não é?

Danny engoliu em seco antes de perguntar.

— Quem te mandou fazer isso? – Sua voz saiu como um mero sussurro, ele estava com medo da resposta.

Ele riu e colocou a mão no ombro de Danny antes de responder.

— Isso é segredo, irmão. – Usou a outra mão para dar um tapinha em seu rosto. – Oferta e demanda. – Colocou a mão no bolso e tirou um frasco, sacudindo na frente dele. – Ainda está no seu organismo, não está?

— Sim... – Murmurou bem baixinho. – Graças a você... e agora eu preciso de mais. – Evan não parecia estar acreditando no que ele estava dizendo. – Qual é? – Abriu os braços. – Preciso de uma saideira.

— Não... – Negou com a cabeça. – Isso é arriscado demais. – Franziu a testa, ainda estava desconfiado. – Já me arrisquei demais por você. – Fechou a cara. – Me arrisquei demais da última vez e você jogou o meu produto fora.

Danny negou com a cabeça e encarou o outro homem.

— Eu te disse que tinha deixado cair...

— E você acha que eu nasci ontem? – Riu, guardando o frasco no bolso novamente. – Que conversinha mais fiada aquela sua.

Ele desviou o olhar, olhando diretamente para o lago.

— Olha... isso não importa. – Encolheu os ombros. – O que importa é que você me deixou chapado, Evan e agora eu preciso de mais.

Sem nenhum aviso prévio, Evan o abraçou com força. A única reação que Danny teve foi abrir os braços e mantê-los longe do outro homem.

— Só estou checando... – Sussurrou em seu ouvido. – Para ver se você não tem nenhum brinquedinho escondido por aqui. Quero ter certeza de que não é um mentiroso. – Começou a vasculhar seus bolsos. – Onde foi que você colocou?

— Quer parar com isso, por favor? – Pediu entre um suspiro e outro.

Ele ignorou completamente o pedido e continuou o que estava fazendo, parando apenas para pedir para que ele se virasse de costas. Começou puxando sua camiseta para fora da calça e continuou verificando todos os lugares possíveis, até chegar em seu bolso e encontrar a correntinha de Jas.

— Sem escutas, mas... – Puxou o objeto para fora de seu bolso. – Que surpresa agradável. – Sorriu ao mostrar o objeto para ele. – Fiquei até emocionado, isso aqui é para mim?

Danny virou para ficar de frente para ele.

— Olha, cara... – Tentou contornar a situação, não podia perder algo tão valioso para um traficante de meia tigela.

Evan riu ao notar a mudança de expressão dele.

— Está partindo o meu coração, irmão. – Abriu um sorriso cínico. – Você é sempre tão sincero... isso deve ser muito útil no seu trabalho policial. – Deu uma gargalhada. – Mas a questão aqui é que... se eu estiver errado a respeito disso aqui. – Balançou a correntinha na frente dele. – Isso significa que você não vai mais fazer outra viagem até o país das maravilhas.

— Quer fechar um negócio comigo ou não? – Foi direto ao ponto.

— Sabia que a confiança é a chave para todo relacionamento? – O encarou de muito perto. – Preciso de uma garantia.

Danny riu, negando com a cabeça.

— Que tipo de garantia?

— Você disse que não podia ficar chapado enquanto estivesse de plantão...

Ele assentiu.

— Bom... – Limpou o nariz antes de prosseguir. – Não está parecendo que está de plantão agora... – Tirou o frasco do bolso mais uma vez. – Então... – O destampou para tirar um dos comprimidos de dentro. – Vai fundo. – Ofereceu para ele. Danny engoliu em seco e se manteve imóvel, não queria passar por aquele inferno outra vez. – Me mostra que está falando a verdade. – Continuou incentivando. – É só um. – Ele alternou o olhar entre o comprimido nas mãos de Evan e seu rosto cheio de expectativas. – Já estou me arriscando muito fazendo negócios com um policial, então você vai ter que me provar que não está armando para mim.

