The girl from LA escrita por Ka Howiks


Capítulo 2
capítulo 2: Conhecendo


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos leitores! Aqui vai o segundo capítulo da long fic " The girl from LA". Espero que gostem!!



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Pov Felicity Smoak

A noite não havia sido tão mal como eu pensei. O quarto( que com a ajuda de Oliver) eu consegui era ótimo. A cama era maravilhosamente bem espaçosa e macia, o que me proporcionou uma boa noite de sono. Os detalhes também eram interessantes, e de certa forma me lembravam o que deveria ser o meu chalé, só que ao contrário desse lugar lindo ele estava completamente despedaçado.

Não tenho ideia de quando vou voltar para lá.

E o pior de tudo é que eu estou pagando para ficar aqui.

Os móveis eram todos rústicos, no entanto,delicados. A vista da janela era algo que eu havia gostado muito, tanto que puxei as cortinas quando fui dormir, deixando a vista da noite me entreter até que meus olhos pesaram. Acordei somente com o despertador, e em um movimento rápido pulei da cama. Abri a janela para sentir o clima, e ao notar que estava um pouco frio, mesmo diante do sol timido que brilhava entre as árvores decidi separar uma blusa branca de gola alta e manga longo, com uma calça preta e meus sapatos de salto baixo, e assim, parti para o banho. Terminei de me arrumar a tempo, passando um batom nude e colocando uma jaqueta caramelo. Desci, cumprimentando outros hospedes que pareciam decidir se tomavam café ou não. Aguardei Oliver do lado de fora, sem deixar de apertar minha bolsa. Respirei fundo.

Eu estava nervosa.

E o suor em minhas mãos deixa explícito isso.

Talvez fosse por minha falta de prática, ou pela forma que passei quase os últimos anos…Suspirei, levando minha mão até a aliança escondida e a apertei, fechando os olhos. Eu não queria ficar melancólica.

Não de novo.

Aquela sensação de sufocamente, juntamente com a garganta fechada...Notei que meus olhos marejaram, e tratei logo de secá-los. Seria um dia bom, relaxado e divertido.

Eu necessitava disso.

O barulho da buzina me despertou. Oliver desceu do carro, e pelo o que pude notar estava mancando levemente. Cruzei os braços, fechando a cara, o que não durou mais do que meio segundo ao ver seu sorriso. O mesmo trajava uma calça jeans e uma jaqueta preta, que o deixava, se assim fosse possível, mais lindo e quente do que já era. Engoli em seco.

— Nossa.- murmurou com os lábios entreabertos ao me encarar.- Você tá linda.

— Você também.- sorri. Semicerrei os olhos ao me aproximar.- Foi impressão minha ou você estava mancando?

— Não tenho ideia do que esteja falando.- o dei um empurrãozinho no braço enquanto caminhavamos até o carro.- Não quero que se preocupe comigo hoje.

— Pedido dificil. Mas vou tentar.

E assim partimos. Oliver me explicou que seu carro ainda estava na oficina, mas que tinha previsão para pegá-lo em dois dias. Encostei a cabeça na janela, observando a paisagem verde. Sempre amei trilhas, não que houvesse muito tempo em Los Angeles, às vezes eu me surpreendia ao achar um tempo para dormir, mas sempre que podia corria no parque, ou na esteira na minha antiga casa. Ray sempre me incentiva, dizendo que isso ajudava e muito no estresse.

Ele amava correr.

E eu, bom, como uma boa esposa, tentava acompanhá-lo. Não que funcionasse, várias vezes já havíamos combinado de competir em corridas, e eu sempre o fazia perder por ficar à deriva no meio do caminho, mas ele não desistia, e dizia que só cruzaria a linha de chegada se eu estivesse ao seu lado.

 Percebi, tarde demais, que havia segurado minha aliança mais uma vez. Olhei para Oliver, que continha o olhar concentrado a frente, e então discretamente coloquei a corrente por dentro de minha blusa. Não queria perguntas.

Até porque eu ainda não estava pronta para respondê-las.

Andamos mais um pouco, até que finalmente o carro foi estacionado. Oliver desceu, e abriu a porta para mim. Claro que eu iria sair antes caso tivesse conseguido, no entanto, o sinto parecia simplesmente não querer cooperar. Oliver riu e se aproximou, pedindo licença ao colocar a mão perto de minha cintura. Prendi a respiração com sua proximidade, sentindo seu perfume maravilhoso...Seu olhar era baixo, concentrado, mas em um momento o ergueu, e me lançou um sorriso tímido, o qual retribui. Continuei a observá-lo, até que finalmente deu um passo para trás. Demorei a raciocinar alguns segundos de que já poderia sair. 

