Stella escrita por Vic


Capítulo 38
Teoria do caos


Notas iniciais do capítulo

Bom dia! Sei que passei mais um sábado sem postar... e me desculpo por isso.
Esse é o primeiro capítulo em que a Stella não aparece, ela é citada apenas uma vez.

AVISO: Contém gatilhos nesse capítulo!
Boa leitura!



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É engraçado pensar em como tudo em nossas vidas parece estar sendo conduzido pela infame teoria do caos. Ninguém imaginaria que Will atender a um chamado no Hotel Even acabaria culminando no incidente de Danny, e que este incidente acabaria dando origem àquele desastroso acidente de carro. No entanto, lá estavam eles...

Jas não se lembrava de ter começado a chorar em nenhum momento, entretanto conseguia sentir as lágrimas pingando em sua roupa, deixando-a totalmente encharcada.

Lágrimas?

Sua expressão se fechou em uma careta, com um gemido, levou sua destra até a testa, notando que havia um pequeno machucado no local. A segunda coisa que conseguiu notar foi que a chuva tinha aumentado, os pingos batiam violentamente na lataria do carro, anunciando um temporal que demoraria a passar. Começou a abrir os olhos lentamente, sendo pega de surpresa pelo breu da noite. A mulher forçou a mente para lembrar do que tinha acontecido, foi quando olhou para o banco do passageiro e percebeu que Lindsay não estava mais ao seu lado. Então olhou para o para-brisa quebrado e finalmente se deu conta do que havia acontecido. Abriu a porta com um pouco de dificuldade e saiu do carro.

— Lindsay! – Começou a gritar assim que colocou os pés na grama molhada. – Lindsay! Lindsay! – Deu início a sua busca, procurando em todos os cantos. – Lindsay!

Foi em direção ao acostamento, estava pronta para começar a gritar novamente quando avistou Chad desacordado no banco do motorista do carro no qual ela havia batido.

— Chad. – Murmurou e correu até ele. – Chad! – Bateu no capô do carro. – Chad, é você? – Foi até a porta e tentou puxar, mas o carro estava travado. – Chad. – Continuou puxando, então desistiu e decidiu tentar de outro jeito. O outro jeito foi tentar abrir por dentro, já que a janela estava quebrada, mas sem perceber acabou cortando o pulso nos cacos de vidro sobressalentes. – Aguenta firme, Chad. – Continuou tentando abrir a porta, estava muito preocupada com o machucado na cabeça do amigo. Era uma lesão muito feia. – Aguenta firme, vou tentar abrir a outra porta. – Ofegou, correndo para o outro lado do carro. Quando ia tentar abrir a outra porta, percebeu que havia uma bolsa caída na grama. Se abaixou para pegar a bolsa, não a reconhecia, mas sabia que tinha que procurar mais alguém. – Susan! – Arfou, começando a correr pela grama. – Susan! – Foi até a parte traseira do carro e avistou alguém no chão, não era exatamente quem ela estava esperando encontrar. – Dixie? – Foi ao seu encontro, se agachando ao seu lado. A mulher estava encolhida na grama, como se estivesse tentando se proteger da chuva. – Dixie. – Tirou uma mecha de cabelo molhada da frente dos olhos. – Dixie. – Segurou seus braços para checar seu pulso. – Dixie. Dixie. – A mulher gemeu e tentou se mexer, mas Jas a impediu. – Não se mexa, não se mexa.

— O que aconteceu? – Murmurou, tentando abrir os olhos, mas os pingos de chuva a impediam.

— Fique quieta. – Tentou mantê-la imóvel. – Sofremos um acidente.

Dixie respirou com dificuldade, ofegando.

— Onde o Chad está? – Tentou se virar para olhar para o carro.

— Ele está no carro. – Segurou o braço dela. – Ele está muito ferido. Vou tentar pedir ajuda. Não se mexa, por favor. – Tentou fazê-la deitar a cabeça na grama novamente.

— O que você está fazendo aqui? – Indagou, tentando cobrir os olhos com a mão. Os pingos de chuva em contato com seus cílios a incomodavam.

— Eu estava dirigindo o outro carro. – Ofegou por conta do frio que estava sentindo.