Danny assentiu e tentou pensar em uma resposta coerente.

— Preciso ficar sóbrio para fazer o meu trabalho... não sabe como isso funciona? – Indagou com muita calma.

— É só um comprimidinho, cara. – Riu. – É como se fosse um doce...

— Não sei se vou ficar satisfeito com um só... – Desviou o olhar ao dizer isso.

— Então temos um dilema... porque se eu não ver esse negócio descendo pela sua garganta, você está fora da minha lista. – Deixou bem claro, voltando a oferecer o comprimido a ele.

Danny o pegou meio a contragosto e o colocou na boca, engolindo de uma vez.

— Quer que eu abra a boca para ver se eu engoli mesmo? – Ironizou em um tom de afronta.

— Quero.

— Ah, é? – Riu. – Então vem cá e dê uma olhada. Tá vendo? – Abriu a boca, tirando a língua do caminho para que ele pudesse ver embaixo dela. – Já que me tratou feito um animal, então cai fora.

— Você parece estar meio angustiado. – Observou seu rosto com bastante atenção.

— É claro que estou... – Assentiu freneticamente. – Você sabe como é amar e odiar uma coisa ao mesmo tempo, não sabe, Evan?

— Cara... – Riu. – Você está fazendo uma tempestade em copo d’água. As drogas não são suas inimigas, deixa-as te ajudar.

— Quer saber de uma coisa... – Estava começando a ficar irritado, isso era evidente pelo tom de sua voz. – Já passei no seu teste. Eu não estou disfarçado e nem estou usando uma escuta, só queria um alívio. Ainda não está satisfeito?

Evan umedeceu os lábios antes de falar.

— Ainda não. – Murmurou em um tom áspero e rouco.

Aquela descoberta foi uma surpresa e tanto para Lindsay, nos primeiros minutos que se sucederam à revelação, ela não conseguiu dizer uma palavra. Mas assim que seu cérebro começou a processar e analisar os últimos acontecimentos, tudo começou a fazer sentido, inclusive a preocupação da outra em proteger a reputação de seu marido.

— Então quer dizer que o Danny é seu irmão? – Perguntou assim que os ânimos entre as duas se acalmaram.

— Meio-irmão. – Consertou. – Foi como eu te disse... encontrei ele jogado em um beco imundo. – Fez questão de continuar a história que não havia terminado quando elas estavam no Hudson River Park. – E dei o remédio para neutralizar os efeitos da droga em seu organismo.

Ela a encarou com gratidão.

— E ele está bem?

— Sim... – Assentiu. – Aquilo já está quase saindo do organismo dele.

Lindsay deu um longo suspiro aliviado e olhou para a aliança que tinha em suas mãos.

— Obrigada por salvar a vida dele. – Deu um sorriso simpático para sua agora, cunhada. – Obrigada por estar lá quando ele precisou de você, como sempre... já que eu nunca estou. – Jas segurou a mão dela, não queria que ela se sentisse assim. – O que foi? Essa é a verdade, não é? – Comprimiu os lábios. – Nunca estou por perto quando o Danny precisa.

— Isso não é verdade. – Disse em um sussurro. – Nós só estamos acostumados a cuidar um do outro...

— Eu sei... – Sua voz embargou. – Estou tão cansada... – Respirou fundo, contendo o choro.

— Acho que você passou por muita coisa... – Disse ao soltar sua mão.

— Me desculpe por ter feito aquele escândalo no Hudson River Park. – Sussurrou para ela. – Não sei o que deu em mim... para ser sincera, nem me lembro do que foi que aconteceu no caminho de lá até aqui.

Jas respirou fundo antes de responder.

— Você caiu da escada... – Foi sincera. – Eu estava te trazendo para o hospital no meu carro e você não me deixava colocar o cinto de segurança em você.

— Eu lembro disso...

— Você estava muito desorientada...