—Posso te dar um conselho?- disse de repente.- Esses seus sapatos...Acho que não vão ser bons companheiros.

— Ah, eu já estou acostumada. Não é como…- dei um passo, mas diante as pequenas pedras espalhadas escorreguei, sendo amparada rapidamente por seu braço.- Ok, entendi seu ponto. Mas temos um problema…Eu não trouxe outro.- suspirei, era claro que eu deveria ter usado outra coisa. Ele deve estar me achando uma patricinha mimada da cidade.

— Eu não estou não.- respondeu, levei a mão à cabeça.

— Eu fiz de novo, não é?- fechei os olhos, Oliver soltou um riso baixo.- Me desculpe.

— Não têm que se desculpar pelo seu jeito de ser.- entreabri os lábios, surpresa.- Bom, digamos que você tenha conhecido um guia muito incrível, e ele, de repente, pensou em trazer botas extras exatamente para essa situação.

— Ele não seria tão perfeito assim, seria?- Oliver foi ao carro, voltando com um par de botas. Levei a mão à boca.- Ele é perfeito sim.

— Perfeito não, tem muitos defeitos..- abaixou a cabeça, um tanto envergonhado.- Eu te ajudo.

Continuei a observá-lo enquanto calçava a bota. Eram raras as pessoas que assumiam tão claramente que tinham defeitos. Ele, no entanto, não pareceu se esforçar para dizer isso, como se já estivesse acostumado a olhar para esse lado.

Muito acostumado.

Me peguei pensando o porquê.

— Certo. Agora…- segurou minha mão.- Peço que deixe sua bolsa.

— Eu preciso levar. Minha vida toda está aqui. E se alguém me ligar?

— Essa pessoa não vai ter tanta sorte, já que aqui não tem sinal.

— Mas…- me calei com o toque de sua mão em meu ombro.

— Confia em mim?

Não respondi, mas deixei a bolsa para trás. Oliver segurou em minha mão, e com um olhar divertido me guiou. Descemos uma espécie de escada natural e adentramos uma mata de árvores baixas, com galhos secos, quais eu tive que tomar cuidado para não me arranhar. Andamos um tempo, o que de certa forma me cansou, não antes de me recordar de uma coisa. Parei abruptamente, o que fez Oliver se virar para mim, preocupado.

— Eu sou uma irresponsável!- disse raivosa.- É claro que eu deveria ter trazido o celular mesmo sem sinal. Se nos atrasarmos, o doutor Lance…

— Eu o avisei.

— Você o quê?- perguntei surpresa.

— Disse que poderíamos nos atrasar, e deixei claro que a culpa é minha...Tá tudo bem?- parou no meio da frase ao perceber meu olhar, tentei disfarçar.- Felicity…

— Oliver, eu entendo suas intenções, são as mais bonitas possíveis mas…- suspirei, tentando deixar minha irritação de lado.- Dá próxima vez deixe que eu fale com ele,ok? Ele é o meu chefe e estamos falando do meu trabalho, uma hora ou outra vou ter que resolver isso.

— Claro, me desculpe.- pediu sem jeito.- Eu não queria me intrometer, só achei que fosse uma boa ideia, assim Quentin não acharia mais motivos para…

— Dizer que eu não sou capacitada para o cargo.- completei. Minha voz saiu baixa, mas era clara a minha irritação. Eu não o entendia, aquele senhor parecia simplesmente ter me escolhido para ser um alvo de ódio.

— É claro que você é capacitada, e tem muita opinião.- levantei o olhar.- A forma como se posicionou quando chegou, não se deixando abalar…- engoliu em seco.- É uma mulher notável Felicity.

Nossos olhares se encontraram, e por um segundo eu fiquei completamente sem palavras. Comecei a sentir uma sensação estranha, familiar a que me transcorria toda vez que Oliver me encarava tão abertamente. O mesmo limpou a garganta e coçou a cabeça, desviando o olhar. 

          - Realmente me desculpe.

— Está... tudo bem.- tentei me recompor, ainda afetada.- É meio que seu instinto ajudar todo mundo, não é?

— Percebeu isso em vinte quatro horas?

Ah, senhor Queen, vai aprender com o tempo que esses olhos aqui -apontei.- são muito observadores.- o mesmo pareceu mais leve com minha brincadeira.

— Vamos descobrir se eles são bons mesmo.

Voltamos a caminhar. O terreno começou a ficar mais tortuoso, porém o barulho de um grande volume de água começou a se fazer constante, o que indicava que estávamos chegando. Os galhos começaram a desaparecer, e logo tive a visão mais impressionante da minha vida. Entreabri os lábios.