— Oh meu Deus. – Murmurou bem baixinho enquanto colocava as mãos no chão para tentar se levantar. Quando ia começar a fazer força para se sentar, sentiu uma dor aguda atravessar seu pulso.

— Espera. – Jas tentou impedir. – Não, não, não.

Com um grito estridente, a mulher desistiu da ideia e voltou a se deitar na grama.

— Você não pode se mexer. Por favor, fique quieta. Por favor, não se mexa. – Tentou controlar os impulsos da outra. – Onde é que dói?

— Meu pulso. – Fechou bem os olhos, segurando o pulso esquerdo.

— Ok. – Acariciou o braço dela.

— Acho que está fraturado. – Fez uma careta e gemeu de dor.

— Mais alguma outra coisa?

Ela levou a mão até a cabeça e passou os dedos sobre o sangue em sua testa.

— Estou sangrando. – Gemeu.

— Certo. – Arrumou a cabeça dela em uma posição mais confortável. – Me faz um favor, fica bem quietinha aqui. – Tremeu de frio entre uma frase e outra. – Não mexe a cabeça.

— Oh! Meu pai do céu! – Virou a cabeça para cima, sentindo os pingos de chuva caírem em seus olhos. – Tenho que ir ajudar o Chad.

— Já estou indo. – Prometeu quando ela tentou se levantar mais uma vez. – Não, não, não, não. – Impediu, voltando-a para a mesma posição. – Vou ajudar o Chad, só preciso achar a Lindsay.

— Meu celular está no carro! – Gritou, tapando os olhos com a destra. – Eu... eu... deixei ele cair durante a batida.

— Ótimo. – Sorriu. – Por favor, não se mexe. – A obrigou a ficar na mesma posição. – Fica quietinha. Já volto. – Levantou e saiu para ir pegar o celular de Dixie no banco do passageiro do outro carro.

Começou a caminhar com ele em meio ao temporal na tentativa de conseguir algum sinal, mas só dava fora de área. Em um impulso, Jas foi correndo até seu carro para ver se conseguia achar seu celular ou o celular de Lindsay. Vasculhou rapidamente os bancos, achando um celular jogado no banco traseiro. Tentou fazer uma ligação por ele, mas este também estava fora de área.

— Lindsay! – Corria e gritava enquanto ainda tentava conseguir algum sinal de celular. – Lindsay! – Nem precisou ir muito longe para avistar a amiga deitada de bruços alguns centímetros à frente de seu carro. – Oh meu Deus... – Sussurrou bem baixinho quando percebeu que a outra não se mexia. – Lindsay. Lindsay. – Agachou ao lado dela para checar seus sinais vitais. – Ei, Lindsay. – Colocou dois dedos sobre sua laringe, tentando se concentrar em meio ao barulho da chuva e dos trovões. O pulso estava fraco, estava quase sem pulso. – Por favor, não morre aqui. – Seu corpo tremia tanto, que ela mal conseguia distinguir se era por conta do frio ou do medo que estava sentindo. – Por favor, você não pode morrer aqui. – Lindsay. Lindsay, está me ouvindo? – Mesmo sem saber se aquilo daria certo, decidiu tentar, não tinha nada a perder. – Lindsay... – Ofegou de emoção ao notar que luzes vinham em sua direção. – Tem alguém vindo. – Se levantou e começou a fazer sinais com as mãos. – Ei! Estamos aqui! – Gesticulava freneticamente com as mãos para cima enquanto corria para mais perto do acostamento. – Ei. – Arfou, tentando puxar ar quando Sage a abraçou. – O Chad... está preso no carro. – Apontou para o veículo em questão. – Não sei qual é extensão dos ferimentos... – Correram até o carro. – Não consegui abrir a porta. – Sage foi até a porta, mas acabou desviando sua atenção para a mulher no chão.

— Dixie. – Foi até ela. – O que ela tem?

— Ela só fraturou o pulso. – Se apressou em dizer. – O mais importante agora é a Lindsay... ela está lá na frente do meu carro. – Apontou na direção do carro. – Bem ali. – Agarrou o braço dele quando ele parou ao seu lado. – Não consegui sinal de jeito nenhum.

— Eu sei. – Apontou para cima. – Acho que uma das torres caiu... – Virou para ela. – Porque o meu rádio também não está funcionando muito bem. – Segurou o braço dela. – Mas vou tentar de novo... ver se consigo ajuda.