— Achei que você tinha me empurrado... – Completou por ela. – Achei que estava tentando me matar...

— Lindsay... – Engoliu em seco. – Eu não tenho absolutamente nada contra você, e juro por tudo que é mais sagrado que jamais tentaria te matar.

— Eu sei... – Murmurou baixinho. – Você não é uma mentirosa. – Umedeceu os lábios que estavam ficando ressecados. – Você só fez o que achou que era certo... e salvou o meu marido, no meu lugar. – Desviou o olhar. – Essa é a verdade.

— Queria muito poder confiar em você, irmão. – Umedeceu os lábios. – Mas esse seu distintivo está me atrapalhando. – Coçou o queixo e colocou as mãos na cintura. – Não posso correr o risco de ir preso.

— Se ainda não te prendi por ter injetado essa porcaria em mim sem a minha permissão. Por que faria isso agora?

Evan deu de ombros.

— Policiais são muito traiçoeiros.

Danny revirou os olhos.

— Você acabou de me ver engolir um comprimido por vontade própria.

— Pode muito bem ser um dos seus truques para me enganar. – Franziu as sobrancelhas em resposta. – Talvez você seja um especialista nessas coisas.

— Ok. – Riu. – Vai dizer que estou fingindo? Quer que eu tome mais?

Evan riu e limpou o nariz.

— Só assim vou poder confiar em você. – Ofereceu mais um comprimido para ele, que aceitou sem fazer cerimônias.

Estava quase cedendo, quando ouviu o grito de Dante vindo do topo da escada.

— Caralho! – Ficou tão perplexo com a cena que demorou para reagir. – Que porra é essa que está acontecendo aqui? – Gritou enquanto descia os degraus.

Evan se virou para ele e respondeu aos gritos.

— Não é da sua conta! Se não quiser que eu arranque as suas pernas, passa reto!

Ele se enfiou no meio dos dois, afastando o amigo do outro homem o mais rápido possível.

— Fica longe desse cara, Danny. – O pedido soou mais como uma ordem. – O que pensa que está fazendo? – Perguntou aos gritos ao arrancar o comprimido de suas mãos. – Vai começar a traficar também? É isso mesmo?

— Relaxa, tá bom? – Tentou acalmar o amigo. – Eu sei lidar com isso.

— É a sua carreira que está em jogo, irmão. – Retrucou.

— Escuta, cara. – Evan se meteu na conversa. – O que é que você tem a ver com isso?

— Evan, vai embora e me deixa dar um jeito nisso, tá bom? – Pediu, ansioso para se livrar dele.

— Não precisa ser um idiota. – Tentou não rir. – Pode terminar sua conversa com seu irmão aí. – Colocou a correntinha no bolso sem que eles vissem. – Te vejo mais tarde. – Subiu as escadas e foi embora.

— O que diabos você está fazendo? – Começou a brigar com ele. – Não acredito que está mesmo fazendo negócios com um traficante.

Danny colocou a mão no ombro dele e olhou na direção das escadas para verificar se Evan havia se afastado o bastante.

— Ok, ok. – Sussurrou. – Ele já se mandou. – Sorriu. – Ele caiu feito um patinho. – Abaixou seu tom de voz. – Agora me diz, o que foi que você pensou?

— Tenho uma pergunta muito melhor, o que diabos você estava fazendo? – Usou o mesmo tom de voz que ele.

— O que você está fazendo aqui? – Pegou o comprimido das mãos dele e guardou no bolso de sua camiseta.

— A Jas me ligou...

Danny respirou fundo, talvez ela tivesse contado seu segredo ao marido.

— Ela me disse que estava te ajudando em um caso...

— Não é nada demais... – Colocou as mãos na cintura. – Só preciso vomitar e isso estará fora do meu organismo em dois tempos.

— A questão é... o que diabos isso tem a ver com a investigação? – Esperou por uma resposta que não veio.

Dante deu uma risada totalmente desprovida de humor.