 Parecia um quadro bem desenhado.

 Cada detalhe minuciosamente pensado.

A água corria entre as pedras, serena, e com pequenas ondas que indicavam que se movia. E as árvores ao fundo...Tão imensas, tão encantadoras, e de certa forma tão intimidantes me tiraram o fôlego. Era uma paisagem incrível, com uma floresta misteriosa que nos fazia questionar o que de fato sabíamos sobre a vida. Nós humanos nos colocamos há muito tempo no centro do mundo, mas e o mundo?

  Que segredos ele contém?

  Que segredos são esses que de uma hora para outra mudavam completamente nossas vidas?

   E o que é viver no final das contas?

 O canto dos pássaros era a única coisa que eu ouvia com atenção, com o olhar preso naquelas aves que pareciam tão distantes.

   - Deve ser muito bom voar. Libertador.- sorri.- Uma pena não podermos.

  - Há formas de fazer isso.- disse Oliver, também com o olhar distante.

   - Eu sei, mas sou medrosa demais pra essas coisas.- soltei um riso baixo. Encontrei seu olhar divertido.

   - Você iria gostar. Como mesmo disse, é “libertador”.

   - Já fez algum esporte radical?- perguntei interessada.

   - Mais ou menos.- um sorriso triste se formou em seus lábios, qual tratou logo de fazer desaparecer.- Mas já pulei de paraquedas.

   - Não.- disse perplexa.- Você se jogou de lá?- apontei pro céu.- E parou aqui?- indiquei o chão.- Você é louco.

   - Ah, eu sei.- rimos juntos.

   - Qual é a sensação?- encarei seus olhos.

   - É simplesmente...Inexplicável.- uma ruga surgiu entre suas sobrancelhas.- Claro que dá medo flertar com a morte, e quando nós estamos lá encima...- Oliver tinha o olhar perdido em lembranças, como se houvesse voltado aquele tempo.- Vendo tudo nos damos conta do quão pequenos nós seres humanos somos diante de um mundo tão grande. E na hora do salto...- seu sorriso se alargou- A sensação de despencar, a adrenalina a mil...É incrível. Um lugar neutro, onde todos os seus medos não parecem ser tão poderosos assim. E pelo menos um minuto você deixa de pensar e apenas...Sente.

  Me imaginei no lugar das aves, experimentando o que Oliver descreveu. Um lugar neutro, longe de pensamentos ruins, sem dores…

  Era tudo o que eu queria nesses últimos tempos.

 Não sentir dor.

  Fechei os olhos, apreciando a brisa leve e gelada que soprava pelo rio. Não soube quanto tempo se passou, mas ao abrir os olhos encontrei Oliver, que me observava de maneira interessante. Senti minhas bochechas queimarem.

— O que achou?

É…- suspirei, levantando os braços.- Eu não tenho nem palavras. Vem muito aqui?

— Frequentemente, é um dos meus pontos de refúgio, onde coloco meus pensamentos em ordem.- seu olhar se perdeu novamente no horizonte.- Na realidade Virgin River é o meu refúgio.

— Você ama essa cidade, não é?- não consegui me segurar.

— Amo. É o meu lar.- deu de ombros.- E todos aqui são como uma segunda família pra mim.

— Então minha tese estava certa, todos te escutam aqui.- brinquei.- Não vai me dizer que você é também um dos responsáveis pelas festas beneficentes.- seu sorriso se tornou tímido.- Ah meu Deus, é você.

— Você é observadora mesmo, não é?- sorri de canto. Oliver balançou a cabeça divertido.- A garota de Los Angeles começa a mostrar suas garras.

— Em minha defesa eu avisei.- Oliver sorriu mais uma vez.- Sabe que…

Um barulho que ecoou pela floresta me fez pular. Os pássaros haviam piado e ido embora, e um silêncio estrondoso se fez presente. Não vi exatamente como aconteceu, só soube que em um instante Oliver estava ao meu lado, e no outro havia de alguma forma me colocado atrás de si, segurando em meu braço, enquanto permanecia com o olhar fixo à frente. Seu maxilar estava trincado, e o olhar, em alerta, encarava a outra ponta do rio.

— O que foi isso?- sussurrei em suas costas.- Isso foi…

— Um tiro? Sim.- respondeu, ainda sem me encarar.

Acho que nunca o vi tão sério.

Seus ombros estavam rígidos, e o rosto completamente tenso. Oliver ainda me segurava, mas ao notar que estávamos seguros suspirou.

— Está tudo bem.- comentou mais leve, se virando em minha direção.- Foi longe.