— Ok. – Assentiu.

— Uma ambulância ou algo assim... – Correu em direção ao acostamento, onde havia estacionado seu carro.

Jas estava voltando para perto de Chad, quando a voz de Dixie lhe deu um susto enorme.

— Summer... – Gemeu como se estivesse sentindo muita dor e tentou se levantar.

— Dixie. – Correu até ela. – Dixie. – Agachou ao lado dela, tentando a impedir de se levantar.

— Não consigo encontrá-la... – Sussurrou em um tom delirante.

— O Sage está aqui... – Sorriu para ela, passando as mãos em seus braços frios. – Ele vai conseguir ajuda, tá?

— Temos que encontrar a Summer... – Insistia na tentativa de se levantar, mas Jas não estava disposta a deixar isso acontecer.

— Não se mexa.

Como se percebesse que não tinha como vencer aquela batalha, voltou a se deitar, tentando normalizar sua respiração e seus batimentos cardíacos.

— Você... você tem que ir... buscá-la. – Fechou os olhos em um último suspiro antes de desmaiar.

A primeira coisa que Jas pensou, foi que o desmaio se deu por conta do frio, o corpo da moça estava tão gelado que era surpreendente o fato dela ter aguentado ficar tanto tempo acordada. A tempestade impiedosa extenuava ainda mais o estado da jovem.

Jas a arrumou da melhor forma possível e a cobriu com seu casaco. Não era muito e provavelmente não faria nenhuma diferença, mas ela gostava de pensar que estava a ajudando de alguma forma.

— Conseguiu alguma coisa com o rádio? – Indagou enquanto corria até o homem que estava tentando checar os ferimentos de Chad.

— Sim, mandaram umas ambulâncias para cá. – Virou a cabeça de lado e deu um sorriso fraco, voltando a prestar atenção no homem inconsciente.

Ela suspirou de alívio.

— Espero que cheguem logo.

— Se eu fosse você, não contaria com isso... – Limpou o rosto com a destra, a umidade estava atrapalhando sua visão. – Essa tempestade deixou metade da cidade sem energia. – Tirou um canivete do bolso, usaria para cortar o cinto que estava prendendo Chad. – Tem árvores caídas por toda parte... e se o tempo não se abrir logo... vamos ter problemas sérios...

— Por favor, toma cuidado com esse canivete. – Alertou, qualquer erro poderia ser fatal para Chad. – Conseguiu?

— Consegui. – Sorriu para ela ao terminar de cortar o cinto.

— Que bom. – Suspirou de cansaço, passando as mãos sobre os cabelos molhados. – Que bom.

Sage terminou de cortar a parte que prendia a cintura de Chad com todo o cuidado e segurou sua cabeça, preparando-se para mudá-lo de posição foi quando Jas interveio.

— Não, não, não. – Se apressou em pará-lo. – Não mexe nele. – Sage parou imediatamente o que estava fazendo e deu espaço para que ela controlasse a situação. – Ele pode ter alguma lesão na coluna. – Se aproximou só para checar seus sinais vitais, deixaria o restante do trabalho para os paramédicos.

— Como ele está? – Perguntou enquanto observava Dixie tremendo de frio na grama.

— A respiração está bem superficial, mas o pulso está muito acelerado. – Fez uma pausa para checar mais uma vez. – Esse corte foi bem feio... o airbag não funcionou.

— Consegue dizer o quão grave é? – Se encostou no carro para tentar fugir um pouco de toda aquela umidade.

— Não... – Tentou pensar, mas o frio que estava sentindo atrapalhava muito. – Não sou médica e nem enfermeira, mas acho que precisamos ir para o hospital agora.

— Certo, certo. – Ouviu o som da sirene de uma ambulância e pela altura, não parecia estar muito longe. – Agora temos que ir ver como a Lindsay está. – Correu na frente.

Jas fechou cuidadosamente a porta do carro e acariciou o ombro do amigo antes de correr ao encontro de Sage e Lindsay.

— Como ela está? – Agachou ao lado da mulher e começou a passar a mão em suas costas.