— Obrigado pela sinceridade. – Foi irônico. – Muito obrigado mesmo.

Danny fechou os olhos.

— Olha... – Pensou no que iria dizer. – Estou muito grato por você ter me salvado do Evan, mas ficaria ainda mais grato se ficasse fora disso de agora em diante.

— Ah, é mesmo? – Arqueou as sobrancelhas. – E que tal deixar a minha mulher fora disso também? Ela pode perder o distintivo se alguém souber que ela está envolvida nesse tipo de coisa.

— Jamais faria nada que pudesse prejudicar a Jas...

— Quem sabe? – Arqueou as sobrancelhas. – Você não consegue se controlar. – Deu as costas para ele, subindo os primeiros degraus da escada, antes de se virar para falar com ele mais uma vez. – A propósito... a Jas me ligou e disse que a sua mulher já está acordada.

— A Lindsay acordou?

— Sim, acordou. – Respondeu sendo o mais seco possível. – Você saberia disso... se estivesse preocupado em ficar ao lado dela. – Essa foi a deixa para que Danny saísse correndo dali.

Tinha uma coisa que ele não sabia, e nem sequer se passava por sua cabeça. Ele não sabia que alguém estava ouvindo atentamente cada palavra dita naquela conversa, e também não sabia que um plano de vingança já estava sendo traçado contra ele. Um plano cruel e que começaria a ser colocado em prática antes mesmo que ele conseguisse colocar os pés naquele hospital.

Jas tinha saído do quarto só para ir ao banheiro, estava muito apertada e aquela conversa poderia continuar quando ela voltasse. Assim que abriu a porta do quarto e viu que Lindsay estava dormindo, estranhou de imediato, quando ela saiu a mulher estava bem desperta.

— Lindsay. – Franziu as sobrancelhas ao chamá-la. – Ei, Lindsay. – Tentou mais uma vez, sem respostas. – Volto mais tarde. – Sussurrou antes de fechar a porta.

Quando estava quase indo embora, encontrou com Danny saindo do elevador. Estava tão cansado por ter ido até lá correndo, que demorou um pouco para conseguir formar uma frase.

— Ei, vim o mais rápido que pude... – Nem precisava dizer isso, seu próprio corpo já deixava isso bem claro. – Como ela está?

— Ela está bem. – Sorriu. – Ela acordou e eu consegui conversar um pouquinho com ela.

— E como ela está? – Tentou recuperar o fôlego entre uma palavra e outra.

— Como eu disse, ela está bem. – Comprimiu os lábios. – Falamos sobre você e eu, entre outras coisas...

— Falaram sobre o quê?

— Isso fica entre mim e ela.

Notou que ele não parava de olhar de um lado para o outro.

— Está tudo bem?

— Sim, só estou no meu limite. – Respondeu enquanto ainda tentava recuperar o fôlego.

— Sinto muito. – Segurou sua mão esquerda. – Sei que as coisas têm sido muito difíceis para você.

— Não, tudo bem. – Sorriu. – Tem alguma coisa que eu preciso saber antes de falar com ela?

— Contei a verdade para ela...

Danny coçou a cabeça, sabia exatamente do que ela estava falando.

— Só me diz o que você acha. – Pediu.

— Acho que ela vai ficar bem. – Sorriu. – Acho que todos nós vamos sair vivos dessa.

Danny saiu sem se despedir, indo diretamente até o quarto da esposa. Abriu a porta com muito cuidado, não queria incomodá-la.