— Mas ainda sim foi um tiro. Talvez devêssemos chamar o doutor Lance…

— Ele sabe, e dependendo de quem levou esse tiro não vai demorar muito para chamá-lo.

— Quem vai chamá-lo?- perguntei confusa.- É frequente?

— Depende. Há muita plantação ilegal de maconha por aqui.- respondeu, indicando a floresta.- Não tão perto, mas pelo parque.

— E a polícia não faz nada?

— É a polícia do estado que deveria fazer alguma coisa, mas como isso não acontece…- deu de ombros.- Quentin fez um acordo com eles, e uma vez no mês vai cuidar dos doentes e em troca eles mantêm essa guerra longe de Virgin River.- assenti enquanto o escutava. Doutor Lance era realmente muito corajoso em aceitar um acordo desses, principalmente quando se trata de pessoas que claramente não querem ajuda.

— Nossa.- foi tudo o que consegui dizer.- Quem diria que por trás dessa calmaria toda havia uma história sangrenta.

— Como eu disse, nada é perfeito.- assenti, um sorriso brincou em seus lábios.- Mas acho que tem um lugar que você vai gostar.

— Oliver…- o repreendi.- Eu não posso me atrasar.

— E não vai, é no caminho. Vamos lá Felicity, por favor…Não vai dizer não ao melhor guia de Virgin river- comecei a rir.

— Jamais seria tão mal-educada. Mas cá entre nós...- me inclinei um pouco em sua direção e sussurrei.-Onde ele está? Posso me perder o procurando.

— Isso doeu, bem aqui.- levou a mão ao peito, fingindo sofrimento. Prendi o riso.- Quebrou meu coração Felicity

— O coração não se parte de fato, e como médica eu sei bem disso, mas entendi seu ponto.- Oliver sorriu, balançando a cabeça.- Que lugar quer me mostrar?

— Não quer encontrar o seu guia? Ele deve estar por aí.- fingiu tristeza.

— Já havia pensado muitas coisas sobre você, mas dramático é novo.- brinquei.

— Tem pensado sobre mim doutora Smoak?- seu sorriso se ampliou, em tom provocativo. Fiquei sem graça, o que pareceu diverti-lo ainda mais.- Pensamentos bons?

— Eu…- suspirei sem saber ao certo como responder. Claro que eram pensamentos bons.

Muito bons.

Mas eu não diria isso a ele, era constrangedor demais. 

Arrumei minha postura e tentei encará-lo da maneira mais séria possível.

— No momento quero jogá-lo naquele lago.

— Não seria tão cruel.

— Ah, eu seria sim.

Acabei sorrindo, mesmo sem pretender. Era fácil me divertir em sua presença.

Isso deve ser algo bom.

— Então...Vamos?

— Sim, nesse frio tudo o que eu menos quero é ser lançado ao mar.- acabei rindo.

— Tão dramático…

— Um pouquinho.- Piscou.

***

Não demorou tanto como eu havia pensado. Paramos em uma praça bem arborizada assim como o restante da cidade. Haviam alguns banquinhos ao longe para descanso, sem contar com os trajetos para caminhada. Observei um trailer ao longe, e instantaneamente soltei um grito baixo, levando a mão à boca.

— Mentira.- o encarei incrédula.- Aquilo é…

— Café expresso e rosquinhas?

— É um sonho!- eu jamais esperava encontrar esse tipo de coisa aqui, um dos contras ao se mudar para uma cidade pequena, mas aquilo…

Era simplesmente maravilhoso.

Meu corpo parecia mais feliz.

— Temos uma viciada em café em Virgin River.- brincou.

— Em minha defesa meus plantões eram longos, e aquele líquido era a única coisa que me mantinha acordada.

— É um trabalho muito pesado, imagino.

— Você não tem ideia.

  Um barulho em minha bolsa me fez olhar para baixo. Meu celular estava carregado de mensagens e com diversas ligações perdidas.  Soltei um suspiro desgostoso.

Eu havia esquecido de avisá-la.

— Snow vai me matar.- murmurei enquanto abria as mensagens.

— Namorado?

— Melhor amiga e irmã, extremamente amorosa e possessiva quando quer.

— Conheço bem o tipo.- paramos em frente ao trailer e uma moça jovem de cabelos castanhos claros e curtos apareceu, sorridente.

— Companhia bonita Ollie.- o vi revirar os olhos 

— Não comece.- a repreendeu.- Essa é minha irmã, extremamente amorosa e irritante, Thea Queen.- a apresentou.- Essa é Felicity Smoak.

— A garota de Los Angeles- disse animada.- É um prazer.- me estendeu a mão.- E esqueça essa introdução totalmente inverdadeira que o Ollie acabou de fazer.