— Continua inconsciente. – Ele nem ousou fazer o primeiro movimento, deixou que Jas retirasse os cabelos de Lindsay de seu rosto e ficou ali servindo apenas como apoio moral.

— Lindsay. – Chamou, na esperança de que ela estivesse ouvindo. – Lindsay, está me ouvindo? – Nenhuma resposta veio da parte da outra mulher. – Vamos, Lindsay... você tem que acordar. – Acariciou as costas dela em uma tentativa desesperada. – Não faz isso comigo, por favor. – Suspirou de frustração, deitando a cabeça sobre suas mãos que estavam nas costas da amiga.

Sage não queria ser insensível nem nada do tipo, mas precisava perguntar.

— Quando me ligou... disse que tinha encontrado o celular do Danny... – Aumentou o tom de voz, era meio difícil ser ouvido em uma tempestade daquelas. – Então... por que não foi atrás dele?

Jas ofegou e tentou convencer seu corpo a ignorar o frio e a umidade, mas o incômodo causado pelas roupas coladas ao seu corpo tornava tudo ainda pior.

— Não deu tempo... – Confessou em um tom de voz baixo e quase choroso. – A Lindsay me seguiu, nós começamos a brigar e ela caiu da escada. – Sentiu um grande peso sendo retirado de suas costas, era bom poder dizer aquilo em voz alta pela primeira vez. – Tentei levá-la para o hospital, mas ela ficava desmaiando o tempo todo... eu... eu... tentei...

Ele sentiu pena ao vê-la naquele estado, mas não podia fazer muita coisa além de lhe dar um tapinha nas costas e dizer que acreditava nela.

— Eu sei... – Sua mão passeava delicadamente nas costas dela. – Acredito em você.

— E quando ela acordou... começou a me acusar de ter tentado matá-la...

— Espera. – Fez uma careta. – Explica isso direito, como assim? Você disse que ela caiu da escada...

— Ela tentou tomar a minha bolsa de mim, eu puxei de volta e então começamos uma disputa pela bolsa. – Tentou explicar sem cair no choro. – No último puxão, ela se desequilibrou e caiu. Eu não queria que nada disso tivesse acontecido. – Balançava a cabeça melancolicamente. – Não queria.

— Eu sei...

— Obrigada por acreditar em mim. – Agradeceu enquanto secava um pouco da água que tinha escorrido de seus cabelos para seus olhos. – Já passou da hora de encontrar o Danny... – Disse, tentando falar mais alto que o som das sirenes das ambulâncias. – Não sabemos que droga é aquela que está no organismo dele.

— É... mas ele vai lutar contra isso. – Tentou tranquilizá-la de alguma forma. – Ele vai lutar com todas as forças que ele tem. – Também estava tentando se convencer do mesmo, mas era difícil acreditar nisso, ainda mais sabendo que Danny era um ex-viciado. – Conheço ele... mas depois de provar uma vez... é meio...

— Ele vai lutar! – Gritou mais para si mesma do que para ele. – Ele vai.

— Certo... ele vai lutar, mas vai precisar de ajuda. – Encarou a amiga de um jeito bem sugestivo, já tinha passado da hora de contar isso para os outros. – Você sabe. Só você não vai ser o bastante... você é uma só e por mais que ache que está sozinha nessa, você não está. – Tentou convencê-la, mas Jas não deu nenhum sinal de que iria ceder. – Pare de tentar abraçar o mundo com as mãos.

Assim que ela abriu a boca para recusar a ajuda ofertada, o socorro chegou e os paramédicos correram até as vítimas mais graves. Primeiro retiraram Chad, com muito cuidado para não piorar ainda mais a lesão em sua cabeça. Em seguida, Lindsay, que foi imediatamente coberta com uma manta térmica de alumínio, para que assim sua temperatura pudesse se estabilizar. E por fim, foi a vez de Dixie. Com a moça as coisas foram muito mais simples, foi preciso apenas uma tala para imobilizar seu pulso fraturado e uma manta para lhe aquecer. Fizeram questão de permanecer por perto durante todo o resgate, foi o jeito que encontraram de prestar seu apoio aos amigos.

— Acho que meu trabalho aqui já acabou. – Havia uma certa alegria em seu tom de voz. – Então agora já posso voltar a procurar o Danny.