— Lindsay? – Chamou por ela, mas não obteve nenhuma resposta. Respirou fundo e decidiu ir até ela, ficando bem ao seu lado. – Me desculpa por ter demorado tanto tempo para vir aqui. – Passou as mãos no rosto. – Meu rosto deveria ter sido a primeira coisa que você devia ter visto ao acordar. – Ficou observando o rosto dela em silêncio enquanto pensava no que dizer. – Meu amor, não era nem para você estar aqui. Não era para você estar nesse quarto com todos esses aparelhos conectados a você. Fiquei sabendo que você acordou e que conversou com a Jas, mas eu preciso que você acorde agora e olhe para mim. – Jas estava do lado de fora do quarto ouvindo a conversa. – Tenho tantas coisas para te dizer... o problema é que... não estou bem. – Levou a mão até o rosto dela e acariciou seus cabelos. – Está me ouvindo? – Sussurrou, foi quando percebeu que sua pele estava muito mais fria do que o normal. – Lindsay? – Chamou com a voz embargada. – Lindsay? – Usou dois dedos para checar seus sinais vitais. – Meu Deus... Jas. – O olhar que deu para ela era de pura surpresa.

— O que foi? – Seus olhos se arregalaram ao ver a expressão em seu rosto.

— Ela... ela... ela... – Apontava para a mulher na cama. – O que aconteceu? Você me disse que ela estava bem!

— Mas... mas... ela...

— Por que esses aparelhos estão desligados? – Questionou ao olhar para as máquinas. – O que você está fazendo parada aí?! – Gritou. – Vai chamar um médico! – Virou para a esposa. – Lindsay? Lindsay? – Tentou mais uma vez. – Por favor... não faz isso. – Sussurrou bem baixinho. – Lindsay! Meu Deus... – Nem pensou duas vezes antes de sair correndo do quarto para pedir ajuda. – Socorro! – Gritou ainda do corredor. Jas permaneceu sem esboçar nenhuma reação, estava paralisada olhando para ela. – Alguém... alguém... socorro! – O médico que estava responsável por ela apareceu correndo. – Minha... minha... ela parou de respirar. – Disse assim que o homem parou para falar com ele. – A Lindsay parou de respirar. – Completou.

Ele nem esperou mais explicações e já foi entrando no quarto. Checou seus sinais vitais, sem atividade.

— Certo, precisamos iniciar a RCP. – Disse para seu interno, que estava tão paralisado quanto Jas. – Vai pegar o carrinho de parada, irei iniciar as compressões – Pediu enquanto dava início as compressões. O interno nem se moveu, continuou parado no mesmo lugar, estava em estado de choque. – Seth! Vai! – Gritou, tentando sem sucesso tirá-lo de seu torpor. – Droga! – Reconectou os aparelhos a ela e continuou com as compressões. – Vocês têm que sair daqui! – Foi nesse momento que o interno saiu de seu transe e praticamente arrastou Danny e Jas para fora do quarto. Alguns enfermeiros surgiram no corredor com o carrinho de parada e entraram no quarto, fechando a porta.

O choque de presenciar aquela cena foi tão grande, que Danny nem precisou forçar o vômito, vomitou ali mesmo no corredor. Jas o ajudou passando a mão em suas costas, era a única coisa que poderia fazer por ele naquele momento.

— Você me disse que ela estava bem. – Foi a primeira coisa que disse assim que levantou a cabeça.

Jas não respondeu, mas também não estava entendendo, a mulher estava bem quando ela saiu. Danny foi até a porta e ficou olhando através do vidro.

— Não é bom ficar vendo esse tipo de coisa. – Jas puxou o braço dele, afastando-o da porta. – Danny... eu...

— Isso é minha culpa. – Levou as mãos à cabeça. – É tudo minha culpa.

— Não... não é. – Negava com a cabeça.

— É sim, a culpa é toda minha. – Engoliu o choro. – Fui eu que a convenci a se casar comigo e fui eu que escolhi parar naquele maldito beco... e agora ela está morrendo por minha causa.

— Não... – Murmurou. – Você está errado... isso não é culpa sua...

— Então de quem é? – Colocou as mãos no ombro dela e a encarou.

— Minha? – Engoliu em seco.

Danny franziu as sobrancelhas e tirou as mãos dos ombros dela.