— Ninguém me chama assim.- resmungou Oliver.

— Então pare de me chamar de Speedy.

— Não, eu sou o irmão mais velho.- provocou. Thea bufou.

Sorri com a interação dos dois. Apesar das provocações era claro o amor que Oliver tinha pela irmã, e a mesma não ficava para trás. Thea, após parar de provocá-lo se virou para mim, sorridente.

— O que vai querer? Temos rosquinhas, Latte…

— Latte?- minha animação aumentou.- É melhor se acostumar comigo, pois vou ser uma cliente frequente.

— Thea costuma lucrar muito com viciados em café.- dei um empurrãozinho no ombro de Oliver que sorriu. Encontrei o olhar de Thea, que nos assistia divertida.

— Vou prepará-lo especialmente para você.

A aguardei, enquanto respondia Caitlin. Não demorou muito, meu café foi entregue com um pequeno saco de rosquinhas.

— Cortesia.- piscou.- Eu gostei de você.- disse simplesmente.-Se precisar de uma amiga sabe onde me encontrar.

— Entra pra lista, já disse pra ela me ligar primeiro!

Sara apareceu, caminhando com as mãos nos bolsas e uma jaqueta jeans. Cumprimentou Oliver com um abraço, e fez o mesmo comigo, pedindo um café a Thea também.

— Conhecendo as maravilhosas peculiaridades de Virgin River?

— Sim, são lindas, Oliver me levou a represa hoje.

— É realmente um lugar incrível, e calmo.- seu tom remetia a alguma coisa a mais, já que encarou Oliver com um sorriso de canto. O loiro revirou os olhos.

— Quando o tempo passar, vai descobrir que Sara é uma pessoa que tira nossa paciência de forma mágica.- a provocou. 

— Não, isso é com o Tommy.

— De fato.- concordou.- O nível do Merlyn é insuperável.

— Vocês são próximos?- perguntei, curiosa. Pela dinâmica aparentava que sim.

— Somos muito.- Sara sorriu.- Como uma segunda família. Tentamos nos ver sempre, claro que o trabalho atrapalha um pouco…- suspirou.

— Você trabalha do que mesmo? Desculpe a curiosidade.- Sara sorriu.

— Além de uma academia, eu ajudo na prefeitura. Inclusive Pollard tem falado de você pra mim. Estamos tentando resolver.

— Isso…

— Aqui está Sara.- Thea a chamou, não deixando que eu terminasse.

— Obrigada, tenho que ir.- se despediu apressada.- Até mais!

— Bom, temos que ir.- Oliver me chamou.

— Tchau Thea, foi um prazer.- sorri.- E pode contar comigo como uma cliente fiel.

— Vou lembrar disso, hein?

Oliver a deu um abraço rápido, e soltou um resmungo diante de algo que a mesma havia sussurrado, infelizmente baixo demais para que eu pudesse entender.

  Logo paramos em frente à clínica, não tão longe do centro. Retirei o cinto e encarei Oliver por um tempo.

— Foi ótimo. Obrigada.

— Tirando as ameaças foi bem divertido.- um sorriso brincou em seus lábios.- Está com a chave do carro?

— Eu realmente posso ir buscá-lo.

— Eu a chamei, então a razão para você estar sem carro é minha culpa. Em menos de duas horas estará aqui.- assenti.

Oliver sempre queria ajudar todo mundo.

— Já que eu sei que não adianta discutir…- Abri a porta.- Mais uma vez obrigada, Oliver.

— Bom trabalho doutora Smoak.

  Sorri, caminhando até a entrada. O vi desaparecer, e no instante que eu me preparava para entrar Tommy abriu a porta, aparentemente nervoso.

— Hey, o que foi?

— Quentin ligou, precisa de ajuda.

— É grave?- perguntei preocupada.

— Não muito, mas pode ficar. Ele pediu para te falar para ficar aqui caso alguém aparecesse.

— Claro, um de nós precisa ficar.- pela primeira vez concordei com Quentin.- Pode ir, e boa sorte. E Tommy!- gritei seu nome quando o moreno acabava de descer a escada. Joguei as rosquinhas em sua direção.- Precisa mais do que eu.

— Você é simplesmente maravilhosa.

Ri e então entrei, divertida. Tudo parecia normal ao meu ver. Pendurei meu casaco e então olhei para os lados.

— Vamos explorar o local então.

***

Já haviam se passado horas em que eu estava completamente sozinha. Analisei os equipamentos, algumas fichas que Tommy na hora da correria deve ter largado e no momento encarava impaciente o teto. O barulho da porta se abrindo, no entanto , me chamou atenção. Arrumei a postura, encontrando o olhar de uma jovem mulher assustada, com ombros retraídos, segurando a barriga. 