Antes que ela pudesse sair, ele a segurou pelos braços, obstruindo sua passagem.

— Não, acho melhor irmos para o hospital ver esse corte na sua testa. – Sugeriu, segurando as mãos dela para que ela não escapasse.

— Eu estou bem, estou bem. – Garantiu, puxando as mãos e insistindo para sair, mas ele não deixava.

— Você não sabe. – A encarou com uma frieza necessária.

— O que eu sei é que o Danny precisa de mim... – Retrucou. – Me deixa ir. – Tentou mais uma vez, sendo novamente contida por ele.

— Não. – Fez a mulher olhar em seus olhos. – Depois vamos atrás do Danny, mas primeiro vamos para o hospital, está bem?

Jas negou com a cabeça, fazendo uma cara de pura angústia.

— Não. – Balançava a cabeça. – De jeito nenhum.

— Vai ser rapidinho.

— Isso não pode esperar.

— Escuta... – Segurou suas mãos novamente. – Você sofreu um acidente de carro... está em choque, então precisa ser examinada por um médico. – Acariciou as mãos dela em um gesto apaziguador. – Me deixa te levar até lá, certo?

Ela se desvencilhou das mãos do amigo e desviou o olhar, mas acabou aceitando fazer o que ele queria.

— Tá bom. – Murmurou e eles foram em direção ao acostamento, onde o carro de Sage estava estacionado.

— Sage. – Era Dixie chamando de sua maca. Ele foi até ela. – Sua mãe.

— O que tem a minha mãe? – Fez uma careta.

— Ela está no hospital... – Disse bem baixinho. – Ela me pediu para te dizer para encontrá-la lá.

Jas não era muito fã de teorias, sempre preferiu a boa e velha ciência como resposta para todas as adversidades desse mundo. Mas ao parar para pensar em tudo o que havia vivido naquele dia, começou a considerar a ideia de que tudo fosse mesmo obra da odiosa teoria do caos. Um sorriso se formou em seu rosto quando ela parou para pensar em Stella, a mulher teria dito que tudo isso só podia ser castigo dos deuses. Quase acreditou que fosse, mas ela merecia mesmo ser castigada daquela forma? Evitou pensar na resposta. Talvez merecesse...

Ela não gostou nem um pouco de ser obrigada a ficar sentada em uma cama de hospital para ser examinada, mas não tinha escolha, era isso ou nada. Os cortes em sua testa e pulso eram superficiais, então a enfermeira apenas enfaixou seu pulso e colocou um band-aid no corte em sua testa para que nenhuma mosca pousasse em cima dele. Assim que foi liberada, correu para saber notícias de Lindsay. Para sua sorte uma das enfermeiras estava acabando de sair do quarto dela.

— Ela vai ficar bem? – Segurou o braço da mulher em um impulso desesperado.

— É meio difícil dizer... – Encarou a mão dela ao redor de seu braço. – O estado é crítico, só o tempo vai dizer. – Concluiu assim que Jas soltou seu braço.

— Porra! – Praguejou bem baixinho quando a mulher saiu. – Odeio essa frase.

Estava disposta a ficar plantada naquele hospital até ter notícias concretas de Lindsay. Sentia muito medo por Danny, mas não podia sair dali sem saber o real estado de sua amiga. Aquilo, em partes, era culpa sua. Se não tivesse puxado aquela bolsa com tanta força... nada disso estaria acontecendo.

Foi tão longe em seus pensamentos que nem percebeu a chegada de Will e Dante. O chefe pigarreou, fazendo-a se virar para encará-lo. Agora que a coisa ficaria ainda mais feia para o seu lado.

— Vai me contar o que foi que aconteceu, ou prefere que eu descubra por conta própria? – A pergunta não foi feita em um tom ameaçador, mas ela sentiu medo assim mesmo. – Vou perguntar só uma vez... e quero que me diga a verdade. Cadê o Danny?

Engoliu em seco, a saliva quase não desceu por sua garganta seca.

— Não sei... – Sussurrou o mais baixo possível. – Não sei onde ele está.

— Scarola... – Colocou as mãos em seus ombros e a encarou de perto. – Isso aqui não é brincadeira... é coisa séria. A mulher dele vai precisar dele aqui agora.

— Eu... eu sei. – Gaguejou.