— Como isso pode ser culpa sua? – Sussurrou. – A única coisa que você fez foi salvar a minha vida... isso é responsabilidade minha, e agora tenho que dar um jeito de consertar isso. – Segurou a maçaneta, ia abrir a porta quando ela o interrompeu.

— Danny... não... – Tentou segurar o irmão, mas ele a empurrou para o lado.

— Por favor... – Pediu enquanto espalmava a mão em sua direção. – Tenho que ir vê-la.

Ao abrir a porta, deparou-se com um ambiente completamente diferente do que esperava encontrar. Todos no quarto estavam calmos e pareciam estarem muito aliviados também. Foi quando ele ouviu o som inconfundível do monitor cardíaco que estava conectado a ela.

Ela está viva.

Uma onda de felicidade preencheu seu peito, mas essa alegria se dissipou em questão de segundos quando ouviu o doutor Running dizendo que o estado de sua esposa ainda inspirava alguns cuidados e que por enquanto não havia previsão de alta. A parada cardíaca teria sido causada por uma possível sequela do acidente que eles não viram durante a cirurgia. Aos poucos toda a equipe médica foi deixando o quarto, em questão de segundos, ele se viu sozinho com ela naquele maldito quarto. Lentamente segurou sua mão, até tentou não chorar, mas foi mais forte do que ele.

— Parece que você está só dormindo. – Murmurou em meio aos soluços. – Sei que odeia quando te olho dormir... me perdoa. – Limpou algumas das lágrimas que escorriam por seu rosto, tirou o celular do bolso e o vasculhou até encontrar a última mensagem que ela tinha deixado em sua caixa de mensagens, apertou para que fosse reproduzida.

— ...Quero que saiba que eu te amo muito e que acredito muito na sua capacidade e na sua força de vontade... sei que vai conseguir dar um jeito de resolver esse caso... – Houve uma longa pausa, sua voz ficou ainda mais embargada. – Só que estou com muito medo de acabar te perdendo. Você é tudo para mim, e eu... queria que você ficasse bem. – Fungou. – Me ligue... só para dizer se está tudo bem.

Danny segurou o aparelho entre as mãos trêmulas e deixou as lágrimas rolarem por seu rosto livremente.

— Não quero que essa seja a última coisa que você vai me dizer. – Olhou bem para seu rosto. Olhando desse ângulo... ela parecia mesmo estar só dormindo. – Queria ser um marido melhor. – Passou as mãos no rosto, limpando as lágrimas. – Eu devia ter te escutado, Lindsay. – Assentiu. – Era para ser eu no seu lugar. – Comprimiu os lábios. – Sinto muito... fui muito egoísta. – Fechou os olhos, apertando-os com força, lágrimas molharam seu rosto sem nenhuma cerimônia. Sem saber mais o que dizer, segurou a mão da esposa, levando-a até seus lábios para dar um beijo.

Quando estava se levantando para ir embora, percebeu que ela ainda estava segurando sua aliança de casamento, talvez não tivesse conseguido colocá-la antes de desmaiar. Tirou a aliança de suas mãos com o máximo de cuidado possível e guardou no bolso de sua camiseta, foi quando se lembrou de que havia guardado o comprimido exatamente no mesmo bolso. Até tentou resistir ao impulso de tirá-lo do bolso, mas foi mais forte que ele. Ficou encarando o comprimido por alguns segundos, e então voltou a olhar para o rosto pálido de sua esposa.

— Por favor, não me odeie mais do que já odeia. – Pediu, antes de levar o comprimido aos lábios e engolir de uma vez só. – Sei que não gostaria que eu fizesse isso... – Feito isso, sentou-se novamente na cadeira ao lado dela e abaixou a cabeça, começando a chorar copiosamente.