— Onde está o doutor Lance?- perguntou, insegura quando me viu.

— Ele teve uma emergência.- respondi, analisando sua barriga.- Mas eu sou a nova médica...Posso ajudá-la com alguma coisa?- a mesma negou. Sua expressão se tornou sofrida derrepente, soltando um gemido baixo.- Quando vai nascer?- perguntei, notando sua gravidez.

— Pelo o que estou sentindo vai nascer a qualquer minuto.

— Certo...E se você me deixar examiná-la? Juro que não mordo.- a fiz rir, a deixando mais confortável..- E se te faz sentir melhor eu também sou parteira, então tenho expericiencia. - a vi pensar.

— Certo.- assentiu, suspirando. 

— Vamos dar uma olhada nesse bêbe.- sorri.- Sou a doutora Felicity Smoak, e você é…?

— Gina White.

— Certo Gina, vamos dar uma olhada nesse bêbe.

Gina pareceu mais relaxada assim que a deitei na maca, contando inclusive que a dor havia melhorado, o que me ajudou a dar o diagnóstico.Sabia muito bem como era sentir aquelas dores terríveis, que realmente parecia de um inicio de trabalho de parto. A dor do parto em si eu nunca senti.

Infelizmente

Tentei limpar o olho rapidamente quando o notei lacrimejar.

Voltei a me concentrar, checando o bebê ao passar o famoso e amado gel por sua barriga. Terminei de anotar as últimas informações quando a porta se abriu, revelando um Quentin cansado carregando uma mala. Um brilho de choque passou por seus olhos assim que viu Gina deitada, que passou para irritação assim que virou o rosto para mim.

— O que acha que está fazendo?- seu tom, embora tentasse ser educado por não estarmos sozinhos saiu completamente ríspido. 

— Estou atendendo uma paciente.- indiquei como se fosse óbvio. Quentin bufou.- Agora nos de privacidade.- me ergui caminhando até a porta.

— Mas…

— Eu estou atendendo uma paciente.

Sua reação ao ter a porta fechada em sua cara teria sido engraçada se eu não soubesse que conversariamos depois. Tentei me manter calma ao voltar para Gina, que aguardava seu diagnóstico.

— Só um susto mamãe.- Gina suspirou, aliviada.- São as famosas contrações de braxton Hicks.

— Hicks o quê?- disse confusa.

— Contrações falsas, elas preparam seu corpo para o parto futuro, e como o seu estar perto…- a vi sorrir, contente.- É normal que elas ocorram.

— Isso foi falso? Imagine a verdadeira!- acabei rindo.- Acho que não vou conseguir.

— Claro que vai! E quando olhar para a carinha desse garotinho aqui…- apontei para sua barriga.- Tudo vai valer a pena.

— Eu espero.- sorriu tímida.- E Felicity...Obrigada.- agradeceu. Segurei sua mão, a apertando levemente.

— Descanse que vou pedir para Tommy ligar para seu marido, ok? E lembre-se, nada de esforço, está na reta final.

— Pode deixar.

A olhei mais uma vez e sai, deixando a porta entreaberta. Encontrei Tommy na sala de espera, preenchendo alguma coisa. Seu olhar se encontrou com o meu, e pude perceber que ele não estava tão feliz.

— Ele quer me ver, não é?-passei a mão no rosto.

— Tente...Tente não levar pro lado pessoal, ok?- bufei. Tommy colocou a mão sob meu ombro.- Vou ligar para o marido de Gina e vou correndo pra lá.

— Me prestar apoio?

— Claro que sim, te conheço a mais de vinte e quatro horas, não somos mais estranhos.- sorri.- Aguente firme.

Segui para a sala com a postura reta, preparada para a batalha. Dei dois toques a porta, e quando entrei Quentin, que olhava para o nada.

— Doutor…

— Quem te deu permissão para examiná-la?- me cortou, ainda sem me encarar. Suspirei.

— Ela teve contrações de Braxton Hicks, e como eu não tinha certeza se era um alarme falso ou não…

— Eu não te dei permissão pra isso!- aumentou a voz.- Quando eu disse que poderia ficar na minha clínica, deixei bem claro que deveria seguir as minhas ordens, o que a senhorita não fez hoje.

— Eu deveria assisti-la morrer de dor então?-perguntei irônica.- Você não estava aqui.

— Poderia ter me ligado.

— Até lá algo grave poderia ter acontecido…- suspirei.- Sério que prefere deixar alguém morrer ao invés de me deixar trabalhar?