— Olha... eu entendo que você não quer se meter nisso, mas é por uma boa causa. – Argumentou, usando o tom mais pacífico possível. – Pense bem, por...

— Não sei onde ele está. – Revelou em alto e bom som.

— Tá bom. – Passou as mãos no rosto. Não estava totalmente convencido, mas era melhor deixar isso para lá, por enquanto. – Você estava nesse acidente, não é? – Esperou a confirmação que veio com um simples aceno de cabeça. – Então me explica o que foi que aconteceu... ela bateu a cabeça no painel do carro ou algo do tipo?

— Ela foi arremessada para fora do carro.

Will fez uma careta, não estava esperando ouvir aquilo.

— Ela não estava usando o cinto?

— Não, não. – Negava com a cabeça enquanto falava. – Ela não me deixou colocá-lo. Mesmo estando desorientada, ela ainda quis comprar briga comigo. – Colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha.

— O quê? – Seu semblante se fechou. – Do que você está falando? Ou melhor, o que você não está me contando?

— Ela já tinha se machucado antes do acidente. – Confessou em um sussurro abafado.

— O quê? – Tentou manter o tom de voz baixo. – O que aconteceu?

Jas não respondeu, então ele reformulou a pergunta.

— Escuta... eu preciso saber... para conseguir ajudar...

— Ela caiu da escada. – Disse de uma vez.

Dante não estava participando da conversa e nem tinha interesse em participar, mas estava atento a cada palavra, caso precisasse intervir ou algo assim.

— Quantos degraus?

— Muitos...

— E ela desmaiou?

— Não, mas ela ficava desmaiando quando estávamos na estrada...

— Certo...

— Ela ficava indo e voltando...

— Por que ela caiu? – Interrompeu, procurando saber dos pontos mais importantes da história.

Foi a deixa para que Dante entrasse na conversa

— Licença... – Disse ao ficar atrás da esposa.

— O que aconteceu? – Will terminou sua frase.

— Hoje de manhã ela me disse que estava com dor de cabeça, pode ter sido isso. – Explicou por Jas.

Will comprimiu os lábios e deu de ombros, era uma encruzilhada.

— Encontrem o Danny. – Pediu antes de sair para tentar falar com um médico.

— Certo, iremos. – Dante prometeu.

Assim que ele saiu, Jas suspirou de alívio e agradeceu mentalmente pelo livramento. Mas para seu azar, ainda tinha que explicar aquela história tim-tim por tim-tim ao marido.

— Escuta... – Esperou ela se virar para encará-lo. – Vou perguntar isso como seu marido... e quero que me diga a verdade.

— Juro que não empurrei a Lindsay daquela escada. – Murmurou.

— Foi só uma pergunta. – Recuou, espalmando as mãos em sinal de defesa.

— Pareceu mais uma acusação. – Cruzou os braços. – Acha mesmo que eu tentaria matá-la?

Ele fechou e abriu os olhos rapidamente.

— Escuta... a Lindsay caiu da escada e tudo indica que ela estava te seguindo. A sua linguagem corporal está me dizendo que você está com muito medo dela acordar e te acusar de ter tentado matá-la.

— Mas eu não tentei. – Se defendeu.

— Acho que aqui não é o lugar certo para termos essa conversa. – Olhou ao redor, certificando-se de que ninguém estava ouvindo.

— Ótimo. – Massageou as têmporas com as pontas dos dedos. – Porque eu não quero falar disso com você.

— Essa é uma péssima escolha. – Murmurou. – Por que você e a Lindsay brigaram?

— Eu não tentei matá-la. – Cerrou os dentes ao dizer.

Ao ouvir aquilo, Dante finalmente entendeu o que havia acontecido.

— Foi por causa do Danny, não foi? – Era uma pergunta retórica. – Em que buraco foi que ele se enfiou?

— Não sei. – Fechou os olhos. – Juro que não sei.

Ele usou a mão para tapar a boca enquanto tentava processar tudo o que tinha ouvido.

— Estávamos discutindo... foi um acidente. – Tentou se defender. – Ela caiu...

— E você não podia ter impedido? – Fez uma careta.

— Foi muito rápido.

— Consulte sua mente e tente se lembrar de todos os detalhes. – Sussurrou o mais baixo possível. – Precisamos começar a tentar contornar essa situação...