Era quase final de novembro quando eles decidiram contar para o resto da equipe a verdade sobre seu parentesco. Explicaram que Jas era meia-irmã mais velha de Danny apenas por parte de pai, mas que nunca foi reconhecida como sua filha. Acabou sendo registrada e criada por seu padrasto, um bom homem que lhe deu um nome e que para ela era seu verdadeiro pai. Seu sobrenome de solteira em questão era de origem italiana, Galimberti. Aquilo foi uma surpresa para todos, os irmãos não se pareciam em nada, Jas tinha dado a sorte de puxar para a mãe.

O ano de 2009 estava quase chegando ao fim e as frias chuvas de novembro estavam quase acabando, mas Lindsay ainda continuava internada. Tinha apresentado uma melhora significativa nos últimos dias, mas ainda não era o suficiente para que recebesse alta. Foi interrogada pelo marido algumas vezes, mas não conseguia se lembrar do que realmente havia acontecido no curto espaço de tempo entre a saída de Jas para ir ao banheiro e seu desmaio repentino. Os acontecimentos ainda estavam embaralhados em sua cabeça. A única evidência encontrada no quarto foi um travesseiro com a palavra MENTIROSO escrita em caixa-alta com tinta vermelha na fronha.

Por mais que estivessem abalados com o estado da amiga, Will e Stella não podiam se dar ao luxo de simplesmente parar de trabalhar. A vida continuava na cidade de Nova York, e os crimes também. Naquela manhã em particular, as coisas estavam mais calmas do que o normal, estavam até estranhando toda aquela calmaria, foi quando receberam um telefonema. Havia um novo homicídio na cidade, mais um hotel para a conta.

O hotel era um daqueles hotéis de beira de estrada que ficava localizado no extremo norte de Manhattan, mais especificamente em Inwood. Stella achou o lugar muito peculiar, fez uma careta ao entrar e constatar que a recepcionista não estava na recepção. Os dois seguiram pelo corredor em silêncio, não queriam espantar o suspeito se ele ainda estivesse por lá. Will lembrou que a recepcionista tinha falado sobre barulhos estranhos no quarto 23, pararam em frente a porta e bateram, se identificando logo em seguida. Nenhuma resposta.

— Esse lugar me dá arrepios. – Stella disse antes de pegar a arma, procedimento padrão antes de adentrar em uma cena do crime com possíveis suspeitos.

Will riu e também empunhou sua arma.

— Não se preocupa, eu te protejo. – Mostrou o braço para a esposa.

Stella riu e imitou o gesto do marido.

— Não se preocupa, eu te protejo. – Engrossou a voz, imitando a do marido.

Ele deu uma risadinha e apontou para o braço dela.

— Com essa bisnaguinha aí?

Ela deu de ombros.

— Talvez ele tenha pena de mim e mate só você. – Riu. – Vai na frente, para você morrer primeiro.

Will umedeceu os lábios e contou até três antes de arrombar a porta com um chute só. Entraram sorrateiramente, ele ficou verificando o quarto e ela foi verificar o banheiro. Ambos estavam vazios. Ao abrir a cortina do chuveiro, Stella encontrou a vítima morta a facadas.

— Will! – Nem foi preciso chamar duas vezes, o homem entrou correndo no banheiro. – Parece que vamos fazer hora extra.

— Então esta é Marion Gruber. – Se agachou para olhar mais de perto. – Encontrei a carteira de motorista dela na cômoda.

— Marion? – Arregalou os olhos. – Como em psicose?

— Isso mesmo... – Disse ao calçar as luvas. – Que coincidência, não acha?

Stella ia responder, quando ouviu um assobio vindo do lado de fora. Sua pele se arrepiou por completo e de repente ela se sentiu enjoada, como se tivesse comido alguma coisa estragada. Muitas lembranças vieram à tona, aquele assobio era idêntico ao de um homem que ela considerava uma verdadeira escória da terra.


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Notas finais do capítulo

É isso mesmo, não esqueci que a Stella é a protagonista de Stella... e é por isso que estou abrindo um arco novinho em folha para ela! Espero que gostem dessa nova fase da nossa fav ♥.
Até o próximo!



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