— Eu não confio em você, e esses pacientes são a minha família!- disse firme, se erguendo da cadeira.- E eu não vou deixá-los na mão de uma desconhecida. Você poderia matá-los!- trinquei os dentes.

Nesse momento todo o meu autocontrole se esvariou. Escutei a porta sendo aberta, mas estava focada demais no rosto contraído de Quentin. Dei um passo à frente, colocando as mãos apoiadas na mesa, exatamente como ele.

— Está menosprezando o meu trabalho?- meu tom de voz saiu baixo, e incrivelmente frio.- Acha que eu saio por aí brincando de médica? Colocando a vida das pessoas em risco?

—  Ele não quis dizer isso Felicity…- era uma voz feminina, me virei e encontrei Sara ao lado de Tommy, ambos apreensivos. Assenti em tom sarcástico.

— Se eu não posso trabalhar, o que posso fazer?- voltei a encarar Quentin.

— Arrume o escritório, faça um café…- ri nervosa.

— Eu acho que nunca me senti tão desrespeitada em toda a minha vida.- balancei a cabeça, com a garganta fechada. Minha raiva era tanta que meus olhos começaram a arder.- O senhor pode ser o meu chefe, mas não tem direito algum de me desrespeitar!

Quentin entreabriu os lábios, mas como não tinha nada a dizer saiu da sala, finalizando a discussão. Encarei suas costas, em seguida Tommy e Sara, que se entreolhavam.

— Está sem condições ficar aqui.

— Você não pode ir embora!- Sara segurou meu braço.- Meu pai precisa de você.

— Não precisa, e ele deixou isso claro.- sorri amarga.- Além do mais nada me prende aqui.

— O contrato…

—É uma fraude, já que eu estou pagando com o dinheiro do meu bolso uma moradia que deveria ser garantida.- respondi.- O que o torna invalido.

— Felicity, tenha calma…- falou Tommy.- A cidade precisa de você.

Não respondi, apenas assenti de cara fechada. Sara e Tommy tentaram de todas as formas me persuadir a ficar, mas diante da minha falta de comunicação decidiram que era melhor me deixarem um pouco sozinha. 

  À tarde se passou mórbida, completamente diferente da manhã. Meu corpo estava pesado, minha mente não era uma boa companhia no momento, tanto que me arrastei as horas seguintes, até que meu turno se acabasse. Eu estava exausta.

Cansada.

E pensando seriamente em voltar pra casa.

“Casa”

Nem isso eu tinha mais.

Voltar seria o mesmo que reabrir as feridas, quais eu não estava preparada. Mas eu sentia falta de ter um lar.

Queria chorar no ombro de Caitlin e abraçá-la, exatamente como vinha fazendo nos últimos tempos. Caitlin me apoiou muito, e nos momentos em que eu parecia não ter mais vida ela não me deixou, ao contrario, se fez mais presente.

Ela era minha família.

E talvez estivesse certa sobre a decisão precipitada.

Ou talvez não.

Quando eu parava para pensar em Los Angeles e no estado em que eu deixei aquela cidade tudo o que eu sentia era dor. Foi por isso que eu quis me mudar.

Mas será que valia a pena tudo isso que eu estou passando?

Eu não sei dizer.

Peguei minha bolsa e sai, dando tchau a Tommy, já que Quentin estava trancado em sua sala, e por mim ele poderia ficar lá para sempre.

 Quando me dei conta, já estacionava em frente ao “ Queens”. O bar estava movimentando, como de costume para a noite. Caminhei até o balcão, encontrando Oliver que terminava de servir um homem. Um sorriso tomou conta de seus lábios ao me ver e eu retribui, mesmo cansada.

— Boa noite doutora Smoak. Como está?

—  Quero algo bem forte, por favor. - praticamente me esparramei sobre o balcão.

— Dia ruim?

—Muito.- respondi, erguendo o rosto.

— Sara me contou.- murmurou em tom baixo, enchendo um pequeno copo de whiskey.- Vai mesmo embora?

 Suspirei e virei a dose de uma vez, sem encara-lo.

— Sinceramente eu não sei.- rodei o copo com a ponta dos dedos, o balançando de um lado para o outro.- Meu contrato é uma fraude. Não tenho casa e Quentin parece cada vez mais disposto a me enlouquecer e a me fazer pedir demissão.- balancei a cabeça, irritada.

Encontrei seu olhar, que embora sério estava pensativo. Seus olhos azuis encaravam um ponto qualquer, até que limpou a garganta e disse:

— Vai fazer muita falta.- sua voz saiu baixa, até mesmo...Triste?

Por que ele estava triste?

— Mas se a faz feliz…

— Há muito tempo eu não sei o que é isso.- sorri melancólica. Oliver me olhou preocupado.- Mas nada me prende aqui.