— Para quê? – Estava indignada, mas manteve o tom baixo. – Eu não fiz nada.

Dante umedeceu os lábios e olhou ao redor.

— Olha... vou ser bem sincero, a coisa tá bem feia para o seu lado. – Aproximou mais seu rosto do dela, fazendo questão de olhar em seus olhos. – Se ela acordar e começar a te acusar... nem sei o que vai acontecer com você. Estou tentando te ajudar, mas você está sendo muito evasiva...

Jas franziu as sobrancelhas.

— O que quer dizer com isso? – Uma pontada de decepção atingiu seu estômago. – Você não acredita em mim?

— Será a sua palavra contra a dela.

— E você vai ficar do lado dela. – Saiu sem ao menos dar a chance do homem se explicar.

Esperar era a coisa que Jas mais odiava no mundo, mas era obrigada a fazer isso. Quanto mais o tempo passava, mais impotente ela se sentia. Era quase como se tivesse sido acorrentada a um rochedo, assim como o titã Prometeu. Horas se passaram com ela fazendo sua prece mental, sendo acompanhada apenas por Sage, que não aceitou deixá-la sozinha naquela angústia.

— Não tem outro jeito de sabermos o que está acontecendo lá dentro? – Indagou, já ficando impaciente.

— Não, temos que esperar alguém sair para falar com a gente. – Entrelaçou seus dedos uns nos outros, esfregando as mãos uma na outra. – E o Chad e a Dixie? Sabe como eles estão?

Sage parou de andar em círculos e olhou para ela.

— O Chad vai fazer uma cirurgia na cabeça, mas pelo que sei, ele está estável. – Coçou o nariz. – E a Dixie só precisou imobilizar o pulso, em umas três semanas já vai estar novinha em folha.

— E a sua mãe?

— O de sempre... – Respirou fundo. – Pressão alta, mas já está sob controle.

— Se ela morrer... – Mordeu o lábio inferior. – A culpa vai ser minha.

— Certo... – Disse sem ao menos prestar atenção nas palavras da amiga. – Vou ter que contar isso para os outros... – Esperou alguma reação da parte dela, mas ela estava tão aflita que nem protestou. – Se ficar dizendo por aí que isso foi culpa sua, as pessoas vão começar a acreditar... e não é isso que você quer.

Ela mordeu o lábio inferior.

— Como quando disse que tinha roubado drogas para ajudar o Danny?

— Loucura... – Apontou o indicador para a própria cabeça, girando-o. – É... é a palavra que ecoa na minha mente toda vez que você me diz isso.

Seu corpo tremeu, resquício do frio que havia passado naquele temporal. Ainda nem tinha trocado de roupa, e por mais que as suas estivessem quase secas, não era o bastante para espantar o frio.

— Você tem que continuar guardando o segredo do Danny. – Pediu enquanto tentava se aquecer usando as próprias mãos.

Sage tirou a jaqueta de couro que estava vestindo e deu para ela. Por sorte, havia a deixado dentro do carro quando parou para ajudar os amigos.

— Primeiramente... – Umedeceu os lábios. – Se alguém te perguntar alguma coisa sobre a Lindsay, diz que vocês discutiram e pronto. – Era meio ridículo dizer aquilo para uma policial, mas no momento, ela não estava raciocinando por conta própria. – Não fique dando detalhes, não seja evasiva, mas também não se contradiga.

— Acha que eu a empurrei escada abaixo?

Ele não respondeu.

— Eu acho que acidentes acontecem. – Foi sua resposta. – Não pode ficar se martirizando por isso... todo mundo erra.

— Alguns erros custam mais caro do que outros...

Já haviam perdido a noção do tempo que estavam em pé andando de um lado para o outro naquela sala de espera. Foi quando um médico saiu para lhes dizer que Lindsay estava estável e que a cirurgia tinha sido um sucesso. O coração de Jas sossegou ao ouvir isso, era um carma a menos em sua vida.

— Isso é bom, não é? – Sage até sorriu. – Estável.

— Sim... – Jas também estava sorrindo. – Obrigada, meu Deus. – Passou a mão nos cabelos úmidos. – Agora tenho que ir atrás do Danny... mas não sei onde procurar.