— Alguma coisa a fez vir.

Suspirei pesadamente. Era óbvio que alguma coisa extrema me fez parar nessa cidadezinha.

Eu só evitava pensar.

Mesmo sabendo o porquê.

— As coisas nunca são fáceis no começo, mas garanto que vão melhorar.- Falou com tanta certeza que por um minuto eu acreditei.- E o doc…

— É grosso, sem educação e ranzinza.- o interrompi, falando tudo o que queria dizer para o próprio doutor horas atrás.- Ele não me deixa trabalhar Oliver, prefere que um paciente morra a me deixar cuidar de alguém! E nem venha me dizer que por trás disso tudo ele é uma boa pessoa.- ergui o dedo em riste no momento em que o vi abrir os lábios.- isso não o dá direito de me desrespeitar.

— Não vou defender a atitude dele, ele está errado.- falou prontamente.- É que...É um pouco complicado para ele aceitar ajuda. Quando Tommy chegou…- suspirou pesadamente.- Foi terrível, principalmente por Tommy ficar com Sara.

— Ele o quê?- arregalei os olhos.- Ele e Sara…?

— Algumas vezes, por casualidade.- deu de ombros.- Vai aprender, se ficar- enfatizou, encarei o copo mais uma vez.- Que Tommy é…

— Mulherengo?- sugeri. Oliver riu.

— Algo assim.- concordou.- Pergunte às mulheres da cidade.

— Tommy parece mesmo o tipo.- falei divertida. Suspirei.- Ele disse que a cidade precisava de mim.

— E precisa.- o olhei com descrença.

— Não vai usar isso como desculpa para me fazer ficar, né?

— Não, até porque você sabe que é verdade.- suspirei.- Eu usaria outra coisa, mas é egoísmo.- balançou a cabeça, como se a ideia o incomodasse.

— O que é?- perguntei curiosa. Automaticamente me inclinei um pouco à frente, para encará-lo com mais atenção.

— Eu estou acostumando com a sua companhia, e gosto dela.

Seu sorriso era tímido, mas em nenhum momento desviou seus olhos dos meus. Senti meu coração acelerar, e a boca, mesmo que eu falasse tanto, não soltou frase alguma. Ele queria que eu ficasse.

Eu deveria ficar?

Eu deveria ir?

Ou a ideia de ir nunca passou de uma hipótese remota?

Eu não queria ir.

Mas não poderia ficar nessa situação aqui.

— A casa…

— Estamos resolvendo.- garantiu. Um sorriso brincou em seus lábios ao se inclinar para mim, deixando nossos rostos próximos. Sua respiração quente, batendo em meu pescoço me arrepiou.- Eu não deveria estar te contando isso, mas Sara conseguiu fazer Pollard concordar a pagar sua hospedagem enquanto o chalé não fica pronto.- fiquei em choque.- Ela iria lhe contar amanhã, então finja surpresa.

— Sou uma boa atriz.- soltamos um riso baixo. Oliver se afastou um pouco, mas continuou próximo. Nos encaramos frente a frente.

— Então isso é um sim?- perguntou esperançoso. Suspirei.

— Eu não vou embora.- seu sorriso se tornou largo.- Até porque eu não teria muito o que fazer em Los Angeles. Vendi minha casa. Então continuar pagando hospedagem dez vezes mais cara não me parece algo útil.

— Não é uma boa troca.- concordou. Continuamos a nos observar.- Fico feliz que tenha ficado.- sorri.- As coisas vão se resolver, só precisa ser paciente.

— Estou trabalhando nisso.- pisquei. Olhei para os lados.- Bom, preciso ir, amanhã é outro dia.- me levantei.- Obrigada pela conversa, Oliver.- o agradeci.- Te vejo amanhã?

— Com certeza.

Nos despedimos e eu sai, caminhando mais leve. Entrei em meu carro e me encostei no banco. Que dia.

Aconteceu tanta coisa.

Primeiro a paciente, depois doutor Lance e agora…

Agora Oliver.

E seu sorriso maravilhoso.

Que me convenceu a ficar.

Estávamos criando uma coisa, eu sentia, mas não sabia o que era ainda. Dei partida no carro, com os pensamentos distantes.

Virgin River não estava sendo nada como eu havia pensado.

Espero que no final valha a pena. 


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Notas finais do capítulo

Felicity parece um pouco confusa, não? Hahaha. De certo pode-se afirmar que a nossa loirinha está intrigada com esse homem tão gentil de Virgin River. Se vocês estiverem na mesma situação aguardem o próximo capítulo onde teremos um pov do Oliver.
Beijos e até a próxima!!



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