— Acho que já é hora de ligar e contar para os outros...

— Não! – Fechou a cara.

— Tá de palhaçada? – Foi uma pergunta impulsiva. – Já vai ser bem difícil explicar tudo isso para o Will...

— Se a corregedoria descobrir... ele pode perder o emprego.

Sage arrumou sua posição, assumindo uma postura mais séria.

— Beleza. – Respirou fundo. – Esquece a porcaria do distintivo... o mais importante agora é encontrá-lo...

Ela estava tão focada em encontrar o amigo, que quando ouviu aquilo, tudo ficou muito claro na sua mente. Ela sabia exatamente onde ele estava.

— O que foi? – Franziu as sobrancelhas, estranhando a mudança súbita em seu rosto.

— Eu sei... – Sussurrou bem baixinho. 

— O quê?

— Eu sei onde encontrá-lo. – Disse com muita convicção.

— Beleza. – Assentiu ao vê-la sair sem explicar nada. – Então... então eu vou com você.

Jas parou e se virou para responder.

— Não. – Recusou com um sorriso. – Tenho que ir sozinha. – Queria explicar, mas não podia perder mais tempo. – Me empresta o seu carro?

Ele tirou o chaveiro da cintura e deu para ela.

— Onde você vai?

— Te ligo quando chegar lá. – Saiu sem dizer mais nada.

Dormir em um chão duro e frio não é fácil, ainda mais quando se está molhado da cabeça aos pés e uma tempestade furiosa cai do lado de fora. Danny acordou com o som de um trovão, tentou se levantar mas seu corpo não obedecia aos comandos de seu cérebro. Levantou com um enorme esforço, conseguindo ficar sentado.

— Jas... – Chamou, ainda meio desnorteado. – Jas! – Gritou.

Vendo que ela não respondia, começou a prestar atenção naquela tempestade horrível. Nunca foi do tipo que tinha medo de chuva, mas de repente sua pele se arrepiou por completo. Então olhou ao seu redor e finalmente percebeu aonde estava, era sua antiga casa... a casa de sua infância. Os móveis antigos estavam todos cobertos por panos brancos, dando uma aparência fantasmagórica ao lugar. Sem nenhuma cerimônia, se arrastou até o móvel mais próximo e puxou o pano, usando-o para se cobrir... mesmo assim aquele frio desgraçado não passava.

Precisava de uma fonte de calor melhor, então começou a procurar alguma coisa mais inflamável entre os móveis da casa. Acabou desistindo, era uma péssima ideia, podia simplesmente acabar colocando fogo em tudo. Quando havia perdido as esperanças, sua mão pousou em uma das antigas velas que sua mãe colecionava. Por sorte, sempre carregava um isqueiro consigo, item básico de sobrevivência. Tirou o isqueiro do bolso e acendeu a vela, sorrindo logo em seguida. Cansado demais para manter os olhos abertos, deitou ainda segurando a vela e encarou a chama até dormir. Era quase como se estivesse em casa com sua mãe outra vez.

Enquanto dormia, sonhou com aquele incêndio terrível que ele mesmo causou por acidente, e que arrancou sua família de sua vida. Havia passado tanto tempo sem pensar naquilo, que era quase como se tivesse acontecido em outra vida, mas agora tudo aquilo estava diante dele novamente.

— Danny! – Uma voz que ele não conseguiu identificar o chamou de muito longe. – Está me ouvindo? Você está aqui?

Danny abriu e fechou os olhos rapidamente, era só um sonho.

— Danny! – Jas gritou e correu para a entrada da casa. Seu coração se partiu quando o viu naquele estado. – Oh... meu Deus. – Correu até ele. – Danny. – Se ajoelhou ao lado dele e passou as mãos em seus cabelos. – Não... – Sussurrou ao notar que sua pele estava muito fria. – Meu Deus... não. – Suspirou, encostando a testa nele. – Vai ficar tudo bem. Não faz mais isso comigo, tá bom? – Acariciou os cabelos dele. – Vai dar tudo certo... você só precisa abrir os olhos. – Encostou seu rosto no dele e o abraçou. – Eu voltei para você... eu voltei.


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Notas finais do capítulo

Que cena mais fofinha, véi! ♥️
Até o próximo!



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